Por fim, Felipe escreveu a respeito da ‘Lenda do Boi de Concha’:
Filho do Boi Marujo com a Vaca Sereia; nascera no dia 29 de junho, dia de São Pedro
Pescador.
Ao ver Cipriano, o bichinho deu um mugido parecendo som de ratambufe.
-- Ratambufe*!
-- Isso mesmo, você vai se chamar Ratambufe!
Esse mugido tá parecendo o ratambufe do
Domingos Anagro, batendo em dia de carnaval.
Você é forte, bonito e tem jeito de ser um bom
carreador!
Você nasceu no dia de São Pedro Pescador, não é?
Vou leva-lo para conhecer o mar!
Você vai ver que beleza que é o mar!
Está ouvindo Ratambufe?
O recém nascido bezerro, parecendo que entendia, fitava a promessa do velho Cipriano.
Ratambufe era um boizinho quase que inteiramente branco, apenas o rabo era preto, e
destacava-se uma mancha preta na testa com formato de concha.
Cipriano era um tropeiro do Bairro Alto de São Luiz do Paraitinga que comercializava em Ubatuba. Descia e subia a serra semanalmente, trazendo produtos como: queijo, farinha de milho, carne seca, carne de porco e também comercializava animais como cavalo, boi, galinha, pato, cabrito e porco.
Cipriano era um tropeiro do Bairro Alto de São Luiz do Paraitinga que comercializava em Ubatuba. Descia e subia a serra semanalmente, trazendo produtos como: queijo, farinha de milho, carne seca, carne de porco e também comercializava animais como cavalo, boi, galinha, pato, cabrito e porco.
Dos produtos que levava, era a farinha de mandioca, banana e principalmente o
peixe seco.
Ratambufe foi crescendo e ouvindo as promessas de seu dono que iria lhe mostrar o mar.
O que seria o mar?
O que seria as gaivotas, as conchas, os peixes, os guaroçás,... que
Cipriano sempre falava?
Ratambufe cresceu ouvindo falar do mar e das coisas do mar...
Para Ratambufe o mar seria
o céu, o paraíso.
Dois anos se passaram e era o mais lindo animal de Cipriano.
Era um boi forte, robusto,
inteligente e o que mais importava era seu peso.
Cipriano, como bom comerciante que era, tinha na verdade outras intenções; desceria a
serra com o boi, indo diretamente para o matadouro, venderia sua carne e ganharia um bom
dinheiro.
O matadouro ficava no final da Rua Coronel Ernesto de Oliveira e final também da Rua
Alfredo de Araújo; e no mais tardar o boi chegaria às nove horas da manhã.
-- É amanhã, Ratambufe! Amanhã você vai conhecer o mar!
Assim aconteceu.
No mirante da serra, no descanso do Tuniquinho, pela primeira vez Ratambufe viu o mar.
Lá de cima da serra avistou aquela imensidão de águas azuis.
-- Tá vendo Ratambufe? Lá é o mar, lá estão os peixes, as conchas e as sereias, é lá que
mora São Pedro pescador! – falava Cipriano ao seu animal.
Ratambufe parecia entender, e completamente hipnotizado não tirava os olhos daquela
imensidão de águas azuis, que brilhava com os raios do sol.
-- Caaaalma Ratambufe, você vai ver o mar de perto! Caaaalma! – fez, Cipriano, mais essa
promessa a seu boi.
A descida da serra foi tranqüila, por entre grotas e cachoeiras, sob as sombras de manacás
e brecuíbas, ao som de arapongas e tangarás...
Coisas que Ratambufe, em seus dois anos de vida,
nunca tinha apreciado.
O animal parecia ansioso e fazia a tropa acelerar os passos.
-- Caaaalma Ratambufe, está chegando, o Mar não vai fugir! – alertava Cipriano.
Cipriano se arrependeu, e se arrependeu muito...
-- Olha, Malvina! Eu vi, eu juro que vi!
-- Você está ficando doido, Lindolfo! Você bebeu? Onde já se viu um boi sair de dentro do
mar!
-- Você sabe que eu não bebo, Malvina! Eu vi! Vi com esses olhos que a terra há de comer!
