E assim, passaram a viver como se casados fossem.
Quando a moça ficou grávida, o nativo preocupou-se com sua sorte.
Dizia que precisava encontrar alguém de sua tribo, e que ela não poderia ter seu filho sozinha.
Carolina dizia-lhe que não havia com o que se preocupar, e que encontrariam seus descendentes
no momento certo.
Mas Abaré estava apreensivo.
Carolina descobriu-se grávida no momento em que não teve mais regras.
Contava os dias de forma rudimentar e, ao dar-se conta de que havia dois meses que não sangrava,
passou a notar mudanças em seu corpo.
Ao nadar no riacho, como de costume começou a notar pequenas mudanças na forma do quadril.
Com o tempo, passou a ter sensibilidade a certos cheiros e alimentos.
Abaré atento ao comportamento do moça, também percebeu pequenas mudanças.
Carolina já não o acompanhava em suas caçadas, sem contar que nem sempre estava disposta a
ficar a sós com ele.
Por diversas vezes reclamava de sentir sono.
Abaré começou a estranhar.
Em dado momento, a moça, percebendo que não poderia mais guardar para si a novidade,
participou-a ao índio.
Abaré ficou surpreso com a notícia.
Perguntou-lhe como podia ter tanta certeza.
Carolina não sabia como, mas dizia ter certeza que estava grávida.
O índio compreendeu.
Dizia que as mulheres mais antigas de sua tribo, sabiam quando um novo membro viria ao mundo.
Comentou que as jovens índias, já percebiam isto.
Carolina contou que a própria natureza, encontra formas de mostrar isto para as mulheres.
Abaré por sua vez, ficou deveras feliz com a novidade.
Abraçou-a e levantou-a, em sinal de comemoração.
Comentou que agora não estavam mais sozinhos.
Mas embora feliz, o nativo também ficou preocupado.
Conforme o dias se seguiam, o índio passou a considerar a hipótese de levar a jovem de volta ao
lugarejo onde vivera com sua família.
Porém ao analisar melhor a situação, considerou que não seria nada bom que a moça aparecesse
grávida, ainda mais de um índio.
Pensar nisto lhe causou tristeza.
Com isto, precisava dedicar mais afinco na busca por sua família.
Desta forma, prosseguiram a jornada.
Cauteloso, o índio procurou buscar pouso em vilarejos.
Com isto, ao sair da mata, Abaré se oferecia para prestar qualquer serviço para os brancos.
Ajuda em serviços de reformas, a cuidar dos animais, em pequenos serviços.
Quanto a Carolina, dizia ser ela sua mulher.
A moça já estava com cinco meses de gestação.
Queimada de sol e ligeiramente diferente de seus tempos de sinhá, não causava estranheza aos
circunstantes, pois acreditava se tratarem de índios.
Carolina não desmentia a impressão.
Abaré chegou a falar-lhe que poderia se dizer branca, que fora raptada por ele e que precisava
voltar para sua terra.
Carolina retrucou, dizendo que não seria bem recebida.
Argumentou que sua sina havia sido traçada quando ele cruzou o seu caminho, e que não havia
como voltar atrás.
Abaré argumentou que temia por ela, por seu futuro, e pelo filho que estava esperando.
A moça respondeu-lhe que tudo acabaria bem.
Com o tempo, andando de vila em vila, acabaram por encontrar um aldeamento indígena.
Os índios, ao verem a moça, ofereceram acolhida.
Diziam que mesmo não sendo da mesma tribo, iriam recebê-los, pois o casal não poderia ficar
desamparado.
Abaré agradeceu a acolhida, disse que ficariam por algum tempo, e depois prosseguiriam viagem.
Com o tempo, ergueu uma oca para sua mulher.
Passou a participar das atividades da tribo.
De suas danças, de suas tradições, das festividades.
Caçava e pescava.
Plantou alguns víveres.
Carolina fazia cestos, moringas de barro.
Aprendeu desenhos, e se admirou da beleza das peças.
As índias achavam curioso o fato da moça andar coberta, e ao tomar banho no rio, entrando nas
águas, com uma espécie de vestido.
Riam dos modos da moça.
Com o tempo a jovem passou a se vestir como as índias do lugar.
Passou a viver do mesmo modo que a tribo.
Quando entrou em trabalho de parto, a criança nasceu em sua oca, auxiliada pelas índias da tribo.
Carolina teve a criança de cócoras, sem o auxílio de parteiras.
Abaré ficou do lado de fora, e ao tomar conhecimento do nascimento da criança, comemorou com
os outros índios.
Houve festa e celebração.
Foram tempos tranquilos.
Mais tarde, com a criança mais crescida, um menino de nome Abaeté, o casal despediu-se da tribo.
Nos meses em que permaneceram na tribo, Abaré contou sua triste história, bem como a de sua
esposa.
No momento da despedida, receberam flores das crianças da tribo e algumas cerâmicas das
mulheres.
O pajé pediu ao índio, que regressasse com boas novas.
Abaré prometeu que o faria.
Com isto, o casal partiu, carregando trouxas com roupas, livros, um caderno, algumas cerâmicas, e
com Abaeté, o filho do casal.
Carolina agora, trazia consigo a sabedoria dos índios, o segredo das ervas medicinais.
E muitas anotações em seu diário.
O conhecimento, a auxiliou nos cuidados com o filho, sempre que o mesmo necessitava de
remédio.
Desde o nascimento, a criança se acostumou a viver nas matas, sempre livre e sem medo.
Por algum tempo, viveram isolados na floresta.
Até finalmente se decidirem por regressar ao vilarejo onde Carolina vivera com a família.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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