Poesias

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

VALONGO - CAPÍTULO 3 - VERSÃO ALTERNATIVA

Por conta do jeito livre de viver e de criar os filhos, foram condenados pela sociedade do lugar.
E em razão de uma negociação mal resolvida, receberam uma praga.
Isto por que a mulher de um estancieiro falido, contrariada com o insucesso do esposo, disse a Carolina que sua descendência não conheceria a estabilidade de um casamento honrado, além do que  toda a sua descendência seria espúria.
Tudo por conta de uma tratativa mal sucedida.
Abaré havia se comprometido a adquirir parte do gado da fazenda do estancieiro.
Estando o mesmo obrigado a oferecer coisa certa, de média qualidade.
Não podendo oferecer nem a melhor, e tampouco a pior.
Como a rês apresentou uma doença que obrigou ao abatimento dos animais, o negócio foi desfeito.
O fazendeiro falido, ameaçou a se matar.
A mulher desesperada, foi a casa de Carolina.
Aflita, a mulher implorou para que Abaré esquecesse o evento, e aceitasse a negociação.
Argumentou que ainda possuíam algum gado leiteiro.
Abaré no entanto, argumentou que os animais estavam muito magros, desnutridos e não teria como aceitá-los como parte da negociação.
Aduziu ainda, que os animais existentes, não seriam suficientes para honrar o contrato, e que por lei, não estavam obrigados a aceitar a tratativa naqueles termos.
A mulher retirou-se da propriedade arrasada.
Para complicar a situação, após a morte do marido, a mulher passou a praguejar sobre o caso, dizendo que nenhum dos seus filhos varões nascidos naquelas paragens e tampouco os filhos de sua descendência nascidos naquele, ou qualquer outro lugar onde a família se estabelecesse com ânimo definitivo, sobreviveriam.
Carolina não deu importância as imprecações da mulher.
Mas a estancieira arruinada, auxiliada por um pajé, realizou rituais, para que conseguisse alcançar o seu intento.
Como a vida do casal transcorria sem transtornos, deixaram de lado as imprecações.
Continuaram a cuidar da propriedade.
Abaré e Carolina, conseguiram fazer com novamente a propriedade se tornasse produtiva.
Porém, ao contrário dos outros tempos, a propriedade possuía trabalhadores livres, negros libertos e indígenas.
Agregados passaram a fazer parte da família.
O casarão foi reerguido e ampliado.
Em nada lembrava a construção dos velhos tempos.
Abaeté fora criado dentro dos costumes católicos, mas respeitando sua origem indígena.
Vestia-se como um descendente de europeus.
Mas o cabelo extremamente liso como o de seu pai, denunciava sua origem.
Por ser filho de índio, a criança era discriminada.
Abaeté só não sentia preconceito em sua comunidade.
Abaré por sua vez, passara a usar trajes formais, e frequentava a missa ao lado da esposa. Aproveitava as noites para ensinar as pessoas a ler e a escrever.
Com o tempo, o casal construiu uma escola na propriedade.
Contrataram uma professora para ensinar os pequenos a ler e a escrever.
Carolina por sua vez, continuou a registrar suas impressões em seus cadernos diários.
Gostava de ler, e ao ter oportunidade para adquirir livros, tornou-se uma leitora, das mais interessadas.
Tal característica, estimulou o pequeno Abaeté a se interessar pelo mundo dos livros.
Com efeito, ao herdar a propriedade dos pais, juntamente com as irmãs, tornou-se um benemérito da região.
Construiu escolas pela cidade, além de auxiliar os grupamentos indígenas do lugar, trabalhando em prol do reconhecimento de suas terras.
Em homenagem aos pais, batizou escolas com seus nomes.
Após seu falecimento, ele próprio virou nome de escola, além de nome de uma importante rua da localidade.
Sua história, era motivo de orgulho na família.
Fora um dos ilustres da família Chagas Abaré.

Anos mais tarde, o casal Abaré e Carolina, regressou ao local onde foram acolhidos por uma tribo indígena.
Contaram sobre o retorno a suas terras de origem.
Informaram que haviam recuperado a antiga propriedade invadida, e que a mesma estava ainda mais bela do que quando fora atacada.
Todos foram bem recebidos.
Os índios festejaram ao descobrirem que o casal estava bem.
Abaré e Abaeté acompanharam os índios em suas caçadas e pescarias.
Carolina ajudava as índias na confecção de cestas e cerâmicas.
Certa noite, ao se deitarem na rede dentro da oca, o índio disse a esposa, que sua busca havia cessado.
Dizia que não havia mais nada a ser buscado, pois o que havia procurado a vida inteira, já havia encontrado.
Carolina sorriu para ele.
Abaeté a esta altura dormia tranquilo.
A família permaneceu neste ambiente por alguns dias, mais tarde regressando para suas terras.
Todos se despediram da família.
Abaré, com lágrimas nos olhos, disse que sentiria muitas saudades deles.
O pajé, entendeu ser aquele um sinal, de que não mais regressariam para aquelas paragens.
Abençoou a família, e desejou-lhes um bom regresso.
E o casal seguiu caminho pelas matas.
Regressou ao lar.

Com o tempo, quando do nascimento do segundo filho varão do casal, a criança nasceu morta.
Lúcio foi velado na sede da fazenda.
Carolina, que estava de resguardo, não pode acompanhar o velório do filho.
A moça, em que pese a debilidade, pediu a Abaré para ver o filho, nem que fosse de longe.
O índio porém, não consentiu.
Penalizado com a fraqueza da jovem, disse-lhe para que guardasse leito.
Mas como último gesto de compaixão, deixou a jovem ser o filho arrumado.
Só não pode acompanhar o velório e o enterro da criança.
Tal fato, deixou a todos da família abalados.
Carolina pela primeira vez, pensou na possibilidade das imprecações da senhora, estarem de fato, interferindo na vida de sua família.
Abaré, ao ouvir as palavras da mulher, argumentou que não seriam simples palavras lançadas ao vento, que causariam problemas a alguém.
Carolina argumentou sobre a possibilidade de haver sido lançado um feitiço sobre eles.
Abaré ao ouvir isto, respondeu que não havia nenhum feiticeiro ou pajé na região.
A moça disse então, que ela pode ter procurado alguém em algum outro lugar e lançado alguma feitiçaria na família.
O nativo, ao ouvir isto, respondeu que poderiam pedir a um pajé, para realizar um ritual de purificação da casa, e também protegê-los de qualquer feitiço lançado sobre a família deles.
Carolina concordou.
Nisto o índio enviou um recado para a tribo que os acolhera.
Recado levado por um dos índios que vivia como agregado na fazenda.
Conhecedor das matas do lugar, chegou até o local da tribo indicada por Abaré.
Ao lá chegar, informou que trazia um recado da parte de Abaré.
Desta forma, o índio foi recebido por índios da tribo, que trataram logo de levá-lo a presença do pajé.
O líder religioso da tribo, ao tomar conhecimento do que estava acontecendo na morada de Abaré, tratou logo de fazer uma pequena mala improvisada e partir, acompanhado do mensageiro.
Antes, informou a tribo que precisava partir, mas que ao final de algum tempo regressaria.
Com isto, deixou um outro índio de sua confiança para cuidar de sua tribo.
E assim, seguiu pelas matas, acompanhado do jovem índio.
Ao chegar na residência de Abaré, depois de dias de caminhadas pela mata, o nativo foi recebido com alegria por Abaré e Carolina.
Ao tomar conhecimento de uma suposta feitiçaria lançada sobre a família, o homem comentou que faria um ritual para espantar todo os maus espíritos que pairavam pela morada, mas que seria melhor e mais eficaz, descobrir o responsável pela magia negra e qual o feitiço lançado.
Carolina disse desconfiar de quem poderia ter sido, mas não poderia dizer com certeza.
Argumentou que uma senhora, antiga estancieira do lugar, havia praguejado contra eles.
O pajé então, prometeu observar as circunstâncias, para avaliar o melhor a ser feito.
Nisto, o líder religioso visitou o túmulo da criança.
Concentrado, permaneceu por horas no local.
Chegou até a pedir a Abaré que se afastasse.
Disse que poderia cuidar de seus afazeres diários.
Abaré, em respeito ao líder indígena, afastou-se.
Nos dias que se seguiram, foram realizados diversos rituais com vistas a serem extirpados quaisquer males.
O pajé porém, argumentou, que o melhor seria conhecer qual o feitiço lançado, para que se fizesse um amuleto para protegê-los.
Dias depois, o índio voltou para sua tribo.
E assim a vida na fazenda transcorreu normalmente.
Abaré prosseguiu em sua lida de criar animais, amansar cavalos, cuidar do gado, derrubar árvores, para construir móveis, entre outras coisas.
Mais tarde, Carolina engravidou novamente.
Vindo a nascer uma criança de nome Thereza.
Anos depois, nasceu a pequena Laura.
Quanto ao quinto filho do casal, a criança viveu por dois anos, vindo a falecer depois de uma queda.
Josué era seu nome.
Com efeito, a criança ao nascer com vida, foi recebida com alegria e sobressalto por Carolina.
A mulher, aflita com o que ocorrera ao primeiro filho, não conseguia ficar tranquila, sempre temendo que algo pudesse lhe acontecer.
Com efeito, nunca deixava a criança sozinha.
Apenas em uma oportunidade deixou a criança sozinha.
Josué curioso, estava a correr em direção ao descampado, quando acabou caindo em uma vala.
A criança bateu a cabeça em uma árvore, vindo a falecer.
Carolina, ao tomar conhecimento do fato, lançou um grito desesperado.
Chorou, e por muito tempo se culpou da morte da criança.
Dizia que não devia ter deixado o menino sozinho.
Que se não tivesse se distraído, a criança ainda estaria viva.
Abaré tentava confortá-la dizendo que fora uma infelicidade, mas que ela não tinha culpa de nada.
Argumentou que ela era uma mãe zelosa, e que não podia estar presente em todos os lugares.
Isto porém, não consolava a triste mãe.
Pobre Abaré, tristonho pela perda de mais um filho.
Não se sabe de onde conseguia tirar forças para continuar seu trabalho.
E ainda, encontrava palavras para confortar a companheira.
Tais acontecimentos causaram profundo pesar ao casal.
Carolina não conseguia compreender o que estava acontecendo.
Com isto, a mulher engravidou novamente, vindo a sofrer um aborto.
A mulher viveu para ver os filhos crescidos.
Mas depois de tantas desventuras, tantas perdas, e com a perda de Laura, na flor de seus quinze anos, a mulher foi definhando, vindo a morrer pouco tempo depois.
Abaré, também não viveu muito tempo mais.
Falecendo poucos anos depois.
Com efeito, para desventura da família, nenhuma das filhas mulheres de Carolina vieram a se casar.
Thereza foi mãe solteira e Laura morreu ainda jovem, após ser picada por uma cobra.
Enquanto trabalhava auxiliando nas tarefas diárias, a moça, caminhando pelas matas ao redor do rio onde costumava levar a roupa para lavar, acabou se abaixando para pegar uma corrente que deixara cair, vindo a ser envenenada pelo réptil peçonhento.
Abaré, tentou usar de seus conhecimentos de ervas, chupou o ferimento para eliminar o veneno inoculado pela cobra.
Laura, conseguiu chegar em casa, mas já era tarde.
Abaré tentou levar a filha em uma carroça para a cidade.
Buscou auxílio médico.
Laura chegou a ser socorrida, mas não conseguiram evitar o pior.
A moça morreu poucas horas depois, para desespero de Carolina.
A mulher preparou o velório da filha.
Lavou seu corpo, escolheu a roupa que a jovem usaria pela última vez.
Abaré arrasado, tentou convencer a mulher a deixar a incumbência com outra pessoa.
Mas Carolina dizia ser sua obrigação.
Menciona nunca mais deixaria de acompanhar um de seus filhos.
Abaré, ao ouvir as palavras da mulher, assustou-se.
Tentou obter explicações, em vão.
Nisto a mulher cuidou do sepultamento da filha.
Acompanhou o enterro da jovem, sepultada no jazigo da família.
Junto aos pais de Carolina, irmãos.
Quando o corpo baixou a sepultura, Carolina chorou sentida.
Pouco tempo depois, seria seu corpo que encontraria descanso em campo santo.
Abaeté foi o único filho varão que sobreviveu, por ter nascido antes da maldição lançada sobre a família.
Considerado por todos, homem bravo e experiente.
Casou-se e gerou descendência.
Mas assim como a irmã, só conseguiu ter filhas mulheres, vindo a morrer todos os varões.
As moças foram grandes amigas e conselheiras do pai, que se tornou pessoa influente na região.
Ingressou na política, angariando amigos e inimigos.
Sendo muito considerado pela sociedade local.
 Muitos o comparavam com o índio Sepé.

