Poesias

sábado, 3 de abril de 2021

CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 18

Dandara agradeceu novamente a empregada.
Arrastando sua mala, adentrou o imóvel.
Ao chegar a sala, foi recebida por uma senhora distinta. Octogenária.
Ludmila, usava um tailleur verde. Tinha os cabelos curtos.
Ao ver a jovem, usando roupas escuras, cabelo vermelho e aspecto desleixado, ficou espantada.
Perguntou-lhe o que fazia ali.
Dandara apresentou-se.
Constrangida, respondeu que estava ali esperando uma nova oportunidade. Disse que estava cansada da vida vazia que estava vivendo.
Ludmila, intrigada com as palavras da moça, comentou que ela era muito jovem para se sentir daquela forma.
Perguntou-lhe por que ela pensou que se dirigindo a sua fazenda, teria uma nova oportunidade.
Dandara, nervosa, começou a gaguejar.
Tartamudeando, disse que lera uma matéria no jornal sobre as fazendas da região, e que ela, ao conceder uma entrevista, falou sobre sua propriedade, sua produtividade.
Dandara, comentou que se impressionou com a postura dela, considerou-a uma vitoriosa.
Sorrindo, comentou que ela se mostrou um espelho para ela.
Contou que se encantou com seu trabalho. Sentiu vontade de viver algo parecido.
Ludmila se encantou com o jeito espevitado da moça.
Comovida, a mulher se aproximou da jovem.
Disse que ainda era muito cedo para ela se sentir vazia. Ressaltou que ela ainda teria muito o que viver. Nisto, perguntou-lhe se ela estava realmente certa quanto à vontade de ficar ali.
Dandara respondeu-lhe que faria qualquer coisa.
Insistiu apenas para que ela não a mandasse embora.
Disse que conversando com pessoas que conheciam Ludmila, todos a consideravam uma pessoa generosa.
Ludmila, encantada com as palavras da moça, respondeu:
- Menina, você é terrível!
Dandara ao ouvir as palavras da mulher, respondeu que todo mundo achava isto dela. Razão pela qual já estava acostumada com este tipo de comentário. Acrescentou no entanto, que nunca ouvira aquelas palavras sendo ditas de forma tão carinhosa.
Ludmila ficou comovida.
Disse-lhe que poderia ficar descansada, que não a mandaria embora. Poderia permanecer ali quanto tempo quisesse.
Dandara agradeceu.
Com isto, perguntou com o que trabalharia.
Ludmila respondeu que ela iria ficar hospedada em uma casa próxima da sede. Perguntou-lhe o que sabia fazer.
Dandara, constrangida, respondeu que não tinha profissão, mas que poderia aprender a fazer qualquer coisa.
Ludmila sorrindo, respondeu que depois pensaria nisto.
Desta forma, chamou uma de suas empregadas, e quando a criada apareceu na sala, pediu a mesma que conduzisse a moça, até a construção dos fundos.
Disse que a moça ficaria ali por tempo indeterminado.
Com efeito, a mulher conduziu Dandara até a construção.
Dandara ficou instalada em um espaçoso quarto, ao lado da piscina, construída para os filhos de Ludmila.
Henrique, Carlos e André, adoravam passar as tardes a beira da piscina, brincando de jogar água em todos os que passavam por ali.
Agora, devido a mudança dos rapazes para a cidade, a piscina praticamente não era usada.
Dandara, ao ver a piscina, deixou escapar que aquela piscina era maior do que a que havia onde morava.
Por fim, instalada no quarto, a moça depositou sua mala no chão.
A empregada se prontificou a carregar sua bagagem, mas Dandara agradeceu dizendo que não era necessário.
E assim, foi arrastando sua mala pela sala, passou pelo corredor, caminhou por um jardim, pela piscina, até chegar ao quarto.
A criada, mencionou que dali a pouco o almoço seria servido, dizendo a Dandara que iria trazer uma bandeja para ela.
Contudo, não foi necessário.
Ludmila batendo na porta, convidou-a para almoçar.
Quando entrou no quarto, viu a moça arrumando suas roupas. Notou que algumas estavam bem amassadas.
Dandara respondeu que não era muito habilidosa, e que ao fazer a mala, acabou bagunçando um pouco as roupas.
Ludmila comentou que com o tempo, aprenderia a cuidar de suas coisas.
Afinal, morando sozinha, precisaria aprender.
Dandara rindo, concordou.
Com isto, as duas mulheres almoçaram juntas.
Emerson, preocupado com as criações, pediu a um empregado da fazenda, que avisasse que não iria almoçar em casa.
Assim, as duas mulheres almoçaram sozinhas.
Ludmila então, tentou descobrir onde exatamente a moça vivia.
Ao perceber o modo como a jovem falava, as roupas que usava, pensou se tratar de uma garota rebelde. Desconfiou que havia brigado com sua família.
Razão pela qual ficou sondando a moça.
Dandara porém, nada dizia.
Argumentava que era sozinha no mundo, e que há anos não tinha contato com os pais.
Mencionou que precisava de um trabalho, ou não teria como pagar suas contas.
Tentando convencer Ludmila, disse que faria qualquer trabalho, até serviços pesados.
Ludmila respondeu-lhe que não seria preciso.
Mencionou que poderia primeiramente aprender a cuidar da casa.
Dandara não gostou muito da idéia, mas procurando disfarçar, disse que procuraria executar suas tarefas da melhor maneira.
Com isto, depois do almoço, a moça foi levada para a cozinha, pela fazendeira.
Lá, se deparou com um fogão industrial e ao lado, um fogão a lenha. Várias panelas penduradas pela cozinha, enfeites – galos e galinhas de variados formatos, uma imensa mesa de madeira com bancos.
A cozinha era imensa. Em nada lembrava a cozinha da casa em que vivera, toda asséptica, clean.
