Poesias

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

VALONGO - CAPÍTULO 26 - VERSÃO OFICIAL

De avião, Vandré foi até a capital do estado, vindo a realizar o restante da viagem, em um carro alugado.
Ao chegar na cidade onde Abaeté fora eleito intendente, o moço descobriu que a antiga estância havia se transformado em um distrito da cidade, pouco restando da propriedade original.
Visitando o cartório do distrito, descobriu que as terras foram vendidas diversas vezes, e que pelas suas dimensões, foram desmembradas e transformadas em pequenas propriedades, que com o tempo foram loteadas e transformadas em moradias, e condomínios residenciais verticais.
Vandré, ao descobrir que as terras de seus ancestrais, viraram um empreendimento comercial, lamentou.
Chegou a criticar a postura dos novos proprietários das terras, dizendo que a falta de preocupação em preservar a memória do país, era o que transformava o Brasil, num país subdesenvolvido.
Lamentou que o casarão tinha desaparecido, só restando sua memória nas velhas fotografias, mostradas por sua avó Carolina.
Fotografias e pinturas.
Na Fazenda do Valongo, havia um velho quadro retratando o velho casarão.
A velha senhora mostrava com orgulho, as origens da família, mas dizia com tristeza, que nunca havia pisado naquelas terras.
Ao se lembrar disto, Vandré chegou a pensar que foi bom Dona Carolina não ver aquilo.
Pois se para ele foi difícil se deparar com mudança tão radical, o que seria para ela, acostumada com os tempos de antanho, se deparar com tamanha transformação.
Neste momento, um cliente do cartório, foi informado que o velho casarão ainda existia, embora não em sua forma original.
O homem conduziu Vandré aos limites do distrito.
Quando o moço avistou uma construção em ruínas, mostrou-a a Vandré, que se espantou como o estado de degradação da construção.
Perguntou:
- É este o casarão onde morou Abaeté Chagas?
- É sim! - respondeu o moço.
Vandré então, pediu para se aproximar.
Chegando mais perto, Vandré percebeu que a construção estava em ruínas.
Praticamente só a fachada estava de pé, quase como o fora nos tempos em que a estância fora invadida e incendiada.
Quase como nos tempos de Abaré e Carolina.
Emocionado, o moço chegou bem perto, da construção.
Odílio, o homem que o acompanhou na empreitada, disse para que tivesse cuidado.
Argumentou que não se sabia em que condições estava, o que havia restado da construção.
Mencionou que a fachada da casa, poderia desabar.
Vandré parou em frente a construção.
Avistou nas proximidades, ciprestes, paineiras e figueiras.
Recordou-se que o grande Abaeté, assim como seu pai Abaré, fora sepultado em um caixão de madeira de lei.
Feito da derrubada de algumas velhas árvores da fazenda.
Alguns índios eram exímios escultores e entalhavam os caixões, faziam móveis, e trabalhavam na estrutura das casas, fazendo janelas, portas e todo o madeiramento necessário.
Abaré era bom nisto.
Escrevera Carolina, em seu diário, repleto de recordações.
O moço levara o caderno em sua viagem.
Odílio, em conversas com o moço, percebendo a importância do documento que Vandré trazia nas mãos, comentou que aquela documentação não poderia ficar adstrita a família, devendo outras pessoas, tomarem conhecimento dos relatos.
Disse que aquelas histórias familiares também contavam a história do sul.
Vandré disse que o manuscrito não era seu.
Razão pela qual, não poderia dispor da forma como bem entendesse.
Odílio lamentou.
Argumentou que havia uma grande chance de tudo aquilo se perder.
Vandré comentou a certa altura, que precisava conversar com o restante da família.
Afinal a história de todos estavam registradas naqueles diários, e não apenas a memória do sul.
Nisto, o moço tirou fotos do casarão, do que restara da antiga propriedade, das antigas casas de colonos.
Adentrou a construção em ruínas e tirou fotos.
Também tirou fotos da cidade, do distrito e da transformação do lugar.
Conversando com Odílio, descobriu que a propriedade estava abandonada desde a morte de seu antigo proprietário, e que nenhum herdeiro apareceu para reivindicar sua propriedade.
Ao ouvir isto, Vandré se espantou.
Pesquisando o registro em cartório, descobriu que o último proprietário adquiriu a propriedade há mais de quarenta anos.
Verificando no cartório de pessoais naturais da localidade, constatou que o homem falecera há cerca de vinte anos.
Como nenhum herdeiro reclamou a propriedade, a herança jacente, tornou-se vacante.
Mais tarde, as terras naturalmente passaram a pertencer ao município.
Odílio comentou que havia interesse por parte de alguns moradores do lugar, de transformar o local em uma espécie de museu, mas que a prefeitura do lugar não estava interessada.
O moço disse que por ser longe da cidade, não havia interesse comercial na exploração econômica do local.
Vandré considerou um desperdício um lugar como aquele, ficar abandonado.
Disse que se pudesse, recuperaria o casarão, e transformaria o lugar em museu para contar a memória do lugar.
Argumentou que quanto a distância, poderia ser erigido um hotel fazenda.
Odílio gostou da ideia.
De tão animado, mostrou um cartão ao moço.
Disse que se ainda tivesse interesse na recuperação da região, para procurá-lo.

