Poesias

quinta-feira, 1 de abril de 2021

CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 7

Durante a viagem Ludmila e Lúcio ficaram observando a paisagem.
Contemplavam as colinas, as serras, os campos verdes, os animais pastando nas fazendas existentes ao longo das estradas.
A manhã estava ensolarada, o céu quase sem nuvens.
O trem percorria o caminho mostrando aos passageiros, os rios da região.
Parava nas estações, onde desciam e entravam novos passageiros.
Em uma das paradas, o casal resolveu percorrer alguns vagões.
Comeram no vagão restaurante.
Lúcio foi servido de um vinho caro.
O moço, ao perceber que se tratava de um vinho importado, pediu para Ludmila se aproximar, e cochichando em seu ouvido, perguntou o preço da bebida.
Ludmila sorrindo, respondeu-lhe sussurrando em seu ouvido, que ele não deveria se preocupar com o valor.
Comentou que aquela era uma cortesia da casa. Disse-lhe ele deveria experimentar a bebida, pois era de excelente qualidade.
Conjecturando, o moço respondeu se afastando, que a bebida devia ser tão cara que nem se ele trabalhasse durante um mês, seria capaz de pagar.
Ao ouvir isto, Ludmila sorriu para ele.
Argumentou que ele não deveria se preocupar, e que aquela extravagância só acontecia em momentos muito especiais.
O peão, ao ouvir as palavras da moça, ficou envaidecido.
Com isto, sorveu um pequeno gole da bebida.
Ao descer pela garganta, Lúcio estranhou o gosto da bebida.
Ludmila ao perceber a expressão do moço, perguntou-lhe se não havia gostado do vinho.
Lúcio tentou fingir haver gostado, mas Ludmila, atenta, percebeu que a bebida não agradou.
Razão pela qual, comentou com o moço que estava com muita vontade de beber uma aguardente.
O homem, ao ouvir as palavras da esposa, perguntou-lhe se tinha certeza do que estava pedindo.
Ludmila respondeu que sim, e que desta vez, quem faria o pedido seria ele.
Lúcio comentou constrangido, que todos no vagão olhavam para eles.
- Eu sei! – respondeu a moça. – É por que eu tomei a iniciativa de fazer o pedido do vinho, mas agora quem irá chamar o garçom será você!
Lúcio nervoso, comentou que não sabia o que pedir.
Ludmila sugeriu um nome de aguardente no ouvido do moço.
O rapaz então, enchendo-se de coragem, chamou o garçom.
Fez o pedido.
E para sua surpresa, a aguardente pedida seria servida.
Ludmila comentou que a bebida constava do cardápio. Razão pela qual não havia motivos para que não fosse servida.
O moço ao ouvir isto, comentou que tudo ali era tão luxuoso que não imaginava que alguém iria pensar em cachaça num ambiente daqueles.
Ludmila ao ouvir isto, comentou que também ficou surpresa ao saber disto.
Com isto, a bebida foi servida e o casal degustou a aguardente.
Em seguida, o casal pediu para que fosse servida uma refeição.
Como Lúcio não entendia o cardápio, Ludmila escolheu o que seria pedido.
Pediu medalhões, acompanhados de arroz e um suco.
Nervoso, Lúcio perguntou-lhe baixinho, em que idioma fora escrito o cardápio.
Sorrindo, Ludmila respondeu que o cardápio estava em português, mas que alguns pratos tinham o nome francês.
Lúcio tentou entender o porquê daquilo.
Com efeito, quando a refeição foi servida, ao perceber que o garçom se afastara, Lúcio perguntou a moça qual o talher deveria usar.
A fazendeira respondeu-lhe que deveria observá-la para fazer igual.
Paciente, a mulher comentou que não havia segredos para se comer a iguaria, e mostrou-lhe que deveria utilizar o talher adequado para carne.
Lúcio então experimentou a comida. Adorou saborear a carne suculenta.
Comeu com gosto, como se costuma dizer por aí.
Ludmila ao perceber isto, perguntou ao moço se havia gostado da comida.
Lúcio, colocando o guardanapo de tecido em frente a boca, terminou de mastigar a comida. Em seguida respondeu-lhe que sim. Comentou que a carne estava muito boa, bem melhor que o vinho.
Ao ouvir isto, Ludmila começou a rir.
Disse-lhe que ele era impossível.
