No dia seguinte, o rapaz mostrou a mulher as ruínas do antigo mercado de escravos.
Denominado
Valongo, o qual dera origem a fazenda.
Do antigo mercado, só restaram pedras e parte de uma parede.
Venâncio comentou que uma vez, ele e seu irmão brincaram por ali.
Disse que foi uma festa.
Enquanto todos os procuravam pela fazenda, lá estavam os dois brincando
de esconde-esconde em meio às ruínas.
Venâncio falou que até a cozinheira, Djanira, procurou pelos meninos.
Venâncio e Vandré por sua vez, só retornaram ao casarão tarde da noite.
Carolina já os esperava de cinta na mão.
Rindo, Venâncio comentou que levaram uma surra daquelas.
Tânia ficou admirada do relato.
Afirmou que aquelas ruínas ficavam longe da sede da fazenda, e que eles se arriscaram em ir
sozinhos para aquele lugar tão ermo.
Comentou rindo, que Carolina tinha toda a razão em lhes dar
uma surra.
Venâncio rindo, concordou.
Comentou que na época não entendia direito a preocupação de todos, apenas achava tudo muito
divertido.
Agora porém, entendia por que os pais ficavam atentos, por conta das reinações das
crianças.
Tânia concordou dizendo que com seus sobrinhos era a mesma coisa.
Um minuto de distração e
lá estavam eles aprontando.
Os anjinhos, como costumava dizer.
Venâncio curioso, comentou que ela pouco falava da família.
Tânia argumentou dizendo que não havia nada demais, que a sua família, era igual a tantas outras
que haviam por aí.
Com efeito, antes de viajarem, a moça agendou um encontro de Vandré com seus amigos
pesquisadores.
Nisto, Venâncio, Tânia e Vandré seguiram para um sítio, onde foram muito bem recebidos.
Capinam e seus auxiliares, mostraram aos visitantes amuletos, cocares, arcos e flechas.
Contaram sobre lendas indígenas.
Vandré demonstrou interesse nos rituais religiosos, na figura do pajé, e nas histórias de feitiçaria.
Rindo, Capinam disse-lhe que contaria tudo o que sabia sobre o tema.
Em conversas com o homem, o rapaz descobriu a história de uma maldição lançada sobre uma
família.
Vandré curioso, perguntou detalhes da história.
Capinam comentou que conforme a lenda, vários descendentes morreram, não vindo a chegar a
idade adulta.
Curioso, Vandré perguntou se o feitiço não poderia ser desfeito com algum ritual.
Rindo, o homem comentou que conforme a lenda, o pajé, usando ervas especiais, e praticando um
ritual com toda a tribo, conseguiu anular os efeitos da maldição.
Vandré fazendo troça, perguntou que ervas teriam sido essas, e qual teria sido o ritual realizado.
Capinam argumentou que haviam diversas teorias, mas nenhuma resposta certeira.
Argumentou
inclusive, que tal história era tratada como lenda, em que pesem personagens reais retratadas na
mesma.
Vandré ao ouvir isto, perguntou-lhe se podia dar mais detalhes da história.
Capinam respondeu-lhe que se tratava de uma família influente da região.
Contudo, disse que não poderia declinar seu nome, em respeito aos parentes vivos, os quais não
autorizaram, a liberação da informação.
Acreditavam que se o fizessem, seriam vítimas de preconceito.
O moço ao ouvir isto, demonstrou um certo desapontamento.
Capinam ao perceber que aquelas informações eram importantes para ele, indagou do motivo de
tanto interesse.
Nisto o moço conversou que em sua família, haviam rumores de histórias parecidas.
Disse que seu interesse era histórico, pois estava interessado em escrever um livro sobre o assunto.
Rindo, Capinam comentou que ele teria um vasto trabalho para pesquisar o tema.
Prestativo, ofereceu-lhe livros.
Comentou que não sabia se tratar de um pesquisador.
Mencionou que Tânia não lhe mencionara o fato.
Vandré retrucou dizendo que estava fazendo segredo.
Comentou que não queria que ninguém
soubesse, pois estava fazendo uma surpresa.
Capinam estranhou, mas entendeu as razões do moço.
Nisto, o homem convidou o trio para almoçar.
Ao chegarem, Tânia, Venâncio e Vandré, tomaram um café na propriedade do homem.
Mais tarde o trio caminhou pela propriedade, sendo apresentado os artefatos.
Durante o almoço, Capinam, sugeriu ao trio que o acompanhasse em uma caminhada pelo litoral.
Comentou que haviam descoberto sambaquis.
Vandré, ao ouvir isto, ficou interessado.
Nisto, a visita durou o dia.
O moço, sempre que descobria algo interessante, fazia anotações em um bloco.
Pernoitaram na propriedade do homem.
No dia seguinte tomaram um lauto café da manhã e seguiram viagem.
Capinam despediu-se do trio, desejando-lhes uma boa viagem, e convidando-os a voltar sempre
que pudessem.
Ao regressarem a capital, Vandré agradeceu Tânia.
Disse-lhe que a visita fora muito útil.
Com efeito, nas últimas semanas, ao conviver mais com Tânia, Vandré percebeu que o irmão havia
feito uma boa escolha, ao eleger a moça como sua namorada.