Eu estava tocando minha viola em baixo da amendoeira do cruzeiro, quando apareceu aquele vulto
branco vindo lá da prainha do Matarazzo. Eu pensava que era um barco, mas não era. O bicho veio
ao som da minha viola, veio vindo, veio vindo e ficou diante de meus olhos, no lagamá. Eu vi! O
bicho era todinho branco, todinho coberto com conchas, tinha uma mancha preta na testa e o rabo
preto. Brilhava com a ardentia, parecia um ser encantado; vinha acompanhado por tudo que era
peixe do mar, botos e cavalos marinhos! Foi a coisa mais bonita que eu já vi em toda minha vida,
Malvina!
-- Olha Lindolfo, você bebeu, ou a pimenta daquele pirão que você comeu de noite não lhe
fez bem! Onde já se viu uma história dessas, homem?! Você esta ficando louco!
Não tinha como fazer com que Vovó Malvina acreditasse naquela historia...
E vovô continuava.
– Olha Malvina! Coisa de um mês atrás, o compadre Zé Capão me veio com essa mesma
história, de que viu sair do mar um boizinho coberto com conchas; não teve como eu acreditar, e
ainda falei para o compadre que ele estava bêbado!!! Pois é Malvina, agora o bicho me apareceu!
Acredite se você quiser!
-- Não dá para acreditar, Lindolfo! Não dá!!!
-- Puxe um pouco pela memória, Malvina! Você lembra daquele caso que aconteceu com
o Cipriano? Você lembra daquele boi branco que ele trouxe do Bairro Alto, para matar no
matadouro? Você lembra o que aconteceu com o boi?
-- Ouvi dizer que o boi tomou a dianteira e foi para a praia, entrou no mar e morreu afogado!
-- Foi justamente isso Malvina; ao chegar perto do mar o boi travou as pernas e ficou
olhando para o horizonte do mar, de vez em quando balançava a cabeça, parecia que estava
ouvindo um som, algum canto diferente, de repente, o boi caminhou e entrou no mar, e o que se
sabe é que o bicho nunca mais apareceu.
Não se sabe se morreu ou se viveu, pois nunca acharam
uma parte sequer do bicho: nem couro, nem pêlo, nem chifre!
Dizia o Cipriano que ele vivia
falando para o boi da beleza que era o mar e de tudo que tinha no mar... Essa história de mar era
papo de Cipriano...
O boi sabia disso!
Quando o bicho viu o mar e sentiu a maresia, ficou
alucinado, deu uma loucura que o bicho desapareceu mar adentro; nunca mais apareceu.
Pescadores do local falaram que foi um chamado de São Pedro, outros diziam que era o canto das
Sereias.
Foi São Pedro Pescador!
Foi o canto das Sereias!
Malvina agora mostrava interesse pelo fato e já fazia ligação das histórias.
-- Será Lindolfo, que o boi que você viu aparecer, é o boi do Cipriano que sumiu no mar?
-- Olha Malvina! Não só eu, mas também o compadre Zé Capão está achando!
-
- É Lindolfo! Veio-me agora uma lembrança. Eu lembro-me muito bem que, quando você,
juntamente com seu irmão e demais amigos, se reuniam na campina para fazerem suas serestas,
nas noites de luar ou de garoa fina, os animais dos tropeiros (cavalos, bois, cabritos) que pastavam
ao redor, vinham se aconchegar junto à cerca para ouvir as musicas tocadas pelos seresteiros,
dando-lhes descanso e conforto.
-- É Malvina, isso é fato comprovado!!!19
...
19 Júlio César Mendes
Julinho Mendes - 06/12/2001 – A Lenda do “Boi de Conchas”
O BOI DE CONCHAS, foi uma aparição aos olhos de Zé Capão e de vovô Lindolfo. Para Zé Capão o boi aparecia
em suas pescarias de robalos, na boca da barra do rio Grande, e, para vovô Lindolfo, o boi aparecia toda vez que ele
dedilhava sua viola aos pés da amendoeira da praia do Cruzeiro.
Fica aí registrado, a LENDA DO BOI DE CONCHAS, que vovô contava quando eu era criança; uma lenda que eu
agora levo a público, e que fique fazendo parte das demais lendas da cultura da cidade de Ubatuba, que já não são
levadas às crianças, e muito menos ensinados nas escolas.
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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