Poesias

sexta-feira, 30 de abril de 2021

AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 2

Animada com a possibilidade de se reencontrar com seu avô, lembrou-se das histórias contadas por ele sobre a origem da família.
Conhecia já um pouco da triste história de Lúcia, filha de seu avô Orlando, a qual só foi reconhecida como filha, já adulta.
Gabriela gostava de muito desta tia.
Sempre quando Lúcia retornava para o Brasil, aproveitava para passar algum tempo no hotel de Orlando. Lá aproveitava para contar as novidades.
Vivia na Europa, era uma mulher bonita e independente.
Qualidades que Gabriela admirava.
Isto por que, sempre questionou o fato de sua mãe, Margarida viver da pensão de Cássio.

Gabriela dizendo que gostaria de ganhar seu próprio dinheiro, comentou certa vez com a mãe, que pretendia começar a trabalhar. Foi o bastante para que Margarida lhe chamasse a atenção.
Dizendo a Gabriela que ela deveria se preocupar mais em estudar para ser alguém na vida, Margarida argumentava que depois de formada ela teria tempo de sobra para trabalhar.
Gabriela sempre que ouvia tais palavras, ficava furiosa.
Era o ponto de partida para que as duas iniciassem uma briga.

Cássio, por sua vez, sempre que percebia que iria se iniciar alguma briga, procurava intervir.
Agora porém, as duas estavam sozinhas. Tinham que aprender a conviver com a divergência. Não havia mais ninguém para apartar as brigas.

Com efeito, Lúcia era o oposto de Margarida.
Gabriela aproveitando a presença de sua tia no hotel, passava longas tardes conversando com ela.
Lúcia era uma pessoa agradável.
Gabriela e ela se identificavam.
Para completar, Gabriela e Paul (filho de Lúcia), adoravam a companhia um do outro.
Com o primo, Gabriela aproveitava para saber um pouco mais sobre seu dia-a-dia na Europa. Seus estudos, o que fazia nos momentos de lazer.

Lúcia, por sua vez, comentava sobre seu trabalho, sua trajetória como modelo, os museus da Europa.
Ao ouvir as novidades contadas pela tia, Gabriela sentia vontade de correr o mundo.
Isto por que Gabriela não se cansava de perguntar como era sua vida.

Com efeito, quando Lúcia levava toda a família para uma estada no Hotel Aquarela, Orlando ficava muito feliz.
Atencioso sempre se desdobrava em atenções para a filha, o neto e o genro.
Certa vez, Gabriela comentou com seu avô:
-- Nossa quanta atenção, vô! Nem eu sou tão paparicada.
Orlando comentava então, que tratava a todos com igualdade.
Gabriela começava a rir.
Dizendo que estava brincando, comentou que pedir para que os funcionários caprichassem ainda na mais na preparação dos alimentos, na arrumação dos quartos, no serviço em geral, era pedir para melhorar o que já era perfeito.
Orlando achou graça nas palavras da neta.

Gabriela percebia que muito embora Lúcia fosse uma pessoa gentil, possuía um semblante triste. Amável e carinhosa, havia desenvolvido uma carreira internacional como modelo, e agora trabalhava como organizadora de desfiles.

Segundo o que Orlando lhe contara, desencantada com os acontecimentos ocorridos no Brasil, Lúcia aproveitou a oportunidade de ser modelo no exterior.
Alta e bonita, (logo após um acontecimento que marcou tristemente sua vida) enquanto caminhava distraída pelas ruas de São Paulo, recebeu uma proposta de trabalho como modelo.
Nelson, o dono de uma agência, ao observá-la caminhando pelas ruas da cidade, convidou-a para um trabalho de modelo.
Trabalho este que mudou sua vida.
Orlando então contou para Gabriela, que na primeira vez que Lúcia ouviu a proposta, desdenhou.
Desiludida, não podia acreditar que o que lhe estava sendo oferecido poderia ser verdade. Pensou se tratar de uma brincadeira.
Mas Nelson, dono da agência de modelos, era insistente.
Mostrando a idoneidade de seu estabelecimento, ofereceu todas as garantias que Lúcia precisava para concordar com a proposta.

Foi exatamente nesta época que Orlando, após muito procurar pela filha, fruto de um relacionamento extraconjugal, com uma mulher chamada Natália, finalmente a encontrou trabalhando como modelo.
Ao chegar em São Paulo de carro, observou uma foto da moça. Lúcia estava belíssima num outdoor.
Nesta época, Orlando já havia contratado um detetive particular, para localizar a moça.
Sentia-se em dívida com a criança.
Para se justificar do deslize, Orlando comentou que a avó de Gabriela, Dona Amália, se encontrava gravemente enferma. Acamada, dispensava grandes cuidados.
Comentou que vivia ao lado da cabeceira da cama da esposa. Esperançoso, apesar do avanço da doença, acreditava ainda que a mulher poderia se recuperar.
Mas o tempo passava e Amália só piorava.
Apesar da esperança, Orlando já começava a desanimar.
E foi assim, exausto e desanimado, Orlando acabou encontrando alívio nos braços de Natália, jovem, bonita e saudável.
Natália, cheia de energia e vitalidade, ao perceber Orlando amuado, em restaurante, aproximou-se.
Era uma tarde fria em que ele almoçava novamente sozinho.
Natália por sua vez, como quem não queria nada, pediu dicas sobre onde poderia se hospedar.
Orlando comentou que a moça poderia se hospedar no hotel onde se localizava aquele restaurante.
Naquele tempo, Orlando ainda não possuía a rica propriedade que em que instalou o Hotel Aquarela.
Possuía um pequeno hotel.
Gabriela perguntou ao avô se a moça tinha conhecimento deste fato.
Orlando comentou que sinceramente, não sabia responder. Sabia apenas que durante o tempo em que se relacionou com a moça, a mesma não demonstrou ter conhecimento do fato.
Ao ser indagado a este respeito, Orlando comentou que nem mesmo no momento em que se desentenderam, Natália mencionou este fato.
Orlando por sua vez, relatou que nunca mencionou esta circunstância para a moça.

Enquanto estiveram juntos, os dois viveram bons momentos.
Discreto, Orlando arrumou uma pequena propriedade para a moça morar. Era neste local que os dois se encontravam.
Algumas vezes, aproveitava as oportunidades poucas oportunidades que tinha para se encontrar com a moça, para levá-la para jantar fora, passear.
Com o tempo, porém, em razão do agravamento da saúde de Amália, os passeios foram se escasseando.

Cássio, filho de Orlando com Amália, nesta época era um bebê.
Gabriela, quando ouviu esta história pela primeira vez, chocou-se. Afinal de contas, Amália morreu ainda jovem, no começo do casamento de ambos.
Gabriela surpreendeu-se com a história de uma morte assim tão absurda, e também pelo fato de seu avô nunca ter se casado novamente.
Questionou ainda o fato de seu avô ter sido infiel.
Todavia, sentia que mesmo com o deslize, Orlando amara a mulher.
Gostava tanto que mesmo após a morte da esposa e do filho, não se cansava de exaltar a memória de ambos. Dizia sempre que fora presenteado com a vivência de duas pessoas maravilhosas que partiram muito cedo desta vida.
Sempre que dizia estas palavras, Orlando se emocionava.
Dizia também que Amália era sensitiva e chegou a dizer-lhe que o filho de Natália, não seria criado por ele, tampouco por Natália.
Sim, Amália descobriu a infidelidade do marido. Percebeu pelos gestos e atitudes de Orlando, que ele estava diferente.
Muito embora continuasse a cuidar da esposa enferma, Orlando estava mais vaidoso.
Este fato despertou a atenção de Amália.
Quando então, se viu descoberto, Orlando tentou negar os fatos, porém não havia como.
Amália, respondeu então, que estava triste com a traição, mas que tinha perfeita consciência de que para que uma pessoa pudesse privar de sua companhia, e expiar suas faltas, precisava vir ao mundo naquelas circunstâncias.
Orlando ao ouvir tais palavras ficou perplexo.
Gabriela, quando ouviu a história pela primeira vez, também.

Quando Orlando se desentendeu com Natália, a qual exigira que ele abandonasse a esposa doente, percebeu que o vaticínio de Amália estava correto.
Revelando que estava grávida, Natália, ao perceber que Orlando jamais abandonaria a esposa para ficar com ela, num gesto impensado, arrumou suas malas, e desapareceu. Deixou para trás a pequena casa, que ele havia lhe arrumado, partiu.
Nunca mais se ouviu notícias suas.

Orlando nesta época, era proprietário de um pequeno hotel na região metropolitana de São Paulo.
Foi assim que foi dado início ao hotel magnífico que seria o Hotel Aquarela. Foi assim que pouco a pouco foi comprando terrenos que dariam lugar a uma vasta e rica paisagem, uma linda e esplendorosa propriedade.

Realmente, Orlando nunca mais ouviu falar de Natália.
Através do detetive particular que contratara, descobriu no entanto, que Lúcia fora criada por Etevaldo e Júlia.
Lúcia fora abandonada por sua mãe Natália.
Com isto, o casal, impossibilitado de ter filhos, ao ver o bebê abandonado na porta de casa, decidiu não entregá-lo para adoção.
Temerosos porém, de que alguém poderia reclamar pela criança, resolveram se mudar para uma cidadezinha tranqüila no interior de Minas Gerais, local onde Lúcia teve um infância tranqüila e feliz.
Até que ficou moça e passou a atrair a atenção dos rapazes da cidade.
Quem não gostava disso, eram as outras moças.
Enciumadas, destratavam Lúcia.
Dizendo que ela era filha dos funcionários da melhor escola da localidade, faziam questão de deixar bem claro, que ela não deveria se misturar com o pessoal do lugar.
Lúcia não se importava com isto.
Dizendo que estava apenas interessada em estudar, ao ser informada que havia ganho uma bolsa para estudar no mesmo colégio em que seus pais trabalhavam, ficou feliz da vida.
Tão feliz que não se importou com a hostilidade das moças do local e com o assédio dos rapazes.
Fingindo não ver o que acontecia, dedicou-se com afinco aos estudos.
Enquanto os demais só se preocupavam com festas, lá estava Lúcia estudando.
Isto serviu para atrair mais fúria para ela.
Mas Lúcia não ficou isolada.
Conseguiu encontrar bons amigos no colégio. Lá também estudava Cássio.
Cássio e sua namorada Bruna, acabaram se tornando grandes amigos de Lúcia.
Já Hélio e seus amigos não perdiam a oportunidade de paquerar Lúcia.
A moça porém, fingia não ver.
Hélio, por sua vez, percebendo a indiferença de Lúcia, ficava furioso. Tanto que certa vez chegou a realizar uma aposta com os amigos. Apostava que conseguiria passar uma noite com Lúcia.
Descrentes, seus amigos não participaram da aposta.
Hélio por sua vez, ficava profundamente irritado com isto. Dizendo que seria capaz de tal proeza, comentava que eles ainda iriam se desculpar com ele por isto.
Seus amigos porém, não acreditavam em suas palavras.
Com isto, além da incredulidade dos amigos, era obrigado a ouvir suas gozações.
Em relação a isto, sempre que se aproximava de Lúcia, independente da abordagem adotada, Hélio era ignorado pela bela moça.
Lúcia decididamente, não estava disposta a envolver com nenhum dos rapazes do colégio. Tampouco com  Hélio, sempre inconveniente e desagradável.

Cássio e Bruna chegaram a presenciar algumas dessas cenas.
Quando Lúcia atravessava o pátio do colégio, alguns rapazes chegavam a acompanhá-la até a sala.
Cássio e Bruna certa vez, ao verem Hélio segurando o braço de Lúcia, percebendo que a moça pedira para soltá-la e o rapaz não atendeu, resolveram se aproximar.
Hélio, percebendo a aproximação, resolveu se afastar.
Cássio e Bruna, percebendo que Lúcia se assustara com a abordagem, perguntaram o que ele dissera.
Lúcia, nervosa, respondeu que nada.
Cássio porém, desconfiado, pressionou Lúcia, para que contasse o que havia se passado.
Todavia, mesmo insistindo muito, a moça se fechou em copas.
Bruna por sua vez, também estranhou o comportamento de Lúcia.
Com isto, quando finalmente ficou a sós com Cássio, comentou que Lúcia poderia estar sendo ameaçada.
-- Ameaçada? E por que não nos contou nada? – perguntou Cássio.
-- Talvez por que Hélio tenha ameaçado fazer alguma coisa contra seus pais, ou mesmo contra ela.
Preocupado, Cássio comentou que aquele sujeito não lhe inspirava confiança e que por esta razão precisavam ficar de olho em Lúcia.

Neste ponto, procurando explicar que Cássio se tornara amigo de Lúcia, Orlando comentou que pesaroso com o que sucedera a Amália, decidiu que o filho estudaria neste colégio. Lá ficaria hospedado em casa de amigos. E assim, Cássio estudou no mesmo colégio que Lúcia.
Sem saber, a vida dos dois se unira.
Lúcia e Cássio, sem saber que eram irmãos se tornaram grandes amigos.
-- Curioso! – comentou Lúcia.
-- Como é a vida! Se encarregando de unir, quem as pessoas separaram!

Sim, Orlando com seu trabalho, angariou muitas amizades. Era conhecido em várias localidades. Além do mais, queria deixar o filho afastado dos comentários maldosos.
Orlando sabia que cedo ou tarde, Cássio tomaria conhecimento de que possuía uma irmã. Queria porém, encontrar primeiramente a moça – sua filha sumida.
Depois revelaria a história para Cássio.
Orlando procurou por Lúcia por muitos anos.