Depois do almoço, o casal voltou para o vagão de luxo e acomodou-se novamente em sua cabine.
Mais tarde, visivelmente constrangido, Lúcio perguntou-lhe se ela estava arrependida de haver se casado com alguém tão simplório quanto ele.
Ludmila respondeu que não, e que ele era um simplório adorável, puro e de bom coração.
Beijou-lhe a face, gesto que o deixou envergonhado.
Lúcio comentou que estavam a sós, mas que o outro casal com quem dividiam a cabine, poderia voltar a qualquer momento.
Sorrindo, Ludmila respondeu-lhe que eles foram até o vagão restaurante e provavelmente demorariam a voltar.
Lúcio ao ouvir estas palavras, respondeu que então estava tudo bem.
Nisto segurou a esposa pelo pescoço e lhe deu um beijo no rosto. Em seguida, beijou-lhe os lábios.
Como a viagem fora longa, Ludmila adormeceu, vindo a se recostar no ombro do moço.
Com isto, ao chegarem ao destino, desceram do vagão.
Um funcionário auxiliou-os com as bagagens.
De táxi, rumaram para um hotel que havia na localidade.
Lúcio durante o trajeto, ficou observando as casas, os prédios, o comércio, as praças, a igreja matriz.
Ludmila deixou que Lúcio pagasse a corrida.
Ao chegarem no hotel, preencheram uma ficha.
Um funcionário os conduziu com as malas para o quarto.
Antes de entrar no quarto, no entanto, o jovem pediu licença ao funcionário.
Pediu para que ele entrasse primeiro levando as malas.
Em seguida, Lúcio pediu para Ludmila esperar e, carregando-a nos braços, adentrou o quarto.
O funcionário ao ver o moço carregando a jovem nos braços, perguntou se eram recém-casados.
Lúcio sorrindo, respondeu que não.
Completando a frase porém, disse que era como se fosse, já que a cada dia que passava ao lado da moça era como se tivesse acabado de conhecê-la.
Um pouco sem jeito, o moço parabenizou o casal e retirou-se do quarto.
Desejou ao casal uma boa estada na cidade.
Lúcio ainda como Ludmila nos braços, agradeceu os votos de felicidade.
Em seguida, colocou a moça no chão, sob protestos constrangidos do tipo:
- O que você pensa que está fazendo?
A verdade era que o moço estava se divertindo muito com toda aquela situação.
Lúcio ria a larga.
Ludmila, percebendo isto, perguntou:
- Qual é a graça?
Foi o suficiente para o moço cair na gargalhada.
Ludmila não se conteve e começou a rir junto.
Rindo, o moço começou a comentar que o funcionário ficou constrangido com a cena.
A mulher ao ouvir isto, censurou o esposo.
Disse que isto não se fazia, que era errado deixar as pessoas constrangidas.
Lúcio comentou que errado não sabia se era, mas que era muito divertido era.
Ludmila repetiu o comentário que fizera no trem.
Disse-lhe que era impossível.
Lúcio sorrindo, ironizou o comentário. Argumentou que se era impossível, precisava fazer jus a isto.
Com isto, puxou a moça para junto de si e abraçou-a.
Em seguida, beijou-a.
Mais tarde, o casal decidiu fazer um passeio pela cidade.
Ludmila comentou que mais tarde, iria visitar uma fazenda e adquirir algumas cabeças de gado para sua propriedade.
Com efeito, no dia seguinte lá estava o casal na porteira da fazenda.
Lúcio e Ludmila foram recebidos pelo dono da propriedade.
Tibério recebeu o casal com festa.
Ludmila era conhecida do homem.
Acompanhada de Lúcio, a jovem apresentou o esposo ao fazendeiro.
Sorrindo, o homem disse a Lúcio que ele era um homem de sorte.
Com efeito, a jovem e seu marido almoçaram na fazenda de Tibério, acompanhados da família do homem.
Ludmila negociou alguns animais, os quais seriam entregues em sua fazenda em uma semana.
O casal visitou as instalações onde os animais ficavam, viram a forma como eram tratados e cuidados.
Mais tarde, firmou-se um contrato, o qual foi assinado pelos fazendeiros.
Ao término das negociações, a mulher e seu marido, se despediram de todos na fazenda.
Retornaram ao hotel.
Jantaram no próprio estabelecimento.
A exceção dos dias em que visitou a fazenda de Tibério, a mulher usou vestidos e saias, sapatos sociais, salto, sapatilhas. Usou perfume e um pouco de maquiagem.