Vandré conhecia Ester de vista, mas em conversas com o irmão, sempre que o nome da moça era
trazido pelas conversas, invariavelmente Venâncio comentava que ela era mimada.
Dizia que gostava de oferecer-lhe presentes, e que a moça sempre que recebia algum agrado, se
mostrava mais gentil.
Vandré ao começar a tomar conhecimento do comportamento displicente da moça, passou a
considerá-la uma péssima opção para o irmão.
Isto por que, todas as vezes em que Venâncio agendou encontros deles com o irmão, a moça
inventava desculpas para se fazer ausente.
Vivia adoentada.
Tal fato não passou despercebido de Vandré.
Mas o moço evitava fazer qualquer juízo de valor sobre a moça.
Ao contrário da mãe, que não gostava do jeito desinteressado de Ester.
Mas Tânia era o oposto de Ester.
Mais presente, ofereceu-se por diversas para auxiliar nos afazeres domésticos.
Carolina é que sempre a dispensava das lidas domésticas.
Dizia que uma moça urbana como ela, que vivia comendo fora de casa, devia nem saber cozinhar.
Rindo, Tânia respondeu-lhe que seu trabalho lhe propiciava desfrutar de uma boa condição de
vida, e que em razão da vida corrida que levava, pouco tempo lhe sobrava para fazer comida.
Contudo, em que pese este fato, relata que nos tempos de vacas magras, cozinhou muito macarrão,
muito arroz, feijão, ovo e frango.
Dizia que não era tão boa dona de casa quanto as mulheres da família Abaré Chagas, mas que sabia
se virar na cozinha.
Carolina agradeceu, mas respondeu que não seria necessário.
Com o tempo, e conquistando a confiança da mulher, Tânia começou a brincar, dizendo que ela
estava com medo de comer uma comidinha ligeiramente queimada.
Carolina olhou-a com espanto e perguntou-lhe se costuma queimar a comida.
Rindo, Tânia respondeu que não.
Disse estar apenas brincando.
A mulher com o tempo, percebendo o jeito brincalhão da moça, deixou de levar a
sério seus comentários.
Certo dia, encontrando-se à sós com o filho, Carolina elogiou sua escolha.
Disse Tânia era uma moça prestativa e que ele ao se casar com ela, estaria fazendo um grande
acerto.
Comentou que não conhecera Ester, mas disse saber que ela não servia para ele.
Venâncio comentou que Ester fora um erro, mas que Tânia era a mulher de sua vida.
Carolina ao ouvir isto, sorriu para o filho.
Quando soube que o noivado fora apenas um pedido a moça, seguido da posterior compra de um
anel e oferecimento a ela, Carolina argumentou que o noivado precisava ser comemorado em
grande estilo.
Vandré concordou, argumentando que aquele noivado estava muito mixuruca.
Nisto, prepararam um belo jantar, onde o moço repetiu o pedido.
Carolina sugeriu que o moço presenteasse a jovem com uma joia da família.
Dona Carolina, já havia sido apresentada a moça.
A matriarca se encheu de encantos pela moça, dizendo-lhe que era uma mulher forte, digna de
entrar para a família.
Dona Carolina entregou a filha, um broche, que pertencera a mãe de sua pentavó Thereza.
Era uma joia pertencente a Carolina.
A filha, ao perceber que se tratava de um joia com a história da família, perguntou-lhe se não
preferia oferecer um presente menos pessoal.
A velha senhora, ao ouvir isto, argumentou dizendo que ela era a pessoa certa.
Disse que ela se casaria com Venâncio, e faria parte da família.
Carolina sentiu tanta certeza nas palavras da mãe, e deixou de lado suas prevenções.
E assim, no dia do jantar, a moça exibiu o anel de noivado ganho pelo moço.
Lara e Antonia ficaram admirando a joia, encantadas.
As crianças ficaram em volta, observando a moça.
Tânia era só risos.
Carolina dias antes, conversou como o filho e lhe mostrou o camafeu, que havia sido da primeira
Carolina, usado por suas filhas Laura e Thereza.
Venâncio pegou a joia e percebeu que dentro dela, havia um objeto.
Abriu o broche e descobriu
dentro dele fios de cabelo.
A mulher ao perceber isto, recomendou-lhe que guardasse aqueles fios com cuidado.
Curioso, Venâncio perguntou-lhe se sabia a quem pertenciam.
Carolina respondeu-lhe que eram de Carolina.
Comentou que após a morte da esposa, o índio
Abaré, passou a guardar a joia como uma lembrança da memória da esposa.
A mulher comentou que no diário da moça, constava a informação de que durante a fuga da
fazenda, a moça trazia pendurado no pescoço uma corrente e um camafeu, o qual foi perdido.
Anos mais tarde, ao se instalarem novamente na propriedade, o índio ofereceu-lhe um novo
camafeu de presente.
Joia que a moça usava em ocasiões especiais.
Adorno guardado como herança de família, pensou Venâncio.
Com isto, argumentou que precisava contar a história do presente para a moça.
Carolina concordou.
Venâncio ao percebeu o significado do gesto, abraçou a mãe.
Luciana Celestino dos Santos
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