Cumpre destacar ainda que Orlando criou sozinho o filho, e Cássio se tornou um homem de bem.
E durante anos, procurou por Lúcia.

Porém só a encontrou, quando Lúcia estava prestes a viajar para a Europa.
Lúcia após passar por um demorado curso de etiqueta, e após alguns meses de trabalho no mercado local, já estava de malas prontas para desfilar na Europa.
Sim conforme já mencionado, Lúcia foi uma modelo internacional renomada.
-- E eu não sei? – retrucou Gabriela – Uma tia famosa na família, não é para qualquer um!
Orlando, ao ouvir tais palavras, comentou que Lúcia, apesar da tragédia que se abatera sobre ela, conseguiu reconstruir sua vida.
Quanto a este ponto, Gabriela perguntou ao avô, por que ele sempre omitia este ponto da vida de Lúcia.
Desconversando, Orlando comentou que esta era uma história muito triste, que não tinha condições de revelar.
Percebendo o interesse da neta, na história não relatada, pedia insistentemente para que não comentasse isto com Lúcia.
Gabriela por sua vez, mesmo insatisfeita com a resposta, prometeu para o avô que não cometeria tal indelicadeza.
Percebendo que era penoso para o avô tocar neste assunto, deixou de insistir no assunto. Comentou que ele contaria a história quando e se quisesse revelá-la.

Com isto, Orlando reiterou que desde que Natália deixara tudo para trás, procurava pela filha.
Porém, sem saber seu nome, sem conhecer suas características físicas, se era um menino ou uma menina, ficava difícil encontrar a criança.
Para ajudar, Natália sumiu do mundo. Parecia não pertencer mais a terra.
Curiosa a este respeito, Gabriela sempre perguntava ao avô se ela nunca mais fora vista por ele.
Orlando ao ouvir esta pergunta, sempre respondia que, muito embora tenha tentado encontrá-la para oferecer ajuda, nunca conseguiu localizá-la. Não fazia a menor idéia se ainda estava viva ou se já havia morrido.
Gabriela também perguntava ao avô, se Natália nunca havia tentado encontrar a filha.
Orlando respondeu que em tais circunstâncias, dificilmente Natália encontraria a filha. Primeiramente por que quem a registrou como Lúcia foram Etevaldo e Júlia, e também por que eles não permaneceram na cidade onde a criança foi abandonada.
Isto complicava tudo.
Gabriela então retrucou:
-- Mas o senhor não descobriu?
No que Orlando respondeu:
-- Sim, descobri. Mas a custo de muitos anos de espera e paciência, e muito dinheiro também. Encontrar uma criança a qual eu não sabia sequer o nome, o paradeiro, a aparência física. Foi como encontrar agulha no palheiro. Em vários momentos pensei que nunca fosse encontrar a minha filha. Quantos enganos, quantas decepções. Ah, Gabriela, como é triste a espera! Agora eu entendo o quanto sofrem as mães e os pais que tem filhos desaparecidos. É triste a espera de quem fica.

Emocionado, Orlando comentou que ao descobrir o paradeiro da filha, precisou primeiramente, reunir coragem para se apresentar a Lúcia.
Inicialmente, contatou Nelson, com quem Lúcia desenvolvera uma relação de amizade, a qual perduraria por muitos anos, mesmo à distância.
Contou que era o pai biológico de Lúcia, mas que a moça não sabia disto.
Nelson então comentou que Lúcia tinha conhecimento de que era a filha adotiva de Etevaldo e Júlia, mas que, por uma questão de consideração, e a pedido de ambos, não revelara para ninguém este fato. Somente com Nelson abrira uma exceção.
Orlando então, relatou que ela conhecia Cássio, seu filho legítimo. Revelou que ambos haviam tornado-se grandes amigos, mas como Cássio nunca comentara que Lúcia era filha adotiva, nem cogitou investigá-la.
Somente após muito tempo procurando-a, finalmente encontrou Lúcia, a moça que poderia ser sua filha.
Abrindo seu coração, Orlando revelou também que tivera uma amante, de nome Natália e com esta moça, tivera Lúcia.
Comentou ainda, que talvez para esconder sua desonra, a moça abandonou a filha na porta do casal.
Ao ouvir tais palavras, Nelson censurou a conduta de Orlando.
Criticando-o, Nelson perguntou-lhe por que não amparou a mulher e a filha.
Orlando comentou então, que quando Natália tomou conhecimento de que ele não abandonaria a esposa para ficar com ela, ficou furiosa.
Com isto, arrumou suas malas e desapareceu.
Não queria ser encontrada.
Orlando comentou ainda que, mesmo não podendo assumir Natália, prometeu que a ajudaria a criar a filha, inclusive registrando-a em seu nome.
Entretanto, não poderia assumir Natália por que já era casado, e não poderia abandonar sua esposa enferma. Amália, a mulher que amou a vida inteira. Namoro de infância. Primeira namorada, com quem se casou, e até hoje se arrepende de tê-la traído.
Tanto que nunca mais se casou. Com relação a isto, respondeu que talvez esta seja uma forma de se penitenciar da deslealdade com Amália.
Nelson então, ao ouvir tais palavras, calou-se.
Percebendo a sinceridade de Orlando, prometeu que o ajudaria a conversar com Lúcia.

Conversa esta que não foi nada fácil.
Isto por que, Lúcia não queria qualquer contato com estranhos.
Traumatizada, não queria conversar com Orlando.
Desconhecendo as razões pelas quais o homem queria falar-lhe, pensou se tratar de alguém vindo da parte de Hélio.
Desta forma, foi preciso muita insistência para que a moça concordasse em conversar com ele.
Nelson percebendo o temor de Lúcia, comentou que Orlando que não queria fazer-lhe mal. Apenas conversar. Comentou que o homem precisava lhe revelar um segredo.
Intrigada Lúcia concordou em conversar com Orlando. Mas não sem antes se certificar de que Orlando não conhecia Hélio.
Conversa esta longa e complicada.
Isto por que, mesmo ciente de que não era filha biológica de Etevaldo e Júlia, Lúcia custava a acreditar que aquele homem diante dela, poderia ser seu pai biológico.
Tanto que quando Orlando sugeriu a realização de um exame de paternidade, Lúcia resistiu à idéia. Somente depois algum tempo, concordou.
Com isto, a viagem para a Europa precisou ser adiada.
Quando finalmente chegou o resultado do exame realizado, Orlando, percebendo que suas suspeitas se confirmaram, agradeceu aos céus.
Dizendo que finalmente sua procura chegara ao fim, comentou com Nelson e Lúcia que já havia passado por aquele exame inúmeras vezes, e que muitas vezes se decepcionara.
Agora não. Estava diante de sua filha biológica mesmo.

Quando Etevaldo e Júlia, souberam disto, correram para São Paulo, temendo que Lúcia os abandonassem.
Ao chegarem, comentaram com Lúcia que agora que ela possuía um pai abonado, e portanto não precisava se preocupar com eles.
Lúcia, percebendo a insegurança de ambos, comentou que nunca abandonaria seus pais de criação. Seus verdadeiros pais.
Sim, as pessoas que a criaram e cuidaram dela. Casal que providenciou, mesmo com muita dificuldade, passagens para ela viajar para São Paulo, com vistas a tentar se esquecer dos problemas recentemente enfrentados. Mesmo sem poderem, abandonaram o trabalho, só para acompanhá-la neste passeio, que mudou positivamente sua vida, fazendo-a abandonar seu estado de letargia.
Neste momento, os três se abraçaram emocionados.

Dias depois, Lúcia apresentou os pais a Orlando, e com isto, os três, pelo bem da moça, se tornaram amigos.
No dia da partida de Lúcia, levaram a moça até o aeroporto.
Lá se despediram.

Durante estes anos, Lúcia fez uma linda carreira internacional. Muitos desfiles, capas de revistas, eventos, participações em programas europeus, alguns trabalhos em capas de revistas brasileiras.
Mas sua carreira se concentrou mais no exterior.
Vez por outra, a moça retornava para São Paulo.
Nesta época Etevaldo e Júlia estavam trabalhando em outro colégio de outra localidade mineira. Lá estudava Pedro – filho de Hélio.
Lúcia, casada com o francês Jean, deu a luz Paul.

Nisto o tempo passou.
Quando Orlando descobriu, por intermédio de Nelson, o que Hélio havia feito com sua filha, ficou furioso.
Prometeu a si mesmo que se encontrasse aquele homem em sua frente, acabaria com sua vida.
Nelson, nervoso, pediu insistentemente para que ele não comentasse com Lúcia, que sabia do ocorrido.
Orlando furioso, comentou com o empresário, que ele não poderia ter-lhe omitido esta informação.
Nelson comentou então, que teve grande dificuldade em se aproximar da moça, ganhar sua confiança, e que não podia agora decepcioná-la.
Orlando, percebendo a aflição de Nelson prometeu que nunca contaria a moça, como descobrira o que ocorrera.

Nisto, quando retornava para o Brasil, a moça aproveitava para visitar os pais em Minas, e Orlando em seu magnífico hotel na região metropolitana de São Paulo.
Com o passar dos anos, Lúcia finalmente passou a chamar Orlando de pai, e Paul, seu filho, a chamar Orlando de avô.
Quando ficava hospedada no hotel de Orlando Lúcia aproveitava para levar sua família junto.
Com isto, Gabriela aproveitava a companhia do primo Paul.
A moça achava graça do sotaque do garoto.
Apesar da diferença de três anos entre eles, tinham grandes afinidades.
Sempre que se encontravam no luxuoso hotel do avô, aproveitavam para passear pelas amplas áreas verdes do hotel. Conversavam bastante, e aprontavam algumas travessuras.
Nisto, a cada ano que passava, o hotel se tornava mais amplo e luxuoso com várias áreas de lazer.

Orlando comentou certa vez com Gabriela, que revelar para Cássio que ele possuía uma irmã, fruto de uma relação extra-conjugal, foi muito difícil.
Mas ao contrário do que poderia se supor, o rapaz surpreendeu o pai.
Isto por que, comentando que desconfiava de tantas viagens e ausências, bem como da presença de um estranho sujeito no hotel, que se hospedava freqüentemente por ali. Cássio então, relatou que após ouvir comentários sobre um suposto caso de Orlando com uma mulher chamada Natália, ficou especulando.
Com efeito, Ao ouvir a conversa sobre um suposto adultério de seu pai, revelou que ficou furioso.
Porém, desconfiado do teor dos comentários, resolveu especular.
Foi então que passou a desconfiar que seu pai só poderia estar tentando encontrar pistas do paradeiro da suposta mulher e de sua filha.
Ao ouvir tais palavras, Orlando se encheu de coragem e revelou que aquele estranho homem, estava procurando pistas sobre o paradeiro de sua filha.
Cássio, ao ouvir tais palavras constatou que o ouvira era verdadeiro.
Orlando então, com muita dificuldade, relatou que possuía uma filha, fruto de um relacionamento com outra mulher.
O rapaz ficou chocado. Não podia acreditar o que ouvira era verdadeiro.
Orlando por sua vez, dizendo que havia encontrado a moça, mencionou que estava confirmada sua paternidade, e que por esta razão a garota seria reconhecida por ele.
Cássio ficou chocado.
Censurando o pai, Cássio levou algum tempo para aceitar a novidade.
Quando soube porém, que a moça em questão era Lúcia, ficou deveras feliz. Mal podia acreditar.
Com isto, mesmo vivendo distantes um do outro, Lúcia e Cássio (irmãos),
viviam trocando correspondências.
Margarida porém, não gostava nem um pouco da proximidade dos dois.

Sim, Margarida se casou com Cássio, o qual se desentendeu com Bruna.
No tocante a isto, Orlando comentou que não conseguia compreender como Cássio conseguiu se desentender com uma pessoa tão doce quanto Bruna.

Ao se dar conta que Gabriela ouvia a tudo com atenção, percebendo o ar intrigado da neta, tentou desconversar.
Em vão.
Gabriela ficou intrigada com a história.
Tanto que questionou o avô a este respeito.
Orlando porém, se fechou em copas.

Orlando, também comentou que muito embora esta história do reconhecimento da paternidade com Lúcia, tenha terminado bem, lamentava a perda do filho em um acidente.
Casado com Margarida, Gabriela sabia que Orlando não concordara com este casamento. Por esta razão a relação entre Orlando e a nora não era boa.
Margarida por sua vez, não perdia a oportunidade de comentar com Gabriela que Orlando não gostava dela.
Gabriela, contudo, nunca valorizou os comentários da mãe. Adorava o avô, atitude esta que provocava a fúria de Margarida, que se sentia injustiçada. Sentia-se colocada para escanteio pela filha.
Desta forma, as duas brigavam freqüentemente.
Quando Cássio era vivo, conforme já foi mencionado anteriormente, o mesmo conseguia amenizar as confusões, amainar as rivalidades, mas agora as brigas se intensificaram.

