Ataíde, o pai da filha de Adélia, encontrou pouso na propriedade da família, por onde permaneceu
por algum tempo.
Logo de início chamou a atenção das moças do lugar.
Adélia porém, parecia não se impressionar com o porte do moço.
Circunstância que o deixou bastante intrigado.
Foi o bastante para ficar a rondar a moça, em que pese a vigilância de Abaeté, que certa vez
chamara sua atenção, dizendo tratar-se de sua sobrinha, e que teria que se entender com ele, caso
resolvesse se engraçar com ela.
Ataíde, argumentou que nutria profundo respeito por todos da família.
Mas o interesse por Adélia foi maior que qualquer prudência.
E a moça se envolveu com o forasteiro.
Ataíde por seu turno, se mostrou útil nas lidas da fazenda.
Domava animais selvagens com habilidade.
Era um bom contador de histórias.
Dizia já ter tido contato com almas de outro mundo.
As crianças, filhas dos agregados do lugar ao ouvirem estes relatos perguntavam-lhe se não tinha
medo.
Ele rindo, respondia que um homem que seguia tropas, e que não tinha pouso certo, não poderia
ter medo de nada.
Comentou que precisava dormir com um olho aberto e outro fechado, para não se atacado ou
morto em uma emboscada.
Falou de suas lutas com os índios que tentavam atacar e pilhar as tropas.
Das noites dormidas sob um céu estrelado.
Dizia que coisa mais linda não havia.
Algumas crianças diziam que antes da vida na fazenda, seus pais viviam em uma tribo onde
dormiam em ocas.
Ataíde disse-lhe que havia vivido em uma tribo, morando em uma oca com os índios.
Curiosos, os pequenos curumins pediam mais detalhes sobre a história.
Ataíde contava sobre as caças e as pescas, as lendas indígenas.
Mencionou admirar os saberes dos povos indígenas.
Acrescentou que haviam várias tribos rivais entre si, e que na luta pela vida, por vezes se
encontravam em campos opostos, mas afirmou não desgostar dos índios, ou não estaria em
companhia de tantos deles.
Esta conversa foi o bastante para conquistar a confiança dos índios do lugar.
Depois que Carolina voltou as terras arrasadas, Abaré tratou de ajudar a reconstruir o lugar.
Chamou amigos de outras tribos.
Com o tempo, os índios sabedores de que se tratava de lugar de muito trabalho e boa acolhida,
acorreram na direção da propriedade.
Os índios trabalhavam muito na propriedade.
Teciam, produziam cerâmica, ajudavam a reerguer o casarão.
Plantavam e colhiam.
Abaré havia aprendido sobre agricultura com os brancos e ensinou o que sabia, aos parceiros de
trabalho.
Com tempo, foram construídas casas para os agregados.
A propriedade tornou-se próspera, e Abaré passou a negociar com os comerciantes do lugar.
Foi numa dessas tratativas infrutíferas que a família foi amaldiçoada.
E Abaeté agora concluía com a irmã, a tarefa que fora iniciada ainda por seu pai.
Thereza passou a lecionar para as crianças da fazenda.
Afinal alguém precisava iniciá-las no mundo das letras.
Abaeté providenciou cadernos e livros.
Os índios mais velhos, comentaram que se tratava de uma boa família, pois lhes proporcionara
abrigo, trabalho, e acesso a coisas que jamais conseguiriam não fosse pelo auxílio primeiro dos
pais, e depois dos filhos, Abaeté e Thereza.
Um velho índio dizia se tratar de coisas caras, e que mesmo nas famílias mais abastadas, nem todos
tinham acesso àquilo.
Abaeté concordava, dizendo que nem todos sabiam ler.
Eles mesmos foram alfabetizados por seus pais.
Recordou-se das palavras da mãe.
Carolina dizia que por conta da teimosia de seus pais, passou muito tempo privada do acesso aos
livros, sempre recebendo recriminações quando tentava driblar a vigilância, principalmente da
mãe.
Dizia a Abaré que não queria que nenhum filho ou filha seu fossem privados do acesso ao mundo
dos livros.
O índio não opôs resistência ao fato da mulher querer educar, Thereza e Laura, ensinando-lhes a
ler e a escrever.
Os filhos do casal foram educados e ensinados a entender diferentes culturas, como a europeia e a
indígena, e a conviver com a ambas.
Sabiam dos rituais indígenas, de suas lendas, da sabedoria e
do poder curativo das ervas.
