Conversou com eles, tocou-lhes os rostos.
Disse-lhes que eram seus herdeiros.
Carolina sua filha, disse a ela, que o restante da família estaria chegando pelos próximos dias.
De fato Vandré e Venâncio foram os primeiros a chegar a fazenda.
Emocionada, a mulher dizia que não se pareciam muito com a mãe, sendo mais assemelhados a
seus pais.
Ao ouvirem isto, os dois ficaram a se olhar.
Isto porque pouco sabiam de seus pais.
Informação que a mãe sempre omitia.
Argumentava que se eles não foram homens para ficarem a seu lado e ajudá-la a criá-los, não
mereciam sequer serem lembrados.
Os rapazes lembravam-se de quantas brigas e discussões para que pudessem, ao menos saber os
nomes de seus pais.
Mais Carolina se negava a informá-los.
Em seus registros de nascimento, constava a informação de que eram filhos de pais desconhecidos.
Ah! Quantos problemas esta informação lhes custou.
Quantas dificuldades, quanto sofrimento, e desdém.
Carolina acompanhou o sofrimento dos filhos, mas ainda assim, permanecia inflexível.
Sendo ela mesma objeto de preconceito.
Para eles, foi este o fator preponderante que culminou com a mudança de sua mãe para São Paulo.
Isto por que na grande metrópole do sudeste, uma mãe solteira ficaria incógnita.
Foi lá que Venâncio nasceu.
E naquelas plagas conheceu o pai de Vandré, vindo o caçula a nascer na mesma cidade.
De fato, em São Paulo, a mulher encontrou trabalho, voltou a estudar, formou-se e passou a
lecionar.
Trabalhou por trinta anos até se aposentar.
Foi então que optou em voltar a viver na fazenda ao lado da mãe.
Fazia dois anos que Carolina, estava ao lado da mãe.
Neste ínterim Venâncio conheceu Ester e passaram a namorar.
O casal se conheceu em uma boate.
Dançaram juntos, conversaram.
Animado, o moço marcou um encontro com a jovem.
E assim, de encontro em encontro, o rapaz acabou pedindo a moça em casamento.
Carolina – sua mãe, ainda não conhecia a moça.
Com efeito, assim que pode conversar melhor com o filho, perguntou da moça, sendo então
informada que a mesma encontrava-se adoentada.
Carolina, que não tinha meias palavras, comentou contrariada:
- Doente? De novo? Esta moça não goza de boa saúde.
Venâncio, constrangido, comentou que de fato ela não estava muito bem.
Nisto, tratou de dizer que o trabalho estava indo muito bem, e que provavelmente muito em breve, iria se casar.
Carolina ao ouvir isto, perguntou-lhe se ele estava realmente seguro do que estava fazendo.
Venâncio titubeou, mas respondeu afirmativamente.
Argumentou que ele havia tomado a
iniciativa de pedir a moça em casamento.
Carolina por seu turno, não estava bem convencida disto.
Mas procurando evitar discussões, desejou ao filho toda felicidade do mundo.
Chegou até a parabenizá-lo.
Nisto conforme os dias foram se seguindo, o restante da família foi chegando.
Lara e suas filhas.
Antonia e seu filho.
Também vieram agregados e amigos da velha senhora.
Vandré e Venâncio também auxiliaram nos preparativos.
Ajudaram a fincar um mastro no
descampado.
Afixaram bandeirolas no local da festa.
As crianças gostaram de conhecer os primos mais velhos, e que lhes dedicavam toda a atenção.
Vandré e Venâncio brincava com as crianças, e as distraía enquanto as mães ajudavam nos
preparativos.
Carolina ao ver os filhos brincando com as crianças, dizia-lhes que estavam prontos para serem
pais.
No dia seguinte, a festa começou cedo.
Logo cedo, uma bonita ceia foi preparada para os convidados, como um lauto café da manhã.
Com frutas variadas, sucos, pães, geléias, doces, sobremesas, café, leite, açúcar.
As crianças, sem terem algo melhor para fazer, corriam de um lado para o outro.
Dona Carolina sentou-se no lugar principal.
Sua cadeira tinha almofadas para que ficasse mais confortável.
Observava a todos sorridente.
Todos conversavam animadamente sobre tudo.
Falavam sobre a correria do dia a dia, de suas lembranças.
Dos momentos felizes que viveram ali.
Quase todos comentavam sobre as poucas oportunidades que tiveram para conviver com Dona
Carolina.
Era uma senhora misteriosa, mas que quando se dispunha a receber a família, o fazia de maneira
exemplar.
Impecável.
Dona Carolina também tinha do que se recordar.
A certa altura, a matriarca da família, começou a se recordar também, de seus tempos de mocidade,
onde jovem e muito bonita, conheceu um rapaz, que mais tarde viria a ser o pai de seu filho.
Recordou-se do fato de que não chegaram a se casar, e que por razões as quais nunca contou aos
familiares, teve um filho que fora levado dali.
Sempre que lhe perguntavam detalhes de sua história, Carolina se fechava em copas.
Não queria falar nada para ninguém.
Estava muito longe das terras de sua família.
Muito embora sua história esteja entrelaçada as memórias de um Sul, que não conhecera
pessoalmente.
Apenas das histórias de seus ancestrais, que pisaram naquelas terras e construíram
uma família no lugar.
Mas a vida separa.
Leva as pessoas para rumos diversos.
Afasta.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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