Com efeito, relembrar do filho, apesar de triste, fazia bem a Orlando.
Quando o rapaz morreu, Lúcia deixou o trabalho na França, e veio acompanhar o enterro do irmão juntamente com Orlando.
Margarida, ao ver a proximidade de Lúcia, comentou com Gabriela que ela estava fazendo média com Orlando.
Gabriela que adorava a tia, ao ouvir tais palavras, ficou furiosa. Por esta razão, deixou sua mãe falando sozinha.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 1

Gabriela prepara suas malas para passar algum tempo no hotel de seu avô, o senhor Orlando Fernandes.
Entretida em sua prazerosa tarefa, separa blusinhas leves, calças jeans, shorts, biquínis, vestidos, sapatos, camisolas, chinelo, toalha de banho, saídas de praia, livros, protetor solar, produtos de higiene pessoal, etc.
Margarida, sua mãe, questiona o fato da filha querer ficar tanto tempo longe de casa. Segundo ela, as férias devem ser curtidas junto à família, e quem mais próximo de Gabriela do que sua mãe?
Gabriela, porém, saudosa de seu avô, retrucava dizendo que não o via há muito tempo e que já era hora de visitá-lo.
O que incomodava sua mãe, não era a viagem em si, mas o fato de Gabriela ser mais ligada a seu avô do que a ela.
Isso por que, sempre que tinha algum problema ou alguma dúvida a ser sanada, Gabriela preferia recorrer a Seu Orlando, que a própria mãe, que nunca entendia seus questionamentos e sempre a criticava.
Sim, o relacionamento entre as duas não era nada bom!
Seu Orlando neste quesito, era o oposto de Margarida, sabia ouvir e estava sempre disposto a ajudar sua neta.
Daí o interesse de Gabriela em viajar.
Fazia meses que não o via pessoalmente. Tinha muito que conversar com ele.

Desta forma, nos dias que se seguiram, Gabriela tratou de colocar seu plano de visitar o avô, em prática.
Ansiosa com a viagem e o reencontro, recordava-se das tardes fagueiras no hotel do avô querido. De suas histórias, de sua vida.
Dos passeios que faziam juntos, das caminhadas, do deslumbramento com a beleza do lugar. Bucólico.
Longe da correria de São Paulo.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

BELÍSSIMA – MISS BRASIL 2000 - Capítulo 5

Lá, foi instruída sobre deveria se portar e enfrentar entrevistas. Ganhou um guarda-roupa novo, algumas jóias, um novo carro, um apartamento nos Estados Unidos.
Durante este ano de reinado, conheceria vários lugares do mundo, visitaria lugares pobres, em guerra. Mas também veria muita riqueza e opulência.
Dito e feito, visitou países da África assolados por guerras civis, violência e AIDS. Visitou instituições humanitárias.
Viu o sofrimento espelhado em olhares e expressões ora desesperadas, ora desesperançadas.
Chorou ao saber da expectativa de vida em alguns países na África, das minas terrestres, da situação dos refugiados. Das guerras.
Conheceu Organizações Internacionais, como os Médicos sem Fronteiras, A Cruz Vermelha, o Exército da Salvação, entre outras.
Visitou crianças órfãs.
Conheceu a triste realidade dos estupros na África do Sul.
Dos brancos fazendeiros sendo expulsos da África, de ditaduras instaladas em países africanos, do contrabando de pedras preciosas.
Também conheceu histórias de esperança, de reconstrução de países recém-saídos de guerras civis.
Viu também pujança econômica na África. Visitou o Cabo da Boa Esperança na África do Sul, conheceu a riqueza do país. Não só a riqueza econômica reservada a poucos, mas também a riqueza cultural.
Conheceu a Ásia, sua miséria e sua riqueza.
A Índia e seu trânsito caótico, o lixo espalhado nas ruas, as mesquitas, o Taj Mahal – e a história de amor envolvendo o templo, a injustiça do sistema de castas.
Em postal enviado para a mãe, confidenciou que o Brasil mesmo com toda sua miséria, ainda é melhor que muitos países da África, da Ásia, e do Oriente.
Isto por que, mesmo com todos os problemas daqui, como pobreza, miséria e desigualdade social – a qual é gritante em nosso país – os mesmos problemas naquelas terras é muito maior. Se houvesse comparação, argumentou que mesmo com todos os problemas do país, viver no Brasil é muito melhor do que viver em alguns desses países.
Mencionou que até inimigos declarados, ao chegarem no Brasil, convivem harmoniosamente, com turcos e libaneses, judeus e muçulmanos, etc.
Brasil é a terra da harmonia e da tolerância, mesmo com toda a violência e racismo disfarçados.

Amanda também conheceu a situação do Oriente Médio, a guerra entre judeus e muçulmanos, a disputa pela Faixa de Gaza.
Conheceu a história do Islam, das mulheres muçulmanas. Da liberdade conquistada em alguns países muçulmanos, para que as mulheres possam estudar e ter uma profissão.
Descobriu que em alguns lugares não podia entrar, sob o argumento de que se tratava de recinto só freqüentado por homens.
Conheceu a China e sua muralha. Sentiu de perto o clima de falta de liberdade de expressão no país. Pode ver que tem pessoas que são discriminadas no país, e que como os chineses são mal pagos pelo trabalho realizado.
Na Rússia, tomou conhecimento da existência de uma máfia russa, além dos monumentos históricos, e também da pobreza do lugar.
Lá sentiu-se acolhida, tendo em vista a existência de brasileiros e de pessoas que estudam a língua portuguesa por lá.
Sofreu com o frio. Mas antes de chegar na Rússia, conheceu toda a Europa, França, Itália, Portugal, Espanha, Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, Suécia, Estocolmo, Inglaterra, etc.
Conheceu lugares e monumentos históricos, vivenciou um pouco da história de cada lugar, visitou abrigos, orfanatos, cortiços, ONG’s.
Tomou conhecimento da história dos imigrantes, dos asilados políticos – fugidos das guerras civis em seus países.
Também conheceu escolas, tomou ciência da ameaça terrorista em alguns países da Europa.
Nos Estados Unidos visitou diversos estados, e também emprestou sua imagem para causas sociais.
Conheceu o Canadá, a Austrália.
Enfim, durante o seu reinado, concedeu muitas entrevistas, apareceu em diversas revistas internacionais, programas televisivos de vários países, etc.

Cumpre destacar que quando foi aclamada Miss Universo, ao chegar ao Brasil, foi recebida com honras de chefe de estado no aeroporto. Sem contar a imprensa nacional em peso, acompanhou sua volta, que foi anunciada em todos os telejornais. Também foi notícia nos jornais, e capa de inúmeras revistas no Brasil.
Pelo seu triunfo, todos passaram a homenageá-la.
Nascia uma estrela.
Desfilou de carro aberto em Brasília, assim como desfilaram em um carro do corpo de bombeiros ao sagrar-se vencedora do concurso nacional.

Quando terminou seu reinado de mais bela do mundo, não foi esquecida em seu país.
Continuou sendo notícia.
Considerada carismática, encantou a muitos na imprensa internacional.
Conquistou amigos entre jornalistas, políticos internacionais e artistas internacionais.
Amanda chegou até a fazer alguns trabalhos artísticos no exterior, juntamente com seu trabalho de “embaixadora da paz”.
Ganhou dinheiro, o qual foi devidamente administrado por sua mãe.
Durante o tempo em que participou dos concursos de beleza, trancou sua matrícula na faculdade.
Como estava sendo muito assediada pela mídia, decidiu aproveitar os 15 minutos de fama.
Realizou cursos de interpretação, teatro, etc., visando melhor se preparar para a carreira artística.
Enquanto isto, participou de programas televisivos, concedeu entrevistas narrando sua trajetória, desde a infância, quando os concursos de beleza eram um sonho distante, os concursos ganhos, o trabalho de Miss Universo.
Participou da cerimônia de coroação da nova Miss Universo, evento o qual foi transmitido para o mundo inteiro.
Foi capa de inúmeras revistas. Participou de vários desfiles nacionais e internacionais.
Virou atriz de novela brasileira.
No começo, os críticos dizem que não era muito convincente, embora fosse muito bela.
Após, tendo em vista a sua dedicação, se renderam ao talento, o qual foi se revelando aos poucos.
Terminou a faculdade de letras.
Participou de bons trabalhos no teatro, no cinema e na televisão brasileiros.
Criou um estilo, de ser que passou a ser copiado por outras aspirantes a fama.
Chegou a fazer alguns trabalhos em filmes na Europa e nos Estados Unidos, mas sua carreira se consolidou no Brasil.
Adquiriu patrimônio, algumas casas, apartamentos, uma fazenda.
Algum tempo depois casou-se, teve dois filhos biológicos e um adotivo.
Casamento alvo da imprensa a qual noticiou tudo o que pode sobre o evento.
Separou-se há uns dois anos.
E segundo dizem já está de namorado novo.
Mais isto são fofocas. Nada foi confirmado.
Também possuí um site na internet, no qual conta toda a sua trajetória.

Brasil, 2018.
FIM.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

BELÍSSIMA – MISS BRASIL 2000 - Capítulo 4

Arlete, sempre orientou a filha dizendo que ela não deveria esbanjar o dinheiro que ganhasse.
E Amanda na medida do possível, guardava o que ganhava.
Nos concursos que ganhara, havia recebido alguns prêmios, e até algum dinheiro.
Também fora patrocinada por algumas marcas famosas, divulgando seus produtos, razão pela qual ganhara roupas, sapatos, maquiagem e até algumas jóias.
Por haver vencido o certame nacional, ganhara até um carro.

