Poesias

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 4 – REGIÃO SUDESTE - CAPÍTULO 11

Com isso, sempre que podia, aproveitava os momentos que seriam de ócio, para escrever sobre as lendas da região. 
Assim, passou a escrever sobre a lenda de ‘O Sol e a Lua’. 
O Sol era um belo rapaz, muito forte e inteligente. 
Já a Lua, esta era uma indiazinha muito bonita e delicada. 
Os dois se conheceram em uma festa da tribo. 
Uma grande e bela festa iluminada por fogueiras e vaga-lumes. 
O Sol, em meio aos festejos, viu a Lua e ficou apaixonado por ela. 
A Lua por sua vez, viu o Sol e também ficou enamorada dele. 
A partir daí, começaram a namorar. 
Contudo, a Lua era muito orgulhosa e gostava de ser importante. 
Não era a qualquer festa que ela ia, não. 
Nem a qualquer passeio. 
O Sol, no entanto, era mais camarada e aceitava qualquer convite. 
Assim, enquanto a Lua ficava geralmente fechada na Oca, o Sol andava por tudo quanto era lugar, divertindo-se para valer. 
Caçava, pescava, nadava. 
Mas a Lua não andava contente com seu jeito de viver. 
Queria que ele fosse mais preocupado, que selecionasse melhor suas amizades. 
Porém, orgulhosa nada dizia. 
Mas o Sol notava que ela não estava satisfeita e não sabia o motivo. 
Com isso, havia, também, outra coisa que aborrecia a Lua. 
Ela era muito vaidosa e gostava de se enfeitar e se pintar. 
O Sol, por sua vez, não se cuidava muito. 
Contudo, a despeito disso, certa vez, o Sol, cansado do ar de enfastio da Lua, insistiu para que a mesma lhe contasse o motivo de sua tristeza. 
Mas a Lua não dizia. 
Um dia, porém, deixando um pouco de lado seu orgulho, contou o que se passava: 
-- Você deveria ser mais vaidoso e mais exigente! Queria que se enfeitasse mais, que escolhesse suas amizades com mais cuidado e também seus passeios. 
-- Por que? Gosto de ser simples, de conviver com todos, de ir a qualquer lugar! 
-- Mas assim não está certo. Assim não ficarei contente. Quero que meu namorado seja mais importante do que os outros! 
Nisso, ao ouvir as duras palavras da Lua, o Sol ficou muito triste. 
Como gostava da Lua, pôs-se a pensar no que ela havia dito. 
E assim, começou a evitar os amigos. 
Como desculpa, dizia que ía pescar, caçar e nadar sozinho, dando-se ares de importante. 
Com isso, começou a ficar vaidoso também. 
Passou a se enfeitar com lindas penas. 
A Lua por sua vez, vendo que o Sol estava ficando mais enfeitado que ela, tratou logo de conseguir coisas mais valiosas. 
E pedia ao pai: 
-- Papai, vou a uma festa e não quero usar meus enfeites velhos! Quero que o senhor consiga para mim as penas mais bonitas que possam existir. 
Seu pai, espantado, perguntou: 
-- O que está acontecendo? Você sempre foi vaidosa, é verdade. Mas agora! Não faz mais nada senão enfeitar-se. E eu então, vivo procurando penas, dentes e nem sei o que mais. 
Assim, como se pode notar, sempre que a Lua lhe pedia mais enfeites, ele queria saber o motivo de tanta vaidade. 
De tanto que insistiu, a indiazinha acabou lhe contando. 
Quando ele ouviu a razão de tudo aquilo, ficou louco da vida. 
Então por causa do Sol, ele, que já não era muito moço, andava pela selva que nem um condenado, procurando enfeites para a filha? 
Bufou, xingou, praguejou, e continuou a fazer a vontade da Lua. 
Porém, não podia mais ver o Sol. 
Estava com tanta raiva daquele rapaz que só sabia se enfeitar, que não queria vê-lo pela frente. 
Certo dia, o pai da Lua estava perto de um rio, caçando pássaros para conseguir penas, pois logo haveria uma grande festa na tribo. 
O Sol também deveria ir, e andava procurando, da mesma forma, conseguir penas bonitas. 
Assim, embora o pai da Lua estivesse com raiva do moço, os dois continuaram com a amizade. 
-- O senhor está caçando? – perguntou o Sol, assim que se avistaram. 
-- Sim. – respondeu o índio, meio carrancudo. – Vai haver uma grande festa e minha filha quer ir bem enfeitada. 
-- É verdade. Também vou. É por causa disso que eu estou aqui. Quero conseguir penas bonitas para fazer belos enfeites. 
-- Aproveitando a ocasião, você poderia também conseguir penas e outros enfeites para a Lua, não é mesmo? Afinal, não seria mais do que sua obrigação, já não sou tão novo para andar atrás dessas coisas. 