Thereza, após o envolvimento com um forasteiro de passagem pelas terras da família, tornou-se mãe de Adélia.
Tratava-se de um tropeiro de passagem pelas terras da família.
A moça vivia ao lado do irmão, após o falecimento dos pais.
Sendo igualmente herdeira das terras.
Abaeté então, após casar-se com uma moça do lugar de nome Helena, passou a integrar a sociedade do lugar.
Frequentava reuniões sociais.
Homem de ideias, foi conquistando a admiração de todos.
Para conquistar Helena e ganhar a confiança da família da moça, realizou benfeitorias em suas terras.
Fez doações para a igreja local.
Financiou a construção de escolas, com dinheiro próprio.
Sempre com o aval da irmã Thereza.
Tais práticas chamaram a atenção da família de Helena, que acabou concordando com o relacionamento.
Abaeté e Helena se encontraram em uma festividade da vila.
Comemoravam um dia santo no mês de junho.
O moço como sempre, estava acompanhado da irmã.
Também os acompanhavam, agregados da fazenda.
Os moradores da localidade, ao perceberem que Abaeté era um homem correto, foram deixando as reservas que possuíam com a família, e o moço passou a frequentar as festas da região.
No começo não era bem recebido, mas o moço e a irmã insistiram.
Com isto, acabaram por conquistar a confiança das pessoas.
Thereza por seu turno, acabou por conhecer um tropeiro, o qual viria a ser o pai da única filha que tivera.
Nunca mais se envolveu com outro homem, vindo a ter vida discreta.
Vivia a cuidar das terras e a frequentar a igreja.
Adélia fora criada dentro dos mais rígidos preceitos católicos.
E Adélia por seu turno, também não se casou.
Quando ficou grávida, a moça foi levada para longe dali.
Ao regressar com uma criança, tempos depois, dissera que enviuvara.
Havia se casado em outras paragens, e ao enviuvar, regressou ao lar.
Durante o período em que se ausentou da fazenda, viveu recolhida em uma propriedade adquirida pela família longe dali.
Ataíde, o pai da criança encontrou pouso na propriedade da família, por onde permaneceu por algum tempo.
Logo de início chamou a atenção das moças do lugar.
Adélia por sua vez, parecia não se impressionar com o porte do moço.
Circunstância que o deixou bastante intrigado.
 Foi o bastante para ficar a rondar a moça, em que pese a vigilância de Abaeté, que certa vez chamara sua atenção, dizendo tratar-se de sua sobrinha, e que teria que se entender com ele caso resolvesse se engraçar com ela.
Ataíde, argumentou que nutria profundo respeito por todos da família.
Mas o interesse por Adélia foi maior que qualquer prudência.
E a moça se envolveu com o forasteiro.
Ataíde se mostrou útil nas lidas da fazenda.
Domava animais selvagens com habilidade.
Era um bom contador de histórias.
Dizia já ter tido contato com almas de outro mundo.
As crianças, filhas dos agregados do lugar, ao ouvirem estes relatos perguntavam-lhe se não tinha medo.
E rindo, respondia que um homem que seguia tropas, e que não tinha pouso certo, não poderia ter medo de nada.
Comentou que precisava dormir com um olho aberto e outro fechado, para não se atacado ou morto em uma emboscada.
Falou de suas lutas com os índios que tentavam atacar e pilhar as tropas.
Das noites dormidas sob um céu estrelado.
Dizia que coisa mais linda não havia.
Algumas crianças diziam que antes da vida na fazenda, seus pais viviam em uma tribo onde dormiam em ocas.
Ataíde disse-lhe que havia vivido em um tribo, morando em uma oca com os índios.
Curiosos, os pequenos curumins pediam mais detalhes sobre a história.
Ataíde contava sobre as caças e as pescas, as lendas indígenas.
Mencionou admirar os saberes dos povos indígenas.
Acrescentou que haviam várias tribos rivais entre si, e que na luta pela vida, por vezes se encontravam em campos opostos, mas afirmou não desgostar dos índios, ou não estaria em companhia de tantos deles.
Esta conversa foi o bastante para conquistar a confiança dos índios do lugar.

Depois que Carolina voltou as terras arrasadas, Abaré tratou de ajudar a reconstruir o lugar.
Chamou amigos de outras tribos.
Com o tempo, os índios sabedores, de que se tratava de lugar de muito trabalho e boa acolhida, acorreram na direção da propriedade.
Os índios trabalhavam muito na propriedade.
Teciam, produziam cerâmica, ajudaram a reerguer o casarão.
Plantavam e colhiam.
Abaré havia aprendido sobre agricultura com os brancos e ensinou o que sabia, aos parceiros de trabalho.
Com tempo, foram construídas casas para os agregados.
A propriedade tornou-se próspera e Abaré passou a negociar com os comerciantes do lugar.
Foi numa dessas tratativas infrutíferas que a família foi amaldiçoada.
E Abaeté agora concluía com a irmã, a tarefa que fora iniciada ainda por seu pai.
Thereza passou a lecionar para as crianças da fazenda.
Afinal alguém precisava iniciá-las no mundo das letras.
Abaeté providenciou cadernos e livros.
Os índios mais velhos, comentaram que se tratava de uma boa família, pois lhes proporcionara abrigo trabalho, e acesso a coisas que jamais conseguiriam, não fosse pelo auxílio primeiro dos pais, e depois dos filhos, Abaeté e Thereza.
Um velho índio dizia se tratar de coisas caras, e que mesmo nas famílias mais abastadas, nem todos tinham acesso àquilo.
Abaeté concordava, dizendo que nem todos sabiam ler.
Eles mesmos foram alfabetizados por seus pais.
Carolina dizia que por conta da teimosia de seus pais, passou muito tempo privada do acesso aos livros, sempre recebendo recriminações quando tentava driblar a vigilância, principalmente da mãe.
Dizia a Abaré que não queria que nenhum filho ou filha seu fossem privados do acesso ao mundo dos livros.
O índio não opôs resistência ao fato da mulher querer educar Thereza e Laura, ensinando-lhes a ler e a escrever.
E assim, os filhos do casal foram educados e ensinados a entender diferentes culturas como a europeia e a indígena e a conviver com a ambas.
Sabiam dos rituais indígenas, de suas lendas, da sabedoria e do poder curativo das ervas.
Mas também frequentavam as missas dominicais.
Vestiam trajes ocidentais.
As moças sabiam cantar, bordar, tecer, fazer artesanatos, e liam bastante.
Tinham uma boa noção do saber humano.
Por conta da educação liberal que oferecia as moças, o homem por diversas vezes foi criticado.
Mas o índio não se importava.
Dizia que com o tempo, todos se convenceriam de que uma boa educação era a melhor herança que poderiam deixar aos filhos.
Argumentava que com ela, seus filhos poderiam melhor administrar os bens que receberiam como herança.
E de fato, quando Thereza e Abaeté se viram sozinhos no mundo, por diversas vezes precisaram fazer uso do que os livros lhes ensinou.
Thereza costumava oferecer conselhos ao irmão.
Foi aconselhado por ela, que o rapaz resolveu investir em escolas.
Abaeté por fim, casou-se com Helena, bela jovem, instruída e letrada.
Thereza que vivia na propriedade que herdara dos pais, aconselhou o irmão a construir uma moradia para ela.
Argumentou que como recém-casados que eram, precisavam de uma casa somente para eles, que pudesse agregar toda a sua descendência.
Abaeté tentou argumentar, disse que a moça ficaria muito só.
Thereza porém insistiu.
Dizia que eles sim, precisavam ficar a sós, e que havia gente demais na casa.
Abaeté com o tempo, percebendo que a irmã tinha razão, concordou em construir uma boa casa para ela.
A moça, auxiliou o irmão nos preparativos para o casamento.
Auxiliada pela mãe de Helena, mestra em organizar festas, prepararam uma bonita celebração próxima do casarão.
Abaeté exigiu que a festa fosse organizada em sua fazenda.
Por conta disto, a moça, em companhia da mãe, visitou o lugar por diversas vezes.
 Abaeté sempre sob o olhar vigilante de Dona Eurídice, levava a jovem para breves caminhadas.
Mostrava-lhe os campos gerais, apontava-lhe o casarão.
Em uma oportunidade mostrou a casa.
Helena encantou-se com a construção.
Disse que nunca havia visto algo que era mesmo tempo tão lindo e tão singelo.
Abaeté cheio de orgulho, comentou que sua morada não era das mais luxuosas da região, mas com certeza era muito bela e acolhedora.
O moço percebeu que Helena se encantou com a construção.
Em conversas com a irmã, chegou a se perguntar se Helena iria se acostumar com a simplicidade do lugar, logo ela que estava acostumada com tanto luxo e requinte.
Thereza, tentando tranquilizar o irmão, dizia que ela havia aceitado se casar com ele.
Argumentou que ela conhecia suas origens.
Que conhecia ainda que de vista, sua propriedade, e que haviam muitos comentários sobre o modo que viviam.
Quanto a isto, Abaeté demonstrou profunda preocupação.
Disse que as pessoas costumavam inventar muitas histórias.
Comentou ter tomado conhecimento de que as pessoas diziam que todos ali viviam em ocas, adotando costumes selvagens.
Ao ouvir isto, Thereza chegou a esboçar um sorriso.
Comentou que as pessoas diziam muitas bobagens.
Ressaltou porém, que Helena não era uma pessoa ignorante, e portanto não compartilhava daquelas ideias atrasadas.
Insistia para que o irmão não ficasse preocupado.
Abaeté estava feliz por saber que a sinhazinha havia gostado da propriedade.
O moço costumava chamá-la de sinhazinha.
Eurídice embora não tenha concordado com o namoro no início, com o tempo, passou a gostar da ideia.
Com o tempo passou a perceber que o jovem era inteligente, vindo a adquirir mais terras.
Certa vez chegou a comentou com Otacílio que a filha iria fazer um ótimo casamento.
Mencionou que o moço iria ficar mais rico que qualquer fazendeiro da região.
Rindo, Otacílio comentou que provavelmente, até mais rico do que ele.
Mencionou que o rapaz não era o marido que sonhou para a filha, mas que ele havia mostrado seu valor.
Argumentou que o índio não vivia como um selvagem, e que a família levava uma vida digna.
Com efeito, na festa de casamento, todos fazendeiros da região estavam presentes.
Para a festividade, o moço mandou abater um boi que seria servido aos convidados.
A festa durou dois dias e foi registrada no diário da irmã.
Tradição cultivada por todas as mulheres da família.