Desta forma, enquanto o concurso internacional não chegava, visitou creches, asilos, participou de desfiles, entrevistas no rádio e na televisão.
Quando finalmente chegou o momento da participação no concurso internacional, estava ansiosa.
Chegou no aeroporto, realizou o check in e viajou.
Com todo o cuidado tratou dos preparativos da viagem.
Iria conhecer um novo país e uma nova cultura.
O destino – Caribe – com muitas belezas naturais.
Destino este que era Curação – coração das Antilhas Holandesas, cuja capital é Willemstad. Cidade com belíssimas casas em estilo colonial holandês, a qual tornou-se patrimônio da UNESCO em 1997. Possuidora de um animado comércio, e palco do certame internacional de beleza mais importante do mundo.
Durante a fase de preparativos, com novos ensaios e eventos, Amanda mostrou que não estava para brincadeira.
Novamente dividia o quarto com uma candidata.
Para evitar surpresas desagradáveis, levou vários vestidos longos, vários vestidos médios, curtos; muitos trajes de banho, roupas, sapatos, maquiagem, bijouterias, jóias.
Exagerou, levou muita bagagem, além de uma frasqueira.
Mesmo assim, sofreu um pequeno transtorno com o extravio de sua bagagem. Um susto apenas.
Isso por que, após algumas horas, recebeu sua mala intacta no hotel.
Desta forma, com sua mala abastecida de roupas, estava sempre impecável.
Além disto, possuía um inglês perfeito, fato este que a fez se destacar entre outras candidatas que não possuíam a mesma fluência.
Era bastante fotografada e comentada.
Durante a preparação, candidatas do mundo inteiro visitaram lugares históricos do país, os mares de águas claras.
Todas as candidatas fizeram vídeos falando sobre suas qualidades, anunciando seus nomes.
Gravaram em vídeo o desfile de traje típico, o qual seria exibido no dia do concurso.
Amanda apresentou o traje de Paraguaçu, índia, a qual casou-se com um português se tornando nobre em Portugal. Seu traje possuía muitas penas e era bonito, sem ofuscar a candidata.
Também aproveitou para mergulhar no mar de águas transparentes, em meio aos peixes e outros animais marinhos.
Enquanto socializava com as demais candidatas, comparecendo em jantares e eventos promovidos pelas autoridades locais, era acompanhada por observadores, além de constantemente fotografada. Tanto ela, quanto as demais candidatas.
Eram jantares em restaurantes típicos, passeios em lugares típicos.
Na região de Landhuizen por exemplo, visitaram antigas sedes de fazendas ou casas de campo dos primeiros holandeses. Construções belíssimas em estilo colonial. Passearam no Parque Christoffel, o qual encontra-se localizado no ponto mais alto da ilha e ideal para quem gosta de caminhadas.
Conheceram Boca Tabla - uma caverna que fica ao Norte de Curaçao, onde as misses de todos os países inscritos puderam caminhar sobre rochas vulcânicas, entrar na caverna, observar as grandes ondas do mar e ouvir o vento. Este foi um passeio diferente do que as misses estão acostumadas.
Amanda usou um traje esportivo, short's, tênis e regata. Precavida, tomou também bastante água.
Escolada em matéria de concursos, comentou que adorou o passeio, mas não tomou partido das candidatas que questionaram o porquê do inusitado passeio.
Até por que no final da jornada, todas comentaram que adoraram o lugar.
Visitaram também, o Recanto dos flamingos cor-de-rosa; o Recanto dos avestruz – local este, ideal para conhecer de perto essas aves e também degustar sua carne.
Muitas das misses, desacostumadas com o paladar da iguaria, estranharam o sabor.
Também adentraram as dependência do “The Bank of the Netherlands Antilles Museum”, um museu de moedas. Além do “The Curaçao Postal Museum”, e do “The Fort Museum” - o qual encontra-se instalado na mais antiga igreja da ilha, fundada em 1769. Visitaram ainda o “Kura Holanda” - o único museu africano do Caribe, que conta a história do tráfico de escravos desde 1492.
Amanda adorou a incursão pela história.
Passearam por vários dias pela região e conheceram vários lugares.
Na caverna de Hato Caves, subiram 49 degraus. Formada abaixo do nível do mar, há milhões de anos, a caverna possui área de 4.900 m2 e é constituída por pedras calcárias, piscinas naturais, imensas estalactites.
Ao se depararem com tanta beleza, as misses se deslumbraram. Orientadas pelo guia, olharam para o teto, horrorizaram-se com a enorme quantidade de morcegos. Diante disto, o guia as tranquilizou dizendo que a espécie aprecia frutas e não sangue de animais.
Explicou ainda que as "esculturas" naturais são formadas pela água do mar e a água da chuva. E que cada centímetro é constituído em cerca de cem anos. Salientou que em toda parte há cristal de cal. Onde há cal, há cristal. Informou também, que em alguns pontos nascem as algas. E que elas só nascem onde tem luz.
Admiradas com a imensidade e beleza do lugar, as moças aproveitaram para banhar-se. Mais tarde, o guia comentou que ao se depararem com uma catedral, deveriam aproveitar se lembrarem da lenda em que se atira uma moeda com a mão direita, no poço dos desejos. Comentou que alguns orfanatos da região recolhem as moedas de tempos em tempos. Disse ainda que a temperatura dentro da gruta fica entre 28 e 32 graus.
Em suas incursões pelas plagas, admiraram-se com a beleza das praias naturais de Curaçao. Acompanhadas de um guia, pegaram a rua principal e seguiram rumo a oeste até chegar à costa norte.
Foram informadas pelo guia que trata-se de uma área rural, a costa é brava, e o mar é forte, com poucas partes tranquilas, ao contrário de toda a costa sul, onde o mar é sereno. Em relação a isto, o guia comentou que o mais bonito é que lá, em comparação com o restante, o verde é permanente.
Nisto, ao chegarem ao final, o West Point, no mirante, perceberam que a paisagem é deslumbrante. As erupções vulcânicas provocaram formações de corais. Tour extenso, com duração de cerca de sete horas. Pelo caminho, já foram entrando nas praias.
Prevenidas, levaram comes e bebes para se garantirem. Isto por que foram informadas que nem todas as praias tem estrutura para atender os turistas durante a semana. E que apenas nos finais de semana é que as barracas são montadas.
Lá, as misses se depararam com praias de areia escura, frequentadas por pescadores.
Também foram informadas que são 48 praias no total. Só que nem todas estão em condições e abertas para público. Sendo salientado que podem-se visitar cerca de 27.
As praias mais frequentadas são as de Knip Pequena, Knip e Lagun (Lagoa), uma das praias mais atraentes. Perto da praia há uma caverna, de onde o mar pode ser visto. Existem as praias que os grandes hotéis montaram, que ficam no litoral sul. São pequenas, com areia clarinha, um belo quebra-mar e pouca pedra no fundo.
Passeios estes acompanhados pela imprensa do mundo inteiro. A todo o momento as moças eram observadas e fotografadas.
Estavam sendo constantemente avaliadas.
Mais a diversão era tanta, que muitas vezes elas se esqueciam deste detalhe.
Amanda entre elas, estava se divertindo.
Durante os passeios turísticos, também receberam informações sobre a culinária local. Com relação a isto, foram informadas que o país une cerca de 40 nacionalidades quando o assunto é gastronomia. Os temperos diferenciados são perfeitos para atiçar os mais exigentes paladares a preço baixo. Mas, a fama da ilha decorre da fabricação do licor de curaçau, feito a partir da casca de uma espécie de laranja, muito doce.
Bebida a qual as moças apreciaram. Também tornaram-se conhecedoras dos sabores mais populares como o Curaçao Blue, que caiu no gosto dos moradores e visitantes, estando presente na maioria dos coquetéis.
Quanto a gastronomia, perceberam que a maioria dos restaurantes oferecem refeições generosas, nas quais há quase sempre um tempero bem específico, que vai do picante ao agridoce.
É um molho que vem com ketchup, pimenta e outros ingredientes secretos. Em quase todos os pratos, o acompanhamento são a batata e a banana. Dos pratos principais, os pescados e frutos do mar imperam. Os quais foram devidamente apreciados pelas garotas.
Dentre as muitas informações prestadas pelos guias, tomaram conhecimento de que Curaçao forma, com Aruba e Bonaire, as Antilhas Holandesas. Situada no Caribe a 53 Km da costa Venezuelana, 64 Km a leste de Bonaire, e com 472 Km2 de área, sua capital é Willemstad, que parece uma miniatura de uma cidade holandesa. Curaçao oferece uma boa estrutura turística além de uma exuberante vida submarina. A temperatura média anual é de 27°C, com um índice pluviométrico muito baixo, criando um clima semi árido. Faz sol quase que o ano inteiro e fortes ventos alísios sopram constantemente. Felizmente a ilha está fora da rota de furacões que assolam a região caribenha. Em tempos anteriores, a ilha foi um importante porto de comércio de mercadorias e escravos na região do Caribe e América do Sul. Dividida em duas partes: Otrobanda (residencial) e Punda (comercial e turística), Willemstad é a porta de entrada ideal para conhecer Curaçao. Raros são os lugares que correspondem tão amplamente às expectativas dos visitantes como a pequena Curaçao. Lá, todo turista deve conhecer as antigas sedes de fazendas dos primeiros holandeses, assistir torneios esportivos e festas folclóricas e participar do roteiro noturno da ilha com cassinos e badaladas danceterias.

Com efeito, durante os preparativos para sua viagem, Amanda tomou conhecimento de que os brasileiros não precisam de visto de entrada, apenas passaporte válido e vacina de Febre Amarela. O que tratou de providenciar juntamente com sua mãe, Arlete. 

Cabe destacar que Curaçao é maior e mais importante ilha entre as ilhas holandesas do Caribe. Está a cerca de 60 km da costa venezuelana. A ilha é um charmoso balneário com praias de mar agitado, rochedos e penhascos e, ao sul, praias de águas calmas protegidas por recifes de corais. Em seus passeios, as misses admiraram-se com o bairro antigo de Punda (com construções antigas e uma das mais antigas sinagogas das Américas, Mikvé Emanuel), Forte Amsterdã (antiga cidade fortaleza do séc. XVII). Punda concentra vários dos prédios históricos da cidade, como o forte Amsterdã. O mais importante dos oito fortes da ilha abriga uma igreja protestante, a residência oficial do governador e escritórios de ministros. Ainda no bairro, estão a Mikré Israel-Emanuel, fundada em 1732 e considerada a mais velha sinagoga do Ocidente em funcionamento, e o mercado velho, onde é possível provar a culinária local, principalmente pratos à base de peixe. Tem ainda, o Bairro de Otrabanda (com construções do séc. XVIII e XIX), mercado flutuante (aonde são descarregados produtos vindos da Venezuela), Playa Kalki (típica praia caribenha, de águas calmas e claras), Klein Curaçao (um atol do litoral sudeste da ilha), Santa Cruz (com largas faixas de areia e lagos), Playa Kanoa (a mais acessível para quem prefere praias desertas), Parque Submarino com mais de 20 km de extensão e recifes.
Em seus passeios, as misses sempre escolhiam um dos bares com mesas e guarda-sóis nas calçadas, para tomar um refresco.
Isto por que, o calor, potencializado pela umidade, torna inviável caminhadas de mais de uma hora.
Nestas oportunidades, aproveitaram para saborear a cerveja feita com água dessalinizada que é fabricada na ilha.
Souberam ainda, que é no mar do Caribe, principalmente em suas profundezas, que a viagem ganha cores e formas, pois Curaçao tem mais de 60 pontos de mergulho em sua costa, com cerca de 57 espécies de corais e mais de 500 de peixes. Por toda a ilha, é possível alugar equipamentos de mergulho e snorkeling, além de embarcações.
O porto de Curaçao recebe diariamente navios que fazem cruzeiros pelo Caribe. Há várias faixas de preço para embarcar numa visita às outras ilhas das Antilhas Holandesas - Bonaire, São Eustáquio, Saba e Saint Martin. Também existe a possibilidade de se negociar um minicruzeiro pelos arredores de Curaçao com donos de barcos que oferecem esse serviço.
De barco, visitaram a ilha Klein Curaçao. A viagem durou duas horas e incluiu café da manhã, churrasco e bebidas não-alcoólicas. Onde usaram uma casa de praia.
As misses por sua vez, ficaram hospedadas em um dos resorts de Curaçao. O qual fica a menos de meia hora do centro de Willemstad e possui toda a infra-estrutura, inclusive transporte.
Saliente-se que as misses não tiveram dificuldades para se comunicar com os habitantes. Isto por que, os habitantes da região são receptivos e se esforçam para entender o visitante. Souberam ainda que a maioria fala holandês, espanhol, papiamento e inglês.

Desta feita, também neste concurso, Amanda estava muito bem cotada pelos blogueiros de plantão.
Nos eventos culturais, turísticos e sociais, a moça se destacava. Sempre impecavelmente vestida, discreta, não se envolvia em polêmicas com outras candidatas.
No concurso internacional, ocorreu uma briga entre duas misses, nas quais outras candidatas se envolveram, ora tomando partido de uma, ora de outra.
Amanda não se envolveu na discussão. Apenas disse que achava as candidatas simpáticas e que lamentava o ocorrido. Disse ainda que elas acabariam se entendendo, depois que se desfizesse a confusão.

No Brasil havia muita expectativa, mas muitos não acreditavam que ela pudesse levar o título.
Mas Amanda surpreendia.
Tanto que no concurso, apresentou-se com um novo penteado. De cabelos lisos, com cachos nas pontas. Apresentou-se com um ar mais natural.
No desfile de gala, apresentou-se com um vestido longo vermelho frente única.
Brincos discretos e maquiagem leve.
Desfilou com garbo e elegância.
Com sua presença e seu carisma, conseguiu classificar-se entre as cinco finalistas.
Respondeu em inglês, sem a ajuda de interprete, a pergunta formulada.
Em resposta a pergunta feita, respondeu que a melhor contribuição que poderia fazer para a paz no mundo, seria através da educação. Argumentou que somente a educação orienta as pessoas a enxergarem o mundo, e a terem a percepção de que durante a história da humanidade as guerras não trouxeram nada de bom. E quem sabe com esta consciência, as pessoas não fizessem mais guerras, colaborando no intuito de melhorar o mundo em que vivemos. Em paz, sem guerras.
Nisto seguiram-se as perguntas feitas as demais misses.
Ao término das respostas, após algum suspense, finalmente se revelou o nome das vencedoras.
Neste momento, Amanda aguardava ansiosa o resultado.
Quando o resultado finalmente foi revelado, a surpresa.
Depois de classificação das cinco finalistas do concurso, foi apresentada a ordem de classificação das moças.
E assim, Amanda tornou-se a vencedora do concurso internacional.
Arlete que acompanhava o concurso na platéia, junto com os organizadores do concurso brasileiro, mal pode acreditar.
Fazia décadas que uma brasileira não carregava o título de Miss Universo, e agora Amanda faria as honras do Brasil.
Mais tarde, comemorou a vitória junto com sua mãe Arlete, e a equipe organizadora do concurso brasileiro.
Também comemorou a conquista, em um evento organizado pela empresa organizadora do concurso internacional.
Concedeu inúmeras entrevistas.
A partir daí deveria assinar um contrato, e viajar o mundo inteiro emprestando sua imagem.
E assim foi. Imediatamente a moça dirigiu-se para Nova Iorque.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

BELÍSSIMA – MISS BRASIL 2000 - Capítulo 3

Foi um longo período de preparação.
Durante este período, foram realizados inúmeros ensaios para os desfiles de trajes de galas, roupas de banhos, trajes informais e para a coroação.
Assistiram também a palestras e a rápidos cursos de boas maneiras e de dicas de comportamento.
Realizaram também inúmeras visitas pela capital do estado.
Conheceram museus, prédios históricos, parques, monumentos. Pontos turísticos da capital do estado, no caso, a cidade de São Paulo.
Visitaram o lindo Museu do Ipiranga, seu prédio imponente, a Praça do Monumento – com sua monumental e rica escultura, a Casa do Grito, o jardim em estilo francês, com seus chafarizes, o parque que existe logo atrás do museu.
Passearam pelo Parque do Ibirapuera, avistaram o chafariz do lago, andaram pela Marquise, que dá acesso ao MAM. Apreciaram suas esculturas.
Outro dia, visitaram no mesmo parque, o Museu Afro Brasileiro, e sua exposição permanente sobre a cultura africana. Seus orixás, seus objetos, seu vestuário, sua história. Conheceram o instrumento utilizado na produção do açúcar que deu origem a expressão Pão de Açúcar, nome de um morro no Rio de Janeiro. Também conheceram a história de negros famosos no Brasil. Como Zumbi – o líder no Quilombo dos Palmares, Chico Rei – escravo libertador de outros escravos, José do Patrocínio – político brasileiro, Machado de Assis – escritor e mulato, Cruz e Souza – poeta do período do simbolismo, João Candido – marinheiro e líder da Revolta da Chibata em 1910 (revolta contra os castigos físicos impingidos aos marinheiros, negros principalmente).
Antonio Francisco Lisboa (Aleijadinho) o qual esculpiu obras de arte atemporais, como os 12 profetas expostos na entrada da igreja Bom de Matozinhos em Congonhas do Campo, Minhas Gerais. Artistas, pintores, escultores, escritores, poetas.
Carolina Maria de Jesus, e sua escrita simples e cheias de erros de grafia, mas também cheios de verdade. Lima Barreto – escritor, mestiço. O compositor e instrumentista Pixinguinha, Cartola, entre outros músicos e sambistas. Tia Ciata – a qual abrigava sambistas em eventos em sua casa.
Chiquinha Gonzaga tinha origem mestiça. Juliano Moreira – médico que atuou em prol dos doentes mentais, idem. André Rebouças participou da construção do porto da cidade do Rio de Janeiro e das principais docas dos Estados de Pernambuco, Maranhão, Paraíba e Bahia. Seu irmão, Antônio Pereira Rebouças, construiu a estrada de ferro Paranaguá–Curitiba.
No tocante as mulheres, por exemplo, Dandara foi uma das grandes líderes do Quilombo dos Palmares ao lado de Zumbi, e foi assassinada em combate contra os portugueses. Na política, Theodosina Rosário Ribeiro foi a primeira deputada negra da Assembléia Legislativa de São Paulo e engajada na luta pelos interesses da comunidade negra.
Luisa – Heroína da Revolta dos Malês, os lançeiros da Revolução Farroupilha, os negros de lutaram em troca da liberdade na Guerra do Paraguai. Rui Barbosa – político e escritor e Castro Alves – poeta, mestiços.
Nas artes, a atriz Ruth de Souza fundou o Teatro Experimental do Negro, e já fez dezenas de peças, novelas e filmes. Zezé Motta, que fez Chica da Silva no cinema, hoje trabalha pela colocação de atores negros no mercado. Além da própria Chica da Silva, que encantou o contratador João Fernandes e virou a rainha do Tijuco. Temos ainda Pelé, entre outros desconhecidos e nunca lembrados.

