Poesias

quinta-feira, 29 de abril de 2021

O BEM E O MAL - CAPÍTULO 38

Diá, então, em seu retorno, decidida a destruir Lúcia, sabendo onde a moça costumava ir, e qual era sua missão, pensou em diversas formas de aniquilá-la.
No entanto, cada vez que pensava nisso, vinha-lhe a mente, de onde poderia ter vindo uma semelhança física assim tão grande.
Lúcia, por sua vez, fazendo-se a mesma pergunta, começou a pensar nisso.
Realmente as duas se pareciam muito. Tão semelhantes que pareciam gêmeas.
Curiosa Lúcia, ao lembrar-se que podiam assumir a forma que bem entendesse, passou a se perguntar, por que não havia pensado em aparecer na figura de uma outra pessoa. Perguntou-se também, por que Diá não havia feito o mesmo.
Intrigada, por mais que pensasse no assunto, não conseguia encontrar uma resposta.
Diá, também, pensando no assunto, não conseguia chegar a nenhuma conclusão.
Todavia a despeito disso, continuou achando muito estranha a situação. Sim por que, independente de qualquer coisa, tinha que destruir uma pessoa em muito assemelhada com ela.
A moça, então, lembrando-se que precisava agir, voltou a pensar em um plano para destruir Lúcia.
Pensando num estratagema, Diá, chegou a conclusão, que simplesmente intimidar a moça, não surtiria efeito. Não.
Lúcia não era tão fraca como pensava. De formas que, para atingi-la, seria necessário, arrastá-la para uma armadilha. Como elemento final, Diá, concluiu que, atraindo Solange para uma armadilha, conseguiria facilmente atrair Lúcia.
Sim, pensou Diá.
Se Lúcia estava ali para ajudar Solange, não poderia deixar que nada de mal lhe acontecesse.
Assim, passou a pensar em cada detalhe de seu plano.
Ao lembrar-se de que poderia falsificar a letra de Lúcia, escreveu um recado onde pedia para que Solange fosse encontrá-la a beira de um precipício.
Vendo um garoto na rua, pediu a ele que entregasse o bilhete para Solange. Pagando uma módica quantia, o menino fez exatamente o que ela pedira.
Solange, perplexa com o recado, ainda se acostumando com a perda da filha, emocionada foi até o lugar do encontro.
Raquel e Cínthia, que cuidavam dela, não estavam presentes quando Solange leu o recado e saiu em desabalada carreira em direção ao local do encontro.
Quando finalmente as duas mulheres foram visitar a amiga, ao perceberem que a casa estava toda trancada, apavoradas com a possibilidade de Solange ter cometido alguma insensatez, trataram logo de chamar a polícia.
Antônio, o policial, ao ouvir os apelos de Cínthia tratou logo de ir até a casa de Dona Solange.
Com a ajuda de outros dois policiais, arrombou a porta.
Vasculhando cada canto do imóvel, descobriram que Solange não estava ali.
Mas jogado no chão, estava um pedaço de papel.
Raquel ao pegar o bilhete do chão e ler o recado, descobriu que alguém, fazendo uma brincadeira de muito mal gosto, havia atraído Solange para uma armadilha.
Cínthia, ao ler o bilhete, ficou impressionada com a semelhança da grafia. Realmente, parecia a letra de Lúcia.
Antônio, percebendo a gravidade da situação, levou as mulheres até o local do encontro.