Dandara ficou encantada.
Disse que nunca havia visto uma coisa tão bonita.
Sorridente, comentou que aquela era uma linda cozinha.
As cozinheiras riram.
Comentaram que tudo ali era muito simples.
Dandara respondeu que gostava da simplicidade.
As mulheres por sua vez, estranharam as roupas da garota.
Tentando explicar-se, a moça respondeu que suas vestes eram uma forma de se expressar como se sentia em um mundo em que as pessoas só são avaliadas de forma superficial. Comentou que estava dizendo que não queria ser mais uma, e que tinha uma individualidade a ser respeitada.
As mulheres se olharam.
Dandara, percebendo que não haviam entendido suas palavras, comentou que as roupas eram estranhas mesmo, e que seus motivos eram claros. Tão claros que elas acabariam por entender.
Nisto, Elisa e Carla ensinaram a moça a picar cebolas, tomates, pimentões.
Dandara preparou temperos.
Ludmila acompanhou a moça.
Dandara era deveras desajeitada.
Contudo, era esforçada. Fazia tudo o que lhe era pedido.
Descascou batatas. Lavou muitas, muitas verduras.
Só titubeou quando precisou limpar uma ave.
As mulheres brincaram dizendo que poderia ser pior.
- Como assim pior? – perguntou.
Elisa explicou-lhe que Carla poderia ter-lhe pedido para matar a galinha.
Surpresa, Dandara perguntou como é que se fazia isto.
Rindo, Carla explicou que precisava quebrar o pescoço da ave.
Dandara ficou horrorizada.
Comentou que depois disto, talvez nunca mais conseguisse comer uma galinha.
Ludmila, aproximando-se da moça, contou-lhe que isto era apenas uma impressão.
E que ela conseguiria sim, continuar a comer frango e galinha, sem problemas.
Mais tarde a moça mexeu nas panelas de ferro.
Orgulhosa, Ludmila respondeu que muitas delas, estão na fazenda há gerações. Foram da avó de Antenor, seu primeiro marido.
Dandara disse então, que procuraria ter o maior cuidado com elas.
Depois, a moça varreu toda a cozinha, e ajudou a lavar os utensílios domésticos.
Ludmila retirou-se.
Elisa e Carla então, aproximaram-se da garota, e começaram a fazer perguntas.
Queriam saber de onde era, de onde conhecia Ludmila.
Dandara por sua vez, respondeu economicamente as perguntas.
Disse que viera de uma cidade de médio porte, próxima da região, que era sozinha no mundo, que estava procurando trabalho, e que conhecera a propriedade em uma matéria jornalística.
As empregadas contudo, não ficaram satisfeitas com as explicações da moça.
Argumentaram que ainda descobririam o que ela de fato fazia ali.
As mulheres comentaram que ela era muito educada, para se contentar com um emprego de ajudante de cozinha.
Dandara sorriu.
Disse que estava satisfeita com seu emprego.
Nisto, levantou-se do banco em que estava sentada, e perguntou se não havia mais nada para se fazer.
Elisa respondeu-lhe então, que tinham muitas roupas para lavar.
Dandara ficou chocada.
- Lavar roupas?
Ao perceberem o choque da moça, responderam rindo, que as roupas poderiam ser lavadas no dia seguinte.
Dandara respirou aliviada.
- Está certo! Ainda bem!
Nisto, Elisa também levantou-se. Voltou a mexer na panela.
Dandara se ofereceu para ajudá-la.
Carla respondeu que mais tarde, poderia auxiliá-las a servir a mesa.
Com isto, as mulheres liberaram a moça da cozinha.
Dandara pediu licença e afastou-se.
Caminhou em direção a construção nos fundos da casa.
Parou diante da piscina.
Percebeu que havia muitas folhas na água.
Procurando um instrumento para retirar as folhas, deparou-se com uma haste, a qual possuía uma espécie de rede na ponta. Utilizou o objeto para pegar as folhas.
O trabalho tomou algum tempo.
Ludmila, que caminhava pelo jardim, ao ver a moça mexendo na piscina, disse que havia mais folhas do outro lado da piscina.
Dandara, que estava entretida com o trabalho, assustou-se.
Ludmila percebendo isto, pediu-lhe desculpas.
Disse que não tinha a intenção de assustá-la.
Comentou que estava apenas querendo indicar onde estavam as folhas.
Dandara agradeceu.
Encaminhou-se para o outro lado da piscina.
Percorreu toda a extensão da mesma.
Retirou todas as folhas.
Ludmila, sentou-se então, em uma das cadeiras existentes ao lado da piscina.
Quando percebeu que a moça terminara o trabalho, comentou:
- A senhorita gosta muito de piscina, não é mesmo? Sabe nadar?
Dandara, respondeu que sim. Comentou que quando podia, aproveitava para nadar muito.
Ludmila comentou se ela era uma boa nadadora.
Dandara gaguejando um pouco, respondeu que na medida do possível, era sim.
Ludmila riu.
Pensando um pouco no assunto, sugeriu que ela cuidasse da piscina.
Dandara concordou.
Com o tempo, a garota passou a cuidar da piscina.
Ajudava nas tarefas da cozinha.
No dia combinado, dirigiu-se com as mulheres para um riacho.
Ajudou a esfregar as roupas.
Elisa e Carla estendiam as roupas no gramado.
Ao ver a cena, Dandara achou tudo estranho.
As mulheres diziam que ela iria se acostumar.
Dandara por sua vez, comentou que se fizesse isto na cidade, não teria quintal suficiente para estender todas as roupas.
No jantar, ajudava a servir os pratos, e ao término da refeição, ajudava a lavar a louça.
Dias depois, foi apresentada a Emerson.
O homem, ao ver uma estranha circulando pela casa, perguntou se era uma nova empregada.
Ludmila respondeu que sim.