O primeiro filho casal nasceu morto, para desespero de Helena, quechorava desesperada.
Aflita, segurava o filho nos braços tentando revivê-lo.
Em vão.
Coube a Thereza, a dura tarefa de convencer a mulher, que seu filho estava morto e que precisava ser enterrado.
Abaeté chorou escondido.
Temia que de fato a maldição se abatera sobre a família.
Aflito, chegou a procurar um pajé.
Disse que tentaria por todos os modos desfazer a maldição.
E passou a vida inteira tentando.
 Quando Helena engravidou pela segunda vez, o moço ficou preocupado.
Feliz, mas temeroso do que poderia ocorrer no parto.
Por conta disto pedia a todos que rezassem por Helena.
Abaeté também rezava escondido.
Somente quando a mulher deu luz a uma filha nasceu forte e saudável, o moço deixou um pouco de lado suas preocupações.
A criança se chamaria Carolina, em homenagem a sua mãe.
Dois anos depois tiveram outra filha de nome Eurídice.

A este tempo Thereza vivia sozinha em casa próxima a sede da fazenda.
Nestes tempos, um tropeiro se arranchara pelo lugar.
Auxiliava nas lidas da fazenda.
Ajudou a reformar o celeiro, entre outras instalações da propriedade.
Gostava de cantigas e de contar as histórias de suas viagens pelo mundo.
Era valente, e trazia uma espingarda consigo.
Certo dia, ao ver Thereza sair para cavalgar, resolveu ir a seu encontro.
A moça cavalgou em direção a um rio, e lá apeou do cavalo, deixando-lhe beber um pouco de água.
Acariciou o animal, rindo e perguntando-lhe se estava com sede.
Nisto o tropeiro chegou, observou a moça de longe.
Depois de algum tempo, a moça percebeu a presença do peão.
Por um momento assustou-se.
O homem ao notar o susto da moça, pediu-lhe desculpas.
Disse que não tivera a intenção de assustá-la.
Argumentou que estava apenas se certificando de que estava tudo bem.
Thereza então, recuperando-se do susto, comentou que estava tudo bem, e que não havia com o que se preocupar.
Nisto, montou em seu cavalo e partiu.
Mas tarde o moço bateu a porta da moça.
Thereza admirou-se com o gesto.
Tarcísio então procurou se desculpar, dizendo que seus modos era horríveis e que não tivera a intenção de assustá-la.
A moça argumentou que estava tudo bem, e que já havia se esquecido do ocorrido.
Nisto o homem insistiu para que lhe dissesse que estava perdoado.
Thereza então disse que sim.
Estava desculpado.
Contudo pediu para que não mais a seguisse.
Abaeté se preocupava com seu futuro, e dizia que precisava casar-se.
A moça retrucava dizendo que no momento certo, apareceria alguém.
O rapaz porém, dizia que aquilo não estava certo, e com isto informou-a que iria procurar algum pretendente para ela.
Ao ouvir isto, Thereza protestou, em vão.
Sabia que Abaeté não desistira facilmente de seu intento.
E nisto, o jovem soube, em conversas com o sogro, que vários moços a viram na festa de casamento
da família, com seu vestido de rendas e cabelos presos em uma diadema de esmeraldas.
Otacílio disse que todos ficaram encantados com a moça.
De fato, Abaeté recordou-se que Thereza foi convidada para dançar com vários deles.
 Com a morte dos pais, o rapaz se sentiu na incumbência de cuidar da irmã.
Helena via com bons olhos o cuidado de Abaeté com a irmã Thereza.
Thereza contudo, por vezes reclamava dos cuidados.
Nisto a moça foi convidada para diversos almoços na sede da fazenda.
Neles, sempre havia algum parente de Helena.
Invariavelmente nestas ocasiões Helena e Abaeté mencionavam as qualidades do convidado e também exaltavam as habilidades domésticas de Thereza.
Mas a moça não se impressionava com os convidados.
A certa altura, passou a inventar desculpas para não participar dos almoços.
Abaeté, aborrecido com o jeito desinteressado da irmã, alertou-a para que escolhesse logo um pretendente, ou então, ele o faria.
Nisto, a moça passou a se entreter em conversas com o primo intelectual de Helena.
O moço havia demonstrado interesse na jovem, mas tímido, não ousou se apresentar.
Tarcísio, ao tomar conhecimento dos encontros da moça com o rapaz, ficou deveras incomodado com a história.
Braço direito de Abaeté, o moço passou a auxiliar o rapaz na administração da fazenda.
Com o tempo, acabou se estabelecendo no lugar.
Alegando estar cansado daquela vida sem pouso certo, o moço acabou por encontrar acolhida na fazenda.
Abaeté sempre precisava de braços para o trabalho, e a ajuda de Tarcísio era mais que bem vinda. Com o tempo, Abaeté construiu uma casa para o homem.
Os índios construíram uma pequena e confortável casa para o rapaz.
Certa vez, vendo a moça lendo um livro, o jovem resolveu se aproximar.
Curioso, perguntou-lhe o que estava lendo e Thereza respondeu que tratavam-se de poemas brasileiros.
Animado, o moço começou a declamar um poema de Camões.
A mulher, ao ouvir as palavras do moço, perguntou se ele conhecia poesias.
Tarcísio respondeu-lhe que sim.
Argumentou que havia muitas coisas que as pessoas não sabiam a seu respeito.
Thereza então perguntou-lhe o que mais sabia de poesia.
O moço então, comentou que gostava de muito de algumas poesias de Castro Alves.
Dizia que o fervor de sua poética o encantava.
Thereza achou graça nas palavras do moço.
Afinal nas lidas diárias, nunca notou refinamentos no modo de se expressar do rapaz.
Pelo contrário.
Inicialmente o considerou rude.
Como boa parte dos trabalhadores da fazenda.
O moço ao ser apresentado a moça, encantou-se com o jeito simples da moça, sua beleza delicada e seu ar reservado.
Thereza por sua vez, cumprimentou-o com um leve movimento vindo logo em seguida, a retirar-se do ambiente.
Por diversas vezes o homem a viu passar roupas.
Tecendo cestas, bordando e lendo.
Abaeté dizia a Tarcísio para que não se enganasse com a irmã.
Embora por vezes se parecesse uma camponesa, tratava-se de uma dama.
O homem distraído, chegou a comentar que era uma bela dama. 
Abaeté ao ouvir isto, recomendou-lhe que mantivesse distância da moça.
Argumentou que Thereza era solteira, mas que dentro em breve iria se casar, e não ficaria bem ser vista ao lado de um homem com o qual não era comprometida.
Tarcísio desculpou-se.
Disse que não fora sua intenção desrespeitar Thereza.
Argumentou que tinha um profundo respeito pela moça.
Tarcísio estava feliz por finalmente haver prendido a atenção da moça.
Nisto, percebendo que precisava manter a conversa, pediu licença para ver o livro que estava lendo.
Thereza então entregou-lhe o livro, que Tarcísio tratou logo de segurar.
Aproveitando a oportunidade, o moço segurou de leve a mão da moça.
Com isto, pegou o livro e passou a folheá-lo.
Olhando as páginas, escolheu aleatoriamente uma poesia de Casimiro de Abreu, na qual dizia que simpatia era quase amor.
Ao término da leitura, a moça elogiou-o.
Disse-lhe que declamava bem.
Demonstrava com exatidão, a emoção do poema.
Tarcísio agradeceu fazendo gestos de mesura.
Thereza achou graça.
Nisto, Tarcísio se afastou.
Prometeu que no dia seguinte, mostraria seus livros de poemas para a moça.
Com efeito, conforme prometido, Tarcísio apresentou uma série de livros.
Em alguns deles, várias poesias de Camões.
Conhecendo alguns poemas de cor.
Thereza elogiava os poemas.
Encantou-se com os livros do rapaz.
Quando viu uma das obras do moço, comentou que tentou muito comprar o livro, mas não conseguiu encontrá-lo.
Nisto, o moço entregou-lhe o livro.
Disse-lhe que poderia ler e depois devolvê-lo.
A jovem tentou recusar a oferta, mas Tarcísio insistiu.
Disse que ficaria ofendido se ela recusasse o empréstimo.
Sem jeito, a moça concordou.
Thereza interessada no texto, leu a obra em poucos dias.
