Poesias

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

VALONGO - CAPÍTULO 16 - VERSÃO OFICIAL

Tarcísio a abraçou.
Ao se dar conta do que estava acontecendo, a moça se desvencilhou dos braços do homem e saiu correndo.
Tarcísio correu atrás da moça.
Em dado momento, a jovem se desequilibrou.
Tarcísio a amparou.
Ao segurá-la nos braços, o moço a beijou.

Quando Abaeté soube do envolvimento da moça com o forasteiro, encolerizou-se.
Furioso, começou a quebrar louças.
Destruiu a sala do casarão.
Helena e Thereza, assustaram-se com a atitude intempestiva do homem.
Abaeté a certa altura, gritou para que fossem para o quarto, e que o deixassem sozinho.
Quando finalmente se acalmou, o homem chamou Thereza.
Comentuo que havia tomado conhecimento de que mesmo noiva, estava se encontrando com o moço.
Exigiu que a moça lhe contasse toda a verdade.
Thereza confirmou.
Disse que estava gostando do moço.
Abaeté ao ouvir isto, deu um murro no tampo de madeira da mesa da sala de jantar.
A moça assustou-se.
Tremendo, disse que precisava desfazer o noivado.
Abaeté disse-lhe que estava proibida de tomar qualquer atitude sem o seu consentimento.
A moça argumentou que não poderia mentir a Angelo.
O rapaz disse que precisava conversar com Angelo, mas que quem deveria ter esta conversa com o moço, era ele.
Nisto, Abaeté disse para ela arrumar suas coisas, pois iria voltar a morar com ele.
Com efeito, quando Angelo soube do envolvimento de Thereza com um agregado da fazenda, disse que sua honra havia sido manchada e que precisava reparar a desonra.
Abaeté, tentando amenizar a situação, disse que Thereza não se entregara ao homem, mas que entenderia o desfazimento do compromisso.
Disse que a moça não se portara de forma digna.
Mencionou que a irmã seria levada para um convento, de onde não mais sairia.
Angelo argumentou que isto era muito pouco.
Mencionou que devia desafiar o moço para um duelo.
Nervoso, insistiu para que Abaeté declinasse o nome do homem que desonrara sua noiva.
O índio relutou em fornecer a informação.
Angelo irritado, disse ao índio, que aquela mistura de branco com índio, não poderia realmente resultar em boa coisa.
Por fim, disse que descobriria o autor do mal feito, e que iria matá-lo.
Recomendou que Thereza ficasse enclausurada, ou teria igual destino.
Com isto, saiu da estância.
Abaeté, foi a procura de Tarcísio.
Disse-lhe que já o advertira para que não se aproximasse da irmã em duas oportunidades.
Tarcísio comentou que não pode obedecê-lo.
Argumentou estar apaixonado pela moça.
Conversando com o índio, confessou que se encontraram por diversas vezes.
Escondidos.
Mencionou que já sabia da intenção do moço, em levar Thereza para um convento.
Tarcísio comentou porém, que a moça não tinha vocação religiosa.
Argumentou que em havendo necessidade, poderia partir, levando a moça consigo.
Abaeté, percebendo a sinceridade do moço, por um momento, chegou a pensar na possibilidade do casal ficar junto.
Mas depois, analisando melhor os fatos, argumentou que não seria seguro.
Relatou que Angelo provavelmente já sabia ser ele o amante de Thereza, e que saindo juntos da fazenda, certamente se denunciariam.
Tarcísio concordou.
Abaeté, percebendo que precisava proteger a honra da irmã, exigiu que o moço se comprometesse a casar com Thereza.
Tarcísio prometeu.
O tempo porém, não foi generoso com o casal.
Tarcísio, ajustado com Abaeté, comprometeu-se a partir da propriedade.
Muito embora relutante, o moço partiu.
Nunca mais souberam do jovem.
Thereza ficou a esperar por Tarcísio, mas Abaeté, percebendo que o moço não mais voltaria, decidiu levar a irmã para um lugar afastado.
Neste ínterim, o pai de Angelo, advertiu-lhe que sua família não seria mais recebida em sua casa.
Comentou que jamais voltaria a pisar os pés na estância.
Angelo por sua vez, exigiu que a moça fosse levada para um convento.
Seu pai, contudo, relatou que não competia a ele decidir a sorte da moça, que já estava lançada.
Argumentou que o melhor era que não houvesse escândalo, pois de um fato desses, não era somente a mulher que saía prejudicada.
Angelo ao ouvir as palavras do pai, calou-se.
Nisto, Hermenegildo comentou que justificaria o desfazimento do casamento, pelo fato da moça encontrar-se doente, precisando se recolher em lugar isolado.
Abaeté concordou em confirmar a história.
Pediu desculpas ao homem e a seu filho, e disse que Thereza sofreria as consequências de seu ato.
Mais tarde, o índio tomou conhecimento de que Angelo desposou uma filha de estanceiros das proximidades.