Mas também frequentavam as missas dominicais.
Vestiam trajes ocidentais.
As moças sabiam cantar, bordar, tecer, fazer artesanatos, e liam bastante.
Tinham uma boa noção do saber humano.
Por conta da educação liberal que oferecia as moças, o homem por diversas vezes foi criticado.
Mas o índio não se importava.
Dizia a todos que com o tempo, todos se convenceriam de que uma boa educação era a melhor
herança que poderiam deixar aos filhos.
Argumentava que com ela, seus filhos poderiam melhor administrar os bens que receberiam como
herança.
E de fato, quando Thereza e Abaeté se viram sozinhos no mundo, por diversas vezes, precisaram
fazer uso do que os livros lhes ensinou.
Thereza, costumava oferecer conselhos ao irmão.
Foi aconselhado por ela, que o rapaz resolveu investir em escolas.
Abaeté por fim, casou-se com Helena, bela jovem, instruída e letrada.
Thereza que vivia na propriedade que herdara dos pais, aconselhou o irmão a construir uma
moradia para ela.
Argumentou que como recém-casados que eram, precisavam de uma casa somente para eles, que
pudesse agregar toda a sua descendência.
Abaeté tentou argumentar, disse que a moça ficaria muito só.
Thereza porém, insistiu.
Dizia que eles sim, precisavam ficar a sós, e que havia gente demais na casa.
Abaeté com o tempo, percebendo que a irmã tinha razão, concordou em construir uma boa casa
para ela.
A moça por sua vez, auxiliou o irmão nos preparativos para o casamento.
Ajudada por Eurídice, mãe de Helena, mestra em organizar festas, prepararam uma bonita
celebração próxima do casarão.
Abaeté exigiu que a festa fosse organizada em sua fazenda.
Por conta disto Helena, em companhia da mãe, visitou o lugar por diversas vezes.
Abaeté sempre sob o olhar vigilante de Dona Eurídice, levava a jovem para breves caminhadas.
Mostrava-lhe os campos gerais, apontava-lhe o casarão.
Em uma oportunidade mostrou a casa.
Helena encantou-se com a construção.
Disse que nunca havia algo que era mesmo tempo tão lindo e tão singelo.
Abaeté cheio de orgulho, comentou que sua morada não era das mais luxuosas da região, mas com
certeza era muito bela e acolhedora.
O moço percebeu que Helena se encantou com a construção.
Em conversas com a irmã, chegou a se perguntar se Helena iria se acostumar com a simplicidade
do lugar.
Logo ela que estava acostumada a viver com tanto luxo e requinte.
Thereza, tentando tranquilizar o irmão, dizia que ela havia aceitado se casar com ele.
Argumentou
que ela conhecia suas origens.
Que conhecia ainda que de vista, sua propriedade, e que haviam
muitos comentários sobre o modo que viviam.
Quanto a isto, Abaeté demonstrou profunda preocupação.
Disse que as pessoas costumavam inventar muitas histórias.
Comentou ter tomado conhecimento de que as pessoas diziam que todos ali viviam em ocas,
adotando costumes selvagens.
Ao ouvir isto, Thereza, chegou a esboçar um sorriso.
Comentou que as pessoas diziam muitas bobagens.
Ressaltou porém, que Helena não era uma pessoa ignorante, e portanto não compartilhava
daquelas ideias atrasadas.
Insistia para que o irmão não ficasse preocupado.
Abaeté estava feliz por saber que a sinhazinha havia gostado da propriedade.
O moço costumava chamá-la de sinhazinha.
Eurídice embora não tenha concordado com o namoro no início, com o tempo, passou a gostar da
ideia.
Com o tempo passou a perceber que o jovem era inteligente, vindo a adquirir mais terras.
Certa vez chegou a comentou com Otacílio que a filha iria fazer um ótimo casamento.
Mencionou
que o moço iria ficar mais rico do que qualquer fazendeiro da região.
Rindo, Otacílio comentou que provavelmente, até mais rico do que ele.
Mencionou que o rapaz não era o marido que sonhou para a filha, mas que ele havia mostrado seu
valor.
Argumentou que o índio não vivia como um selvagem, e que a família levava uma vida
digna.
Com efeito, na festa de casamento, todos fazendeiros da região estavam presentes.
Para a festividade, o moço mandou abater um boi que seria servido aos convidados.
A festa durou dois dias, e foi registrada no diário da irmã.
Tradição cultivada por todas as mulheres da família.
Luciana Celestino dos Santos
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