Poesias

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 4 – REGIÃO SUDESTE - CAPÍTULO 6

Com isso, depois de contar a ‘Lenda do Saci’, Felipe passou a escrever outras histórias, como a do Famaliá. 
Famaliá nos sertões mineiros, é o mesmo diabinho familiar que as crônicas de Portugal nos contam e que São Cipriano ensinava como fazê-lo com os olhos de um gato preto, colocados dentro de um ovo de galinha preta, e posto para chocar na esterqueira. 
Há também umas palavras dirigidas a Lúcifer para sua obtenção. 
Em 1591, já era assinalada sua presença na Bahia. 
O nome, na mudança para o interior, e na viagem através do tempo, deixou de ser Familiar, para ser Famaliá. 
-- Você viu aquela garrafa preta guardada no oratório? 
-- Não. Estava tão escuro que foi difícil distinguir o que estava dentro dela. Ainda bem. Acho que ela foi escondida pelo seu dono. 
-- Ali é que o fazendeiro guarda o seu Famaliá. 
-- Famaliá? Mas o que vem a ser isso? 
-- Você não usa um pé de coelho para dar sorte? Não tem em casa uma ferradura atrás da porta? Estou vendo pendurada nessa corrente uma figa. Para que essa figa? 
-- Para afastar os maus olhados, para dar sorte. 
-- Cada qual com seu amuleto. Pois o Famaliá também é para ajudar, para se conseguir riqueza, enfim tudo o que se queira. Mas, há condições... 
-- Como posso conseguir um Famaliá? 
-- Bem, posso contar, mas é difícil para se conseguir. Aqui no vale do Alto São Francisco. – contou o compadre Saul Martins. – São poucos os possuidores, mas há os que conseguem, depois de muita luta e perseverança, o seu Famaliá. A demora para se conseguir às vezes é de anos. Quem deseja ter o seu Famaliá deve procurar nos galinheiros um ovo de galo. 
-- Mas é por isso que é difícil. O ovo de galo é pequenino, do tamanho de ovo de uma pomba juriti. 
-- É bem pequeno e precisa tomar todo o cuidado quando encontrá-lo. Leva-se para casa e espera-se a quaresma chegar. Na primeira sexta-feira da quaresma, vai-se a uma encruzilhada de caminhos. É bom que não haja luz por perto. À noite, quando vai adiantada, nas horas mortas, quando bater a viração, coloque cuidadosamente o ovo debaixo do braço esquerdo, na axila. Já pode ir para casa deitar-se porque uma febre ataca. A febre ajuda a chocar o ovo. Fique deitado durante quarenta dias, pois à meia-noite, no final da quaresma, o oco picará. Mas não espere que venha um pinto. O que vem é um diabinho de mais ou menos um palmo de tamanho. Cuidadosamente mete-se o diabinho numa garrafa preta, arrolha-se bem e guarda-se em segredo, de preferência num oratório velho, e que ninguém bula a não ser o dono da casa, o fazendeiro que o chocou. 
-- E o que faz o Famaliá? 
-- Bem, faz tudo o que se quer: ele traz riquezas, boa situação social. O seu dono coloca-o na palma da mão e lhe faz o pedido. Imediatamente é atendido. Depois guarda-o arrolhando bem a garrafa preta. 
-- E traz é felicidade? 
-- Bem, esse é outro problema. Será que dinheiro, posição social, êxito é felicidade? 
-- O que não se deve esquecer, e ia me esquecendo, é que para se obter um Famaliá, faz-se um pacto com o diabo. 
-- Então nesse caso o diabo sempre ganha ...

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

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