E assim, no final da tarde, como sempre fazia, o moço apareceu na frente de sua casa.
Perguntou-lhe como ia.
Thereza respondeu-lhe que estava bem.
Nisto, pediu licença ao moço dizendo, que iria buscar algo.
A seguir, voltou com o livro do moço.
Disse que havia lido e gostado muito.
Razão pela qual o estava devolvendo.
Tarcísio, então, perguntou se a moça havia gostado de verdade da obra.
- Muito! - respondeu a moça.
Percebendo isto, o rapaz disse que se havia gostado tanto assim de ler o texto, deveria ficar com o livro.
Thereza retrucou que não poderia aceitar um presente seu.
Mencionou que não ficaria bem.
Tarcísio então, utilizou-se do recurso de que ela não precisaria dizer a ninguém que o livro não era seu.
Argumentou que ficaria sendo um segredo de ambos.
Thereza tentou retrucar, mas o moço respondeu que ficaria ofendido se ela recusasse o presente.
Sem alternativa, a moça ficou com o livro.
Nisto, começaram a se cumprimentar, e ao final das tardes sempre trocavam algumas palavras.
Quando Abaeté soube disso, chamou a irmã para uma conversa.
Repreendeu-a.
Argumentou que não ficava bem para alguém que estava quase noiva, ficar de conversa com um perfeito estranho.
Thereza argumentou então, que Tarcísio não era um estranho e sim seu braço direito.
Abaeté então respondeu-lhe que o moço era sim, seu braço direito na fazenda, mas que isso não se estendia a irmã, que devia ser respeitada.
Thereza ao ouvir isto, disse que em nenhum momento fora respeitada pelo moço.
Pelo contrário, mencionou que não havia nenhum problema em se cumprimentar um conhecido, tendo em vista que sempre cumprimentou os agregados da fazenda.
Abaeté retrucou dizendo que aquela situação era diferente.
Mencionou que foram vistos sozinhos.
Acrescentou que ela estava praticamente noiva do primo de Helena, e que o rapaz poderia não ver aquela amizade, com bons olhos.
Thereza ao ouvir isto, disse que não estava comprometida com ninguém.
Disse que não prometera nada a Angelo.
Abaeté, ao ouvir as palavras da irmã, ficou muito nervoso.
Não fosse a intervenção de Helena, e o moço teria esbofeteado a irmã.
Perplexa, a moça argumentou com o marido, que ele havia prometido aos pais, cuidar da irmã.
Neste momento, o moço parou.
Ficou com o braço erguido, suspenso no ar.
Thereza, encolheu-se procurando se proteger da agressão.
Por fim, o moço pediu a irmã para ir embora, acrescentando que mais tarde conversariam sobre o futuro noivado.
Thereza, ao ouvir as palavras do irmão, ficou profundamente contrariada.
Mas atendeu ao pedido do irmão, retirando-se da sala.
Nisto, voltou para casa.
Abaeté então, descendo o braço, observou a esposa, que o olhava assustada.
Comentou que ela não deveria interferir na conversa.
Helena então, percebendo que o marido estava mais calmo, pediu-lhe desculpas.
Argumentou que tinha conhecimento de seu erro, mas que não o havia reconhecido.
Abaeté então, percebendo que havia se excedido, pediu desculpas a esposa.
Prometeu-lhe que nunca mais levantaria o braço a irmã.
Disse que iria cuidar dela, mesmo que ela não aceitasse seus cuidados.
Com isto, tornou a conversar com Thereza.
Disse-lhe que Angelo estava interessado em formalizar o enlace, que havia conversado com ele e demonstrado interesse em desposá-la.
Tentando convencer a irmã de que se tratava de um ótimo casamento, comentou que iria fazer benfeitorias em sua morada, ampliá-la, para que pudesse viver com conforto no imóvel.
Rindo, comentou que já estava na hora de ter sobrinhos.
Thereza, ao ouvir as palavras do irmão, disse que não interessada em Angelo. Argumentou que não gostava dele o suficiente para se casar.
Mencionou que tinha apenas carinho por ele.
Abaeté enervou-se.
Ficou tão nervoso que Thereza pensou que ele iria bater-lhe.
Mas o índio, lembrando-se da promessa que fizera a esposa, procurou se acalmar.
Percebendo o ar assustado de Thereza, pediu para que ela se sentasse.
Insistiu em dizer que não iria lhe bater.
Com isto, acrescentou que não poderia obrigá-la a se casar com Angelo.
Disse apenas para que continuasse a conversar com ele.
Abaeté mencionou que o rapaz era um ótimo partido, e casando-se com ele, iria se tornar uma grande proprietária de terras.
Disse que a família do rapaz tinha terras em outros estados, e que ela se casando com ele, poderia conhecer outras paragens.
Thereza sem alternativa, concordou com o irmão.
E assim, continuou a se encontrar com Angelo, nos almoços organizados pela família.
Conversavam sobre livros.
Angelo falava sobre as viagens que fizera.
Sobre a Europa, e seu desenvolvimento.
Thereza tentava se mostrar agradável.
Tarcísio certa vez, ao perceber o ar de contrariedade da moça, quando era citado o nome de Angelo, perguntou-lhe por que continuava a se encontrar com o rapaz se não gostava dele.
A moça, ao ouvir isto, tentou retrucar, mas Tarcísio lhe disse que percebia em seu semblante que ela não estava satisfeita com o compromisso.
A jovem, intrigada, perguntou-lhe como sabia do noivado.
Tarcísio comentou aborrecido, que Abaeté fez questão de contar a todos na fazenda sobre o noivado.
Thereza por seu turno, respondeu ao rapaz que tentou não aceitar o noivado, mas Abaeté chamou o moço, e seus pais para um almoço.
Recordou-se que o irmão a chamou para um canto e avisou-a de que se tratava de um almoço de noivado, que os pais do moço haviam concordado com o compromisso.
Falou-lhe que havia tido muito trabalho para organizar aquele encontro, e que ela não iria desmenti-lo.
Advertiu-a de que se discordasse do ajuste, a mandaria para um convento, de onde não mais sairia.
Por isto, sorrindo, comentou que ela devia aceitar o noivado.
Acrescentou que Angelo lhe tinha verdadeira adoração, e que ninguém teria tanto apreço por ela quanto ele.
Thereza ao ouvir as palavras do irmão, ficou estática.
Lívida, disse que precisava se sentar.
Helena, ao ver a cunhada pálida, chamou uma das criadas da casa.
Pediu-lhe para que providenciasse água para a jovem.
Thereza então, tentando se recompor, bebeu o líquido.
Abaeté impaciente, disse que a aguardaria na sala.
Dos olhos de Thereza, saíram lágrimas.
Helena ao perceber a tristeza da moça, pediu-lhe para que se acalmasse.
Pedindo desculpas a jovem, disse que não conseguiu demover o marido da ideia.
Thereza argumentou que não estava mais reconhecendo Abaeté.
Helena por sua vez, acrescentou que às vezes o marido parecia nervoso, e por conta da proposta de se candidatar a um cargo político na região, estava negligenciando a família.
Dizia que o moço passava poucas horas com a família.
Contudo, aconselhou-a não resistir a ideia.
Disse que ela fizesse algo para atrapalhar o almoço e o noivado, Abaeté cumpriria a ameaça. Argumentou que aquele não era o melhor momento de enfrentar o moço já que ele tinha a sua tutela.
E assim, Thereza acabou aceitando o pedido de noivado.
Tarcísio, ao tomar conhecimento dos fatos, ficou inconformado.
Mencionou que Abaeté estava diferente.
Disse que a possibilidade de poder, o havia mudado.
Nisto o homem se aproximou da moça e a abraçou.
Certo dia, ao vê-la em prantos, Tarcísio se aproximou da moça, que a todo custo tento afastá-lo.
Dizia que queria ficar sozinha.
Tarcísio não a ouviu, e continuou seguindo-a.
A seguiu a cavalo até o ribeiro.
Lá desceu do cavalo.
Tarcísio seguiu a moça.
Apeou do cavalo.
Acompanhou a jovem.
Thereza continuou a chorar.
Tarcísio a abraçou.
Ao se dar conta do que estava acontecendo, a moça se desvencilhou dos braços do homem e saiu correndo.
Tarcísio correu atrás da moça.
Em dado momento, a jovem se desequilibrou.
Tarcísio a amparou.
Ao segurá-la nos braços, o moço a beijou.