Lúcio, a exceção do dia do casamento, e das festas na vila, em que ela costumava usar vestidos, nunca a vira arrumada daquele jeito.
Somente quando a mulher usava camisolas a noite, se despedia das calças e botas.
Lúcio estava adorando conhecer o lado glamouroso da esposa.
Dizia a ela que a cada dia que passava, ela estava ainda mais bela, se é que isto era realmente possível.
Ludmila sorria.
Dizia que ele estava exagerando.
Lúcio por sua vez, também se trajava de forma elegante.
Usava ternos, estava sempre bem arrumado.
Ludmila ao vê-lo de terno, esperando-a para jantar, comentou que ele estava muito elegante.
Cearam.
Depois caminharam pela cidade.
Sentaram-se no banco da praça da Igreja da Matriz.
Lá havia um pipoqueiro.
Pessoas circulavam pelo local, uma missa seria celebrada dentro de alguns minutos.
Conhecidas, as pessoas se cumprimentavam e conversavam.
Famílias inteiras estavam ali para acompanhar a celebração.
Muitos, ao verem o casal de estranhos conversando na praça, passaram a observá-los.
Curiosos, perguntavam-se de onde teriam vindo.
Ludmila e Lúcio, usavam roupas elegantes, que chamavam a atenção dos passantes.
Muitos comentavam entre si, que se tratavam de pessoas de posses.
Os homens admiravam a beleza da jovem mulher, e as mulheres ficavam encantadas com o porte e o garbo do moço.
Uma das moças comentou que eles pareciam um daqueles casais de cinema.
Com isto, Lúcio, ao perceber que algumas pessoas olhavam para ele, chamou a esposa, que estava entretida observando as flores do passeio.
Comentou que precisavam dar uma volta pelo centro comercial da cidade, pois queria ver como tudo ficava, quando estava iluminado.
Ludmila voltou-se para ele.
Concordou.
Perguntou-lhe se estava gostando das luzes da cidade.
Lúcio respondeu um pouco tímido, que era um modo diferente de viver a vida.
Nisto, caminharam de mãos dadas.
Lúcio se encantou com as luzes tímidas que enfeitavam o modesto centro da pequena cidade.
Caminharam algumas quadras, conversaram um pouco.
Sorriram um para o outro e voltaram ao hotel.
Arrumaram as malas, posto que no dia vindouro, partiriam no primeiro trem rumo a fazenda.
Dormiram.
No dia seguinte, tomaram um lauto café da manhã no hotel.
Caminharam um pouco pela cidade.
Lúcio comentou que a cidade era pequena, mais muito agradável.
Ludmila concordou.
Neste momento, um homem passou pelo casal.
O estranho ficou um certo tempo observando Ludmila, fato este que incomodou Lúcio.
A mulher, percebendo isto, disse que não precisava se aborrecer com aquilo, pois já estavam indo embora da cidade.
Lúcio respondeu-lhe que algumas pessoas precisavam aprender a ter respeito pela mulher dos outros.
Ludmila, ao ouvir as palavras do moço, recomendou-lhe que não aceitasse provocações.
O jovem, a despeito do apelo da jovem, resolveu se aproximar do homem.
Disse-lhe poucas e boas.
Irritado, Lúcio disse que a moça não estava sozinha e que era casada com ele. Razão pela qual ele deveria se dar ao respeito e parar de ficar olhando para ela da forma como estava olhando.
O homem, ao ouvir as palavras de Lúcio, respondeu que o que era bonito, deveria ser admirado.
Lúcio por sua vez, retrucou dizendo que admiração era bem diferente de falta de respeito.
O homem perguntou então, se ele não tinha confiança em si mesmo.
Ao ouvir isto, Lúcio ameaçou pegar o homem pelos colarinhos, e só não o fez, por que foi impedido por dois homens, que ao passarem pelo lugar, notando que a confusão começava a se instalar, apartaram a briga.
Nisto o homem, dizendo se chamar Armando Ribeiro, disse que aquela ofensa não ficaria sem punição.
Desta forma, ameaçou Lúcio dizendo-lhe que se o encontrasse novamente, ele estaria perdido, que iria se arrepender do que ameaçara fazer, e que seus dias estariam contados.
Ludmila, ao ouvir as ameaças, ficou assustada.
Aproximou-se de Lúcio e segurando em sua cintura, implorou para que ele parasse com aquilo.
