Grande número de ruas da região, embora muitos moradores não saibam, leva o nome de fatos e
pessoas ligadas à Independência, ou ao Império, e ajuda a trazer à memória a história do País.
A
Silva Bueno, por exemplo, homenageia o deputado brasileiro Antonio Miguel da Silva Bueno,
indicado e eleito pelo Governo Provisório da Província, quando D. João VI, forçado pela rebelião
lusa, concordou em elaborar e jurar uma Constituição, para o Reino Unido de Brasil e Algarves.
Na época, da guarda de honra do imperador, fazia parte Antonio Marcondes Homem de Mello.
Ele assistiu ao ato da Proclamação da Independência, que teve em Cipriano José Barata de
Almeida – homenageado em placas do Ipiranga – um dos seus principais líderes.
A defesa desses
princípios, ainda motiva o tributo presente na Rua Leais Paulistanos – homenagem à comunidade
que demonstrou a D. Pedro I, sua absoluta lealdade.
Aliás, o imperador – na verdade Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de
Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Cipriano Serafim de Bragança e Bourdon – merece referência na principal avenida do bairro, e na Rua do Fico, que lembra a célebre frase:
“Como
é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto, diga ao povo que fico”.
Seu reinado, porém, não passou sem citações.
Isso pode novamente ser observado nas
denominações das ruas, sobretudo a dos Sorocabanos – que lembra o episódio em que Rafael
Tobias de Aguiar comandou os rebeldes de Sorocaba, que desejavam abolir a autoridade absoluta
de D. Pedro I, e só foram vencidos pela intervenção do Duque de Caxias – e a do Manifesto –
referência ao manifesto à Nação, publicado em 8 de abril de 1831 pela Assembléia Geral, dando
conta do que era feito, e do que se pretendia fazer após a abdicação do imperador.
Políticos e denominações curiosas
A rua que corta vários bairros da região, a Vergueiro, também tem ligações com o Império, uma
vez que homenageia o advogado e fazendeiro Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, nascido na
cidade de Bragança, em Portugal, em 1778.
Formou-se na Universidade de Coimbra, e se
estabeleceu em São Paulo logo depois.
Representou a Província de São Paulo nas cortes
portuguesas em 1822, na Constituição Brasileira de 1823, e na primeira legislatura.
Em 1828, foi
eleito senador por Minas Gerais.
Chegou a ocupar a pasta da Fazenda e Justiça.
Integrou a
regência provisória, que se seguiu à abdicação de d. Pedro, mas acabou acusado, de promover a
revolução de 1842.
Morreu no Rio de Janeiro, em 1859.
Já a antiga Estrada da Água Funda recebeu o nome de Miguel Estéfano, comerciante nascido na
Líbia, que veio ainda jovem para o Brasil, no início do século passado.
Como parte da colônia
árabe, se estabeleceu na Rua 25 de março, mas morou por longa data no Sacomã, onde ficou
conhecido por comprar várias propriedades e, às vezes, quarteirões inteiros.
Adquiria terrenos,
construía casas e as vendia.
Comprou também vários lotes na cidade do Guarujá, onde a avenida
principal leva seu nome.
No rumo inverso, vale ressaltar que o santista Antônio Manuel da Silva, nascido em 1790, e alvo
de homenagem semelhante na região, ocupou vários cargos políticos no começo do século 19.
Não assinou a Constituição, porém, por achar contrária aos interesses do País.
Com isso, viu-se
obrigado a ir para Inglaterra, ao lado de deputados brasileiros.
Morreu em Campinas, em 1838.
Depois de sua morte, ganhou destaque a atual Estrada das Lágrimas, que marca o ponto de várias
partidas.
A figueira onde se despediam viajantes e soldados brasileiros que foram para a Guerra
do Paraguai, ficou conhecida por árvore das lágrimas e, posteriormente, deu nome ao local.
Mais uma denominação curiosa envolve uma lenda, segundo a qual na Rua Bom Pastor, uma via
pública derivada, da Rua Teresa Cristina na direção da Rua Silva Bueno, um certo garoto
desamparado, que por ali caminhava com muita fraqueza, caiu sobre um tufo de folhagem.