Quando Abaeté soube do envolvimento da moça com o forasteiro, encolerizou-se.
Furioso, começou a quebrar louças.
Destruiu a sala do casarão.
Helena e Thereza, assustaram-se com a atitude intempestiva do homem.
Abaeté a certa altura gritou para que fossem para o quarto e que o deixassem sozinho.
Quando finalmente se acalmou, o homem chamou Thereza comentando que havia tomado conhecimento de que mesmo noiva, estava se encontrando com o moço.
Exigiu que a moça lhe contasse toda a verdade.
Thereza confirmou.
Disse que estava gostando do moço.
Abaeté ao ouvir isto, deu um murro no tampo de madeira da mesa da sala de jantar.
A moça assustou-se.
Tremendo, disse que precisava desfazer o noivado.
Abaeté disse-lhe que estava proibida de tomar qualquer atitude sem o seu consentimento.
A moça argumentou que não poderia mentir a Angelo.
O rapaz disse que precisava conversar com Angelo, mas que quem deveria ter esta conversa com o moço, era ele.
Nisto, o homem disse que ela iria arrumar suas coisas pois iria voltar a morar com ele.
Quando Angelo soube do envolvimento de Thereza com um agregado da fazenda, disse que sua honra havia sido manchada e que precisava reparar a desonra.
Abaeté, tentando amenizar a situação, disse que Thereza não se entregara ao homem, mas que entenderia o desfazimento do compromisso.
Disse que a moça não se portara de forma digna.
Mencionou que a irmã seria levada para um convento, de onde não mais sairia.
Angelo argumentou que isto era muito pouco.
Mencionou que devia desafiar o moço para um duelo.
Nervoso, insistiu para que Abaeté declinasse o nome do homem que desonrara sua noiva.
O índio relutou em fornecer a informação.
Angelo irritado, disse ao índio, que aquela mistura de branco com índio, não poderia realmente resultar em boa coisa.
Por fim, disse que descobriria o autor do mal feito, e que iria matá-lo.
Recomendou que Thereza ficasse enclausurada, ou teria igual destino.
Com isto, saiu da estância.
Abaeté, foi a procura de Tarcísio.
Disse-lhe que já o advertira, para que não se aproximasse da irmã em duas oportunidades.
Tarcísio comentou que não pode obedecê-lo.
Argumentou estar apaixonado pela moça.
Conversando com o índio, confessou que se encontraram por diversas vezes.
Escondidos.
Mencionou que já sabia da intenção do moço em levar Thereza para um convento.
Comentou que a moça não tinha vocação religiosa.
Argumentou que em havendo necessidade, poderia partir, levando a moça consigo.
Abaeté, percebendo a sinceridade do moço, por um momento, chegou a pensar na possibilidade.
Mas depois, analisando melhor os fatos, argumentou que não seria seguro.
Relatou que Angelo provavelmente já sabia ser ele o amante de Thereza, e que saindo juntos da fazenda, certamente se denunciariam.
Tarcísio concordou.
Abaeté, percebendo que precisava proteger a honra da irmã, exigiu que o moço se comprometesse a casar com Thereza.
Tarcísio prometeu.
O tempo porém, não foi generoso com o casal.
Tarcísio, ajustado com Abaeté, comprometeu-se a partir da propriedade.
Muito embora relutante, o moço partiu.
Nunca mais souberam do jovem.
Thereza ficou a esperar por Tarcísio, mas Abaeté, percebendo que o moço não mais voltaria, decidiu levar a irmã para um convento.
Neste ínterim, o pai de Angelo, advertiu-lhe que sua família não seria mais recebida em sua casa. Comentou que jamais voltaria a pisar os pés na estância.
Angelo, exigiu que a moça fosse levada para um convento.
Seu pai, Otacílio, relatou que não competia a ele decidir a sorte da moça, que já estava lançada.
Argumentou que o melhor era que não houvesse escândalo, pois de um fato desses, não era somente a mulher que saía prejudicada.
Angelo ao ouvir as palavras do pai, calou-se.
Nisto, Otacílio comentou que justificaria o desfazimento do casamento, pelo fato da moça encontrar-se doente, precisando se recolher em lugar isolado.
Abaeté concordou em confirmar a história.
Pediu desculpas ao homem e a seu filho, e disse que Thereza sofreria as consequências de seu ato.
Mais tarde, o índio tomou conhecimento de que Angelo desposou uma filha de estanceiros das proximidades.
Abaeté, resolvido a levar a moça para um convento, recomendou-lhe que arrumasse suas malas.
Thereza tentou demover o irmão do intento, em vão.
As coisas só mudaram, quando a moça descobriu-se grávida.
Abaeté, ao tomar conhecimento do fato, ameaçou bater em Thereza, mas ao se lembrar da promessa feita a esposa, se conteve.
Nisto, respondeu a moça, que não a considerava mais sua irmã.
Bradou que a jovem havia envergonhado toda a família.
Thereza tentou argumentar, em vão.
Escapou da vida de clausura de um convento, mas foi levada para longe dali.
Longe dali deu luz a Adélia.
Abaeté, ao tomar conhecimento do nascimento da moça, tratou de registrar a criança como filha legítima de Thereza.
Afastada há tempos da fazenda, comentou que a mulher enviuvara.
Tempos depois, regressou a estância.
Recebida pelo irmão e pela cunhada, a moça passou a morar em uma casa afastada da fazenda.
Lá criou a filha, que cresceu na companhia das primas Carolina e Eurídice.
Mas Thereza passou a viver afastada da família.
Não participava das festas da família, a exceção da filha, sempre muito bem recebida pelos tios.
Abaeté tinha verdadeira adoração pela sobrinha.
E a bela Thereza vivia das lembranças de Tarcísio.
Por anos a fio, acreditou que o homem voltaria para buscá-la.
Contudo, conforme o tempo passou, percebeu que o homem não voltaria.
Certas vezes,chegou a pensar que poderia estar morto.
Em outras, que não passava de um aventureiro que não tinha respeito por ninguém.
Decepcionou-se com o moço.
Abaeté, por fim, depois do ocorrido com Angelo, não manifestou mais interesse em arranjar um pretendente para Thereza.
Alguns homens se interessaram pela jovem, mas Thereza não parecia interessada em relacionar com mais ninguém.
Abaeté também não incentivava as investidas dos homens.
E assim a bela Thereza deixou de usar tranças com fitas de cetim e flores, para prender os cabelos em um coque.
 Por vezes Abaeté aparecia em sua casa para lhe pedir conselhos.
O homem fora eleito prefeito da cidade.
Investiu em melhorias no lugar.
Helena engravidou por duas vezes, e nas duas gravidezes, perdeu os filhos que esperava.
Por fim, engravidou novamente, dando luz a um menino, que morreu de tosse comprida, poucos dias depois de nascer.
Tais fatos, abateram o homem, que a se reaproximou da irmã.
Thereza sempre esteve por perto nos momentos de infortúnio, amparando Helena e confortando-a.
Abaeté era grato a irmã por isto.
Admirava a amizade das duas mulheres.
Dizia que iria gostar de ter uma amizade assim.
Nisto, Adélia foi crescendo e se transformou em uma moça, ainda mais bela que a mãe.
Abaeté gostava de dizer que a irmã nascera com a beleza do sol e da lua, mas que Adélia herdara ainda mais beleza, abrangendo o firmamento com o sol e a lua, além de todas as estrelas do céu.
Helena achava graça nas palavras e Abaeté.
Para as filhas, dizia que herdaram a beleza clássica da mãe.
Adélia porém, era mais parecida com Thereza, possuía a tez morena, e alguns traços que faziam lembrar sua origem indígena.
Circunstância que encantava Abaeté.
Com efeito, Adélia era tratada como uma filha.
Adélia, sobrinha de Abaeté, herdara o jeito reservado da mãe.
E assim como a mãe, fora criada nas lidas domésticas, sabia cozinhar, costurar, bordar, fazer artesanatos.
Além de tudo lia e também ensinava os jovens do lugar a percorrer o mundo das letras.
Dizia que era mundo de encantamento.

Ataíde se interessou pelo o jeito da moça.
Discreta e reserva mas sempre ativa.
Participava dos trabalhos da fazenda. Seguia com as agregadas da família para lavar as roupas no rio.
Ataíde chegou a comentar que a moça não precisava fazer aquilo, que poderia contratar escravas para fazer o trabalho.
O homem chegou a comentar isto com a jovem certa vez.
Adélia ria.
Dizia estar acostumada.
Argumentou que gostava de cuidar da casa.
Envolveram-se, e tiveram uma filha, de nome Rosália.
Para todos os efeitos, a criança foi registrada como filha legitima.
Foi esta jovem, que resolveu vender as terras de seus antigos ancestrais, e seguindo ao lado daquele que acreditou ser seu companheiro de vida, seguiu rumo a outro Estado.