Com o tempo, a mulher, ao notar que Dandara, limpava o escritório, ficou observando o computador que havia no lugar, perguntou-lhe se sabia mexer em um.
Dandara respondeu que sim. Comentou que desde muito pequena mexia em computadores.
Ludmila por sua vez, falou:
- Mas é claro. Eu sempre esqueço que as crianças de hoje já nascem sabendo mexer em computadores! Foi uma pergunta tola.
A fazendeira estava encantada com a dedicação da moça.
Certa vez, chegou a comentar com o marido que chegou a duvidar que a garota permaneceria na fazenda.
Com o tempo, a moça começou a se interessar por costuras.
Ao perceber que suas roupas destoavam da indumentária dos trabalhadores da fazenda, perguntou a fazendeira onde poderia comprar tecidos para fazer um vestido.
A mulher ao ouvir a pergunta da moça, disse não saber que ela costurava.
Rindo, Dandara respondeu que não, mas que gostaria aprender. Comentou que estava cansada de vestir roupas escuras e largadas.
Ludmila então, comentou que poderia ensiná-la.
Contou que possuía alguns moldes e que poderia adaptá-los para a moça. Comentou que eram roupas modernas.
Nisto, combinou com a garota que fariam um passeio pela cidade.
Lá indicaria boas lojas para compras de tecidos.
Dandara, agradeceu a gentileza, e beijou o rosto da mulher.
Ludmila ficou emocionada com o gesto.
Animada, Dandara se afastou.
Encaminhou-se para seu quarto.
Com efeito, conforme combinado, Ludmila e Dandara seguiram de carro para a cidade.
Lá, passaram por lojas.
Dandara comprou tecidos.
Ludmila, passeando pelo comércio do local, se deparou com várias vitrines de lojas com calças jeans.
Animada sugeriu a moça, comprar calças e botas, pois iria precisar.
Constrangida, Dandara respondeu que o dinheiro não seria suficiente.
A fazendeira então, sem se fazer de rogada, sugeriu ela mesma comprar as peças.
Disse que era um presente por tanta dedicação ao trabalho.
A moça, ao ouvir as palavras da fazendeira, tentou recusar a oferta, mas Ludmila não lhe deixou alternativa.
Com isto, a mulher fez a jovem experimentar calças e botas, as quais Dandara exibia para a fazendeira.
Ludmila também comprou algumas blusas para moça, e um chapéu.
Dizia que ela era muito branquinha e que precisava se proteger do sol.
Por fim, ao término da caminhada e das compras, Dandara e Ludmila estavam cheias de sacolas.
A garota respondeu que tinha roupa para usar por muito tempo.
Ludmila, sugeriu então, levar as compras para o carro.
Depois, convidou a moça para almoçar em um restaurante da cidade.
Dandara argumentou que já estava abusando de sua boa vontade, e que aquilo não estava certo.
Ludmila rindo, comentou que há muito tempo não abusavam de sua boa vontade, e que estava sentindo saudades disto.
Entraram no restaurante, sendo conduzidas até uma mesa.
Nisto, curiosa, Dandara comentou que já sabia que ela tivera três filhos.
Perguntou se eles não a vinham visitar, pedir ajuda quando as coisas ficavam difíceis.
Triste, Ludmila comentou que possuía quatro filhos.
A fazendeira então, comentou sobre sua filha Odara, a qual dera para uma família criar.
Abrindo o coração, a mulher contou as razões que a motivaram a agir daquela forma.
Dandara ficou perplexa.
Mas recordando-se das aulas de história que tivera, a moça comentou que aqueles foram tempos difíceis mesmo.
Dandara comentou que pelo que ouvira dizer, as pessoas não podiam expressar suas opiniões, e por qualquer razão podiam ser presas, torturadas.
Ludmila, emocionada, comentou que acreditou que nunca mais passaria pelo sofrimento de perder uma pessoa tão amada, tão estimada.
Dandara, comovida com a tristeza da senhora, perguntou-lhe se estava bem, se não gostaria de ir ao toilett.
Com os olhos cheios de lágrimas a mulher concordou.
Dandara a acompanhou.
Lá, a mulher enxugou o rosto, e procurando se recompor, contou que fora casada anteriormente.
Dandara recordou-se que a mulher já havia se referido a outra pessoa de nome Antenor.
Ludmila então, continuou a contar sua história.
Novamente se comoveu a contar sobre o casamento com Antenor, e o tempo em que viveram juntos.
Dandara, impressionada com o relato, ouviu a mulher falar dos filhos e do atual esposo.
Companheiro de toda a vida. Pesarosa e agradecida, Ludmila comentou que foi o único que não a abandonou.
Dandara ao ouvir o comentário, redargüiu dizendo que Antenor e Lúcio não tiveram a intenção de deixá-la, mas que o momento deles partirem, chegou mais cedo do que se poderia imaginar.
Ao ouvir isto, Ludmila começou a rir.
Disse a Dandara que ela era impagável.
Enxugou novamente o rosto, pois as lágrimas voltaram a correr.
Em seguida, a mulher abraçou a garota.
Disse que ela era uma mocinha muito gentil. Diferente da maioria dos jovens que conheciam. Comentou que as pessoas ultimamente haviam perdido a educação e o respeito pelo próximo, não só pelas pessoas mais velhas, mas por todos.
Dandara concordou.
Com isto, comentou que era amiga de um senhor idoso.
Relatou que se tratava de uma pessoa divertida.
Ludmila então, ao observar o relógio, percebeu o adiantado do hora.
Comentou que precisavam retornar a mesa, ou o garçom pensaria que haviam saído do restaurante sem pagar as bebidas que haviam consumido.
Nisto, ao ver a moça com suas escuras, perguntou se gostaria de vestir uma das roupas que havia comprado.
