Poesias

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

VALONGO - CAPÍTULO 24 - VERSÃO OFICIAL

Com efeito, durante o jantar, o moço, dizendo que já havia presenteado a moça com um anel de noivado, comentou que havia um presente ainda mais especial para ela.
Curiosa, Tânia perguntou-lhe do que se tratava.
Venâncio disse então, que era uma joia muito especial, pelo significado que trazia.
Argumentou que se tratava de uma joia da família.
Nisto o moço sacou o objeto do bolso e o colocou nas mãos da moça.
Tânia ao tocar o objeto, pensou tratar-se de um broche, mas ao analisá-lo melhor, percebeu se tratar de um camafeu.
Admirada, exclamou que conhecia a joia, dos romances que lera de Joaquim Manoel de Macedo, mas que nunca tinha visto um assim tão de perto.
Encantada, abriu o presente, vindo a notar que em seu interior haviam fios de cabelo.
Venâncio comentou que eram fios de cabelo da primeira Carolina.
A mãe de todos os descendentes da família.
Tânia olhou-o com admiração.
Venâncio então, contou-lhe detalhes sobre a história da família.
Tânia ouvia a tudo com muito interesse.
Em dado momento, Dona Carolina pediu a palavra ao neto.
Disse que precisa contar mais detalhes da história a moça.
Nisto a matriarca mostrou o diário de Carolina para a jovem.
Leu trechos do relato para Tânia, que interessada, perguntava mais detalhes sobre a história.
A certa altura, Carolina – a filha, pediu para que todos se dirigissem a sala de jantar, pois a refeição seria servida.
Nisto, Tânia comentou que estava encantada de receber uma joia com tanta história.
Olhando para Dona Carolina, segurou suas mãos, e agradeceu o presente.
Disse-lhe que nunca havia ganho nada tão lindo.
A matriarca ficou comovida com o gesto.
 Agradeceu a gentileza da moça, e auxiliada por Vandré e Venâncio, foi conduzida a sala de jantar.
Enquanto ceavam, conversavam animadamente. Dona Carolina observava tudo com atenção, olhando para todos com extrema ternura.
Foi servido vinho e champagne.
No dia seguinte, a mulher chamou Tânia em seu quarto.
Apoiada em uma bengala, Dona Carolina caminhou pelo recinto, mostrou os móveis que guarneciam o quarto, a penteadeira e outros objetos que a avó Carolina, e Rosália sua mãe, usaram.
Comentou que alguns móveis da fazenda, vieram de outro casarão, lá em terras do Sul do Brasil.
A mulher mostrou fotos e pinturas das mulheres da família.
Mostrou ainda, um baú, com uma série de cadernos.
Novamente leu trechos do que estava escrito para a moça.
A certa altura a jovem percebeu que as ancestrais de Dona Carolina, acreditavam que havia sido lançada uma espécie de maldição sobre a família.
Tânia ficou intrigada.
Mais tarde, em conversas com Vandré e Venâncio, descobriu a história das maldições.
Os moços comentaram que por muito tempo, acreditaram que tudo não passava de uma grande bobagem, mas que agora, acreditavam que poderia não ser.
Rindo, Tânia acreditou que eles pudessem estar brincando.
A moça chegou a criticar os moços por acreditar naquela história.
Dizia entender que os mais antigos acreditassem, mas eles não.
Nisto afastou-se, indo se recolher em seu quarto.
Venâncio fez menção de ir ao seu quarto, mas Vandré aconselhou-o a esperar um pouco.
Disse que a moça devia estar confusa e que precisava por suas ideias no lugar.
Dias depois, a moça arrumou suas malas.
Estava disposta a ir embora, em que pesem os argumentos de Venâncio para que ficasse.
Por conta disto, Vandré conversou com a moça.
Carolina também.
E Tânia teria partido, não fosse o sumiço das crianças: Helena, Tereza e André.
Em razão da necessidade de se procurar por elas, a moça acabou desistindo de partir.
Prometeu auxiliar nas buscas.
E assim, no final da tarde, as crianças foram encontradas.
Tânia e Venâncio foram procurá-las nas ruínas do Valongo.
Vandré e Carolina foram procurá-las no celeiro, e demais instalações da fazenda.
De fato, as crianças brincaram perto das ruínas.
Tereza, Helena e André, estavam brincando de se esconder no lugar.
Subiam nas meia paredes existentes e pulavam.
Depois, correram para uma árvore, e tentaram escalá-la.
Gritavam e faziam barulho.
Tânia e Venâncio, ao verem as três crianças brincando em volta de uma árvore que havia ali perto, chamaram-nas.
Tânia e Venâncio se aproximaram das crianças, que sorriram para eles.
Nisto, o casal levou as crianças de volta para a fazenda.
Disseram que suas mães estavam preocupadas.
Lara e Antonia ao verem os filhos a sua frente, correram para abraçá-los.
Disseram-lhe para que nunca mais fizessem isto.
Como as crianças estavam com fome, foram alimentadas.
Tomaram banho.
No dia seguinte, foram proibidas de sair da sede.
Estavam de castigo.
Os três tentaram argumentar, em vão.
Estavam proibidos de sair da casa.
Foi difícil controlar os pequenos travessos.
Tereza e Helena foram brincar de boneca e André, ficou rabiscando uns papéis.
Dias depois, Dona Carolina teve uma piora em seu estado de saúde.
A família ficou toda alvoroçada.
Todos se afligiram.
Dois dias depois, a mulher veio a falecer.
Antes de falecer, porém, falou com todos os descendentes da família.
Para Lara e Antonia, pediu que encontrassem um pai para seus filhos.
À filha Carolina, pediu para que reconstruísse sua vida, e que não ficasse sozinha, isolada naquela fazenda.
Aos netos Vandré e Venâncio, pediu para que se casassem e livrassem a família da triste sina. Comentou com Venâncio que Tânia era uma boa moça, e que Vandré também iria encontrar uma boa mulher para casar.
Por fim, chamou o mais novo dos irmãos para um canto.
Cochichando em seu ouvido, disse que Tarcisio não tivera vida longa, mas que fora muito feliz enquanto vivera.
A mulher então, apontou para seu guarda-roupa de madeira nobre.
Vandré abriu o móvel.
Carolina apontou na direção dos cabideiros.
O moço vasculhou o móvel, até encontrar um fundo oco.
Ao achar o fundo falso, o moço retirou a madeira, vindo a encontrar pastas e livros.
Quase sussurrando, a mulher respondeu que tudo aquilo era seu.
Vandré ficou estático.
Foi preciso que Carolina insistisse para que ele pegasse os livros.
A velha senhora, dizia que a história não poderia morrer com ela, e que todos os integrantes da família, deveriam saber o que havia ocorrido com seus ancestrais.
Vandré pegou os papéis com todo o cuidado.
Retirou tudo do guarda-roupa.
Por fim, a mulher apontou para um baú.
Com um fio de voz, respondeu que ali estava guardado o tesouro das existências.
Carolina, a filha, disse que ali, estava guardada toda a memória da família.
Vandré deixou toda a documentação próxima.
Por fim, a senhora pediu para que todos se aproximassem.
Disse baixinho que não tinha do que se arrepender.
Nisto, mexeu a cabeça para um lado.
Faleceu.
Com efeito, Dona Carolina foi enterrada junto as outras mulheres da família.
No cemitério da cidade.