Na visita ficou claro que os negros foram escravizados e explorados, mas também houve outra página escrita por negros ilustres e letrados, dos tempos do Brasil Império, que persiste nos dias de hoje.
O único problema, é que poucos conseguem transcender esta barreira.

Depois do passeio, quando finalmente se reuniram para jantar, comentaram entre si que a única Miss Brasil negra era Deise Nunes, que ganhou o título em 1986.

No dia seguinte, visitaram a Pinacoteca, onde puderam conhecer um bom acervo de obras de arte.
Passearam pelo Jardim da Luz, tiraram fotos.
Era um bando ruidoso e alegre.
Por onde passavam, chamavam a atenção.

No tocante a isto, as misses do estado, também visitaram o gabinete do governador do estado.
Participaram de inúmeras palestras, workshop’s.
Além de inúmeras sessões de fotos, maquiagens.
Andavam sempre em bando.
Tornaram-se a sensação do momento.
Inclusive Amanda.
Animada e simpática, cativou algumas candidatas.

Visitaram o Páteo do Colégio – berço da cidade, onde tudo começou –, a Rua Direita, a Faculdade de Direito do Largo São Francisco – onde inúmeros poetas, políticos e pessoas ilustres do país estudaram –, a Catedral da Sé, a Igreja do Carmo, o Bairro da Liberdade, o Mosteiro de São Bento, a Avenida Paulista, o Masp, o Ibirapuera, o Museu de Arte Sacra da Luz, entre outros pontos turísticos da capital. Tiraram muitas fotos. Fizeram também, um city tour pela cidade.
Muitas candidatas, que não conheciam a cidade, ficaram admiradas com o lugar.

Período intenso de provas de roupas, de desfiles, de passeios, e de convivência com outras candidatas.
Às vezes Amanda sentia-se só, tendo poucas oportunidades para conversar no celular com sua mãe.
Dona Arlete era uma verdadeira mãe de miss.
Para algumas candidatas ao certame estadual, Amanda representava de certa forma, o retorno de um glamour já perdido nestes concursos.
Sempre impecável, tinha desenvoltura para fazer sua própria maquiagem e arrumar seu cabelo. Também possuía uma postura muito elegante.
Fato este bastante elogiado por alguns organizadores do evento.
Além disso, embora se vestisse com elegância, era jovem e descontraída.
Com seu jeito confiante, incomodava algumas candidatas menos preparadas para a difícil etapa.
Argumenta-se que diante da pressão, muitas pensam em desistir, mas que em virtude de disposição contratual, participam da final do concurso.
Segundo Amanda, o concurso estadual estava mais bem organizado que o concurso municipal.
Sim por que no concurso municipal não houve tantas provas de roupas e desfiles. Nem tantos passeios e eventos para participar.

Em compensação, houve uma seleção prévia das melhores candidatas. Razão pela qual precisou enviar fotos e desfilar para uma comissão, antes de classificar-se como candidata para o concurso.
No concurso em que saiu derrotada, chegou a participar de um primeiro desfile, mas foi desclassificada.
Segundo se comenta, a vencedora já estava escolhida.
Sua derrota foi lamentada na época.
A própria Amanda chorou copiosamente após a derrota.
Porém, não durante o evento.
Sim, por que aprendera com sua mãe que mesmo diante de um grande golpe, não deveria se lastimar. Em público deveria sempre se manter altiva.
Em casa, aí sim, no recesso de seu lar, poderia desabar e chorar todas as mágoas.
Foi o que fez.
Chorou muito no colo de sua mãe.
A notícia de sua derrota, foi publicada no jornal da cidade.

Com isto, sua vitória, a qual somente se daria, no concurso realizado dois anos após, também virou notícia.
Agora estava se preparando para o concurso estadual.
Diariamente fazia refeições junto com as demais candidatas em restaurantes na capital, e também no restaurante do hotel.
Eram cafés da manhã regados com frutas, saladas de frutas, cereais, leite, granola, pães variados, frios, café, sucos de fruta, cremes, manteiga, chás.
As misses, em sua maioria preocupadas com a balança, evitavam comer os pães, ficando com as frutas e os cereais.
No almoço e no jantar, normalmente comiam muita salada, legumes, arroz, frangos, entre outras carnes grelhadas. Frituras jamais. No máximo um peixe. Bebiam água e sucos, e como sobremesa, frutas, ou no máximo pequenas fatias de tortas, ou um pouco de sorvete.
É, parece que dieta é o assunto da moda no momento. Até mesmo para as misses, que não necessitam ser esquálidas como as modelos.
De vez em quando, tomavam sopas no jantar. Caldos generosos e saborosos.
Acordavam de madrugada e iam se recolher tarde da noite.
Dividiam o quarto. Eram duas misses por quarto.
Vigiadas por segurança e por funcionários responsáveis pela organização do concurso.
Viviam indo de van para os eventos.
Quando tinham tempo, conversavam.
Muitas cursavam faculdade, e já participaram de outros concursos.
Algumas foram designadas misses de sua cidade, sem passar por um concurso municipal.
Para muitas, o concurso de miss era um trampolim para vôos maiores. Sonhavam em ser famosas. Quem sabe até artistas de televisão.
Realizavam ensaios e mais ensaios.
Durante as provas de vestidos e das roupas, as candidatas, ao verem Amanda vestida com belas roupas, vestidos longos, biquini, vestidos curtos, ora elogiavam a elegância da miss, ora argumentavam que a mesma estava sendo favorecida.
Amanda discreta, preferia manter-se distante das polêmicas.

Concurso badalado, as candidatas foram presenteadas com jóias.
Visitaram inúmeras autoridades públicas, entre elas o governador do estado, como já mencionado, deputados, vereadores, secretários estaduais, etc.

Quando finalmente chegou a grande noite, todas estavam bastante ansiosas.
O local onde ocorreria o evento estava impecável. Havia orquestra, flores, imprensa, convidados ilustres.
Quando as candidatas começaram a desfilar com seus elegantes vestidos curtos, começaram a surgir luzes frenéticas dos flashes dos fotógrafos que cobriam o evento.
Desfile com boa MPB.
Enquanto transcorriam os desfiles, os apresentadores, anunciavam as finalistas.
Primeiro foi desfile com o vestido curto, em seguida todas as misses desfilaram com trajes informais. A seguir deu-se o desfile de trajes de banho. Neste momento as misses se apresentaram de biquini e saída de praia.
Após, foram anunciadas as quinze finalistas.
Entre elas Amanda.
Mais um desfile de vestido curto.
Nova eliminação. Restaram dez candidatas.
Além destes, houve desfile com um traje longo.
Amanda estava de cabelo solto, mas modelado.
Parecia uma diva dos anos 40. Nenhuma outra candidata apresentou visual parecido.
Chamou a atenção.
Tanto que conseguiu classificar-se, entre as cinco finalistas.

E assim, depois de muito suspense, finalmente os apresentadores anunciaram a grande vencedora da noite. Amanda.
Para muitos não foi surpresa que a mesma ganhasse.
Após a inovação e ousadia no visual, foi considerada por alguns jornalistas como uma miss de atitude.
Amanda no momento do anúncio como vencedora, não cabia em si de contente.
Durante a entrevista, dissera em resposta a pergunta formulada, que havia se inscrito para ser candidata a miss estadual, em virtude de um sonho muito antigo e para o qual vinha se preparando há muito tempo, e que deseja muito ser miss.
Ao ser anunciada como vencedora, desfilou como se fora uma top model.
Na festa em comemoração a vencedora, tirou muitas fotos.

Lembrou-se do concurso municipal, da primeira vez em que participou do mesmo.
Da decepção em não participar da festa de comemoração, e de que como havia respondido a pergunta do concurso municipal, o qual havia ganho poucos meses antes.
Era uma daquelas perguntas clichês, do tipo: “O você deseja para o mundo?”.
E Amanda respondeu algo do tipo: “Desejo que o mundo seja um lugar melhor para se viver do que é hoje, já que neste mundo em que vivemos há tantos problemas, tanta dor e tanto sofrimento. Eu... eu, desejo que neste novo mundo desejado, permaneçam as coisas boas... já feitas pelo homem, e que se melhorem as que estão ruins. Que este novo mundo seja um lugar de oportunidades e felicidade para todos e não para uns poucos privilegiados.”
Amanda lembrou-se que foi ovacionada pelas palavras, e acredita que foram elas que lhe deram o título de Miss Municipal.
Estava feliz.
Chegou até a conceder uma pequena entrevista para um jornal local.
Cerca de 3 meses após, quando foi marcado o concurso nacional, estava novamente com fome de vencer.
Arlete, sua empresária e fã incondicional, acompanhava todos os sites em que saíam notícias do mundo das misses.
Recortava todas as fotos e notícias em que sua filha aparecia. Já possuía 2 pastas cheias de recortes.
Argumentava que estava montando um acervo sobre o início da carreira e que tudo aquilo um dia viraria ouro puro.
Amanda ria, mas nutria esperança de que o que mãe dizia se tornasse realidade. Sabia que a fama ocasionada pelo concurso de miss era efêmera, mas estava disposta a aproveitar a oportunidade e investir em si mesma.
Com isto, continuou treinando a passarela, organizando seu guarda-roupa, treinando sua maquiagem, cuidando de seu cabelo, de sua pele.
Para se dedicar integralmente aos concursos de miss, havia até terminado um namorico.
Estava realmente disposta a vencer.
Até a mãe, estranhou a obstinação da filha.

Com efeito, enquanto o concurso nacional não acontecia, Amanda cumpria sua agenda como Miss Estado de São Paulo. Visitou instituições benemerentes, asilos, escolas, creches, participou de desfiles de marcas famosas, algumas entrevistas em emissoras de TV, etc.
Concedeu algumas entrevistas.
Mas ainda não havia chegado onde queria. Porém, estava no caminho.

Com isto, quando precisou ir para a capital do país para participar do concurso nacional, despediu-se de sua mãe e embarcou rumo a um sonho acalentado durante toda a vida.
Ao lá chegar, todas as vinte e sete misses foram apresentadas uma a uma.
Como no concurso estadual, seriam duas misses por quarto, sendo uma delas dormiria sozinha.
Também andavam em bando, visitaram o governador do Distrito Federal e alguns parlamentares.
Conheceram Brasília, visitaram lugares famosos como Lago Paranoá, a Torre da TV, o Congresso, a Praça dos Três Poderes onde fica a escultura de Bruno Giorgi – conhecida como “Os Candangos”, o Ministério das Relações Exteriores, o Palácio do Planalto, a Esplanada dos Ministérios, o Palácio da Justiça, o STF, a Catedral Metropolitana e seus vitrais coloridos – os anjos suspensos, os confessionários, o campanário com os 4 evangelistas, o cálice representando o vinho e uma estrutura arrendondada representando o pão –, a Biblioteca Nacional de Brasília, a Utopia da Modernidade, o Teatro Nacional, entre outros lugares famosos de Brasília.
Tiraram inúmeras fotos.
Realizaram ensaios até tarde da noite. Circularam pela cidade em vans.
Se deslumbraram com a cidade a noite.
Participaram de palestras e de workshop’s.
Receberam instruções de como se portarem durante uma entrevista.
Foram 3 semanas de treinamentos e aprimoramentos intensivos.
Participavam das refeições todas juntas.
Café da manhã frugal, com frutas, leite, cereais, café e sucos, alguns cremes, e só.
Miss que se preze não come muito.
No almoço, algumas se arriscavam de vez em quando a comer uma massa.
Amanda foi uma das garotas a se aventurar.
A noite comiam coisas leves, como carnes grelhadas e saladas.
Quando podiam, conversavam amenidades sobre o dia-a-dia, a vida que levavam antes de começarem a correria dos concursos, a saudade de casa, a faculdade que estava cursando, etc.
Algumas diziam que nunca pensaram em ser misses. Outras diziam ter sido descobertas e convidadas a participar de concursos de beleza.
Poucas diziam que sempre sonharam com isto.
Amanda foi um das misses a confidenciar que sempre sonhara em participar de um concurso. Argumentava que era uma oportunidade rara de ser um pouco princesa, em um mundo que não dá valor as coisas delicadas. E que miss não era sinônimo de mulher burra, e sim de mulher que não tem vergonha de assumir a própria beleza e de mostrá-la para os outros. Que não era ruim ser bonita, e que sabia que beleza não dura para sempre, mas que é bom saber-se bela.
Depois da conversa, algumas misses comentaram que todo aquele palavreado de Amanda parecia discurso ensaiado. Frase feita.
Com o tempo, ao perceberem que Amanda possuía condições de vencer o concurso, algumas misses a apoiaram, mas outras começaram a hostilizá-la.
Nos jornais e sites especializados no assunto, Amanda era cotada como favorita.
Mas nem todos concordavam com o favoritismo.
Arlete que acompanhava as notícias do concurso, ficava inconformada quando via comentários maledicentes sobre sua filha. Ficava para morrer.
Depois, comentava que era tudo inveja e que se falavam tanto assim de sua filha, era porque a mesma estava incomodando. Não era portanto uma pessoa sem brilho, possuía carisma e por onde passasse chamava a atenção.