Nascida na última década do século dezenove, a moça, ao lado do amante aventureiro, estabeleceu moradia em velhas terras do Valongo.
O local tem este nome, por ali se encontrar um antigo mercado de escravos.
E as terras do Valongo deram origem a uma vistosa fazenda.
O moço militar, porém, foi convocado para conter algumas das revoltas ocorridas naqueles tempos, não mais regressando ao lugar.
Carolina nasceu por volta de 1912.
Filha de Rosália e Olavo, a criança nasceu longe do pai, que partira para longínquas plagas, convocado para conter uma revolta em terras do sul.
Conflito armado em terras limítrofes de dois estados por terras.
Os camponeses, estabelecidos nas propriedades não possuíam documentos regulares que comprovassem a posse com escrituras.
Estes homens diziam que ocorreram fraudes nos registros e que por este motivo não tinham com comprovar a posse, ou melhor, a propriedade das terras.
Diziam que estavam ali há décadas, que ali nasceram seus filhos.
Alguns possuíam até netos nascidos naquelas terras.
E nenhum deles estava disposto a abandonar o local.
Na região também havia líderes religiosos, que viviam vida simples, praticavam curas.
Os moradores do local, chegavam a fazer menção de milagres ocorridos.
Como a historia de uma moça que fora encontrada morta pelo monge José Maria, e que foi ressuscitada por ele.
Os caboclos eram muito gratos ao religioso.
Muitos contavam histórias de curas, e de como eram administradas ervas curativas.
Quando Olavo chegou àquelas paragens, a revolta estava armada.
O conflito se agravara com o progressão da construção da estrada de ferro na região.
Em conversas com os funcionários da Ferrovia, descobriu que o governo havia declarado que se tratavam de terras devolutas.
Os funcionários atônitos não sabiam mais o que fazer.
Circunstância que culminou com a convocação de soldados para a região dos conflitos.
Olavo era um deles.
Conversando com os funcionários da ferrovia, descobriu que muitos foram demitidos e debandaram para os lados dos camponeses, seguindo a seita criada pelo monge, de que o jovem já havia ouvido falar.
Ataíde estava impressionado com o poder de convencimento do monge.
Em conversas, descobriu que o mesmo levava vida simples, tendo recusado a oferta de terras e de dinheiro pela cura da esposa de um fazendeiro.
Por se tratar de um militar, o moço não era bem visto pelos camponeses da região.
As primeiras lutas foram sangrentas, com diversas mortes para ambos os lados, que sofreram com as baixas.
Na batalha do Banhado Grande, morre o Coronel João Gualberto que liderava as tropas.
Era uma tentativa de fazer os insurretos regressarem a Santa Catarina.
E o monge tem sua primeira vitória.
Olavo e outros militares, auxiliam no resgate dos feridos, e tratam de traçar estratégias de batalha, junto as lideranças que restaram.
Com efeito, a morte do coronel é comunicada através de telegrama para o Marechal Hermes da Fonseca.
Este acontecimento acirrou ainda mais os ânimos.
A esta altura, fazendeiros que estava perdendo suas terras para construção da ferrovia, passaram a se unir aos camponeses.
Com o tempo este exército informal passou a ser denominado Exército de São Sebastião.
Os camponeses, considerados insurretos, criaram uma nova ordem social.
Foram anos difíceis.
No ano do Senhor de 1914, o governo federal organizou uma grande expedição com cerca de 700 soldados para Taquaruçu, sob pretexto de contenção de um sublevação.
Operação realizada com êxito, com a destruição do acompanhamento formado, mas sem grandes perdas, pois os camponeses, percebendo o perigo, trataram logo de fugir, se instalando em novas paragens.
Com o tempo, passaram a saquear propriedades rurais, destruíram uma serraria.
Quando souberam da morte do líder religioso do grupo, muitas lideranças militares acreditavam que os revoltosos se desentenderiam e a revolta se esvaziaria.
Contudo, não foi o que o ocorreu.
Uma jovem de cerca de quinze anos de idade, de nome Maria Rosa, assumiu o dom do profeta.
Com sua morte, dizia ouvir sua voz, e que faria cumprir suas determinações.
Foi o bastante para se tornar a líder espiritual do grupo.
Os campônios costumavam dizer que a jovem combatia montada em um cavalo branco, com arreios forrados de veludo, vestida de branco, e com flores nos cabelos e no fuzil.
Tornando-se uma figura mítica e admirada até por quem não a conheceu.
Segundo diziam, tratava-se de uma linda jovem, destemida e corajosa.
Depois da derrota em Taquaruçu, os revoltosos se instalam em Caraguatá.
Foram muitas lutas e batalhas perdidas para o exército, operações mal sucedidas, até que as coisas mudassem para os militares.
O General Carlos Frederico de Mesquita, após algumas batalhas ganhas, e com a dispersão dos revoltosos, chegou a considerar o conflito encerrado.
Errou por precipitação, pois os revoltosos dispersos se reagruparam, organizando-se em Santa Maria, atacando Curitibanos e ameaçando outras localidades, fazendo com que a população fugisse em desespero.
Com o tempo, novas lideranças passaram a elaborar novas estratégias de guerra.
Neste tempo, o general Fernando Setembrino de Carvalho, passou a evitar o confronto direto cercando os insurretos e deixando-os sem comida.
Foi o suficiente para que alguns jagunços se rendessem.
Adeodato porém era implacável e aplicava pena de morte a todos os que ameaçassem se render.
Com o tempo, os jagunços passaram a lutar entre si.
Novos ataques aconteceram com muitos mortos e ferido entre os militares.
O capitão Tertuliano Potyguara, encaminhando-se com seus homens para Santa Maria, acabou por sofrer uma emboscada onde houve a perda de vinte e quatro vidas.
Neste conflito, faleceu Olavo, deixando Rosália, com uma filha para criar.
A mulher, tomar conhecimento da convocação, pediu, insistiu para que o mesmo não fosse.
Olavo argumentava dizendo que não poderia deixar de ir, ou estaria desertando.
Mencionou que já havia abandonado sua família, e pedido baixa no exército para reorganizar sua vida.
Contudo, argumentou que não poderia ficar afastado do exército.
Mencionou que vinha de uma família de militares.
Rosália respondeu-lhe que havia enfrentado sua família, desafiando sua mãe Adélia.
Argumentou que o caminho que escolhera não tinha volta, e que não gostaria de ficar sozinha nas terras que tanto lutaram para adquirir.
Rosália vendera as jóias que trouxera consigo e Olavo, possuía uma soma em dinheiro que usaram para adquirir as terras do Valongo.
Juntos cuidaram das terras.
O dinheiro contado, foi o suficiente para comprar as terras e construir uma moradia.
Com o tempo, se tornou um casarão.
Moradia que serviu de pouso para o jovem militar, que faleceu em campo de batalha.
Com efeito, o corpo foi trasladado para a propriedade e o moço foi sepultado como herói, com direito a honras militares.
Carolina não conheceu o pai, mas Rosália não se cansava de enaltecer a memória do jovem militar morto para a filha.
Trazia a foto do moço, em um porta retrato pesado, que mostrava constantemente para a filha.
Carolina tinha em suas memórias a figura de um jovem em trajes militares, galhardamente fardado, montado em um cavalo imponente.

Com efeito, alguns meses transcorreram entre a morte dos homens e o desfecho da revolta.
Em seguida houve um novo assalto a Santa Maria, onde tudo fora destruído, habitações, com muitos revoltosos se evadindo para outras paragens.
Com efeito, em 1916, o líder Adeodato, foi encurralado, e com isto foi dado fim a Guerra do Contestado.
Carolina neste tempo já tinha quase quatro anos.
Fora a única filha de Rosália, que tratou de cuidar da fazenda.
Com tempo, a casinha simplória deu lugar a um casarão.

Carolina conseguiu ficar noiva do filho de um fazendeiro da região.
Rosália, temerosa do destino da filha, fez de tudo para que a moça arrumasse um bom casamento e não fosse mãe solteira com as demais mulheres da família.
Dizia que esta era uma mácula que precisava ser sanada.
Por vezes chegou a mencionar a maldição, para depois dizer que ali estava ali para dizer que tudo não passaria de uma bobagem, assim que se casasse.
Mas o infortúnio se fez presente mais uma vez na vida da família.
Isto porque o jovem, pretendente de Carolina,  foi atropelado ao atravessar uma estrada.
Carolina, grávida, então tornou-se mãe solteira.
Ao nascer, a criança foi registrada como filha legítima.
E assim, Carolina, tornou-se mãe de Carolina.

E Carolina, a matriarca da família, conheceu seu Adroaldo em uma festa organizada na fazenda. Criança nascida na década de trinta.
Ao tornar-se adulta, conheceu Adroaldo.
Era um rapaz elegante de modos refinados.
Foi apresentado a moça, por parentes.
Conversaram sobre amenidades, sob os olhares atentos e vigilantes de Carolina, sua mãe.
Que a todo momento observava o casal.
Carolina ria das palavras do rapaz.
Adroaldo, apoiado em um dos galhos da árvore em que a moça estava sentada, contava peripécias  sobre os tempos em que passou em São Paulo estudando, e de sua falta de habilidade para a vida no campo.
Comentou rindo que não tinha jeito com os animais, e que ao tentar montar um cavalo, quase caiu de cara no chão.
Rosália gostou do entrosamento dos dois, mas recomendou ao rapaz, quando o mesmo convidou a filha para se sentar a sombra de uma árvore, que se comportasse.
O moço cavalheiresco, assentiu com a cabeça concordando.
Carolina gostava do céu azul daqueles dias, as nuvens brancas e o sol claro.
Gostava das árvores e das flores.
E como tinha flores naquele lugar.