-- Realmente, mas a culpa não é minha. Ela não aceita nenhum presente meu. É muito orgulhosa e diz que a obrigação é do senhor. 
E continuaram caçando por ali. 
É claro que o Sol, sendo mais moço, levava vantagem, acertando sempre as mais bonitas. 
Foi então que surgiu no céu, voando devagar, majestosamente, uma ave muito bonita. 
Devia ter vindo de longe, pois eles não a conheciam. 
-- Olhe! – gritou o Sol – Veja que ave maravilhosa. 
-- Não a conheço! – exclamou o outro. 
-- Vai ver que Tupã a enviou para que eu me enfeite com suas penas. 
-- Se Tupã a enviou, foi para minha filha ser a mais linda da festa. 
Nisso a ave desceu e pousou numa árvore muito alta. 
Agora eles podiam ver melhor suas cores. 
Eram lindas. 
Todas as cores do arco-íris estavam ali representadas. 
Os dois índios ficaram de boca aberta. 
De tão distraídos, esqueceram-se de caçá-la. 
Nisso o Sol gritou: 
-- Preciso pegá-la. Tem de ser minha. 
-- Eu vou pegá-la. – desafiou o pai da Lua. 
Assim, cada um preparou depressa o arco e a flecha e apontaram para a pobre ave distraída e tranqüila. De repente, ela voou ganhando altura. 
-- Lá vai ela. – gritou o Sol. 
-- Vai fugir! – exclamou o pai da Lua, desesperado. 
Atiraram suas flechas. 
O Sol, embora fosse melhor atirador do que o velho, por qualquer motivo, errou. 
Sua flecha passou longe. 
Porém, a flecha do outro, acertou em cheio. 
Contudo, como a ave já estava a grande altitude, foi cair do outro lado do rio. 
Quando viu então que havia errado, o Sol ficou louco da vida. 
Deu um chute numa pedra e urrou de dor. 
O velho, ao contrário, ficou muito contente, pulando de alegria. 
-- Eu não disse que Tupã havia enviado a ave para minha filha? – perguntou. 
-- Então não foi Tupã, senão eu teria acertado. 
-- E você se julga melhor do que eu? – gritou o pai da Lua, mostrando em sua atitude, que não estava para brincadeira. 
O Sol, que era esperto, percebendo que poderia criar inimizade com o velho, o que é lógico não seria interessante para ele, procurou acalmá-lo. 
-- Eu não quis dizer isso! Bem, vou buscar a ave para o senhor. 
-- Nada disso! Se minha filha não quer favores seus, eu também não quero. Eu mesmo vou buscá-la. 
-- Mas é preciso atravessar o rio, e não temos nenhuma canoa aqui. Tem de ser a nado. 
-- O que você pretende dizer com isso? Então não sei nadar? 
Como se pôde perceber, o velho era teimoso, e não quis saber de nada. 
Pulou na água e foi nadando. 
No meio do rio é que tudo aconteceu. 
Não agüentando mais nadar, o velho começou a se afogar. 
Nesse instante o Sol pulou na água e nadou rapidamente na direção do pai da Lua. 
Bem a tempo. 
Isso por que, o velho já estava nas últimas. 
Não fosse o Sol chegar a tempo, e colocá-lo a salvo na margem, o velho a essa altura, já estaria morto. 
-- Eis sua ave! – disse o Sol. 
-- Minha, não. Sua! – exclamou o velho. 
-- Como assim? – admirou-se o Sol. 
O velho então olhou para ele, ficou alguns instantes em silêncio e depois, destacando bem as sílabas, como se o outro fosse meio surdo, disse: 
-- A ave é sua, e não minha. Sabe por que? – o velho índio ficou mais algum tempo em silêncio e respondeu. – Se você salvou minha vida, e ainda foi buscar a ave, tem mais direito a ela do que eu. 
-- De jeito nenhum. Não posso aceitar. Fique com ela! 
E nisso os dois permaneceram por um bom tempo. 
Aí o velho teve uma idéia, mas não a revelou ao Sol. 
-- Está certo. Levarei a ave. Vamos. – disse. 
Quando chegaram a aldeia, o velho propôs dividir as penas entre o Sol e a Lua. 
Ao ouvir isso, o Sol ficou hororrizado. 
Nunca! 
A Lua, então, ficou brava como uma onça. 
O que? Usar as penas da mesma ave? Nem sonhando! O Sol que ficasse com a ave inteira! 
Mas ele não aceitou. 
Nem a Lua. 
E a ave foi jogada num canto da Oca. 
Nisso o Sol foi embora zangado. 
Ao saber que o namorado salvara seu pai, a Lua ficou ainda mais aborrecida. 
Não tinha dúvida de que o Sol ía ficar mais vaidoso que nunca. 