Amanda por sua vez, preferia manter-se distante das polêmicas.
Com isto, continuava a fazer seu trabalho, desfilava, fazia provas de roupa, verificava a maquiagem, o penteado, etc.
Era uma Miss disciplinada.
Enquanto algumas misses tentavam driblar a chaperona – responsável em cuidar delas –, Amanda procurava manter-se tranquila.
Quando podia ligava para casa e conversava com sua mãe.
Arlete respondia então, que todos estava torcendo por ela, e que daria tudo certo.

Sempre elegante, Amanda era uma das misses mais fotografadas pelos jornalistas.
Quando finalmente chegou a grande noite, Amanda estava novamente arrasadora.
Primeiramente desfilou com um vestido curto, assim como as demais candidatas.
Em seguida veio o desfile em trajes informais, a passarela em trajes de banho, por fim, o desfile em traje de gala. Pouco a pouco, a moça foi permanecendo entre as candidatas classificadas.
Neste desfile, arrasadora como sempre, com os cabelos cacheados, destacou-se quando desfilou com um tomara que caia. Isto por que, enquanto todas usavam vestidos longos e com rachos, Amanda usou um vestido com comprimento médio e luvas.
Ao ser anunciada como vencedora da noite, graciosamente retirou suas longas luvas e agradeceu a todos os que torceram por ela, e os que não torceram também.
Em seguida desfilou pela passarela com sua coroa e a faixa de Miss Brasil.
Durante este momento, foi lançada uma chuva de papéis picados, qual chuva de prata.
Houve festa de comemoração do concurso com a vencedora.
Fotos, muitas fotos.
Amanda mais uma vez, foi dormir tarde.
Se é que conseguiu dormir.

A tarde sua mãe ligou, parabenizando-a pela consagração.
Emocionada, Arlete chorou no telefone.
A partir daí seguiram-se muitas entrevistas, matérias em jornais, capas e entrevistas em algumas revistas.
Amanda mais uma vez, continuou se preparando para o concurso internacional.
Haveria portanto mais um concurso a ser vencido.

E assim, durante o período em que aguardou o concurso internacional, participou de eventos nacionais.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

BELÍSSIMA – MISS BRASIL 2000 - Capítulo 2

Com efeito, em razão do concurso, passou a ser conhecida na cidade onde morava.
Chegou a distribuir autógrafos.
Para Arlete porém, o trabalho estava apenas começando.

Tanto que Amanda continuou a treinar sua passarela. Treinava com um livro na cabeça.
Para Arlete, o desempenho de sua filha não poderia ser menos do que perfeito.
Razão pela qual continuava treinando a filha.
Desde menina Amanda era orientada por sua mãe sobre o que poderia vestir, como deveria se portar.
Tanto que ainda criança Amanda sagrou-se vencedora de dois concursos infantis.
Um acontecido em sua cidade, e outro no município vizinho, intitulado, “A Criança Mais Bela da Região”.
Desfilou de vestidinho rodado e enfeitado de laços.
Estava um mimo.
Sua mãe possuí fotos guardadas dos dois concursos.

Amanda por sua vez, às vezes reclamava da rigidez da mãe, mas Arlete retomava o discurso de que sem esforço, não é possível vencer.
Em uma dessas oportunidades questionou a filha sobre o nível de seu inglês. Argumentou que para obter êxito em concursos internacionais deveria dominar o idioma.
Amanda então, informou que havia feito 8 anos de inglês.
Não contente com isto, e, preocupada com a preparação da filha, enviou Amanda para estudar por um ano nos Estados Unidos por intermédio de intercâmbio, a fim de melhorar seu inglês.

Nessa época, além de estudar, conheceu alguns dos pontos turísticos da cidade de Nova York, como o Central Park, com sua extensa e imponente área verde.
Em suas andanças, verificou que o parque vai da rua 59 th até a 110. Divide a cidade em East e West.
Conheceu ao passar na altura da 72 St. Strawberry Fields, uma área homenageando John Lennon.
Apreciou vários concertos ao ar livre no famoso parque.
No inverno, aproveitou para fazer bonecos de neve!
Aproveitou para rassear pelas alamedas entre elas: Strawberry Fields, Shakespeare Garden, pelo reservatório, Paul Simon Concert, enfim, por lindos cenários verdes, deslumbrantes!

Visitou, ao passar pela 5ª Avenida com 34th St, o prédio que já foi considerado o mais alto do mundo com seus 102 andares de arquitetura Art Deco, construído em 1931. O famoso Empire State. Ao visitá-lo a noite, subiu ao 86º andar, onde fica o observatório, e se tem uma visão magnífica da cidade!
De tão fascinada, Amanda aproveitou tanto para visitar o Empire State de dia.

Conheceu a St. Patricik’s Cathedral, a qual está localizada na 5ª Avenue, considerada a maior catedral dos Estados Unidos.
Muito bonita, com seu estilo gótico, foi inspirado na catedral de Colônia, Alemanha.
Admirada, apreciou a beleza dos vitrais.
Segundo seu livrinho, seu guia turístico, a Catedral começou a ser construída em 1850 e só foi finalizada em 1879, estando entre as 11 maiores do mundo.
Apreciando a beleza da construção, avistou do lado direito do altar uma relíquia de Santa Terezinha, assim como o quadro de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira das Américas, que fica ao lado.
No que visitou a catedral, e ao sair da edificação, viu uma linda carruagem trazendo uma noiva.
No Central Park também viu carruagens parecidas.

Passeou pelos corredores da New York Public Library, a famosa Biblioteca Pública de Nova York, foi fundada em 1895.
No local, há vários computadores para consultas.
As escadarias de mármore levam à várias salas de Artes e Humanidades, dá acesso a jornais, manuscritos, Cultura Negra, Ciências Sociais, etc.
Um passeio cultural!

Aproveitou para conhecer a Estátua da Liberdade.
Para isto, pegou uma balsa em Battery Park. Passeio o qual considerou maravilhoso.
Nisto, quando chegou em Liberty Island, onde fica a Estátua teve uma linda visão com a silhueta da cidade.
Passou por dentro da estátua, percorreu seus 345 degraus e pela janelinha na cabeça da estátua, conseguiu ver a mão com a famosa tocha.
Segundo informações do guia de turismo, a Estátua foi feita por um escultor francês Frederic Auguste Bartholdi e inaugurada em 1886, presente dos franceses, razão pela qual seria a representação de uma saudação de boas vindas aos imigrantes.

Conheceu a Grand Central Terminal, fora obviamente do horário de grande movimento. Ao adentrar a construção, verificou que a mesma tem seu teto pintado com as constelações, segundo informações de seu livrinho - seu guia turístico, na data de 1913.
Visitou algumas das lojas da estação, como: Banana Republic, Godiva, Children´s General Store, Discovery Channel Store. Além de cafés. Porém, não consumiu nada. O dinheiro era contado.

Passou perto do restaurante Oyster Bar, o qual, segundo foi informada, especializado em ostras. Conheceu um grande mercado de flores, frutas, frutos do mar, pães deliciosos, conhecido como Zaro´s.

Visitou o Village, conhecido como reduto de artistas e considerado como bairro boêmio de Manhattan. Sendo dividido em East Village e West Villlage.
Passeou pelo lado West, apreciou antiquários e avistou casas de jazz!
Viu o campus da New York University.
Apreciou a vista da 5ª Avenue através do Washington Arch, desenhado pelo arquiteto Stanford White,em 1889.
Neste parque, existe a mais antiga árvore de Nova York, um carvalho que serviu de" forca", por muitos anos.
A Washington Square é cercada de edifícios universitários e todas as ruas da parte sul estão cheias de bares e clubes de jazz. No local há muitas lojas de artigos naturais e lojinhas.

Visitou outros prédios famosos da cidade, entre outros parques.
Aproveitava para após as aulas do curso, se aventurar pela cidade.

E assim, Amanda que já falava bem o idioma saxão, voltou falando fluentemente.

Mesmo assim, Arlete ficava preocupada. Argumentava que muitas misses bonitas não conseguiram se classificar em concursos internacionais por não dominarem o idioma.
Porém, no que diz respeito a Amanda, este não seria um entrave.

Diante disto, Arlete continuou acompanhando o agendamento do concurso estadual.

Nisto, quando da abertura das inscrições do concurso estadual, Arlete mais do que animada, inscreveu o nome da filha.
Arlete, incansável, confeccionou trajes de gala, de banho, entre outras roupas, para que sua filha estivesse sempre impecável, tanto no dia do concurso, quanto durante os ensaios e etapas preparatórias.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

BELÍSSIMA – MISS BRASIL 2000 - CAPÍTULO 1

Gostava dos concursos de misses. Gostava tanto que sonhava em participar de um deles.
Sua mãe, coruja como só, vivia comentando que se participasse de um concurso nacional, certamente seria sagrada vencedora, a nova Miss Brasil.
Diante disto, desde a infância, Arlete procurou preparar sua filha para ser uma vencedora.
Mas não como estas mães que se veem por aí, que obrigam seus filhos a seguirem a vida fazendo fotos e comerciais, de forma a suprirem as frustrações dos pais.
Não! De forma alguma.
Amanda também gostava da idéia.
Arlete sua mãe, por sua vez, gostava muito de idéia de sua filha Amanda se tornasse a nova Miss Brasil.
Porém, em que pese este desejo, sempre instruiu sua filha a estudar. Vivia dizendo que para ser uma vencedora na vida, havia necessidade de se fazer esforços e que estudar era fundamental.
Tão fundamental que Amanda sempre foi uma boa aluna. Sempre procurou tirar boas notas.
Neste ponto, Arlete não se descuidou. Sempre incentivou a filha a estudar, adquirindo com isto, novos conhecimentos.
Em razão disto, com dezoito anos, está no primeiro ano do curso de letras.
Estuda com afinco, e se interessa pela literatura.
Estuda para que tenha um futuro melhor.

Contudo, em que pese o interesse acadêmico, Amanda decidiu que iria investir nos concursos de beleza.
Sim, este ano participaria do concurso municipal, em que pese a frustração de dois atrás.
Estava decidida não só a se classificar entre as finalistas, como também em vencer.
Em razão da dedicação de sua mãe, desde pequena tinha aulas de etiqueta, de inglês e de postura.
Isto por que Arlete, obcecada com idéia de que sua filha fosse uma vencedora, procurou desde cedo incentivá-la a enfrentar os desafios com elegância. Criou a filha para que fosse uma dama.
Em que pesem as constantes reclamações de Amanda no tocante a rigidez de sua mãe.
Sim por que Dona Arlete não dava mole não.
Fazia a filha andar de um lado para o outro segurando livros na cabeça, andando de salto, ensinando a utilizar os talheres... E também estimulando-a a ler. Não apenas a obra “O Pequeno Princípe”, como outros livros. Boas obras de literatura.
Arlete era uma preparadora exigente.

Em razão disto, Amanda sabia desfilar como ninguém. Também vestia-se e maquiava-se com muito capricho. Sem contar a beleza e a articulação com que falava.
Sempre foi considerada inteligente e comunicativa.
Requisitos importantes para uma miss.

Com isto, acompanhando o passo a passo para o concurso, Amanda inscreveu-se no concurso municipal.
Desta forma, começou a preparar os trajes, de gala, entre outras roupas a apresentar nos desfiles do concurso.
Com efeito, sua mãe era uma ótima costureira.
De fato, boa parte das boas roupas utilizadas por Amanda foram feitas por suas mãos.
Aliás, o guarda-roupa da moça sempre chamou a atenção de todos, desde que Amanda era criança.

Assim, como não poderia deixar de ser, no dia do concurso, Amanda estava linda.

Como preparativos para o concurso, foram realizados inúmeros ensaios, desfiles e mais desfiles, até que tudo ficasse perfeito. Além de algumas palestras e provas de roupa.

E assim, no dia do concurso, primeiramente com um vestido curtinho, desfilou pela passarela, com a confiança de quem sabia o que estava fazendo.
Em seguida as misses desfilaram em trajes de banho.
Desfilaram com biquinis coloridos de uma loja da cidade que estava patrocinando o evento.

Com efeito, após cada desfile, eram anunciadas as classificadas para a próxima etapa.
E Amanda estava sempre entre as finalistas.

Por fim, durante o desfile em traje de gala, realmente, como estava linda!
Neste momento final, parecia uma princesa, com seu vestido longo, cabelos cuidadosamente presos, maquiagem discreta, postura elegante, boa passarela.
Estava ali para sagrar-se vencedora.