Abaeté, resolvido a levar a moça para um convento, recomendou-lhe que arrumasse suas malas. Thereza tentou demover o irmão do intento, em vão.
As coisas só mudaram, quando a moça descobriu-se grávida.
Abaeté, ao tomar conhecimento do fato, ameaçou bater em Thereza, mas ao se lembrar da promessa feita a esposa, se conteve.
Nisto, respondeu a moça, que não a considerava mais sua irmã.
Bradou que a jovem havia envergonhado toda a família.
Thereza tentou argumentar, em vão.
Escapou da vida de clausura de um convento, mas foi levada para longe dali.
Longe dali deu a luz Adélia.
Abaeté, ao tomar conhecimento do nascimento da moça, tratou de registrar a criança como filha legítima de Thereza.
Afastada há tempos da fazenda, comentou que a mulher enviuvara.
Tempos depois, regressou a estância.
Recebida pelo irmão e pela cunhada, a moça passou a morar, em uma casa afastada da fazenda.
Lá criou a filha, que cresceu na companhia das primas Carolina e Eurídice.
Mas Thereza passou a viver afastada da família.
Não participava das festas da família, a exceção da filha, sempre muito bem recebida pelos tios.
Abaeté tinha verdadeira adoração pela sobrinha.
E a bela Thereza vivia das lembranças de Tarcísio.
Por anos a fio, acreditou que o homem voltaria para buscá-la.
Contudo, conforme o tempo passou, percebeu que o homem não voltaria.
Certas vezes,chegou a pensar que poderia estar morto.
Em outras, que não passava de um aventureiro que não tinha respeito por ninguém.
Decepcionou-se com o moço.
Abaeté, por fim, depois do ocorrido com Angelo, não manifestou mais interesse em arranjar um pretendente para Thereza.
Alguns homens se interessaram pela jovem, mas Thereza não parecia interessada em relacionar com mais ninguém.
Abaeté também não incentivava as investidas dos homens.
E assim a bela Thereza deixou de usar tranças com fitas de cetim e flores, para prender os cabelos em um coque.
Por vezes Abaeté aparecia em sua casa para lhe pedir conselhos.
Anos depois, o homem fora eleito intendente da cidade.
Investiu em melhorias no lugar.
Helena engravidou por mais duas vezes, e nas duas gravidezes, perdeu os filhos que esperava.
Por fim, engravidou novamente, dando luz a um menino, que morreu de tosse comprida, poucos dias depois de nascer.
Tais fatos, abateram o homem, que passou a se reaproximar da irmã.
Thereza sempre esteve por perto nos momentos de infortúnio, amparando Helena e confortando a mulher.
Abaeté era grato a irmã por isto.
Admirava a amizade das duas mulheres.
Dizia que iria gostar de ter uma amizade assim.
Nisto, Adélia foi crescendo e se transformou em uma moça, ainda mais bela que a mãe.
Abaeté gostava de dizer que a irmã nascera com a beleza do sol e da lua, mas que Adélia herdara ainda mais beleza, abrangendo o firmamento com o sol e a lua, além de todas as estrelas do céu.
Helena achava graça nas palavras e Abaeté.
Para as filhas, dizia que herdaram a beleza clássica da mãe.
Adélia porém, era mais parecida com Thereza e com o avô Abaré, possuindo a tez morena, e alguns traços que faziam lembrar sua origem indígena.
Circunstância que encantava Abaeté.
Com efeito, Adélia era tratada como uma filha.
Adélia, sobrinha de Abaeté, herdara o jeito reservado da mãe.
E assim como a mãe, fora criada nas lidas domésticas.
Sabia cozinhar, costurar, bordar, fazer artesanatos.
Além de tudo lia, e também ensinava os jovens do lugar a percorrer o mundo das letras.
Dizia que era um mundo de encantamento.
Ataíde se interessou com o jeito da moça.
Discreta e reservada, mas sempre ativa.
Participava dos trabalhos da fazenda.
Seguia com as agregadas da família para lavar as roupas no rio.
Ataíde chegou a comentar com os demais trabalhadores da fazenda, que a moça não precisava fazer aquilo, que poderia contratar escravas para fazer o trabalho.
O homem também, chegou a comentar isto com a jovem, certa vez.
Adélia ria.
Dizia estar acostumada.
Argumentou que gostava de cuidar da casa.
Ataíde adorava observar a moça entretida em suas tarefas.
Por diversas vezes, a viu a lavar roupas no rio.
Abaeté por sua vez, ficava de olho no estranho.
Dizia que só o mantinha na estância por ser muito útil na lida, pois estava sempre disposto ao trabalho.
Comentou porém, que se ele fizesse algo que não devia, seria posto para fora dali.
Carolina e Eurídice por sua vez, estavam noivas de filhos de fazendeiros da região.
A desavença com a família de Helena havia cessado.
Otacílio ao tomar conhecimento do fato, censurou Abaeté.
Disse-lhe para esperar as coisas se acalmarem, para pensar em casamento para as filhas.
