Com efeito, para desventura da família, nenhuma das filhas mulheres de Carolina, vieram a se
casar.
Thereza, foi mãe solteira e Laura morreu ainda jovem, após ser picada por uma cobra.
Enquanto trabalhava auxiliando nas tarefas diárias, a moça, caminhando pelas matas ao redor do
rio onde costumava levar a roupa para lavar, acabou se abaixando para pegar uma corrente que
deixara cair, vindo a ser envenenada pelo réptil peçonhento.
Abaré, tentou usar de seus conhecimentos de ervas, chupou o ferimento para eliminar o veneno
inoculado pela cobra.
Laura, conseguiu chegar em casa, mas já era tarde.
Abaré tentou levar a filha em uma carroça para a cidade.
Buscou auxílio médico.
Laura chegou a ser socorrida, mas não conseguiram evitar o pior.
A moça morreu poucas horas depois, para desespero de Carolina.
A mulher preparou o velório da filha.
Lavou seu corpo, escolheu a roupa que a jovem usaria pela última vez.
Abaré arrasado, tentou convencer a mulher a deixar a incumbência com outra pessoa.
Mas Carolina dizia ser sua obrigação.
Mencionava nunca mais deixaria de acompanhar um de seus filhos.
Abaré, ao ouvir as palavras da mulher, assustou-se.
Tentou obter explicações, em vão.
Nisto a mulher cuidou do sepultamento da filha.
Acompanhou o enterro da jovem, sepultada no jazigo da família.
Junto aos irmãos.
Os filhos do casal foram sepultados na fazenda e não no jazigo da família, no cemitério da cidade.
Quando o corpo baixou a sepultura, Carolina chorou sentida.
Pouco tempo depois, seria seu corpo que encontraria descanso em campo santo.
Abaeté foi o único filho varão que sobreviveu, por ter nascido antes da maldição lançada sobre a
família.
Considerado por todos, homem bravo e experiente.
Casou-se e gerou descendência.
Mas assim como a irmã, só conseguiu ter filhas mulheres, vindo a morrer todos os varões.
As moças foram grandes amigas e conselheiras do pai, que se tornou pessoa influente na região.
Abaeté ingressou na política, angariando amigos e inimigos.
Sendo muito considerado pela sociedade local.
Muitos o comparavam com o índio Sepé.
Thereza por sua vez, após o envolvimento com um forasteiro de passagem pelas terras da família,
tornou-se mãe de Adélia.
Tratava-se de um tropeiro de passagem pelas terras da família.
A moça vivia ao lado do irmão, após o falecimento dos pais.
Sendo igualmente herdeira das terras.
Abaeté então, após casar-se com uma moça do lugar de nome Helena, passou a integrar a sociedade
do lugar.
Frequentava reuniões sociais, os salões da sociedade.
Homem de ideias, foi conquistando a admiração de todos.
Era defensor da ideia de se libertar todos os escravos.
Dizia que por ser índio conhecia a fundo a tristeza, de se saber escravo.
Ideias bem recebidas por alguns, mas não por todos.
Contudo, suas ideias de melhorar o acesso a região a fim de que se facilitasse o caminho das tropas
e a venda do gado e da carne, ganhou adeptos entre os fazendeiros da região.
Para conquistar Helena e ganhar a confiança da família da moça, Abaeté realizou benfeitorias em
suas terras.
Fez doações para a igreja local.
Financiou a construção de escolas, com dinheiro próprio.
Sempre com o aval da irmã Thereza.
Tais práticas chamaram a atenção da família de Helena, que acabou concordando com o
relacionamento.
Abaeté e Helena se encontraram em uma festividade da vila.
Comemoravam um dia santo no mês de junho.
O moço como sempre, estava acompanhado da irmã.
Thereza trazia os cabelos presos em uma bonita trança.
Longos e adornados por uma flor.
Como sua mãe às vezes fazia.
Também os acompanharam a festa, alguns agregados da fazenda.
Os moradores da localidade, ao perceberem que Abaeté era um homem correto, deixaram aos
poucos, as reservas que possuíam com a família, e o moço passou a frequentar as festas da região.
No começo não era bem recebido, mas o moço e a irmã insistiram.
Com isto, acabaram por conquistar a confiança das pessoas.
Thereza por seu turno, acabou por conhecer um tropeiro, o qual viria a ser o pai da única filha
que tivera.
Quando ficou grávida, a moça foi levada para longe dali.
Ao regressar com uma criança, tempos depois, dissera que enviuvara.
Havia se casado em outras paragens, e ao enviuvar, regressou ao lar.
Vivia a cuidar das terras e a frequentar a igreja.
Nunca mais se envolveu com outro homem, vindo a ter vida discreta.
E Adélia, a filha, fora criada dentro dos mais rígidos preceitos católicos.
Frequentava as missas dominicais ao lado da mãe.
Durante o período em que se ausentou da fazenda, Thereza, viveu recolhida em uma propriedade
adquirida pela família longe dali.
Adélia por seu turno, também não se casou.
Luciana Celestino dos Santos
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