Não queria repetir o fiasco de 2 anos atrás, quando não conseguiu ficar entre as finalistas.
No concurso anterior, não possuía ainda a mesma desenvoltura. Razão pela qual acredita não ter ido longe no concurso anterior.
Nervosa tropeçou na passarela.
Fato este ao qual credita sua desclassificação.

Com efeito, desta vez, Amanda estava com sorte!
Classificou-se entre as cinco finalistas.
Emoção!

Ao final, quando finalmente ouviu seu nome, sentiu-se vitoriosa. Havia ganho o concurso como mais bela de sua cidade.
Confiante, desfilou novamente pela passarela, agora coroada, com faixa e coroa de Miss, além de um buquê de flores entregue pelo mestre de cerimônias.
Finalmente o sonho de ser Miss não era algo distante.
Pose para fotos, entrevistas.

Neste momento lembrava-se das histórias de outras misses, de Marta Rocha, Adalgisa Colombo, entre outras, inclusive da atriz Vera Fischer, que foi Miss.
Lembrou-se da entrevista concedida por Adalgisa Colombo na qual a mesma dizia que vinha se preparando há muitos anos para o concurso de Miss Brasil.
Ao ouvir isto, acreditou que estava no caminho certo.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

O BEM E O MAL - CAPÍTULO 38

Diá, então, em seu retorno, decidida a destruir Lúcia, sabendo onde a moça costumava ir, e qual era sua missão, pensou em diversas formas de aniquilá-la.
No entanto, cada vez que pensava nisso, vinha-lhe a mente, de onde poderia ter vindo uma semelhança física assim tão grande.
Lúcia, por sua vez, fazendo-se a mesma pergunta, começou a pensar nisso.
Realmente as duas se pareciam muito. Tão semelhantes que pareciam gêmeas.
Curiosa Lúcia, ao lembrar-se que podiam assumir a forma que bem entendesse, passou a se perguntar, por que não havia pensado em aparecer na figura de uma outra pessoa. Perguntou-se também, por que Diá não havia feito o mesmo.
Intrigada, por mais que pensasse no assunto, não conseguia encontrar uma resposta.
Diá, também, pensando no assunto, não conseguia chegar a nenhuma conclusão.
Todavia a despeito disso, continuou achando muito estranha a situação. Sim por que, independente de qualquer coisa, tinha que destruir uma pessoa em muito assemelhada com ela.
A moça, então, lembrando-se que precisava agir, voltou a pensar em um plano para destruir Lúcia.
Pensando num estratagema, Diá, chegou a conclusão, que simplesmente intimidar a moça, não surtiria efeito. Não.
Lúcia não era tão fraca como pensava. De formas que, para atingi-la, seria necessário, arrastá-la para uma armadilha. Como elemento final, Diá, concluiu que, atraindo Solange para uma armadilha, conseguiria facilmente atrair Lúcia.
Sim, pensou Diá.
Se Lúcia estava ali para ajudar Solange, não poderia deixar que nada de mal lhe acontecesse.
Assim, passou a pensar em cada detalhe de seu plano.
Ao lembrar-se de que poderia falsificar a letra de Lúcia, escreveu um recado onde pedia para que Solange fosse encontrá-la a beira de um precipício.
Vendo um garoto na rua, pediu a ele que entregasse o bilhete para Solange. Pagando uma módica quantia, o menino fez exatamente o que ela pedira.
Solange, perplexa com o recado, ainda se acostumando com a perda da filha, emocionada foi até o lugar do encontro.
Raquel e Cínthia, que cuidavam dela, não estavam presentes quando Solange leu o recado e saiu em desabalada carreira em direção ao local do encontro.
Quando finalmente as duas mulheres foram visitar a amiga, ao perceberem que a casa estava toda trancada, apavoradas com a possibilidade de Solange ter cometido alguma insensatez, trataram logo de chamar a polícia.
Antônio, o policial, ao ouvir os apelos de Cínthia tratou logo de ir até a casa de Dona Solange.
Com a ajuda de outros dois policiais, arrombou a porta.
Vasculhando cada canto do imóvel, descobriram que Solange não estava ali.
Mas jogado no chão, estava um pedaço de papel.
Raquel ao pegar o bilhete do chão e ler o recado, descobriu que alguém, fazendo uma brincadeira de muito mal gosto, havia atraído Solange para uma armadilha.
Cínthia, ao ler o bilhete, ficou impressionada com a semelhança da grafia. Realmente, parecia a letra de Lúcia.
Antônio, percebendo a gravidade da situação, levou as mulheres até o local do encontro.

Antes disso porém...
Solange, sobressaltada, foi até o penhasco. Acreditando que se finalmente se encontraria com Lúcia, nem por um minuto parou para pensar se aquilo não era uma brincadeira de alguém muito cruel. Pelo contrário, realmente acreditou que encontraria Lúcia a sua espera.
Porém, ao lá chegar, qual não foi sua decepção ao chegar próxima ao precipício e perceber, que apesar de muito parecida com Lúcia, não era ela, mas sim Diá, que a esperava.
Muito embora, num primeiro momento, tenha confundido a moça com sua dileta filha, ao ver os modos da moça, percebeu que não era Lúcia.
Não, definitivamente quem se apresentava a ela, não era sua querida filha.
Percebendo o logro, foi logo rechaçando Diá, que tentava calmamente se aproximar.
Diá, notando que Solange a repelia e a rejeitava, começou a dizer que seu alvo não era ela diretamente.
Solange, nervosa, respondeu:
-- Então. Vá embora daqui. Eu não quero falar com você.
-- Não. Não Solange, eu não vou. Eu não esperei tanto para desistir logo agora. – respondeu ela firme e resoluta.
Solange assustada, pediu novamente para que ela fosse embora e mais uma vez ouviu não.
A mulher, quando percebeu que não tinha como fugir, tentou enfrentar a moça. Mas Diá, sem nem mesmo tocá-la, imobilizou-a, e utilizando-se de uma pedra, direcionou o objeto onde Solange estava e lançando este contra sua cabeça, fez com que a mulher, desfalecesse com a pancada.
Diá, notando o resultado de seu trabalho, comentou satisfeita:
-- Pronto. Finalmente essa mulher pára de falar.
Com isso, ficou esperando Lúcia.
Sabendo que a moça possuía as mesmas habilidades que ela, chegou a conclusão, que era apenas uma questão de tempo para que a moça aparecesse por ali, com a firme intenção de levar a mãe.
Foi exatamente o que aconteceu.
Assim que Lúcia percebeu que sua mãe fora atraída para uma armadilha, a moça partiu no encalço de Diá.
Foi apenas uma questão de tempo para encontrar a moça.
Diá, percebendo que seu plano havia dado certo, ficou deveras satisfeita. Tanto que irônica, chegou a comentar:
-- Nossa Lúcia. Não imaginava que você pudesse ser tão previsível.
A moça, percebendo a gravidade da situação, retorquiu:
-- Eu não estou aqui para brincadeiras. Vamos, deixe que Solange vá embora. Nós temos que resolver nossas questões sozinhas.
Diá, ao ouvir as palavras de Lúcia, começou a rir como uma louca.
Lúcia, irritada, disse que algo muito sério tinha que ser resolvido.
Assim não cabia a ela, brincar enquanto as duas não se acertassem.
Todavia, a despeito de tudo isso, Solange deveria ir embora.
Diá, depois de tudo ouvir, comentou que não a deixaria ir, enquanto não destruísse sua filha. Isso por que, fazia parte de sua missão, acabar também, que trouxesse qualquer alegria na vida de Solange.
Lúcia, então ao perceber a distração de Diá, direcionou contra ela, um raio.
A moça, ao ser atingida pela descarga elétrica, foi parar longe.
Enquanto isso, Lúcia, vendo que sua mãe permanecia desacordada, tentou despertá-la.
No entanto, tudo o que fazia, não deixava a mulher consciente.
Percebendo isso, Lúcia começou a gritar com Diá, para que ela desencantasse sua mãe.
Diá, ao ouvir o apelo de Lúcia, começou a rir impiedosamente.
-- Nunca! Enquanto eu não te destruir, ela não será despertada.
Lúcia, irritada, respondeu:
-- Pois então, tome isso.
Estava pronta para disparar um feixe de raios se fosse preciso.
Mas Diá, fingindo-se combalida, aproveitou-se da preocupação de Lúcia para recuperar suas forças. Foi então que levantou-se, e antes mesmo que Lúcia pudesse atingi-la com um novo raio, Diá, desferiu um golpe terrível.
Usando de toda sua força, desferiu um sucessão de raios contra Lúcia, que ainda aprendendo sobre suas novas habilidades, não sabia como se defender de toda aquela agressão.
Enfraquecida, foi questão de minutos para que Lúcia caísse no chão. Quase sem forças, não demoraria muito para que Diá conseguisse destruí-la.
Lúcia cada vez mais fraca, só conseguia se lembrar dos avisos do arcanjo e do cuidado que deveria ter com relação a Diá.
Tomando contato com toda a ira da moça, Lúcia descobriu que ela fora muito infeliz em sua vida terrena. E apesar de sua índole naturalmente má, a vida de Diá, na terra, não fora nada fácil.
Sempre tendo de lidar com o pior lado das pessoas, não aprendeu a amar, nem o valor de ser amada.
Lúcia apercebendo-se disso, começou a se concentrar e descobriu toda a história da moça.
Assustada, descobriu que as duas eram irmãs.
Nesse momento, Diá, percebendo que Lúcia estava vendo o mesmo que ela, perdeu o equilíbrio e por um breve instante, também a concentração.
Lúcia, aproveitando a oportunidade, mesmo chocada com a descoberta, começou a conversar com Diá. Contando que compreendia por que ela era tão má, ofereceu-se para ajudá-la.
Diá, ferida com as palavras de Lúcia, que perpassavam sua alma como flechas, respondeu que não estava interessada em nenhum tipo de ajuda.
Lúcia, insistiu. Dizendo que era sua irmã e que queria ajudá-la, pediu, implorou para que ela a deixasse auxialá-la.
Diá, porém, disse que não queria saber de ajuda.
Dizendo que nunca tivera uma irmã para ajudá-la, alegou que não seria agora, de uma hora para outra, que as coisas mudariam.
Lúcia chorou.
Chorou, mas percebendo que não tinha mais nada para fazer, utilizando-se de um feixe de raios, fulminou Diá com um raio que de tão forte, que fez com ela desaparecesse por completo.
Nunca se soube se ela realmente foi destruída.
Se é que uma alma o pode ser, ou se ela fugiu a tempo, quando percebeu que não teria nenhuma chance contra Lúcia.
Mas o fato é que, depois do sumiço de Diá, Solange finalmente despertou e vendo Lúcia diante de si, ficou muito feliz.
Ao se deparar com o milagre do amor, finalmente Solange compreendeu que a filha estava bem. Observando o semblante tranqüilo da filha, a mulher compreendeu que ela estava muito bem.
Lúcia, envolta em muita luz, parecia um anjo.
A moça, vendo a mãe, disse-lhe que já havia desempenhado sua missão, e que por isso, precisava voltar.
Solange, percebendo que era o momento de se despedir definitivamente da filha, abraçou-a e emocionada, disse-lhe que retomaria sua vida.
Lúcia também se emocionou.
Preocupada com a mãe, Lúcia disse-lhe que sempre estaria por perto. Assim, sempre que esta se sentisse só ou triste, era só sentir o cheiro de rosas que poderia ter certeza, ela estaria por perto.
-- Está bem! – respondeu Solange.
Com isso, as duas mulheres, novamente se abraçaram e Lúcia, dizendo que precisava ir, disse adeus e envolta em uma nuvem de luz, partiu.