Com relação a isto, sua avó, costumava dizer que nas terras de sua família, não haviam tantas flores.
Lá o clima era frio, e o vento cortante.
Costumava dizer que as hortênsias e as camélias enfeitavam os caminhos da fazenda.
Também havia rosas, mas só floriam em tempos ensolarados.
Boa parte do tempo só tinham a companhia das araucárias que faziam parte do cenário.
As árvores.
Uma delas morta e cheia de buracos, provavelmente de balas.
Costumava dizer que em criança gostava de brincar perto da árvore.
Também gostava de se relembrar de Olavo, e dos tempos difíceis para formar a fazenda.
Sozinhos e quase sem dinheiro, dos tempos em que o homem foi convocado pelo exército.
Mais tarde a neta saberia, que o avô participou, de um dos movimentos mais importantes da história do país.
Carolina dizia a avó que era uma história triste e muito bonita.
A avó da jovem por sua vez, dizia que Olavo morrera lutando por algo que nem ele conseguia entender direito o que era.
Por diversas vezes a mulher mostrava as cartas que o moço lhe escrevera. Rosália – a avó dizia – que com o tempo, passou a ter criadas, e que a exemplo da primeira Carolina, que não possuía escravos, procurou cercar-se de pessoas de confiança.
Dizia que ao tomar conhecimento da morte da mãe, vendeu as terras que possuía no sul, por procuração.
Nunca mais regressou a terra onde nascera.
Sua avó gostava de falar da primeira Carolina, a matriarca.
De vez em quando gostava de mostrar uma canastra cheia de fotos e recordações dos familiares.
Documentos que vieram para suas mãos, após a morte da mãe.
Vieram em carroças, assim como a mobília que guarnecia a propriedade onde vivera a mãe e todos os seus ancestrais.
Foi assim, que mobiliou a sede da fazenda, e animada, resolveu ampliar a construção.
Após a morte de Olavo, descobriu um único objetivo na vida.
A filha Carolina, e para ela, investiu em melhorias na propriedade.
Planejava um bom casamento para a filha.
Mas um acidente interrompeu seus planos.
Abelardo foi atropelado pelo automóvel de um forasteiro.
Naquelas terras tranquilas, como imaginar que alguém viria a toda velocidade possível para um veículo.
Abelardo seguia a pé, e foi surpreendido por um automóvel.
Quando Carolina tomou conhecimento do fato, estava sentava no alpendre do casarão, bordando.
Ao avistar o capataz da fazenda, seu olhar de pesar, perguntou-lhe o que havia acontecido.
O homem então, com muita dificuldade, finalmente conseguiu revelar que seu noivo estava morto na beira da estrada.
Por um momento a moça custou a acreditar no que ouvia.
Parecia que estavam a fazer chistes com ela.
Mas ao olhar novamente para o funcionário, empalideceu.
Caiu no sofá.
O homem, aflito, ao vê-la desfalecida, entrou no casarão buscando alguém para amparar a moça. Gritava que Dona Carolina estava passando mal.
Pedia ajuda.
Quando Rosália – sua mãe – tomou conhecimento da história, ficou perplexa.
Chegou a gritar com o homem, dizendo que não se podia brincar com algo tão sério.
Como Rosendo insistisse em dizer que o corpo se encontrava inerte na estrada, Rosália finalmente deu-se conta da gravidade dos fatos.
Ao perceber que sua filha estava sofrendo, tratou de partir ao seu encontro.
Mas para o pasmo de ambos, Carolina havia sumido.
Nervosa, Rosália comentou que a filha não poderia estar longe.
Temendo que a moça tivesse se dirigido a estrada, Rosália pediu ao homem que preparasse um cavalo.
Foi quando Rosendo percebeu que haviam pego seu cavalo.
Rosália concluiu que fora a filha, e exigiu para que se apressasse, pois tentaria impedir a filha de ver o corpo do moço.
Nisto, a mulher montou no cavalo e seguiu atrás da filha.
Leal, Rosendo a acompanhou.
Seguiram a cavalo até a estrada.
Nem sinal de Carolina.
Somente conseguiram encontrar a moça, quando a mesma apeara do animal que a conduzira.
Estava próxima de um pequeno grupo que observava o corpo exposto.
Carolina então foi se aproximando e pediu licença a todos.
Os olhos estavam banhados em lágrimas.
Quando finalmente se aproximou, viu o rosto de Abelardo virado para o chão de terra.
Havia muita poeira no lugar.
Com as mãos trêmulas, tocou no terno alinhado e sujo de terra e virou o corpo.
Ao ver o rosto do noivo, soltou o corpo inerte.
Gritou horrorizada se afastando.
Quando finalmente Rosália avistou a filha, já era tarde, a moça já havia visto o corpo.
Carolina ao ver o capataz ,se aproximou e apoiando-se no homem, foi erguida.
Estava no chão.
Enquanto a erguia do solo, a moça começou a chorar.
Soluçava.
Rosália então, segurou a filha.
Carolina se desesperou.
Gritava que Abelardo havia morrido.
Nisto, percebendo que todos os observavam, recomendou que o capataz levasse a filha de volta para a fazenda.
Rosendo a amparou, fazendo com que subisse no cavalo.
Em seguida o homem também montou em seu cavalo.
Partiram.
Antes de partir, porém, a mulher perguntou se os parentes do moço foram avisados.
Rosendo disse que havia pedido a um funcionário da fazenda para avisar os pais do moço.
Rosália recomendou ao homem para que levasse a filha para a fazenda.
Exigiu que a moça não saísse de lá.
Com isto, ficou a esperar por alguém.
Afinal de contas precisava levar o corpo para a fazenda.
Foi questão de minutos para que alguém chegasse.
Rosália acompanhou o transporte do corpo até a fazenda vizinha.
Ajudou a confortar a mãe do jovem.

Dona Lisete estava inconsolável.
Rosália acompanhou o velório até tarde.
Ao chegar em sua fazenda, tratou logo de verificar com a filha estava.
Carolina dormia profundamente.
As criadas disseram que ao chegar na fazenda, a moça resistiu a ideia de ficar recolhida.
Queria muito se dirigir a fazenda e velar o corpo.
Disseram que não fosse a intervenção de Rosendo e a moça teria ido mesmo sem autorização para a fazenda vizinha.
O homem porém, se interpôs entre ela e a porta, e dizendo que sem a autorização de Dona Rosália, ninguém sairia dali, enfrentou a moça, que a todo o momento lhe dizia que ele era apenas um empregado da fazenda e não tinha o direito de lhe dar ordens.
Rosendo porém, não se deixou intimidar.
E Carolina vencida, fez menção de subir as escadas.
Como o homem não saísse de perto da porta, Carolina acabou desistindo.
Revoltada, dizia que eles não tinham o direito de fazer isto com ela.
Aflita, chegou a dizer que estava perdida.
Nisto, subiu correndo as escadas.
Trancou-se em quarto.
Rosendo, ao ser chamado para verificar a tranca, avisou que se a moça não abrisse a porta, a colocaria abaixo.
Carolina, ao perceber que o homem não estava brincando, abriu-a.
 As criadas então deixaram um prato com comida em cima de um móvel.
Como a moça dissesse não ter fome, insistiram para que tomasse um chá.
Carolina tomou a bebida, e pouco tempo depois, adormeceu.
Rosália, ao ver a filha deitada, ficou penalizada.
Desalentada pensou nos planos de casamento.
A vida a dois.
Tudo acabado.
A certa altura, precisou sentar-se para não cair.
Lembrou-se da história da praga lançada sobre a família.
Aturdida, pensou se nunca iriam se livrar da maldição.
Pensava no por quê de tanta maldade.
Tanta desdita, tanta desgraça.
Desolada, chegou a se lamentar.
Afinal tanto esforço para bem criar sua filha.
Ensinou-lhe a ler, escrever, bem como as prendas domésticas.
Criou -a como se fora uma princesa, apenas para que pudesse ter uma vida normal como as moças do lugar.
Para se casar e ter uma família.
Triste chegou a balbuciar:
- Porque conosco? Somos tão ruins assim?
Este pensamento a fez ter vontade de chorar, mas ao olhar a filha adormecida, percebeu que não podia fraquejar.
Sua filha precisava de sua força.
Mais tarde, mãe e filha seguiram para o fim do velório e enterro do moço.
Ao ver o corpo sendo velado em cima de uma mesa, com um terno alinhado, os olhos de Carolina encheram-se de lágrimas.
Ao aproximar-se do corpo, chorou sentida, e a mãe percebendo que todos olhavam penalizados, resolveu retirar a filha da sala.
Lisete providenciou água.
Também tinha os olhos inchados de tanto chorar.
Abraçou a moça e a consolou.
Por fim, o jovem foi enterrado na fazenda.
Carolina em prantos, deixou flores no túmulo do moço.
Voltaram para casa.

Nos dias que se seguiram, a moça passava boa parte do tempo dormindo.
Dormia para esquecer os problemas, a dor, o sofrimento.
A certa altura porém, precisou retomar sua rotina.
Mas Carolina a já não era mais a mesma.
Sempre que podia, ia visitar o túmulo de Abelardo na fazenda.
Estava quase sempre alheia a tudo.
Às vezes também, ficava tão entretida em suas tarefas que não percebia nada do que acontecia a sua volta.
Sentia-se muito só.
Não tinha vontade de conversar com as pessoas.
Somente as cumprimentava e se isolava.
Tal comportamento fez com que Rosália sua mãe, ralhasse com ela.
Dizia que nenhum sofrimento justificava a descortesia e a falta de consideração.
Carolina porém, não queria saber de nada.
Não prestava atenção em que sua mãe dizia.
Carolina contudo, ao notar que suas regras estavam atrasadas, desesperou-se.
 Aflita pensou que se estivesse grávida, não teria como esconder o fato por muito tempo.
Rosália, por seu turno, passou também a desconfiar.
Em dado momento, sem poder mais esconder o fato, contou a Rosália, o que estava acontecendo.
A mulher ficou furiosa.
Carolina, temerosa, pensou em arrumar uma trouxa e sair de casa.
Quando Rosália soube do intento da moça, passou-lhe uma admoestação.
Argumentou que aquela era uma ideia tola.
Perguntou-lhe onde ficaria até a criança nascer, e como faria para sobreviver sozinha e com um filho no ventre.
Mencionou que ela estaria perdida se resolvesse sair pelo mundo.
Falou-lhe que não agira de modo diferente de todas as que a antecederam, e todas encontraram uma forma digna de sobreviver ao fato, levando uma vida honrada.
Argumentou que se fugisse, aí sim estaria perdida para sempre, pois desonraria o nome de toda a família.
Ao ouvir as palavras da mãe, a moça se aquietou.
Com efeito, a criança foi registrada como se fora filha legítima.