Dandara rindo, perguntou se ela não se incomodaria em voltar ao carro e pegar um das sacolas.
Ludmila disse que não.
Com isto, conversando com o garçom, comentou que elas iriam até o estacionamento buscar uma sacola, e que como garantia, deixaria uma quantia para pagar a consumação.
Desta forma, o garçom concordou com o pedido. Acompanhou as mulheres até o estacionamento.
Ludmila então, pegou duas sacolas.
Pedindo licença ao funcionário, perguntou se havia problema se ela trocasse a roupa que usava, no banheiro do estabelecimento.
O homem, ao notar os trajes da moça, concordou.
Dandara então, pediu licença a fazendeira e se dirigiu novamente ao banheiro.
Lá, trocou de roupa.
Vestiu uma calça jeans justa, botas, uma blusa de alças e ajeitou os cabelos.
Segurando as sacolas, retornou a mesa.
Ludmila ficou surpresa com o que viu.
Comentou que Dandara estava linda, em que pese a maquiagem pesada.
A moça agradeceu.
O garçom, aproximando-se, ajeitou a cadeira para a moça sentar-se.
Dandara novamente, agradeceu.
Com isto, as mulheres fizeram os pedidos.
Almoçaram.
Riram. Conversaram mais um pouco.
Ludmila, mais calma, falou sobre a infância dos filhos. Do quanto eram unidos, que Henrique era o líder e André e Carlos o seguiam. Por conta disto brigavam muito também.
Rindo, recordou-se que os meninos adoravam molhar as pessoas, quando caíam na piscina.
Ludmila ria, e Dandara também se divertia em ouvir sobre as traquinagens dos garotos.
A certa altura, curiosa, a moça perguntou a idade dos moços e Ludmila respondeu que eram todos adultos, e pais de família.
Feliz, comentou que já era avó de filhos moços. Jovens mais velhos do que ela.
Terna, a mulher colocou a mão na cabeça da moça.
Disse-lhe que poderia ser sua neta.
Mais tarde, depois de se deliciarem com uma farta sobremesa, e um sorvete na praça central da cidade, as mulheres voltaram para casa.
Dandara não se cansava de apreciar a beleza da mata, as plantações, o pomar, as criações, as flores e plantas da fazenda.
Ludmila, percebendo o encantamento da moça, aproveitava para percorrer caminhos diferentes. Mostrava-lhe detalhes da propriedade.
Dandara comentou certa vez com a fazendeira, que ficou impressionada com as dimensões da porteira da propriedade.
Com efeito, os empregados da fazenda, ao verem a moça com trajes tão diversos do usual, comentaram que ela estava muito elegante.
Dandara agradeceu.
Os cabelos vermelhos, contrastavam com a roupa.
Emerson, ao ver a jovem pela primeira vez, se espantou com seus modos, as roupas escuras, largadas, o cabelo vermelho, a maquiagem.
Chegou a perguntar a esposa se seria aconselhável deixar a moça morando no imóvel dos fundos.
Ludmila, que então se simpatizara com a garota, respondeu que faria uma experiência.
Emerson não mais se manifestou sobre o assunto.
Aos poucos, a moça foi se ambientando com a vida na fazenda.
Aprendeu a cozinhar, a limpar uma casa.
Plantou algumas verduras, leguminosas.
Lavou e passou muita roupa.
Ajudava na limpeza do casarão.
Aprendeu a dobrar as roupas, e a passá-las.
Auxiliada por Ludmila, aprendeu até a costurar.
A mulher, ao ver os vestidos prontos, chegou a comentar que Dandara estava se saindo uma mulher muito prendada.
A moça riu.
Comentou que se sua mãe a visse cuidando de uma casa, ficaria espantada.
Ludmila curiosa, perguntou o nome de sua mãe.
Dandara por sua vez desconversou. Disse que lembrar dela a fazia se entristecer. Não queria tocar no assunto.
Ludmila, percebendo o desconforto, resolveu mudar de tema.
Dandara então, experimentou os vestidos.
Certo dia, de folga de suas atividades diárias, a moça foi convidada para uma quermesse.
Rindo, comentou que não sabia dançar.
Um dos colonos redargüiu dizendo que não havia segredo.
Dandara aceitou o convite.
Ludmila costumava preparar uma festa na fazenda.
Os colonos instalavam um mastro, e colocavam bandeirinhas coloridas em estruturas montadas para isto.
Havia danças, entre elas, a tradicional quadrilha. Muita música. Comes e bebes em profusão.
Henrique, Carlos e André, juntamente com suas famílias, confirmaram presença na festa, para alegria da fazendeira.
Emocionada, a mulher mostrou o álbum de fotos da família.
Ao ver fotos de Odara, começou a chorar.
Relatou que por muitos anos, precisou dizer a todos que a filha havia morrido.
Dandara a abraçou.
Ludmila chorou copiosamente.
Comovida, comentou que pela idade que aparentava ter, poderia ser sua neta.
Dandara, respondeu-lhe que adoraria ser sua neta.
Nesta época, a mulher deixava a moça usar o computador do escritório.
Dandara ensinou a mulher a utilizar as redes sociais e a fazer ligações via internet.
Ludmila ficou impressionada com a possibilidade de conversar com os filhos pela internet e vê-los através da tela de seu computador.
Por sugestão de Dandara, a mulher adquiriu uma câmera, a qual foi instalada na máquina.
Sorrindo, ela respondeu a moça, que agora não precisava mais sentir tantas saudades dos filhos. Elogiou o iniciativa da garota. Disse que ela viera preencher o vazio existente em sua vida.
Por diversas vezes, a fazendeira comentou que estava ficando velha, e que não tinha a mesma disposição de antes para percorrer a fazenda e se inteirar dos assuntos do lugar.
A mulher recordou-se que um dos filhos permaneceu algum tempo na fazenda. Formou-se em agronomia e ficou a trabalhar no local. Mas que, devido a necessidade de especialização, se afastou dali.