O fazendeiro ajudou a confirmar a história de que Thereza ficara muito doente, impossibilitada de casar com Angelo.
Com efeito, quando a moça voltou com uma filha nos braços cerca de dois anos depois, providenciaram o registro da criança como se fora filha legítima, e até documentos para comprovação de um casamento, que não existiu.
Para todos os efeitos, havia se recuperado e encontrado um novo pretendente.
Anos depois, Abaeté, em conversas com os fazendeiros da região, arranjou pretendentes para as filhas.
Helena ao tomar conhecimento do fato, se incomodou.
Argumentou que pode escolher seu marido e que às suas filhas, assistia o mesmo direito.
Mas o homem estava irredutível.
Crescidas, as moças noivaram.
Passaram a frequentar a sociedade do lugar.
Em algumas destas festas, Adélia, também foi convidada, e assim como as primas, sempre aparecia impecável e elegantemente trajada.
Atraía olhares, como sua mãe um dia também atraiu.
Dançava com alguns convidados, sempre sob os olhos atentos e vigilantes dos tios.
Muitas vezes, chamava mais a atenção do que as próprias filhas do fazendeiro.
Noivas, as moças adoravam exibir os anéis de noivado.
Adélia dizia que se tratavam de belíssimas joias.
Sonhava com o dia em que também ficaria noiva.
Em seus sonhos, de algum moço galante.
Contudo, ao contrário do que imaginara, acabou enamorada de Ataíde, com o qual veio a ter uma filha, de nome Rosália.
Por diversas vezes, o moço auxiliou a moça a trazer os cestos com roupas que lavara no dia.
Às vezes a ajudava a estender as roupas no gramado para quarar.
Elogiava a brancura das peças.
Thereza, ao perceber a aproximação do jovem, ouviu de Adélia que não havia nada de mais.
A mãe, dizendo que as pessoas poderiam falar, comentar, recomendou-lhe para que tivesse cuidado, pois não estaria sempre por perto para cuidar dela.
Argumentou ser muito triste a vida de uma mulher sozinha, com um filho para criar.
Adélia comentou que não conheceu o pai.
Thereza então, disse que poderia mudar isto, casando-se com um bom homem, e constituindo família.
Em uma festa organizada na fazenda da família, Ataíde pediu que a moça lhe concedesse uma contradança.
Abaeté, ao ver a cena, tentou interferir, mas foi advertido pela esposa, que se enfrentasse o rapaz, poderia causar um escândalo, que poderia prejudicar o noivado das filhas.
O homem então se conteve.
Ataíde então, aproximou-se de Abaeté e olhando para ele e para Thereza, perguntou-lhes poderia ter a honra de dançar com Adélia.
Sem alternativa, ambos concordaram.
Adélia então dançou com Ataíde.
Trazia um hibisco vermelho preso nos cabelos e vestia um bonito vestido vermelho.
O moço sorria para ela.
Ao término da dança, aproveitando-se de uma distração de Adélia, o moço puxou-a novamente para dançar, para desespero de Thereza, e irritação de Abaeté, que comentou que o moço estava brincando com a sorte.
Carolina e Eurídice por sua vez, dançaram durante toda a festa, com seus noivos.
Helena comentou que Abaeté havia escolhido bem, os pretendentes das filhas.
De fato, as moças não ofereceram resistência a ideia.
Pelo contrário, estavam ansiosas para se casar.
Adélia então, dançou um fandango com o tropeiro, sob os olhares de reprovação de sua mãe.
Abaeté estava sendo contido por Helena.
Mas a certa altura, Thereza, percebendo o perigo, aproximou-se do casal, e recomendou a Ataíde que se afastasse, e que não tirasse mais sua filha dançar.
Argumentou que havia muitas moças no lugar e que todas se sentiriam honradas em dançar com ele.
Comentou que iria conversar com o pai de alguma delas, para que ele pudesse dançar.
Ataíde então, agradeceu a gentileza da mulher, mas respondeu que não seria necessário.
Nisto o homem cumprimentou-a e despediu-se.
Thereza por sua vez, disse a filha, que ao chegarem em casa, iriam conversar.
Adélia ficou contrariada.
Nisto a mãe puxou-a pelo braço.
Neste momento, um moço convidou-a para dançar. Thereza consentiu.
Mais tarde, ao chegar em casa, a moça foi advertida de que não deveria passar a noite inteira dançando com um estranho.
Argumentou que Abaeté ficou furioso com o que viu, e só não partiu para cima do moço, por que Helena impediu.
Pediu a filha para que fosse mais cuidadosa, ou em pouco tempo, todos estariam falando de seus modos, e assim, acabaria não se casando.
Adélia ao ouvir isto, ficou magoada.
Por fim, Thereza disse-lhe que poderia ir para seu quarto.
E lá a moça ficou.
Deitou-se na cama e chorou.

Luciana Celestino dos Santos
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