Com efeito, ao vasculhar melhor as terras, ficou se perguntar onde seus ancestrais estariam enterrados.
Odílio respondeu-lhe que os corpos, enterrados na fazenda, foram trasladados para um dos cemitérios da cidade.
Vandré então, empreendeu verdadeira peregrinação pelos cemitérios da cidade.
Descobriu vários túmulos dispersos, no principal cemitério da cidade.
Vandré concluiu se tratar da primeira necrópole do lugar.
Também descobriu um cemitério afastado, onde foram enterrados os escravos da região, e uma placa homenageando os mortos em um conflito ocorrido em 1877.
A placa indicava a família Abaré Chagas.
Vandré também retratou a placa.
Lugar de memórias quase perdidas, que emocionaram o rapaz.
Mais tarde, ao mostrar fotos para a família, todos ficaram abismados com o estado de abandono do lugar.
Também mostrou fotos dos túmulos e placas de homenagem aos túmulos dos mortos que fizeram parte da história da família.
Todos ficaram impressionados e emocionados com tudo.
Vandré então, comentou que aquelas terras estavam abandonadas.
Mencionou que tinha interesse em conversar com o prefeito do lugar.
Conversando com a família mencionou seu interesse em recuperar as terras e em resgatar a memória do ilustre Abaeté, e seu pai Abaré.
E toda sua descendência até a segunda Carolina, que vendeu as terras para seguir em viagem para outro estado.
Todos apreciaram a ideia, principalmente Marília, que se ofereceu para ajudar o moço.
Com o financiamento de Carolina, Vandré se afastou do trabalho na universidade, mediante a concessão de licença não remunerada.
Ficou anos trabalhando no projeto.
Odílio, Marília e Vandré, conversaram com dois prefeitos.
Finalmente tiveram autorização para trabalhar em terras da prefeitura.
Para tanto, houve uma licitação.
O trio, tratou de abrir uma empresa, para participar da disputa.
Com uma certa dificuldade, ganharam a licitação e o direito de exploração das terras por alguns anos.
O trio recuperou o antigo casarão, montaram um hotel fazenda, e recuperaram a área verde do local.
O empreendimento se tornou modelo de gestão para os empresários do lugar.
Enquanto tudo foi acontecendo, Venâncio, Tânia, Lara, Antonia, as crianças, Carolina e todos os amigos foram visitar o lugar.
Mais tarde suas pesquisas para resgatar a memória da família se transformaram num romance: “Valongo”.
Vandré então, abandonou de vez, a vida acadêmica.
Neste ínterim, Venâncio e Tânia, se casaram na Fazenda Valongo.
Todas as pessoas da família foram convidadas.
Marília trouxe um amigo.
Lara reatou seu relacionamento com seu antigo companheiro, para a alegria de suas filhas, que voltaram a conviver com o pai.
A moça chegou até a comentar que as crianças estavam mais calmas.
Antonia, por sua vez, continuava a cultivar sua solteirice.
Vandré compareceu ao casamento, acompanhado de uma jovem moça.
Tempos depois Venâncio e Tânia, tiveram um filho, de nome Olavo.
Esta criança nasceu e cresceu.
Vindo a se tornar adulto, formou-se em direito, e passou a trabalhar no escritório do pai.
Trouxe muito orgulho a família, que finalmente estava livre da maldição.
O garoto cresceu e gerou descendência vivendo até chegar a idade avançada.
Eram os anos finais do século XXI.

Luciana Celestino dos Santos
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