O moço, ao ouvir o choro da esposa, parou de tentar investir contra o homem.
Abraçou Ludmila.
Percebendo que ela estava trêmula, perguntou-lhe se estava tudo bem.
Ludmila respondeu que estava sentindo tudo rodar.
Lúcio, preocupado, conduziu a mulher até um banco.
Pediu-lhe para que respirasse devagar.
Conversando com ela, pediu-lhe desculpas pelo incidente, disse a ela que não precisava ficar nervosa, que ele não iria brigar mais.
Os homens que apartaram a briga, ao perceber o mal estar da mulher, soltaram o homem.
Solícitos, perguntaram se estava tudo bem.
Lúcio respondeu-lhes que ela havia ficado nervosa com a confusão, mas que a levaria de volta para o hotel. Preocupado, Lúcio perguntou-lhe se sentia-se em condições de viajar para a fazenda.
Ludmila respondeu que estava com saudades de sua terra, de seu chão, que queria voltar para o seu lugar, e que o mal estar havia passado.
Com isto, o tal Armando Ribeiro, ao perceber o mal estar da moça, pediu-lhe desculpas pela confusão. Argumentou que havia sido grosseiro e inconveniente.
Lúcio nervoso, perguntou-lhe o que ele ainda estava fazendo ali.
Argumentou que Ludmila estava passando mal por causa daquela confusão.
O homem, ao ouvir o nome da jovem, comentou que se tratava de um bonito nome, de origem russa.
Comentou que era médico, e pediu para examiná-la.
Lúcio tentou resistir, mas ao olhar para o semblante pálido da esposa, resolveu autorizar o exame.
Com isto, a moça foi conduzida para o consultório do homem, sempre acompanhada do marido e dos homens.
Armando por seu turno, mediu a pressão de Ludmila, examinou a garganta da mulher.
Sempre na presença de Lúcio.
Ao perceber que a jovem não tinha nenhum problema de saúde, pelo menos aparente, perguntou-lhe não gostaria que seu marido se afastasse um pouco.
Lúcio, ao ouvir isto, disse-lhe que se estava pensando em ficar sozinho com Ludmila, que desistisse desta idéia.
Armando riu.
Comentou que ele não precisava sair da sala, apenas precisava fazer algumas perguntas pessoais a ela. Argumentou que desconfiava do que poderia ser, mas que para se ter certeza, seriam necessários, alguns exames.
O moço ao ouvir isto, perguntou se ela poderia viajar naquela noite.
Armando respondeu-lhe que para viajar, a moça precisava primeiramente, se recuperar do mal estar que tivera.
Como Lúcio se recusasse a se afastar de Ludmila, Armando não pode fazer as perguntas que pretendia.
Não obstante este fato, comentou que aquele mal estar poderia ser uma indisposição passageira motivada pela briga e pelo sol.
Lúcio respondeu que a moça estava acostumada com sol forte, e que aquilo parecia ter sido mais motivado pela briga, que por qualquer outro motivo.
Ao ouvir isto, Armando comentou que não parecia ser um simples mal estar.
Nisto, Ludmila perguntou ao médico se havia algum banheiro, que pudesse usar.
Armando indicou-lhe o lugar.
Lúcio, ao ouvir isto, perguntou-lhe se não poderia aguardar, pois estava retornando ao hotel.
Ludmila empurrou o rapaz e colocando a mão na boca, correu para o banheiro.
Diante da reação da moça, o peão perguntou ao médico o que estava acontecendo.
Rindo, Armando comentou que alguns homens tinham tanta sorte, que nem se davam conta disto.
Lúcio não compreendeu as palavras do homem.
Aflito, encaminhou-se até a porta do banheiro, e batendo nela, perguntou a Ludmila, se estava tudo bem.
Após alguns minutos, a moça abriu a porta.
Ainda estava pálida e aparentava cansaço.
Mesmo assim, disse estar se sentindo melhor.
Lúcio então, segurou a moça pelo braço e conduziu-a até a sala do médico.
Armando resolveu por sua vez, mediu a temperatura da moça e comentou que estava tudo normal.
Ao ouvir isto, o moço disse que não estava nada normal.
Lúcio argumentou que Ludmila não costumava ter achaques, que era uma mulher independente, livre e que estava preocupado. Comentou ainda, que nunca vira a esposa deste jeito, fraca, quase prostrada.