Antes disso porém...
Solange, sobressaltada, foi até o penhasco. Acreditando que se finalmente se encontraria com Lúcia, nem por um minuto parou para pensar se aquilo não era uma brincadeira de alguém muito cruel. Pelo contrário, realmente acreditou que encontraria Lúcia a sua espera.
Porém, ao lá chegar, qual não foi sua decepção ao chegar próxima ao precipício e perceber, que apesar de muito parecida com Lúcia, não era ela, mas sim Diá, que a esperava.
Muito embora, num primeiro momento, tenha confundido a moça com sua dileta filha, ao ver os modos da moça, percebeu que não era Lúcia.
Não, definitivamente quem se apresentava a ela, não era sua querida filha.
Percebendo o logro, foi logo rechaçando Diá, que tentava calmamente se aproximar.
Diá, notando que Solange a repelia e a rejeitava, começou a dizer que seu alvo não era ela diretamente.
Solange, nervosa, respondeu:
-- Então. Vá embora daqui. Eu não quero falar com você.
-- Não. Não Solange, eu não vou. Eu não esperei tanto para desistir logo agora. – respondeu ela firme e resoluta.
Solange assustada, pediu novamente para que ela fosse embora e mais uma vez ouviu não.
A mulher, quando percebeu que não tinha como fugir, tentou enfrentar a moça. Mas Diá, sem nem mesmo tocá-la, imobilizou-a, e utilizando-se de uma pedra, direcionou o objeto onde Solange estava e lançando este contra sua cabeça, fez com que a mulher, desfalecesse com a pancada.
Diá, notando o resultado de seu trabalho, comentou satisfeita:
-- Pronto. Finalmente essa mulher pára de falar.
Com isso, ficou esperando Lúcia.
Sabendo que a moça possuía as mesmas habilidades que ela, chegou a conclusão, que era apenas uma questão de tempo para que a moça aparecesse por ali, com a firme intenção de levar a mãe.
Foi exatamente o que aconteceu.
Assim que Lúcia percebeu que sua mãe fora atraída para uma armadilha, a moça partiu no encalço de Diá.
Foi apenas uma questão de tempo para encontrar a moça.
Diá, percebendo que seu plano havia dado certo, ficou deveras satisfeita. Tanto que irônica, chegou a comentar:
-- Nossa Lúcia. Não imaginava que você pudesse ser tão previsível.
A moça, percebendo a gravidade da situação, retorquiu:
-- Eu não estou aqui para brincadeiras. Vamos, deixe que Solange vá embora. Nós temos que resolver nossas questões sozinhas.
Diá, ao ouvir as palavras de Lúcia, começou a rir como uma louca.
Lúcia, irritada, disse que algo muito sério tinha que ser resolvido.
Assim não cabia a ela, brincar enquanto as duas não se acertassem.
Todavia, a despeito de tudo isso, Solange deveria ir embora.
Diá, depois de tudo ouvir, comentou que não a deixaria ir, enquanto não destruísse sua filha. Isso por que, fazia parte de sua missão, acabar também, que trouxesse qualquer alegria na vida de Solange.
Lúcia, então ao perceber a distração de Diá, direcionou contra ela, um raio.
A moça, ao ser atingida pela descarga elétrica, foi parar longe.
Enquanto isso, Lúcia, vendo que sua mãe permanecia desacordada, tentou despertá-la.
No entanto, tudo o que fazia, não deixava a mulher consciente.
Percebendo isso, Lúcia começou a gritar com Diá, para que ela desencantasse sua mãe.
Diá, ao ouvir o apelo de Lúcia, começou a rir impiedosamente.
-- Nunca! Enquanto eu não te destruir, ela não será despertada.