Quando mal conseguia abrir os olhos, surgiu ali a figura de Jesus Cristo, que o ergueu e lhe disse
que era um Pastor de Almas e, em nome do Pai, fazia tudo pelas crianças e iria interceder por ele
para que os homens, tocados no coração, erguessem um asilo nas imediações, para as crianças
desamparadas.
Com o passar do tempo, criou-se naquele caminho o Asilo do Bom Pastor.
Conforme os registros
históricos, a rua recebeu este nome em homenagem à Congregação do Bom Pastor, que
desenvolveu por mais de 70 anos esse trabalho assistencial, com crianças abandonadas e jovens
desajustados, chegando a abrigar até 300 crianças por dia.
PARA SABER MAIS
Em 19 de maio de 1999, o prefeito Celso Pitta regulamentou a Lei 12.659/98, que determina a
manutenção de sessões de memória e história regionais, nas bibliotecas públicas da cidade de São Paulo.
De acordo com a mesma norma, cabe às Secretarias Municipais de Educação e Cultura, criar programas que incentivem o conhecimento, e a preservação das histórias dos bairros.
O conde solidário
A história do Conde José Vicente de Azevedo se confunde com o Ipiranga.
Nasceu em Lorena, no
interior de São Paulo, em 7 de julho de 1859.
Quando tinha 10 anos, seu pai morreu, e ele sentiu
as dificuldades da orfandade.
Passou a vender doces nas ruas, feitos por sua mãe.
No meio de tantas dificuldades, definiu que quando crescesse e tivesse condições, ajudaria as
crianças menos favorecidas.
Anos depois, formou-se em direito, além de ser jornalista, professor,
deputado e senador por São Paulo.
Quando completou 31 anos, deu início a
construção do projeto de sua vida.
Comprou 46 hectares de terras no Ipiranga e, a partir dessa
época, começou a construir diversas instituições.
O aglomerado de concreto, com 110 mil metros quadrados, na Rua Dom Luís Lasagna, 300, é um
marco.
Sua construção teve início em 1891, e foi concluída em 1896.
O projeto foi do engenheiro Francisco de Paula Ramos de Azevedo, que era amigo do conde, e
elaborou o croqui em 1891, do Asilo de Meninas Órfãs de Nossa Senhora Auxiliadora do Ipiranga.
A responsabilidade pela edificação, coube ao escritório Guilherme Krug e Filho.
Além disso, Azevedo abriu o Instituto Cristóvão Colombo, na Rua Doutor Mario Vicente, em 1891,
para servir como orfanato de meninos.
O Instituto Sagrada Família, na Avenida Nazaré, 470, foi
construído em 1895, e serviu como ponto de encontro de ex-escravos e parentes, em busca de asilo
e socorro.
O Grupo Escolar São José, datado de 1924, que ocupa a esquina da Avenida Nazaré, com Rua
Moreira de Godói; o Instituto de Cegos Padre Chico, fundado em 1928, do outro lado da esquina;
o Juvenato Santíssimo Sacramento, datado de 1929, localizado na Rua Dom Luís Lasanha; e mais
outros oito imóveis, fazem parte da herança deixada por José Vicente de Azevedo.
Segundo a doutora em educação Ana Maria Navajas, que integra o projeto de pesquisa do curso
de pós-graduação Educação, Administração e Comunicação da Universidade São Marcos – e
estuda a vida do conde –, Azevedo de fato dedicou a sua vida às pessoas mais necessitadas.
“Todas
as casas, prédios e imóveis que ele deixou, pertencem à Fundação Nossa Senhora Auxiliadora,
criada por ele, e só podem ser alugados para fins educacionais.”
Em 1935, ele foi nomeado Conde Romano, pelo papa Pio XI, em razão das obras assistenciais que
mantinha.
Morreu nove anos depois.
Estima-se que tenha auxiliado pelo menos 10 mil jovens,
somente no internato.
Texto extraído de matérias da internet.
Luciana Celestino dos Santos
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