Regressou ao lar.
Com o tempo, quando do nascimento do segundo filho varão do casal, a criança nasceu morta.
Lúcio foi velado na sede da fazenda.
Carolina, que estava de resguardo, não pode acompanhar o velório do filho.
A moça, em que pese a debilidade, pediu a Abaré para ver o filho, nem que fosse de longe.
O índio porém, não consentiu.
Penalizado com a fraqueza da jovem, disse-lhe para que guardasse leito.
Mas como último gesto de compaixão, deixou a jovem ver o filho arrumado, antes de ser velado.
Carolina chorou copiosamente ao ver o filho morto.
Em razão de seu estado de saúde, não pode acompanhar o velório e o enterro da criança.
Tal fato, deixou a todos da família abalados.
Conforme os dias se passaram, Carolina pela primeira vez, pensou na possibilidade das
imprecações da velha senhora, estarem de fato, interferindo na vida de sua família.
Abaré, ao ouvir as palavras de Carolina, argumentou que não seriam simples palavras lançadas ao
vento que causariam problemas a alguém.
Carolina por sua vez, argumentou sobre a possibilidade de haver sido lançado um feitiço sobre
eles.
Abaré ao ouvir isto, respondeu que não havia nenhum feiticeiro ou pajé na região.
A moça disse então, que ela pode ter procurado alguém em algum outro lugar, e lançado alguma
feitiçaria na família.
O nativo, ao ouvir isto, respondeu que poderiam pedir a um pajé, para realizar um ritual de
purificação da casa e também protegê-los, de qualquer feitiço lançado sobre a família deles.
Carolina concordou.
Nisto o índio enviou um recado para a tribo que os acolhera.
Recado levado por um dos índios que vivia como agregado na fazenda.
Conhecedor das matas do lugar, chegou até o local da tribo indicada por Abaré.
Ao lá chegar, informou que trazia um recado da parte de Abaré.
Desta forma, o índio foi recebido por índios da tribo, que trataram logo de levá-lo a presença do
pajé.
O líder religioso da tribo, ao tomar conhecimento do que estava acontecendo na morada de Abaré,
tratou logo de fazer uma pequena mala improvisada (um pano enrolado em uma madeira) e partir,
acompanhado do mensageiro.
Antes, informou a tribo que precisava partir, mas que ao final de algum tempo regressaria.
Com isto, deixou um outro índio de sua confiança, para cuidar de sua tribo.
E assim, seguiu pelas matas, acompanhado de um jovem índio.
Ao chegar na residência de Abaré, depois de dias de caminhadas pela mata, o nativo foi recebido
com alegria por Abaré e Carolina.
Ao tomar conhecimento de uma suposta feitiçaria lançada sobre a família, o homem comentou
que faria um ritual para espantar todo os maus espíritos que pairavam pela morada, mas que seria
melhor e mais eficaz, descobrir o responsável pela magia negra e qual o feitiço lançado.
Carolina disse desconfiar de quem poderia ter sido, mas não poderia dizer com certeza.
Argumentou que uma senhora, antiga estancieira do lugar, havia praguejado contra eles.
O pajé então, prometeu observar as circunstâncias, para avaliar o melhor a ser feito.
Nisto, o líder religioso visitou o túmulo da criança.
Concentrado, permaneceu por horas no local.
Chegou até a pedir a Abaré que se afastasse.
Disse que poderia cuidar de seus afazeres diários.
Abaré, em respeito ao líder indígena, afastou-se.
Nos dias que se seguiram, foram realizados diversos rituais com vistas a serem extirpados quaisquer
males.
O pajé, argumentou porém, que o melhor seria conhecer qual o feitiço lançado, para que se fizesse
um amuleto para protegê-los.
Dias depois, o índio voltou para sua tribo.
E assim a vida na fazenda transcorreu normalmente.
Abaré em sua lida de criar animais, amansar cavalos, cuidar do gado, derrubar árvores, para
construir móveis, entre outras coisas.
Mais tarde, Carolina engravidou novamente.
Vindo a nascer uma criança de nome Thereza.
Anos depois, nasceu a pequena Laura.
Quanto ao quinto filho do casal, a criança viveu por dois anos, vindo a falecer depois de uma
queda.
Josué era seu nome.
Com efeito, a criança ao nascer com vida, foi recebida com alegria e sobressalto por Carolina.
A mulher, aflita com o que ocorrera ao segundo filho, não conseguia ficar tranquila.
Sempre
temendo que algo pudesse lhe acontecer.
Com efeito, nunca deixava a criança sozinha.
Apenas em uma oportunidade deixou a criança sozinha.
Josué curioso, estava a correr em direção ao descampado, quando acabou caindo em uma vala.
A criança bateu a cabeça em uma árvore, vindo a falecer.
Carolina, ao tomar conhecimento do fato, lançou um grito desesperado.
Chorou, e por muito tempo se culpou da morte da criança.
Dizia que não devia ter deixado o menino sozinho.
Que se não tivesse se distraído, a criança ainda estaria viva.
Abaré tentava confortá-la dizendo que fora uma infelicidade, mas que ela não tinha culpa de nada.
Argumentou que ela era uma mãe zelosa, e que não podia estar presente em todos os lugares.
Em
todos os momentos.
Isto porém, não consolava a triste mãe.
Pobre Abaré, tristonho pela perda de mais um filho.
Não se sabe de onde conseguia tirar forças para continuar seu trabalho.
E ainda, encontrava palavras para confortar a companheira.
Tais acontecimentos causaram profundo pesar ao casal.
Carolina não conseguia compreender o que estava acontecendo.
Com isto, a mulher engravidou novamente, vindo a sofrer um aborto.
A mulher viveu para ver os filhos crescidos.
Mas depois de tantas desventuras, tantas perdas, e com a perda de Laura, na flor de seus quinze
anos, a mulher foi definhando, vindo a morrer pouco tempo depois.
Abaré, também não viveu muito tempo mais.
Falecendo poucos anos depois.
Luciana Celestino dos Santos
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