Lúcia, irritada, respondeu:
-- Pois então, tome isso.
Estava pronta para disparar um feixe de raios se fosse preciso.
Mas Diá, fingindo-se combalida, aproveitou-se da preocupação de Lúcia para recuperar suas forças. Foi então que levantou-se, e antes mesmo que Lúcia pudesse atingi-la com um novo raio, Diá, desferiu um golpe terrível.
Usando de toda sua força, desferiu um sucessão de raios contra Lúcia, que ainda aprendendo sobre suas novas habilidades, não sabia como se defender de toda aquela agressão.
Enfraquecida, foi questão de minutos para que Lúcia caísse no chão. Quase sem forças, não demoraria muito para que Diá conseguisse destruí-la.
Lúcia cada vez mais fraca, só conseguia se lembrar dos avisos do arcanjo e do cuidado que deveria ter com relação a Diá.
Tomando contato com toda a ira da moça, Lúcia descobriu que ela fora muito infeliz em sua vida terrena. E apesar de sua índole naturalmente má, a vida de Diá, na terra, não fora nada fácil.
Sempre tendo de lidar com o pior lado das pessoas, não aprendeu a amar, nem o valor de ser amada.
Lúcia apercebendo-se disso, começou a se concentrar e descobriu toda a história da moça.
Assustada, descobriu que as duas eram irmãs.
Nesse momento, Diá, percebendo que Lúcia estava vendo o mesmo que ela, perdeu o equilíbrio e por um breve instante, também a concentração.
Lúcia, aproveitando a oportunidade, mesmo chocada com a descoberta, começou a conversar com Diá. Contando que compreendia por que ela era tão má, ofereceu-se para ajudá-la.
Diá, ferida com as palavras de Lúcia, que perpassavam sua alma como flechas, respondeu que não estava interessada em nenhum tipo de ajuda.
Lúcia, insistiu. Dizendo que era sua irmã e que queria ajudá-la, pediu, implorou para que ela a deixasse auxialá-la.
Diá, porém, disse que não queria saber de ajuda.
Dizendo que nunca tivera uma irmã para ajudá-la, alegou que não seria agora, de uma hora para outra, que as coisas mudariam.
Lúcia chorou.
Chorou, mas percebendo que não tinha mais nada para fazer, utilizando-se de um feixe de raios, fulminou Diá com um raio que de tão forte, que fez com ela desaparecesse por completo.
Nunca se soube se ela realmente foi destruída.
Se é que uma alma o pode ser, ou se ela fugiu a tempo, quando percebeu que não teria nenhuma chance contra Lúcia.
Mas o fato é que, depois do sumiço de Diá, Solange finalmente despertou e vendo Lúcia diante de si, ficou muito feliz.
Ao se deparar com o milagre do amor, finalmente Solange compreendeu que a filha estava bem. Observando o semblante tranqüilo da filha, a mulher compreendeu que ela estava muito bem.
Lúcia, envolta em muita luz, parecia um anjo.
A moça, vendo a mãe, disse-lhe que já havia desempenhado sua missão, e que por isso, precisava voltar.
Solange, percebendo que era o momento de se despedir definitivamente da filha, abraçou-a e emocionada, disse-lhe que retomaria sua vida.
Lúcia também se emocionou.
Preocupada com a mãe, Lúcia disse-lhe que sempre estaria por perto. Assim, sempre que esta se sentisse só ou triste, era só sentir o cheiro de rosas que poderia ter certeza, ela estaria por perto.
-- Está bem! – respondeu Solange.
Com isso, as duas mulheres, novamente se abraçaram e Lúcia, dizendo que precisava ir, disse adeus e envolta em uma nuvem de luz, partiu.