Ao ouvir isto, o médico perguntou-lhe sobre suas atividades domésticas.
Lúcio respondeu que ela cuidava de uma fazenda, que estava acostumada a andar a cavalo, a pegar sol forte, chuva.
Armando ficou impressionado.
Todavia, recomendou a moça que evitasse aquelas atividades pelos próximos dias, pelo menos até ter certeza do que estava acontecendo.
Disse-lhe que procurasse um médico em sua localidade, e que não fosse acompanhada do marido, ou nunca descobriria o que tinha.
Lúcio, ao ouvir isto, ficou nervoso, mas preocupado com a mulher, deixou a desavença de lado.
Questionou o fato do médico não haver dado um diagnóstico.
Armando respondeu-lhe que desconfiava do que era, mas como não tinha certeza, preferia não comentar.
Nervoso, Lúcio chamou-o de assediador barato e incompetente.
Armando ao ouvir isto, respondeu-lhe que poderia processá-lo, se continuasse a difamá-lo daquela forma.
Retrucou dizendo que ele era muito ciumento, mas argumentou que diante de tão bela esposa era compreensível o comportamento. Argumentou que também sentiria ciúmes de tão bela mulher.
Lúcio então, dirigindo-se a mulher, perguntou-lhe se estava sentindo-se se melhor para voltar para o hotel.
Ludmila respondeu que sim.
Nisto, ao tentar se levantar, sentiu a vista escurecer, e caiu sentada na cadeira onde estava.
Armando pediu então que deitasse a moça na maca.
Respondeu que ela precisaria permanecer alguns dias na cidade.
Lúcio, furioso, disse que voltariam naquela noite para sua região.
Armando, respirando fundo, ao ver que os homens permaneciam em seu consultório, agradeceu a intervenção, mas os dispensou.
Lúcio prometeu que não iria mais brigar.
Os homens se afastaram.
Armando recomendou mais uma vez, que a moça procurasse se acalmar, que respirasse fundo.
Perguntou-lhe se havia vomitado.
Ludmila respondeu que sim.
Armando perguntou-lhe se fazia muito tempo que estava sentindo mal estar.
Ludmila respondeu que não, que começou a passar mal depois que a briga começou.
Armando indagou então se tinha filhos.
Ludmila respondeu que não.
Armando perguntou-lhe se havia ficado grávida.
Ludmila respondeu que não.
Constrangido, pediu para Lúcio se afastar.
O moço contrariado, respondeu que não sairia da sala, mas percebendo que Armando não tinha como assediar a esposa, concordou se afastar um pouco.
Com isto, o homem perguntou diante de Lúcio, em tom baixo para que ele não escutasse, sobre as regras da moça.
Ludmila surpresa com a pergunta, argumentou que estava tudo normal.
Ao término das perguntas, Armando recomendou-lhe a realização de exames.
Lúcio indagou-lhe sobre o diagnóstico.
O médico respondeu-lhe que por um momento, desconfiou de uma gravidez, mas que diante do narrado pela moça, poderia ser uma indisposição apenas. Com isto, insistiu para que a moça fizesse alguns exames.
Lúcio nervoso, respondeu-lhe que seria a primeira coisa a ser feita quando chegassem na fazenda. Afirmou que encaminharia a esposa a um consultório médico e realizaria todos os exames que fossem precisos.
O moço comentou ainda, que Ludmila recuperaria sua disposição o quanto antes, e que receberia o tratamento adequado.
Nisto, Ludmila sentou-se na maca e lentamente se levantou.
Lúcio segurou-a nos braços, sob protestos da moça, que argumentou que poderia caminhar.
O moço respondeu-lhe, porém, que voltariam de táxi para o hotel.
Armando, ao ouvir isto, ofereceu uma carona em seu carro.
Lúcio tentou recusar, mas o médico argumentou que não lhe custava nada.
O moço então aceitou a oferta, mas argumentou que não poderia fazer sala para ele.
Mencionou que Ludmila precisava descansar.
Armando comentou que não havia necessidade de mesuras, e que só estava fazendo aquela gentileza, em consideração a moça.
Armando então, conduziu Lúcio até o carro.
O moço, que segurava Ludmila nos braços, ajudou-a a entrar no veículo.
Algumas senhoras, ao passarem no local, ao verem a moça sendo carregada, perguntaram se estava tudo bem.
Armando respondeu que sim, que aquilo era apenas zelo de um pai de primeira viagem.