Assim, quando toda a aldeia soube do caso, prestou as maiores homenagens ao herói. 
Só se falava no Sol. 
A Lua, para se acalmar, foi dar uma volta pela redondeza. 
Ao passar perto de um abismo, cuja profundidade ninguém sabia, ouviu uns gritos que vinham lá de dentro. 
Foi então que ela, olhou cuidadosamente para ver o que era. 
Logo abaixo, agarrada a umas pedras, estava a mãe do Sol, já no fim de suas forças. 
Tinha se distraído e caíra no abismo. 
A Lua então, passou a se perguntar: o que fazer? 
Se fosse até à aldeia, não voltaria a tempo de salvar a velha índia. 
Por isso, rapidamente a Lua apanhou um cipó, amarrou-o a uma árvore ali perto e, agarrando-se ao cipó, desceu até as pedras. 
Arriscando a vida, conseguiu amarrar a mulher pela cintura. 
Com isso, subiu e começou a puxar a mãe do Sol. 
Em outra ocasião, não teria agüentado todo aquele peso, mas, sentindo-se perto da salvação, a mulher agarrou-se com unhas e dentes, nas saliências do abismo e ajudou a Lua a salvá-la. 
Enquanto isso na aldeia, o Sol estava entre uma roda de rapazes, contando como salvara o pai da Lua. 
A mãe dele, então, chegou e contou o que havia acontecido. 
Com isso, logo a Lua começou a ser homenageada e, com todo o orgulho possível, ela disse ao Sol: 
-- Agora estamos iguais, não estamos? 
E assim, continuaram a namorar. 
Contudo, a disputa era maior do que antes. 
Um não sabia o que fazer para se destacar mais do que o outro. 
Dessa forma, a Lua e sua família andavam tão preocupadas, que nem se lembraram da ave largada num canto da oca. 
A ave ficou ali uma porção de tempo, sem que ninguém percebesse. 
Nesse ínterim, a tal festa muito importante realizou-se na aldeia. 
Grandes preparativos foram feitos, assim como muita bebida e muita comida. 
O pai da Lua estava às voltas com novos enfeites e o Sol também andava pela selva com a mesma intenção. 
Mais tarde, a Lua recebeu seus enfeites e preparou-se o melhor que pôde. 
Assim, quando o Sol chegou, ela estava muito bonita, e ele, muito distinto e elegante. 
Tanto, que atraía olhares. 
-- Como seus enfeites são lindos! – ele disse. 
A Lua ficou toda orgulhosa, mas ele completou: 
-- Só que os meus são muito mais! 
-- Os seus? Ah, ah, ah! – caçoou ela, olhando para o Sol com compaixão. 
O pai dela, muito aflito, vendo a discussão que já se formara, andava de um lado para o outro, sem saber o que fazer. 
E os dois vaidosos falavam, pois nenhum deles queria perder. 
O velho no entanto, ansioso para acabar com aquilo, andava e olhava para todos os cantos. 
Foi então que acabou encontrando a ave, um pouco escondida por uns cestos. 
-- Olhem! Aquela ave que nós caçamos! Ainda está aqui! 
A Lua olhou, horrorizada. 
-- Como é que pôde ficar esquecida? 
O Sol aproveitou para fazer um comentário maldoso: 
-- Aquela ave? Não acredito! Então Lua? Não é só a vaidade pessoal que tem valor, a oca também merece um pouco de cuidado. Há muito tempo você não faz uma limpeza por aqui, hein? 
-- Calma, calma. – pedia o velho, arrependido de sua descoberta, segurando a ave pelos pés. 
E nisso, enquanto eles estavam discutindo, a ave criou vida. 
O pai da Lua, vendo-a se mexer, deu um grito que atraiu todos os índios da aldeia. 
Foi então que ouviu-se um estrondo, e se formou uma fumaceira que não deixava ver nada. 
Quando voltaram a enxergar, no lugar da ave, estava Tupã em pessoa. 
Não havia índio que não tremesse! 
Imponente, olhou para os dois jovens e disse: 
-- Vocês são muito vaidosos e orgulhosos. Não é possível o que estão fazendo. Só se preocupam em serem notados! Só desejam riquezas! As penas da ave que enviei eram mágicas. Se tivessem sido repartidas entre os dois, vocês teriam deixado de ser assim. Mas a vaidade venceu. Pois vão ser ricos e adorados por todos. Você, Sol, será transformado num rei adornado de ouro. E você, Lua, será transformada numa rainha coberta de prata. 
Imediatamente, Tupã e os dois moços sumiram. 
E, a partir daquele momento, o Sol e a Lua começaram seu passeio pelo céu.7

7 Texto extraído do livro Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). 
São Paulo: APEL Editora, sem/data. 
Site: http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/3contos/sollua.html.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.


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