Por conta do jeito livre de viver e de criar os filhos, foram condenados pela sociedade do lugar.
E em razão de uma negociação mal resolvida, receberam uma praga.
Isto por que a mulher de um estancieiro falido, contrariada com o insucesso do esposo, disse a
Carolina que sua descendência não conheceria a estabilidade de um casamento honrado, e que
toda a sua descendência seria espúria.
Não advindo nenhum filho varão.
Tudo por conta de uma tratativa mal sucedida.
Isto por que, Abaré havia se comprometido a adquirir parte do gado da fazenda do estancieiro.
Estando o mesmo, obrigado a oferecer coisa certa, de média qualidade.
Não podendo oferecer nem a melhor, e tampouco a pior.
Como a rês apresentou doença que obrigou ao abatimento dos animais, o negócio foi desfeito.
O fazendeiro falido, ameaçou a se matar.
A mulher desesperada, foi a casa de Carolina.
Aflita, a mulher implorou para que Abaré esquecesse o evento, e aceitasse a negociação.
Argumentou que ainda possuíam algum gado leiteiro.
Abaré no entanto, argumentou que os animais estavam muito magros, desnutridos e não teria
como aceitá-los como parte da negociação.
Aduziu ainda, que os animais existentes, não seriam suficientes para honrar o contrato, e que por
lei, não estavam obrigados a aceitar a tratativa naqueles termos.
A mulher retirou-se da propriedade, arrasada.
Para complicar a situação, após a morte do marido, a mulher passou a praguejar o caso, dizendo
que nenhum dos seus filhos varões nascidos naquelas paragens, e tampouco os filhos de sua
descendência nascidos naquele, ou qualquer outro lugar onde a família se estabelecesse com ânimo
definitivo, sobreviveriam.
Carolina não deu importância as imprecações da mulher.
Mas a estancieira arruinada, auxiliada por um pajé, realizou rituais, para que conseguisse alcançar
o seu intento.
Como a vida do casal transcorria sem transtornos,
Carolina e Abaré, deixaram de lado as
imprecações.
Continuaram a cuidar da propriedade.
Abaré e Carolina, conseguiram fazer com novamente se tornasse produtiva.
Porém, ao contrário dos outros tempos, a propriedade possuía trabalhadores livres, negros libertos
e indígenas.
Agregados passaram a fazer parte da família.
O casarão foi reerguido e ampliado.
Em nada lembrava a construção dos velhos tempos.
Abaeté fora criado dentro dos costumes católicos, mas respeitando sua origem indígena.
Vestia-se como um descendente de europeus.
Mas o cabelo extremamente liso como o de seu pai, denunciava sua origem.
Por ser filho de índio, a criança era discriminada.
Abaeté só não sentia preconceito em sua comunidade.
Abaré por sua vez, passara a usar trajes formais, e frequentava a missa ao lado da esposa.
Aproveitava as noites para ensinar as pessoas a ler e a escrever.
Com o tempo, o casal construiu uma escola na propriedade.
Contrataram uma professora para ensinar os pequenos a ler e a escrever.
Carolina por sua vez, continuou a registrar suas impressões em seus cadernos diários.
Gostava de ler, e ao ter oportunidade para adquirir livros, tornou-se uma leitora, das mais
interessadas.
Tal característica, estimulou o pequeno Abaeté a se interessar pelo mundo dos livros.
Com efeito, ao herdar a propriedade dos pais, juntamente com a irmã, Abaeté tornou-se um
benemérito da região.
Construiu escolas pela cidade, além de auxiliar os grupamentos indígenas do lugar, trabalhando
em prol do reconhecimento de suas terras.
Em homenagem aos pais, batizou escolas com seus nomes.
Após seu falecimento, ele próprio virou nome de escola, além de nome de uma importante rua da
localidade.
Sua história, era motivo de orgulho na família.
Fora um dos ilustres, da família Chagas Abaré.
Anos mais tarde, o casal Abaré e Carolina, regressou ao local onde foram acolhidos por uma tribo
indígena.
Contaram sobre o retorno a suas terras de origem.
Informaram que haviam recuperado a antiga propriedade invadida, e que a mesma estava ainda
mais bela do que quando fora atacada.
Todos foram bem recebidos.
Os índios festejaram ao descobrirem que o casal estava bem.
Abaré e Abaeté acompanharam os índios em suas caçadas e pescarias.
Carolina ajudava as índias na confecção de cestas e cerâmicas.
Certa noite, ao se deitarem na rede dentro da oca, o índio disse a esposa, que sua busca havia
cessado.
Dizia que não havia mais nada a ser buscado, pois o que havia procurado a vida inteira, já havia
encontrado.
Carolina sorriu para ele.
Abaeté a esta altura dormia tranquilo.
A família permaneceu neste ambiente por alguns dias, mais tarde regressando para suas terras.
Todos se despediram da família.
Abaré, com lágrimas nos olhos, disse que sentiria muitas saudades deles.
O pajé, entendeu ser aquele um sinal, de que não mais regressariam para aquelas paragens.
Abençoou a família, e desejou-lhes um bom regresso.
E o casal seguiu caminho pelas matas.
Luciana Celestino dos Santos
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