As mulheres, ao ouvirem isto, parabenizaram Lúcio.
O moço, sem jeito, agradeceu.
Armando então, entrou no carro, e dirigiu até o hotel da cidade.
Lá, Lúcio ajudou Ludmila a sair do carro.
A palidez havia sumido do rosto da moça.
Lúcio, contudo, insistiu para carregá-la.
Ludmila não ofereceu resistência.
O moço então, agradeceu a carona.
Armando por sua vez, respondeu que não fizera mais do que sua obrigação.
Nisto, Lúcio adentrou as dependências do hotel com Ludmila no colo.
Os funcionários, ao se depararem com a cena, perguntaram se estava tudo bem.
Lúcio respondeu que sim, argumentou que a moça tivera apenas uma indisposição.
Com efeito, quando o moço finalmente chegou no quarto, Ludmila havia dormido.
Lúcio colocou a moça no leito.
Com isto, os planos de voltar para casa, foram adiados.
Voltaram dois dias depois.
Valdomiro recebeu um telegrama, no qual Lúcio comentava sobre a indisposição que a moça tivera.
Leocádia, ao tomar conhecimento do ocorrido, chegou a perguntar a marido se ela não estaria grávida.
Com isto, conforme os dias se passaram, mais disposta, Ludmila vestiu um bonito vestido, prendeu os cabelos com uma trança e desceu as escadarias do hotel.
Preocupado, Lúcio a todo o momento perguntava-lhe se estava tudo bem.
Ludmila sorrindo, respondia-lhe que sim.
Com efeito, durante a estada prolongada, o moço evitou sair com a moça pela cidade.
Isto por que, em todos os lugares por onde passavam, invariavelmente encontravam Armando, que fazia questão de cumprimentá-los e insistir para que a moça fizesse os exames recomendados.
Com efeito, a notícia da suposta gravidez de Ludmila espalhou-se pela cidade, e muitos desconhecidos vieram cumprimentá-la e fazer-lhe recomendações.
Ludmila ao ouvir as recomendações, insistia em dizer que não estava grávida, que estavam enganadas.
As mulheres, no entanto, insistiam em dizer-lhe que estava sim grávida.
Lúcio a todo o momento, recebia os parabéns.
Preocupado, Lúcio sugeriu carregar as bagagens sozinho.
Quando a moça fez menção da atravessar o saguão do hotel para se encaminhar ao táxi, Lúcio sugeriu carregá-la.
Ludmila respondeu-lhe que não havia necessidade, que estava tudo bem.
Nos dias seguintes ao incidente, Ludmila não teve nenhum mal estar.
Julgou que o mal era decorrente do nervoso, ou de algo que comera.
Com isto, adentraram o veículo.
Seguiram até a estação.
No trem, a moça perguntou-lhe o que achara da viagem.
Lúcio respondeu-lhe que era encantadora, em que pesem os últimos acontecimentos.
Ludmila, encostando a cabeça no ombro do rapaz, comentou que havia adorado a viagem.
Foi questão de minutos para que adormecesse.
Lúcio, abraçando a moça, ficou observando seu sono.
O casal de idosos a sua frente, encantado com Ludmila e Lúcio, perguntaram há quanto tempo eram casados.
Lúcio respondeu que há menos de um ano.
Curiosa, a mulher perguntou se já tinham filhos.
O moço respondeu que ainda não.
A certa altura, o moço também dormiu.
Ficaram abraçados.
A senhora, encantada com o casal, comentou que quando jovens, eles também eram assim.
O marido, ao ouvir isto, abraçou a esposa e disse que ainda eram muito unidos.
Quando a jovem despertou, Lúcio perguntou a moça, se estava com fome.
Ludmila respondeu afirmativamente.
Lúcio, ao ouvir a resposta, comentou feliz:
- Até que enfim! Pensei que a senhora nunca mais fosse ter fome.
De fato, Ludmila não vinha se alimentando bem, desde que ocorrera o incidente. Dizia não gostar da comida do hotel. Fato este questionado por Lúcio, já que desde que chegaram no lugar, comiam por lá.
Nisto, Ludmila perguntou as horas.
Quando Lúcio lhe disse que horas eram, a moça ficou espantada.
Tanto que chegou a perguntar por que dormira tanto.
Lúcio indagou se estava tudo bem.
Ludmila respondeu que sim.
