“Confete, pedacinho colorido de saudade, ahh...
Confete, confesso, confesso que chorei...”
Nos salões de outrora, salões onde as festas de carnaval aconteciam muito animadas
e alegres...
Nesse ambiente se encontraram pela primeira vez, um pierrot e uma colombina.
Colombina esta, que de tão airosa, parecia iluminar o ambiente com sua leveza, com
seus passos delicados, seus gestos contidos.
Tudo faria com que ela passasse discretamente pelo salão, mas não foi assim que o
destino quis para ela.
Quis o destino malvado que o pierrot se encontrasse com a delicada colombina, e ao
se deparar com aquelas formas delicadas escondidas dentro da fantasia dela, se aproximar
da pequena e travar um pequeno colóquio.
Como se vê, estão sendo utilizadas, velhas expressões da época.
Mas voltemos ao
principal.
O pierrot logo se encantou com a timidez da moça, que, ao perceber a aproximação, logo quis fugir, e se corou ao ouvir galanteios do jovem pierrot apaixonado.
Apaixonado sim, pois logo que vira a moça se enamorou dela.
Quem ousa não
acreditar?
Dançaram longa e fartamente, apesar da resistência da moça em dançar com um
desconhecido, longe dos olhos da família, que por certo estaria por aí.
A moça em suas formas finas, parecia um bibelô delicado perto da opulência do
rapaz, que parecia meio desajeitado com sua roupa de arlequim toda espalhafatosa e larga.
Sentiu-se até meio constrangido de apresentar sua triste figura com uma lágrima maquiada
no canto do rosto para a moça, que agora parecia menos constrangida com os galanteios
do rapaz, chegando até a rir de suas piadas.
E o sorriso da moça era lindo.
O pierrot, digo, o jovem rapaz, seria capaz de se perder no meio daquele sorriso.
A festa correu toda a madrugada, mas a moça teve de voltar logo depois da meia noite para casa.
E o rapaz ficou só, no meio da multidão.
Na confusão em que se encontravam, esqueceram-se na incontida alegria das danças, e acabaram não se apresentando.
Na hora de se despedirem, o pai abruptamente puxou a moça pelo braço e a levou
para fora do salão.
O rapaz se perdeu da moça.
Procurou a pequena por todo o salão mas não a
encontrou mais.
Voltou muito tarde para a casa, visivelmente desolado.
Que decepção!
A festa daquele carnaval fora especial para ele, que nunca mais se esquecera do rosto
suave da colombina.
Durante longo tempo procurou pela moça, magoado que estava, para lhe pedir
explicações pelo seu sumiço.
Seus amigos pediram para que tirasse essa idéia obsessiva da cabeça.
Nunca mais
iria vê-la, diziam.
Conjecturava, pensava.
Por que ela sumiu?
Por que a pequena desapareceu de forma
tão peremptória do salão?
Será que ela não quis saber de mim?
Procurou-a, procurou-a e nunca mais a encontrou...
Até que, novamente o carnaval
chegou.
Que tristes lembranças para um pobre pierrot levar junto consigo, para qualquer festa
que for.
O rosto da colombina estava para sempre guardado em suas lembranças.
Saiu para festejar o carnaval.
Qual o quê?
Estava triste demais para comemorar o que quer que fosse.
É verdade, estava o nosso jovem pierrot na maior fossa.
Mas mesmo a contragosto
se dirigiu ao salão de suas lembranças tristes de carnaval.
No fundo de seu coração, acreditava que iria encontrá-la no mesmo salão, embora
não tivesse tantas esperanças de que tal milagre acontecesse.
Entregou-se a solidão e pôs-se a chorar, bem no meio da multidão.
Queria se entregar a tristeza e conseguiu.
Embebedou-se fartamente.
Mas qual não foi sua surpresa ao se deparar novamente com os desígnios do destino
malvado, novamente a brincar com ele.
A moça que tanto procurou, estava no meio da multidão, alegremente brincando com
um dos rapazes fantasiados de palhaço.
Mas ela não o vira.
Logo que avistou a moça, novamente vestida de colombina correu para abraçá-la e
lhe envolver num afago.
Pediu quase chorando que ela o abraçasse, no que ela recuou.
O pierrot novamente se aproximou e disse que iria beijá-la mesmo que ela não
quisesse, e até pediu desculpas por sua ousadia.
Mas sem medo, assim o fez...
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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