Raquel, Cínthia e Antônio ao verem Solange, acorreram em seu encontro.
Ao perceberem que ela olhava fixamente para o horizonte, foram logo perguntando, o que ela tanto olhava.
Emocionada, Solange respondeu que nada.
Apenas apreciava a beleza do lusco-fusco vespertino.
Ao verem o ferimento no rosto de Solange, todos ficaram profundamente assustados.
Mesmo com a mulher dizendo que não fora nada demais, as amigas, Antônio e os policiais que os acompanharam, trataram de levá-la até o hospital.
Lá Solange teve seu ferimento limpo e fechado.
Depois de atendida, Solange teve que explicar para os policiais o por quê de ter ido até lá.
Inicialmente, inventou que tinha ido até o penhasco para fazer um passeio. Todavia, foi só tocar no assunto de passeio, para que Antônio lhe mostrasse o bilhete com a letra copiada de Lúcia.
Solange então, percebendo que não poderia sustentar a história, contou que intrigada com o bilhete, resolveu ir até para saber quem era o engraçadinho que estava brincando com ela.
Lá, irritada que estava, ao ver uma garota próxima do local do encontro, tratou logo de ir falar com ela.
Contudo, inadvertidamente, acabou por tropeçar e ao cair, provavelmente bateu a cabeça em uma pedra.
Raquel e Cínthia, assustadas, pediram para que a amiga tivesse mais cuidado.
Já Antônio, não ficou nem um pouco convencido com a história. Todavia, como não havia nenhum crime a ser apurado, acabou deixando de lado a história.
Nisso Solange, prontamente restabelecida, voltou para seu trabalho no hospital.
Aparentemente recuperada de seus problemas de saúde, Solange retomou sua vida.
Foi exatamente nessa época que, oferecendo-se para organizar o arquivo do hospital, descobriu entre inúmeros documentos, alguns exames referentes a suas filhas, que estavam há muito tempo abandonados, guardados em caixas.
Curiosa, assim que viu os papéis, as radiografias, e outros documentos, passou a analisar tudo com muito cuidado.
Ao olhar o exame de necropsia da criança recém-nascida, e algumas fotografias, descobriu que a criança examinada não se parecia nem um pouco com Lúcia, quando era bebê. Intrigada, Solange continuou vasculhando os documentos.
No passar de algumas semanas, finalmente descobriu em outra caixa, exames médicos e uma fotografia. A criança, do sexo feminino, era exatamente igual a Lúcia. Surpresa com a descoberta, continuou vasculhando a caixa. Quanto mais lia, mais se convencia de que aquela menina era sua filha.
Ao descobrir isso, Solange logo quis conversar com o diretor do hospital.
A mulher, relatando que uma das crianças, levada por outro casal, era igualzinha sua filha quando era bebê, conseguiu deixá-lo perplexo.
O homem, acreditando que Solange estava obcecada com a idéia de ausência da filha, acabou se convencendo, quanto ela finalmente lhe apresentou fotos e documentos comprovando que o que dizia era verdade.
Foi então instaurada uma sindicância no hospital. Ao final de três meses, finalmente se descobriu que a enfermeira que cuidara de seu parto havia por descuido trocado as crianças.
Solange então, curiosa para saber onde estava a filha, descobriu que, antes de sua filha ser morta, uma outra garota, com uma grande semelhança física com Lúcia, deu entrada no hospital.
Curiosa, Solange perguntou por qual motivo.
Ao ouvir que a garota havia sido morta, ficou desolada.
Triste, ao descobrir que a garota havia sido enterrada num cemitério longe da cidade, praticamente como indigente, pediu para que retirassem o corpo do local e o transferissem para a sepultura da família.
Antes porém, foram feitos todos os exames necessários para comprovar a maternidade.
Muito embora, Solange, ao ver o corpo, estivesse convencida de que a moça era sua filha, os médicos acharam por bem proceder aos exames necessários, para que não houvesse outro erro.
E assim, a moça foi enterrada dignamente.
Solange, depois de algum tempo, lembrando-se do incidente ocorrido no penhasco, constatou que aquela moça que a agredira, lançando-lhe uma pedra, era sua filha.
Triste com a novidade, prometeu a si mesma, que em respeito a Lúcia, não mergulharia novamente na tristeza. Pelo contrário.
Cansada de ficar sozinha, adotou uma criança e passou a cuidar dela, com todo o cuidado.
Nisso, finalmente chegou o momento do julgamento do crime que dera cabo a vida de sua dileta filha.
Emocionada, a cada momento se lembrava da filha e dos momentos que viveram juntas e felizes.
Triste, toda vez que ouvia as palavras do promotor ou do juiz, lembrava-se de que nunca mais teria Lúcia por perto.
Mesmo assim, acompanhou o julgamento.
Finalmente, ao ouvir que os acusados – membros de uma seita –, foram condenados, Solange sentiu que Lúcia podia agora descansar em paz. Isso por que, nunca mais aqueles homens horríveis fariam mal a alguém.
Satisfeita, por ter sido feita justiça, ainda assim, sentiu-se triste por um instante. Porém, foi só sentir o perfume das rosas, que seu pesar se dissipou.
Finalmente estava livre, para fazer sua vida recomeçar.
Feliz, sempre que podia, levava sua filha adotiva para passear. Ainda se lembrava de Lúcia.
Agora, raramente com tristeza, mas sempre com saudade.
Raquel e Cínthia, vendo a amiga retomando a vida, ficavam felizes por ela. Muito embora também sentissem a saudade de Lúcia, sabiam que tinham que dar força a ela.
E assim, a vida prosseguiu.

Fim

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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