Ludmila comentou esperançosa que acreditava que ele iria voltar, e ajudar ela e o marido, a cuidarem da fazenda novamente.
Dandara se tornou a confidente da fazendeira.
Sempre que ía a cidade, a mulher fazia questão de levar a moça consigo.
Mesmo quando estava acompanhada do esposo, Ludmila não queria se afastar da moça.
Certo dia, quando andavam juntos na cidade, Ludmila e Emerson de braços dados, e Dandara atrás, foram confundidos com uma família.
Um transeunte perguntou se a moça, era neta deles.
Rindo, o casal respondeu que gostavam muito da garota, mas que infelizmente, ela não era neta deles, embora desejassem muito.
Dandara achou graça.
Ludmila e Emerson, aproveitavam para caminhar na praça da matriz.
Dandara auxiliou nos preparativos da festa.
Cortou bandeirinhas, montou balões.
Dias antes da festa, os filhos da fazendeira aportaram na propriedade.
Dandara foi apresentada aos homens.
Conheceu as esposas e os filhos.
Ludmila não cabia em si de contente.
Dizia que finalmente aquele casarão estava cumprindo sua finalidade.
A casa repleta de gente.
Caprichosa, a fazendeira preparou uma mesa com um lauto café da manhã.
Os homens por sua vez, foram de carro até a fazenda.
Abriram a porteira.
Dandara também foi convidada para fazer parte da mesa.
Sem jeito, a moça comentou que aquele era um momento da família.
Ludmila insistiu.
Brincou com os filhos dizendo que havia adotado uma neta postiça.
Emerson comentou que elas eram muito unidas.
Cláudio, filho mais velho de Henrique, contou que sentia muitas saudades da fazenda.
Comentou com Dandara, que ela tinha sorte em viver num lugar tão bonito quanto aquele.
Dandara por sua vez, respondeu que pretendia arrumar dinheiro para comprar uma propriedade para ela. Nem que fosse uma chácara.
Cláudio então falou, que ela não iria precisar se preocupar com isto. Argumentou que certamente sua avó a ajudaria nisto.
Ao ouvir as palavras do jovem, a moça comentou que não podia abusar da boa vontade da senhora. Relatou que gostava muito da fazendeira, e que não estava interessada em seu dinheiro.
Cláudio redargüiu dizendo que sabia disto. Relatou que ela demonstrava ser uma pessoa muito confiável.
Dandara sorriu.
Ludmila, percebendo que Cláudio gostava muito de conversar com Dandara, liberou-a dos afazeres domésticos.
A moça, constrangida, comentou que era paga para executar aquele trabalho.
Ludmila respondeu-lhe que ela estava de folga.
A fazenda então, sugeriu a dupla, um passeio a cavalo.
Dandara, por sua vez, já havia aprendido a andar a cavalo em cavalgadas com Ludmila.
Desajeitada, a moça teve uma certa dificuldade em se acostumar com a montaria.
Ainda não se sentia segura.
Por diversas vezes, chegou a pedir para descer do animal.
Ludmila dizia-lhe que com o tempo ganharia confiança e aprenderia a montar.
A moça porém, sempre que podia, inventava uma desculpa para não acompanhar a fazendeira nos passeios a cavalo.
Comentou com Cláudio, que andava pouco.
Cláudio porém, dizendo que estava acostumado, disse que a ajudaria.
Com isto, diante da insistência de todos, a moça acompanhou Cláudio em um passeio a cavalo.
O moço ajudou-a a montar no animal.
Segurando as rédeas do animal, explicou a moça como ela faria para ter o controle do cavalo.
Dandara procurou prestar atenção nas palavras do rapaz.
Com isto, quando o animal começou a trotar.
Assustada, a moça pediu para que Cláudio fizesse o animal parar.
Cláudio por sua vez, aconselhou-a a segurar as rédeas.
Orientou-a a melhorar a postura, mantendo-se ereta.
Dandara acatou os conselhos do moço.
Com o tempo, foi ganhando confiança.
Começou a observar a paisagem.
Cláudio por sua vez, ao perceber que a jovem estava se afastando, resolveu acompanhá-la.
Montou em um animal e seguiu-a.
Aconselhou-a a seguir um caminho.
Dandara disse que tinha dificuldade em controlar o cavalo.
Cláudio aconselhou-a a segurar as rédeas com firmeza. Disse-lhe que ali obteria o controle do animal.
Dandara nervosa, procurou seguir os conselhos.
Com efeito, ao chegarem no local indicado, sugeriu que a moça parasse o animal.
Desta feita, apeou do cavalo.
Ao ver a dificuldade da moça em descer do animal, procurou auxiliá-la.
Dandara, aflita, agradeceu.
Nervosa, perguntou como faria para voltar a fazenda.
Rindo, Cláudio respondeu que voltaria da mesma forma que viera, a cavalo, sendo devidamente acompanhada por ele.
Nesta ocasião, sugeriu que ela esquecesse da montaria, que apreciasse a linda paisagem que se afigurava diante de seus olhos.
Dandara comentou que conhecia o lugar e que o considerava um dos mais bonitos da fazenda.
Dizia que era um lugar mágico, feito para alegrar as pessoas. Pensativa, ficou a imaginar as pessoas que passaram por ali. Comentou que não sabia se foram felizes, mas que no momento em que contemplaram aquela paisagem, algo de especial aconteceu. Suas vidas registraram aquele cenário, aquele acontecimento. Um momento especial, feliz, fez parte de suas existências, mesmo sem se darem conta disto.
Cláudio achou interessante as palavras da moça.
Encantou-se com seu entusiasmo.