Raquel, Cínthia e Antônio ao verem Solange, acorreram em seu encontro.
Ao perceberem que ela olhava fixamente para o horizonte, foram logo perguntando, o que ela tanto olhava.
Emocionada, Solange respondeu que nada.
Apenas apreciava a beleza do lusco-fusco vespertino.
Ao verem o ferimento no rosto de Solange, todos ficaram profundamente assustados.
Mesmo com a mulher dizendo que não fora nada demais, as amigas, Antônio e os policiais que os acompanharam, trataram de levá-la até o hospital.
Lá Solange teve seu ferimento limpo e fechado.
Depois de atendida, Solange teve que explicar para os policiais o por quê de ter ido até lá.
Inicialmente, inventou que tinha ido até o penhasco para fazer um passeio. Todavia, foi só tocar no assunto de passeio, para que Antônio lhe mostrasse o bilhete com a letra copiada de Lúcia.
Solange então, percebendo que não poderia sustentar a história, contou que intrigada com o bilhete, resolveu ir até para saber quem era o engraçadinho que estava brincando com ela.
Lá, irritada que estava, ao ver uma garota próxima do local do encontro, tratou logo de ir falar com ela.
Contudo, inadvertidamente, acabou por tropeçar e ao cair, provavelmente bateu a cabeça em uma pedra.
Raquel e Cínthia, assustadas, pediram para que a amiga tivesse mais cuidado.
Já Antônio, não ficou nem um pouco convencido com a história. Todavia, como não havia nenhum crime a ser apurado, acabou deixando de lado a história.
Nisso Solange, prontamente restabelecida, voltou para seu trabalho no hospital.
Aparentemente recuperada de seus problemas de saúde, Solange retomou sua vida.
Foi exatamente nessa época que, oferecendo-se para organizar o arquivo do hospital, descobriu entre inúmeros documentos, alguns exames referentes a suas filhas, que estavam há muito tempo abandonados, guardados em caixas.
Curiosa, assim que viu os papéis, as radiografias, e outros documentos, passou a analisar tudo com muito cuidado.
Ao olhar o exame de necropsia da criança recém-nascida, e algumas fotografias, descobriu que a criança examinada não se parecia nem um pouco com Lúcia, quando era bebê. Intrigada, Solange continuou vasculhando os documentos.
No passar de algumas semanas, finalmente descobriu em outra caixa, exames médicos e uma fotografia. A criança, do sexo feminino, era exatamente igual a Lúcia. Surpresa com a descoberta, continuou vasculhando a caixa. Quanto mais lia, mais se convencia de que aquela menina era sua filha.
Ao descobrir isso, Solange logo quis conversar com o diretor do hospital.
A mulher, relatando que uma das crianças, levada por outro casal, era igualzinha sua filha quando era bebê, conseguiu deixá-lo perplexo.
O homem, acreditando que Solange estava obcecada com a idéia de ausência da filha, acabou se convencendo, quanto ela finalmente lhe apresentou fotos e documentos comprovando que o que dizia era verdade.
Foi então instaurada uma sindicância no hospital. Ao final de três meses, finalmente se descobriu que a enfermeira que cuidara de seu parto havia por descuido trocado as crianças.
Solange então, curiosa para saber onde estava a filha, descobriu que, antes de sua filha ser morta, uma outra garota, com uma grande semelhança física com Lúcia, deu entrada no hospital.
Curiosa, Solange perguntou por qual motivo.
Ao ouvir que a garota havia sido morta, ficou desolada.
Triste, ao descobrir que a garota havia sido enterrada num cemitério longe da cidade, praticamente como indigente, pediu para que retirassem o corpo do local e o transferissem para a sepultura da família.
Antes porém, foram feitos todos os exames necessários para comprovar a maternidade.
Muito embora, Solange, ao ver o corpo, estivesse convencida de que a moça era sua filha, os médicos acharam por bem proceder aos exames necessários, para que não houvesse outro erro.
E assim, a moça foi enterrada dignamente.
Solange, depois de algum tempo, lembrando-se do incidente ocorrido no penhasco, constatou que aquela moça que a agredira, lançando-lhe uma pedra, era sua filha.
Triste com a novidade, prometeu a si mesma, que em respeito a Lúcia, não mergulharia novamente na tristeza. Pelo contrário.
Cansada de ficar sozinha, adotou uma criança e passou a cuidar dela, com todo o cuidado.
Nisso, finalmente chegou o momento do julgamento do crime que dera cabo a vida de sua dileta filha.
Emocionada, a cada momento se lembrava da filha e dos momentos que viveram juntas e felizes.
Triste, toda vez que ouvia as palavras do promotor ou do juiz, lembrava-se de que nunca mais teria Lúcia por perto.
Mesmo assim, acompanhou o julgamento.
Finalmente, ao ouvir que os acusados – membros de uma seita –, foram condenados, Solange sentiu que Lúcia podia agora descansar em paz. Isso por que, nunca mais aqueles homens horríveis fariam mal a alguém.
Satisfeita, por ter sido feita justiça, ainda assim, sentiu-se triste por um instante. Porém, foi só sentir o perfume das rosas, que seu pesar se dissipou.
Finalmente estava livre, para fazer sua vida recomeçar.
Feliz, sempre que podia, levava sua filha adotiva para passear. Ainda se lembrava de Lúcia.
Agora, raramente com tristeza, mas sempre com saudade.
Raquel e Cínthia, vendo a amiga retomando a vida, ficavam felizes por ela. Muito embora também sentissem a saudade de Lúcia, sabiam que tinham que dar força a ela.
E assim, a vida prosseguiu.

Fim

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

O BEM E O MAL - CAPÍTULO 37

Nisso, Solange, com um quadro grave de pneumonia, estava cada vez mais apática.
Raquel e Cínthia, percebendo que fazia dias que não percebiam nenhum sinal de vida vindo da casa, resolveram bater na porta de Solange, para perguntar se ela estava precisando de alguma coisa.
Insistentes e preocupadas, ficaram quase meia-hora batendo na porta.
Nada de Solange atender.
As duas, percebendo que de nada adiantava insistir, voltaram para suas casas. Mas, preocupadas, combinaram de voltarem mais vezes lá. Continuariam tentando.
Mas não era o suficiente.
Era por isso que Lúcia estava ali.
Preocupada com a situação da mãe, a moça, assim que pôde, voltou a terra, para tentar solucionar o problema. Contudo, a despeito de estar há alguns tempo, caminhando em meio aos mortais, a moça não sabia exatamente o que fazer.
Embora, já tivesse pedido a Alexandre, que acompanhasse o padre em uma visita a Solange, a moça, já havia descoberto, conversando depois com o seminarista, que de nada adiantou os dois irem até lá, já que ninguém se dignou a abrir a porta para eles.
Lúcia, que havia se apresentado ao seminarista como Luíza, demonstrou um profundo desapontamento.
Triste e preocupada, a moça não sabia mais o que fazer.
Para piorar, um menino, percebendo que ela não pertencia ao plano físico, começou a chorar quando a viu, diante de si, toda iluminada. Assustado, logo correu em direção a sua mãe, e dizendo que Lúcia era um anjo, começou a puxar a barra de sua calça, procurando chamar-lhe a atenção. De nada adiantou. A mãe, achando que era coisa da imaginação do menino, pediu para que ele deixasse a moça em paz.
Lúcia, percebendo a inocência da criança, sorriu para ele, que imediatamente, superando o medo, sorriu de volta para ela.
Depois do incidente, Lúcia saiu da igreja, e decidida a resolver a situação, prometeu a si mesma, que não deixaria sua mãe morrer.
Não, Solange ainda viveria muitos anos.
E assim, determinada, Lúcia, resolveu aparecer em sonhos novamente para a mãe.
Porém, diferente da primeira vez, não se lamentaria.
Pelo contrário.
Acreditando que se pudesse convencer a mãe, que estava bem, que tudo mudaria, Lúcia, apareceu em sonhos, mostrando a mãe, um lindo campo florido, calmo, tranqüilo. Dizendo que lá não existia nem dor, nem sofrimento, contou a mãe que já fazia algum tempo, que tomara consciência de sua situação.
Preocupada, mesmo distante, estava tentando fazer com que ela voltasse a sua vida normal.
Solange, que dormia pesadamente, parecia ouvir cada palavra de Lúcia.
Além disso, parecia ver com detalhes, o lugar em que filha vivia.
Lúcia, contando que era feliz no Paraíso, revelou a mãe, que só tomou conhecimento de sua situação, depois de meses.
Sim, por que quando faleceu, Lúcia levou algum tempo para recobrar a consciência, e passar a perceber que fazia parte agora, do plano espiritual. Porém, apesar de tudo o que lhe ocorrera, não se rebelou.
Conformada com sua sorte, a moça, passou a se dedicar aos estudos espirituais. Tudo com vistas a se tornar uma alma melhor.
Solange, ao ouvir as explicações da filha, começou a sorrir.
Mesmo dormindo, a moça podia perceber que a mãe se tranqüilizava com suas palavras.
Contudo, ao mesmo tempo em aquelas palavras cálidas, inundavam de seu coração de uma profunda felicidade, Solange, também lembrou-se de sua dor por havê-la perdido, e em sonho, contou a filha:
-- Lúcia! Que bom que você apareceu! Eu te pedi tanto para voltar.
Nisso, a moça, tomada de um profundo sentimento de emoção, começou a chorar. Chorou longamente.
Solange, em sonhos, só ficava olhando espantada. Tão espantada que chegou a perguntar:
-- Mas você não é feliz, minha filha?
Lúcia respondeu:
-- Sim mãe. Muito feliz. Eu só não sou feliz quando eu vejo você sofrendo, e não posso fazer nada. Mãe. – disse ela em sonho, segurando delicadamente as mãos de sua mãe. – Mãe, eu te amo. Nunca se esqueças disto. Eu nunca vou me esquecer da senhora. E eu sei que a senhora sofre, por minha causa. Eu sei também que essa dor, a dor da perda, a dor da saudade, não se acaba de um dia para o outro. Essa tristeza, essa saudade nunca acaba. Mas eu sei também, que a senhora é jovem, tem toda uma vida pela frente, e precisa prosseguir sem mim. Mãe, eu não vou ficar triste se você resolver abandonar sua tristeza e retomar sua vida. Seja feliz. Por favor, mãe! Seja feliz!
Solange, profundamente emocionada, perguntou a filha, quase em prantos:
-- E como eu faço para ser feliz?
Lúcia respondeu:
-- Primeiramente, deixe as pessoas te ajudarem. Não recuse ajuda. Quando Raquel e Cínthia baterem na tua porta, atenda. Não seja ríspida, nem dura com elas, peça ajuda. Peça ajuda, por que eu sei que há tempos você não se alimenta e nem tem forças para abrir a porta. Aceite ajuda mamãe, você precisa. Por favor, por mim. Eu não quero que você morra. Seja feliz. Retome sua vida. Eu te imploro. Faça isso por mim!
Solange, percebendo a angústia e a inquietude no semblante da filha, mesmo em sonho, prometeu a ela, que não se deixaria abater e retomaria sua vida. Nem que para isso fosse necessário, matar um leão por dia.
Lúcia então, agradeceu a mãe e se despediu, dizendo que a amava muito.
A seguir, determinada a tirar a mãe daquele estado de letargia, a moça apareceu em sonhos para Raquel e Cínthia. Dizendo as duas, que precisavam ir ainda aquela noite até porta de Solange, alegou que sua mãe precisava de ajuda.
Precavida, pediu para que levassem alguém para ajudar a arrombar a porta da casa.
As duas, impressionadas com o sonho que tiveram, trataram logo de atender o pedido.
Muito embora Raquel e Cínthia não compreendessem por que tiveram aquele insight, assim que foram advertidas de precisavam agir, sem nem pensarem em se vestir, bateram logo na porta da casa de alguns vizinhos.
Desesperadas, acabaram por acordar toda a rua com o escândalo que fizeram.
Raquel e Cínthia, sem conhecerem da intenção uma da outra, tentaram ajudar Solange. E assim, as duas mulheres, alvoroçadas, acabaram se encontrando no meio do caminho, quando uma se dirigia a casa da outra.
Quando alguns vizinhos foram até a porta da casa de Solange para saberem o que estava acontecendo, descobriram que Raquel e Cínthia queriam que alguns homens fossem até a casa de Solange.
Aborrecidos, os vizinhos logo falaram que aquela não era hora para serem incomodados. Mas, acreditando se tratar de uma situação desesperadora, muitos deles saíram preocupados de suas casas.
Cínthia e Raquel, percebendo a incredulidade dos homens quanto a gravidade da situação, preocupadas com Solange, falaram que fazia muito tempo que não a viam saindo de casa. Intrigadas chegaram a perguntar a vizinhança quanto tempo fazia que não viam na rua ou indo para algum lugar.
Os moradores responderam que não sabiam.
As mulheres responderam então, que precisavam saber o que estava acontecendo. Isso por que, se não agissem logo, sabendo do estado de Solange, quando resolvessem fazê-lo, poderia ser tarde demais.
As pessoas, mães, pais, homens, mulheres, crianças, anciãos. Todos, sem exceção, acabaram concordando com elas.
Sim, diante da gravidade da situação, se não tomassem medidas urgentes, quando fossem agir, poderia não haver mais tempo.
Assim, imbuídos num espírito de solidariedade, todos acompanharam as duas mulheres, que aflitas, caminharam a rua inteira, de chinelos e um casaco em cima da camisola. Os vizinhos também estavam de pijama.
Raquel e Cínthia, ansiosas, passaram bater insistente na porta. Pedindo para que Solange abrisse a porta, começaram a chamá-la.
Solange, que acordara sobressaltada com o barulho, tentou diversas vezes responder. Todavia, conforme suas forças foram se esvaindo, a mulher não tinha forças nem para responder os chamados das fiéis amigas. As grandes companheiras de sua vida.
Como não ouviam nenhum barulho vindo de dentro da casa, Raquel e Cínthia, preocupadas, pediram para que dois dos homens que arrombassem a porta de entrada da casa.
Foi o que fizeram.
Raquel e Cínthia, preocupadas com a amiga, procuraram-na em todos os cômodos da residência.
Quando a viram deitada em sua cama, perceberam o quanto ela havia emagrecido com a doença.
Assustadas com o estado de Solange, pediram para que alguém fosse até um orelhão, e ligasse para o hospital.
Isso por que, Solange, debilitada com a doença, precisava ser medicada e devidamente conduzida até o hospital.
Assim, foi questão de minutos até que ambulância parassem defronte a casa de Solange, e os enfermeiros, prestativos e cuidadosos, a colocassem em uma maca e a levassem de ambulância até o hospital onde a mesma trabalhava.
Bem cuidada pelos enfermeiros, foi questão de tempo para que a mulher se recuperasse.

Enquanto isso, Diogo, iracundo, tratou de chamar Diá para uma conversa séria em seus domínios.
Aborrecido com o mal desempenho da moça, com relação a missão, Diogo ameaçou-lhe castigar severamente.
Diá, temendo o perigo, respondeu que não estava tudo decidido.
Como Lúcia ainda não havia voltado ao céu, ela ainda tinha tempo para dar uma lição, nela.
Diogo então, resolveu explicar-lhe seus propósitos e, concedendo-lhe uma última oportunidade, deixou-a voltar.

Luciana Celestino dos Santos
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