O casal então, encaminhou-se para o vagão restaurante.
Ludmila devorou uma refeição composta de arroz e filet ao molho madeira, comeu sobremesa, vindo a repeti-la.
Lúcio, ao notar que a esposa comia com apetite, comentou que estava gostando muito de vê-la tão bem.
Com isto, quando a jovem terminou o almoço, o rapaz perguntou-lhe se estava satisfeita.
Ludmila respondeu que sim.
A viagem prosseguiu.
Quando chegaram na estação de trem da região onde ficava a fazenda, o moço pediu para que o condutor do carro que pegaram na estação, parasse em frente ao posto médico.
O motorista, ao ouvir a palavra médico, perguntou se estava tudo bem.
Lúcio respondeu-lhe que sim.
Tratavam-se apenas de exames de rotina.
Ludmila, que estava cansada da viagem, pediu para o homem seguir viagem.
Argumentando que se sentia melhor, disse que estava cansada e que queria voltar logo para casa.
Com isto, prometeu que mais tarde se encaminharia até o posto médico e faria todos os exames que ele quisesse.
Lúcio, percebendo o cansaço da esposa, concordou.
Desta forma, rumaram para a fazenda.
Ao chegarem na sede, o moço conduziu a jovem até a sala.
O empregado levou as malas até a entrada da casa.
Ludmila sentou-se no sofá e ligou o rádio.
Jurema providenciou um jantar leve e Ludmila se recolheu mais cedo.
Lúcio, percebendo o cansaço da esposa, disse-lhe que no dia seguinte iriam até o médico.
A moça concordou.
Mas sonolenta, ao se deitar na cama, adormeceu.
Lúcio também se recolheu mais cedo.
Ficou observando a mulher dormindo.
A certa altura, insone, levantou-se, aproximou-se da janela, abriu-a.
Ficou a observar as estrelas.
De longe velava pelo sono da esposa.
Estava ansioso.
No dia seguinte, de manhã cedo, o moço chamou Ludmila, disse-lhe que iria fazer uma consulta ao médico.
Ludmila argumentou que precisava trabalhar.
Lúcio, ao ouvir estas palavras, chamou-lhe a atenção.
Mencionou que ela estava proibida de proferir a palavra trabalho.
A fazendeira tentou argumentar, mas Lúcio disse-lhe que passaria no médico, e que, dependendo do que ele dissesse, poderia ou não trabalhar.
Ao ouvir isto, Ludmila respondeu que não poderia deixar a fazenda entregue as cobras.
Lúcio riu, disse que se fosse preciso, ele poderia cuidar de tudo por algum tempo.
Ludmila retrucou, dizendo que não poderia ficar parada.
Lúcio, segurando-a pelo braço, disse que ela não ficaria parada.
Talvez apenas, precisasse descansar um pouco.
Mais tarde, o casal se dirigiu a sala de jantar, onde tomou um bom café da manhã.
Em seguida, foram de carro para a vila.
Ao passar pelo médico, Lúcio fez questão de entrar no consultório com a esposa.
O doutor a examinou.
Dias depois a moça foi até a capital.
Lá fez os exames pedidos.
Ao saber o resultado, se encaminhou para a vila, antes que Lúcio despertasse.
Saiu da sede da fazenda ainda de madrugada, e se dirigiu a vila.
Saiu pé ante pé. Não tomou café.
Quando o moço despertou e não encontrou a esposa ao seu lado, levantou-se sobressaltado.
Ainda de pijama, procurou Ludmila por toda a casa.
Dirigiu-se até a cozinha.
Aflito, o moço passou a se perguntar onde ela teria ido.
Jurema, ao vê-lo sentado, de pijama, na cozinha, perguntou-lhe se estava precisando de alguma coisa.
Lúcio perguntou-lhe se havia visto Ludmila.
Surpresa, a mulher respondeu que não.
Tomado de preocupação, o moço retornou ao quarto. Vestiu-se.
Em seu cavalo, procurou Ludmila por toda a fazenda.
Ludmila ao passar pela vila, avistou a pensão onde ficara hospedada, visitou seus conhecidos no lugar.
Passou pela igreja, e depois dirigiu-se ao médico.
Voltou para casa feliz da vida.
Ao retornar a fazenda, dirigiu-se a um riacho.
Lúcio permanecia sentado próximo a sua margem.
Antes, ficara andando de um lado para o outro.
Parecia ansioso.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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