Animado, comentou que já morara na fazenda tempo atrás, e que gostaria de voltar a morar. Falou que estava cursando faculdade de agronomia, e que assim que terminasse os estudos, voltaria para a fazenda. Contou que seu pai também voltaria.
Dandara, ao ouvir as palavras ditas pelo moço, comentou que Ludmila ficaria muito feliz com isto.
Conversaram então, sobre as brincadeiras de criança.
Descobriram que tinham muitas coisas em comum.
Cláudio comentou que gostava de baladas, mas que a vida no campo era muito melhor do que a vida na cidade.
Dandara concordou.
Falou das baladas que freqüentava, das festas. Disse que bebia muito, acordava tarde, e estava descuidando dos estudos. A certa altura, se cansou daquela vida e resolveu se mudar para uma fazenda.
Quando Cláudio comentou que ela era sozinha no mundo, Dandara se calou.
O moço insistiu, perguntou sobre seus pais.
Dandara disse que não queria tocar no assunto.
Cláudio comentou que ela não era uma garota ingênua.
A moça respondeu que não. Decididamente não. Curiosa, perguntou se isto o incomodava.
Cláudio respondeu que absolutamente.
Durante os dias em que passaram juntos, cavalgaram. Conversaram.
No volta do passeio, Cláudio a acompanhou.
Tudo transcorreu sem problemas.
Dandara só se atrapalhou no momento da descida do animal.
Mas auxiliada por Cláudio, apeou.
Ludmila, ao ver a cena à distância, aplaudiu.
Comentou sorridente com o neto, que ele havia conseguido êxito em algo que nem ela e tampouco Emerson conseguiram.
Com isto, almoçaram todos juntos.
A certa altura, Dandara se dirigiu ao escritório da mulher, de lá conversou com Felipe.
Já fazia algumas semanas que mantinha contato com o amigo agora distante.
Dandara apresentou o homem a Ludmila.
Conversando com o homem, contou-lhe que não estava mais em casa de seus pais. Disse que estava vivendo em uma fazenda, e que estava muito feliz com esta vida.
Surpreso, o homem perguntou se seus pais conheciam esta circunstância.
Dandara respondeu-lhe que não.
Dizendo ser maior de idade, argumentou que não tinha que dar mais satisfações de sua vida a quem quer que fosse.
A esta altura, perguntou ao homem por que ele perguntava de seus pais.
Felipe respondeu que todos os jovens tinham pais, e que eles se preocupavam com seu futuro.
Dandara retrucou dizendo que o que era necessário saber, já era de seu conhecimento.
Felipe, procurando evitar discussões, mudou o rumo da conversa.
Disse-lhe que sentia muitas saudades. Perguntou-lhe quando voltaria.
Dandara então, respondeu não ter interesse em retornar. Argumentou que estava muito bem onde estava.
Felipe, em tom triste, perguntou se nunca mais se veriam.
Sorrindo, Dandara respondeu que poderia conversar com a fazendeira, e que, devidamente autorizado, poderia vê-la.
O homem comentou que gostaria da tal autorização.
Com isto, se despediram.
Nisto, acessando redes sociais, o homem descobriu a família da moça.
Ciente de seu dever de informar o paradeiro da jovem, contatou Laura e Maximiliano.
Contou-lhe onde a filha estava.
Nervosa, Laura ameaçou arrastar a filha pelos cabelos.
O homem, cauteloso, recomendou-lhe manter-se calma, ou poderia deixar as coisas piores do que estavam.
Felipe respondeu-lhe que Dandara estava bem.
Comentou que a moça estava trabalhando como doméstica em uma fazenda.
Laura ficou perplexa.
Comentou que era um absurdo uma moça tão qualificada quanto ela, realizar um trabalho tão simples.
Isaura, que ouvia a conversa, comentou que o serviço doméstico não tinha nada de simples, e que envolvia uma grande responsabilidade, e que ela não sabia disto por que não cuidava de uma casa.
Redargüindo, a mulher respondeu que já fora dona de casa.
Enervada, comentou que há meses tentava localizar a filha.
Já havia acionado a polícia. Até detetive contratou.
Surpresa, perguntou ao homem, como ele localizou a moça.
Felipe respondeu que conhecera a garota em um bar.
Estava acompanhada de uma turma.
O homem relatou que se tornaram amigos.
Comentou que há meses não tinha notícias da moça. Relatou por meio dos amigos da jovem, descobriu que ela havia sumido de casa.
Com o tempo, recebeu um contato da moça. Mencionou que há algumas semanas vinha contatando a jovem pela internet, e que antes, recebera alguns emails da moça.
Felipe contou que acessando redes sociais, descobriu cadastros da jovem e deles.
Relatou que cruzando informações, descobriu que eles eram os pais da moça.
Laura comentou que há muitos anos havia feito um registro em site de relacionamento, mas que há mais de um ano, não acessava a página.
Maximiliano comentou que ele era uma pessoa muito interessada em tecnologia.
Sorrindo, Felipe respondeu que era um velhinho muito enxerido.
Max protestou, dizendo que não se tratava disto.
Comentou que não fosse o fato dele ser um sujeito intrometido, nunca saberiam onde a filha estava.
Agradeceu o homem.
Felipe então, recomendou-lhes que tivessem cuidado em abordar a moça.
Preocupado, sugeriu até acompanhá-los na tarefa.
Disse que sabia onde a jovem estava, e em que direção ficava a fazenda.
Nervosa, Laura exigiu que o homem dissesse a direção da propriedade, o que Felipe recusou-se a fazer.
Argumentou que nervosa do jeito que ela estava, faria com que Dandara fugisse novamente dela.
Maximiliano concordou.
Comentou que ele poderia acompanhá-los na viagem. Disse apenas, que pretendia viajar o mais rapidamente possível. Argumentou que precisava solucionar o impasse.
Felipe respondeu-lhe que poderiam viajar no dia seguinte, se quisessem.