Nos dias que se seguiram, Antonia, Lara, e as crianças, partiram.
Por fim, Vandré, Tânia e Venâncio, também partiram.
Vandré retomou sua rotina acadêmica.
Ministrava aulas, estudava, e nas horas vagas ficava entretido na leitura, dos diários das mulheres da família.
Concluiu o doutorado.
Venâncio participou da solenidade com Tânia.
Carolina, a mãe dos moços, também compareceu.
A mulher estava muito orgulhosa dos filhos.
Mais tarde, retornou ao Valongo.
Mas Vandré continuava com as leituras dos diários.
Teve um trabalho imenso para encaminhar os documentos recebidos da avó, para sua casa na capital.
Para auxiliá-lo na tarefa, Carolina se incumbiu de providenciar o transporte do material para São Paulo.
Tratou-se de uma pequena mudança.
Venâncio, em visitas ao irmão, foi informado que parte dos livros precisava ser restaurado, e que isto envolvia muito trabalho e dinheiro.
Venâncio então, tratou de entrar em contato com a mãe.
Solicitou informações a respeito do andamento do inventário.
Com o tempo, trouxe dinheiro para o irmão restaurar os papéis.
De posse do dinheiro, o moço, contratou restauradores, para a realização do trabalho.
O processo de restauração levou meses.
Enquanto isto moço lia as histórias, e fazia anotações em seu caderno.

Descobriu que o filho de Carolina, Abaeté, casou-se com uma branca, e com ela veio a ter duas filhas.
O moço fora intendente da cidade onde morava, trazendo melhorias para o lugar, construindo escolas, e até um hospital.
Vandré descobriu que o homem era respeitado no lugar.
Habilidoso, conseguiu acrescer novas terras a antiga propriedade dos pais.
Por conta de seu dinheiro, conseguiu casar-se com uma branca do lugar.
Helena, admirou-se do jeito corajoso do moço.
Embora se vestisse como um branco, era evidente sua ascendência indígena.
Nesta época, Abaeté já havia feito melhorias na escola do povoado, angariando o respeito dos fazendeiros e moradores da região.
Passou a participar das festas, e foi numa dessas comemorações que convidou a moça para dançar.
Helena constrangida olhou para o pai, que prontamente a autorizou a dançar com o moço.
Ao fim da festa, o moço ofereceu-se para acompanhar a moça e sua família no regresso a fazenda.
Otacílio porém, respondeu que não havia necessidade.
Agradeceu a oferta, mas informou não ser preciso.
Abaeté então, retirou-se.
Porém, sempre que se encontra com a moça e sua dama de companhia, cumprimentava-as.
A certa altura, aproveitando uma ida de Otacílio a vila, disse ter interesse em lhe falar.
No que o homem perguntou:
- E qual é o assunto?
Abaeté então, sem pestanejar, respondeu que tinha interesse em Helena.
O fazendeiro olhou-o desconfiado.
O índio continuou.
Disse que pretendia se casar com a moça.
Argumentou que tinha casa, terras e que poderia proporcionar uma boa vida a moça, com conforto, além de seu afeto.
O fazendeiro curioso, perguntou-lhe por que acreditava que ele autorizaria o enlace.
Abaeté, surpreso com a indagação, argumentou que era um homem de bem, e que estando a moça sob seus cuidados, poderia ele ficar descansado que ela nunca seria maltratada.
Otacílio, respondeu-lhe que tinha certeza disto.
Contudo, argumentou que precisava conversar com Helena.
Nisto, convidou o moço para visitá-lo na fazenda.
Abaeté concordou.
E assim, ficou ajustado que se encontrariam pela manhã.

Luciana Celestino dos Santos
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