Surpreso, Max concordou.
Sugeriu que poderiam fazer as malas naquela tarde, e que depois de uns telefonemas, ele estaria pronto para viajar.
Sim, poderia ser na manhã seguinte, disse.
E assim, ajustados, o trio tratou de cuidar de seus afazeres.
Laura e Maximiliano realizaram vários telefonemas para seus escritórios.
Informaram que se ausentariam por alguns dias e que um responsável cuidaria de suas atividades.
Arrumaram suas malas.
Felipe também arrumou suas malas.
No dia seguinte, o homem se dirigiu a casa dos empresários.
Seguiram rumo ao interior.
Viajaram por horas.
Aos poucos, Felipe informava ao homem, que caminho deveriam seguir.
Aconselhou-a pegar uma rodovia, e conforme chegavam na localidade onde ficava a fazenda, explicava o caminho.
A certa altura, percebendo a distância do local, Laura decidiu visitar Zélia, Olavo e seus irmãos de criação. Maximiliano também demonstrou interesse em visitar os pais.
Com isto, Laura, Maximiliano e Felipe visitaram a família da mulher.
Felipe conheceu Zélia, Olavo, Vicente e Antonio. Conheceu a família dos últimos, seus filhos, e a esposa de cada um.
A pedido de Zélia a mulher, o marido e o convidado, almoçaram no local.
Durante o encontro, Laura comentou que Dandara havia sumido de casa.
Zélia criticou a filha. Disse que a moça agira deste modo por que ela não lhe dera oportunidade de diálogo.
Irritada, ao ouvir as palavras da mãe, Laura comentou que aquele assunto lhe parecia muito familiar.
Zélia então, calou-se.
Nisto, perguntou de Júlia.
Nesta ocasião, foi informada que a moça estava com um trabalho agendado para o dia seguinte, e que não podia viajar com eles.
Contudo, ao perceber o desapontamento nos olhos da anciã, prometeu que assim que fosse possível, levaria a filha para visitá-la. As duas moças, aliás.
- Promete? – perguntou a mulher.
- Prometo. – respondeu Laura.
Mais tarde, após muita insistência da mulher para que ficassem, seguiram para o sítio de Rosália e Antunes.
A propriedade ficava próxima dali.
No local, tomaram um lauto café da tarde, e após muita insistência, permaneceram para jantar.
Por fim, acabaram pernoitando no local.
Conversando com a sogra, Laura comentou que estava cansada de brigar com a filha.
Aflita, respondeu que não sabia mais o que fazer.
Rosália respondeu-lhe que talvez as coisas não fossem tão ruins quanto imaginava.
Após conversar com um pouco com Felipe, a mulher comentou que Dandara parecia ter se adaptado a vida na fazenda, e que poderia estar até feliz.
Laura duvidou.
Comentou que Dandara tinha uma vida de luxo na cidade, que nunca se acostumaria com a vida de gata borralheira.
Rosália por sua vez, ao ouvir as palavras da mulher, comentou que ela poderia ter uma grande surpresa com a filha.
Com isto, no dia seguinte, após um caprichado café da manhã, o trio partiu.
Novamente se depararam com o discurso do fica mais um pouco, promovido pelos sitiantes.
Laura, argumentando que tinha pressa em encontrar a filha, mencionou que retornaria com Dandara e Júlia para vê-los.
Desculpou-se pela pressa, mas disse que precisava partir.
Nisto, o trio se despediu.
Prosseguiram viagem.
Conforme se aproximavam da propriedade, Laura perguntava se ainda faltava muito para chegarem.
A certa altura, Maximiliano irritou-se.
Disse que assim que chegassem, ela saberia.
Rindo, Felipe comentou que ela estava parecendo uma criança.
Laura pediu desculpas. Disse que estava nervosa.
Maximiliano irritado, aconselhou-a a se acalmar.
O homem continuou dirigindo.
Felipe lhe passava a direção.
Em dado momento precisaram perguntar a direção da fazenda.
Depois de algum tempo, finalmente chegaram a porteira da propriedade.
Maximiliano desceu do carro.
Um colono, ao ver o homem se aproximando, perguntou o seu nome.
Maximiliano apresentou-se.
Disse que precisava conversar com a proprietária da fazenda.
Felipe que também saíra do carro, disse-lhe o nome da senhora.
Laura, permanecendo no veículo, não ouviu o que os homens conversavam.
Com efeito, o colono abriu a porteira para os homens.
De carro, o trio seguiu até a sede da fazenda.
Para isto, foram instruídos pelo empregado.
Chegaram em frente a um casario colonial.
Lá, foram recepcionados por Elisa e Carla.
As mulheres se espantaram ao verem os desconhecidos descendo do carro.
Entreolhando-se, perguntando quem seriam os visitantes.
Mais convidados para a festa organizada pela fazendeira?
Maximiliano, Laura e Felipe disseram bom dia, e perguntaram se Dona Ludmila, a proprietária da fazenda se encontrava em casa.
Carla respondeu aos visitantes que esperassem no alpendre que iria chamar a patroa.
Laura agradeceu.
Os três subiram as escadarias e sentaram-se numa das poltronas.
Minutos depois, a octogenária senhora se apresentou.
Laura se espantou.
Perguntou se ela era a proprietária da fazenda.
Ludmila respondeu-lhe afirmativamente.
Nisto, Maximiliano e Felipe se apresentaram.
A fazendeira ficou espantada.
- Felipe? Maximiliano? – curiosa, perguntou o nome da mulher.
Laura respondeu-lhe então.
Comovida, a fazendeira indagou:
- Laura? Minha Laura?
Ao ouvir a pergunta, a mulher perguntou novamente, o nome da fazendeira.
- Ludmila, oras! Que pergunta?
Laura ficou perplexa.
Minutos depois, lançou um olhar furioso para Maximiliano.
Irritada, perguntou o que estava acontecendo.
Seria por acaso, uma brincadeira de mal gosto? Indagava furiosa.
Maximiliano cauteloso, procurando manter a calma, respondeu que não contou-lhe antes, por que sabia que ela iria se opor.
Nisto emendou dizendo que de fato, Dandara poderia estar por ali, e que eles precisavam se acertar.
Nervosa, Laura ameaçou dar meia volta.
No entanto, foi impedida de realizar seu intento, pelos homens que a acompanhavam.
Tanto Felipe quanto Maximiliano lhe disseram que ela não poderia ir embora sem conversar.
Felipe inclusive, aconselhou-a a ser acalmar.
Ludmila, impressionada com a visita, não conseguia esboçar palavras.
Somente no momento em que a mulher ameaçou partir, é que ela se manifestou.
Pediu a ela que não fosse embora. Disse que uma moça chamada Dandara, estava de fato morando ali.
Ludmila comentou que a moça era encantadora. Esforçada e dedicada.
Laura ao ouvir isto, respondeu que esta não era sua filha.
A fazendeira por sua vez, argumentou dizendo que talvez sempre tivesse sido desta forma, mas que ela não dera a oportunidade para a jovem se mostrar como de fato era.
Laura enervou-se.
Disse-lhe que ela não era ninguém para criticá-la, já que nunca fora uma mãe presente.
Argumentou que a criação da filha cabia única e exclusivamente a ela. Por fim, acrescentou que não seria uma estranha quem iria atrapalhar.
Felipe, tentando acalmar os ânimos, falou que não era o momento para conversas duras, e que precisavam saber, se poderiam conversar com Dandara.
Ludmila, convidou-os para permanecerem na propriedade.
Disse que todos estavam convidados.
Comentou que em poucos dias, haveria uma festa junina no local.
Felipe animou-se.
Relatou que nunca vira uma festa junina na roça.
Elisa e Carla então, acompanhadas de Felipe e Maximiliano, retiraram as malas do carro, e levaram até a sala.
Ludmila comentou que Felipe, ficaria em um dos quartos de hóspedes da cama.
Laura e Maximiliano por sua vez, ficariam num dos quartos defronte o seu.
A fazendeira comentou que a casa era grande, como todas as construções coloniais o eram.
E assim, havia muitos quartos na propriedade.
Feliz, comentou que finalmente estava com toda a família reunida. Todos os filhos, até a única filha mulher que tivera.
Laura contudo, continuava reticente.
Recusou-se a aceitar a hospedagem.
Somente por insistência de Felipe e Maximiliano, deixou as empregadas retirarem as malas do carro.
Estava contrariada.
Insistia em conversar com Dandara.
Maximiliano contudo, dizia que ela devia esperar para conversar com a filha.
Falava-lhe que nervosa como estava, só pioraria as coisas.
Ludmila então, aproximando-se, disse que se instalassem, arrumassem suas coisas.
Contrariada, a moça recolheu-se com o marido em seu quarto.
Retirou as roupas das malas. Arrumou-as no guarda-roupa.
A fazendeira por sua vez, recomendou que o café da manhã fosse novamente posto à mesa.
Elisa e Carla o fizeram.
Cerca de meia-hora depois, o trio retornou a sala.
Ludmila os aguardava.
Animada, convidou-os para o café da manhã.
Laura respondeu secamente que já havia se alimentado na casa de sua sogra.
A fazendeira insistiu.
- Mas não vão querer nada? Olhe que o almoço vai demorar.
Maximiliano perguntou então da filha.
Ludmila respondeu que estava em cavalgadas pela fazenda ao lado de Cláudio, seu outro neto.
Surpreendida, comentou que Dandara era sua neta também. Feliz, comentou que isto explicava tanta afinidade.
Felipe respondeu que a moça era muito educada, e que gostava muito dela.
Comentou preocupado, que esperava não aborrecê-la em demasia com sua atitude. Relatou que nos últimos tempos ela fora sua melhor companhia.
O homem comentou que Dandara era um sopro de vitalidade e novidade em sua já gasta vida.
Ludmila respondeu-lhe que ainda estava muito cedo para desistir da vida.
Rindo, o homem comentou que já tinha mais de noventa anos.
Ludmila respondeu-lhe que estava bem, e cheio de energia. Certamente chegaria aos cem anos.
A fazendeira falou-lhe que já estava com mais de oitenta anos.
Felipe gentil, respondeu-lhe que ainda estava na flor dos anos.
Ludmila redargüiu dizendo que ele era muito gentil.
Conversando, a mulher descobriu que ele era filho de Fátima e Fábio, sobrinho de Epaminondas, ilustre empresário da capital.
Descobriram-se parentes. Primos distantes
Brincando, Ludmila disse que se criara na cidade, mas que depois de casar-se com Antenor, virou um bicho do mato e nunca mais voltou a viver na cidade.
Ludmila contou de sua luta para dar continuidade ao trabalho do primeiro marido.
Maximiliano surpreendeu-se.
Perguntou-lhe quantas vezes fora casada.
Ludmila contou-lhe de primeiro matrimônio, da viuvez.
De como se conheceram, sendo ela professora do grupo escolar do lugar.
Emocionada, relatou que quando não imaginava mais que iria se casar, conheceu Lúcio.
A mulher relatou que ele era o pai de Laura.
A mulher, indiferente, começou a prestar atenção na história.
Maximiliano percebendo que Ludmila se emocionava com o relato, perguntou-lhe se não gostaria de interromper a história.
A fazendeira respondeu-lhe com firmeza que não.
Disse que Laura precisava conhecer sua origem.
Felipe e Maximiliano, percebendo que as mulheres precisavam ficar a sós, resolveram se ausentar.
Discretos, dirigiram-se a sala de jantar.
Lá foram servidos por Carla.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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