Dona Lisete e o marido, ampararam a moça, auxiliando-a na criação de Carolina.
Chegaram a oferecer dinheiro, mas a avó da criança recusou.
Dizia que se quisessem ajudar, que se fizessem sempre presentes, legitimando a origem da criança.
Prestativos, o casal ofereceu a fazenda como moradia da moça.
Rosália, por seu turno, interveio dizendo que filha sua, ficaria em sua casa, e que sua neta, também.
Circunstância que gerou um certo mal estar não fosse a intervenção de Agnaldo dizendo que a moça estava vivendo uma situação complicada e que precisava do amparo da mãe.
Contrariada, a mulher acabou acatando o marido.
Mas sempre que podia, convidava a moça para viver em sua fazenda.
Rosália, a matriarca da família, costumava dizer que as portas de sua casa estavam sempre abertas aos amigos, e que eles na qualidade de avós, poderiam visitar a criança, sempre que pudessem e que quisessem.
Mas para Lisete, isto não era o bastante.
Queria por que queria, levar a moça e a criança para junto de si.
Mas a avó materna da criança não permitia.
Com o tempo a mulher ficou tristonha.
Rosália então, recomendou a filha que passasse alguns dias na fazenda de Dona Lisete.
Contudo, assim que a mulher melhorasse, deveria regressar.
E assim, foram meses morando em casa de Lisete.
Conforme a mulher foi melhorando, foi tentando impôr seus costumes a criança.
Dizia a Carolina que não poderia pegar a criança de qualquer jeito, que precisava continuar amamentando a criança.
A criança a esta época já tinha quase dois anos, não precisava mais ser amamentada, e Lisete palpitando em tudo.
Carolina não sabia mais o que fazer.
 A certa altura arrumou seus pertences e os da filha e comunicou a Lisete e Agnaldo que voltaria para casa.
A mulher tentou argumentar que precisava da companhia da neta, mas Carolina, com toda a brandura, disse-lhe que já estava incomodando, e que não era certo ficar tanto tempo em uma casa que não era sua.
Como Lisete insistisse para que a moça se sentisse em casa, Carolina argumentou que sentia falta de sua casa, e que se não voltasse logo para sua residência, seria ela quem acabaria adoecendo.
Agnaldo, percebendo que não teria como reter a moça por mais tempo, desejou-se um bom regresso.
Disse-lhe que dali há alguns dias, iria visitá-la.
Carolina então, foi acompanhada por Agnaldo.
Ao chegarem no casarão, foram recebidas com festa.
Dona Rosália, gostava de mimar a neta.
Dizia que a criança trouxera alegria para a casa.
Certa vez, chegou a dizer que fora a melhor coisa que aconteceu na vida de Carolina.
Rosendo certo dia, enquanto a criança brincava no descampado, observando atenta o movimento dos animais, aproximou-se de Carolina, e tímido, começou a dizer que Carolina era uma criança muito bonita e esperta.
Carolina ficou surpresa e agradecida com os elogios.
Rosendo então, enchendo-se de coragem, mencionou que admirava sua coragem em prosseguir a vida, em cuidar da filha.
Comentou que admirava Dona Rosália, por ter construído aquilo tudo praticamente sozinha.
Carolina a certa altura, perguntou ao homem, o que ele estava tentando dizer com tantos elogios.
Sem graça, o homem, chegou a dizer que a admirava, e que águas passadas não moviam moinhos.
Em dado momento, enchendo-se de coragem, o homem comentou a achava muito sozinha.
Disse-lhe que merecia ser feliz.
Em seguida, perguntou-lhe se não tinha interesse em se casar.
Carolina ficou surpresa com a pergunta.
Pensando nas palavras do moço, perguntou-lhe se não tinha medo da maldição.
Rosendo perguntou-lhe de que maldição estava falando.
A moça contou-lhe então, que nenhum relacionamento com as mulheres da família perdurava. Mencionou o curto casamento da mãe, e a interrupção de seu noivado.
Rosendo argumentou dizendo que tudo não passava de uma grande bobagem.
Carolina contudo, não estava interessada em casar-se.
Quando Rosália foi informada pela moça, do pedido de Rosendo, a mulher perguntou-lhe se estava disposta a se casar com o capataz.
Carolina respondeu-lhe que não tinha interesse em ninguém.
A mulher argumentou que sendo ainda jovem, tinha todo o direito de se casar.
Mencionou que Rosendo era jovem ainda, forte, e que seria um bom companheiro para sua filha.
Carolina comentou sobre a maldição.
Mencionou que dissera algo para ele.
Foi o bastante para Rosália passar-lhe um sermão.
Disse-lhe que ninguém na região sabia da história, e que tudo deveria continuar como estava, ou haveria o risco de terem de abandonar tudo novamente, por conta da maledicência das pessoas.
Carolina ao ouvir isto, comentou que só contara o fato de haver enviuvado cedo, e dela ter ficado por casar.
Ao ouvir isto, Carolina comentou:
- Menos mal!
Mas seria melhor que não se mencionasse a maldição.
Carolina concordou.
Rosália então, passou a fazer recomendações a moça.
Dizia que Rosendo era de confiança, um ótimo partido.
Entre outras coisas.
Mas Carolina dizia não estar interessada.
Mesmo como o passar dos anos, continuava a visitar o túmulo de Abelardo.
Fato este que fez com que Rosália se enervasse com a filha.
Dizia-lhe que o homem estava morto.
Insistia para que o deixasse descansar, e que retomasse sua vida.
Carolina tentava argumentar, mas Rosália insistia em dizer que estava errada.
Argumentava que se tivesse encontrado um outro companheiro, certamente tentaria retomar sua vida.
Contudo, dizia que ninguém mais apareceu.
Argumentou que a filha estava tendo uma boa oportunidade, e a estava desperdiçando.
Carolina a certa altura, prometeu que iria pensar no assunto.
Chegou a se pensar em noivado.
Até jantar foi preparado.
O moço vestia um bonito terno.
O casal conversou sobre amenidades ao lado de Dona Rosália.

Quando Lisete soube disto, temeu que com um provável casamento, a criança seria afastada de seu convívio.
Agnaldo tentou convencer a mulher de que estava errada, em vão.
Com isto, a mulher passou a visitar a jovem em horas inapropriadas.
Sempre que se encontrava com Rosendo, Lisete dizia que Carolina era uma boa moça, e que seria sempre fiel a seu filho, nunca colocando outra pessoa em seu lugar.
Isto aborreceu demasiadamente o homem.
Dona Lisete não perdia a oportunidade de dizer que a moça continuava a visitar o túmulo do filho.
Chegou até a dizer-lhe que verificasse isto com os próprios olhos.
Rosendo, ao vê-la levando flores para o túmulo, questionou o comportamento da moça.
Dizia-lhe que precisava esquecer o jovem.
Carolina retrucava dizendo que era o pai de sua filha, e sentia necessidade de levar flores a seu túmulo.
E Rosendo procurou entender.
Com o passar do tempo, porém, esta circunstância passou a incomodar-lhe, fato este que gerou desentendimentos com a moça.
Carolina não admitia que o homem lhe dissesse o que fazer.

Mais tarde, o homem se envolveu em uma confusão, que resultou na morte de um peão de uma das fazendas da região.
Rosendo apontado como suspeito do crime, arrumou seus pertences.
Precisava fugir.
Como último gesto, foi até o casarão, onde atirou uma pedra na janela da moça.
Quando Carolina abriu a janela, perguntou-lhe o que fazia àquelas horas em frente a sua casa.
Rosendo explicou-lhe que precisava fugir, ou seria preso.
Carolina que já havia tomado conhecimento do fato, perguntou-lhe se havia matado o homem.
Rosendo respondeu-lhe que não.
Nisto a moça insistiu para que ficasse e provasse sua inocência.
Rosendo argumentou que não teria como provar que não cometera o crime, por estar passando no local.
Disse que o lugar era deserto, e que não haviam testemunhas.
Carolina compreendeu sua aflição.
O capataz então, sugeriu que a moça seguisse com ele.
Pediu para que fizesse uma pequena trouxa com seus pertences e o acompanhasse.
Carolina olhou-o com espanto.
Rosendo insistiu.
Argumentou que não podia se demorar.
A moça então, suspirando, respondeu-lhe que não poderia acompanhá-lo.
O homem então desceu do cavalo.
Carolina prosseguiu.
Disse que tinha uma filha para criar, e que não poderia abandoná-la.
Argumentou que a criança já não tinha um pai, e que não poderia ficar sem a mãe.
Rosendo, percebendo que a mulher não poderia fugir com ele levando uma criança pequena, concordou.
Lamentou sua sorte, dizendo que estava deixando tudo para trás, por um destino incerto, e que não poderia condená-la a padecer junto com ele.
Triste, comentou que não sabia ao certo se conseguiria fugir, ou se não morreria no meio do caminho.
Ao constatar que poderia estar condenando a moça a uma vida incerta ou mesmo a morte, compreendeu-a.
Triste, insistiu para que descesse, e o encontrasse na porta.
Dizia que precisava se despedir.
Apreensiva, a moça disse que não poderia fazê-lo, que não ficaria bem.
Rosendo disse que sabia do falatório das pessoas, mas que se descesse sem fazer barulho, ninguém tomaria conhecimento do fato.
Nisto acrescentou que não sairia dali se ela não conversasse com ele.
Carolina então vestiu-se, e desceu cautelosa, as escadas do casarão.
Ao chegar na sala, fez um pequeno esforço para abrir a porta, com a pesada chave que estava na maçaneta.
Rosendo a esperava de chapéu na mão.
Nisto o homem se aproximou e abraçou-a.
Disse-lhe que provavelmente nunca mais iriam se encontrar.
Lamentou a despedida.
Disse que gostava muito dela e que sentiria muito pesar por não poder levá-la junto de si.
Beijou-lhe o rosto e partiu.
Estava com os olhos banhados em lágrimas.
Carolina a acompanhou o homem em seu cavalo, quando ainda fez um último gesto de despedida até sumir na escuridão da estrada.
Era noite.
Carolina ainda ficou por algum tempo apoiada nos balaustres do alpendre.
Embora não o amasse, sentiu sua partida.
E assim, a jovem ficou por casar.
Ocupou seu tempo em cuidar da filha e auxiliar na lida da fazenda.

A senhora Carolina lembrava-se destes fatos, que faziam parte da história da família.
E a jovem Carolina, ali sentada a sombra da árvore, a ouvir as histórias de Adroaldo.
Pensava em quantas vezes sua avó Rosália, ficara a esperar por Olavo.
Quem sabe ali próxima da árvore.
A árvore não ficava muito longe da sede da fazenda.
Mais tarde, o moço convidou a moça para dançar.
Ainda sob os olhares vigilantes de Carolina.
Adroaldo, com seus modos refinados, faziam Carolina recordar-se de Abelardo.

Com ele, Carolina teria uma filha de nome Carolina, e Tarcísio.
Também ela não viera a se casar.
Permanecendo solteira.
Adroaldo, morrera cedo, após uma convivência de cerca de oito anos com a mulher.
Tarcísio, o filho mais velho, ainda apresentou problemas de saúde.
Os médicos diziam que o menino não sobreviveria.
Contudo, o menino resistiu.
Como não apresentasse melhoras, Carolina achou por bem levar o filho para longe dali.
Adroaldo então levou o menino para a casa dos pais.
Carolina ficou a cuidar da propriedade.
Tarcísio passou meses no lugar.
Voltou mais disposto.
Quando chegou nas terras paternas, aparentava cansaço e tristeza.
Carolina ao vê-lo tão bem disposto, perguntou se o filho havia melhorado.
Adroaldo respondeu-lhe que sim.
Com o tempo porém, de volta ao lugar, o menino voltou novamente a piorar, precisando ser novamente encaminhado para outras plagas.
Carolina então, percebendo que o menino ficava melhor longe dali, concordou que o menino fosse criado em outro lugar.
A última vez em que o menino passou mais tempo na fazenda, teve seus problemas respiratórios agravados, e quase morreu afogado em um dos rios do lugar.
Ao perceber a vida de seu filho se esvaindo, sem que nada pudesse fazer, fez uma promessa de que em sobrevivendo, mandaria o menino para longe onde estudaria, e se formaria.
Carolina cumpriu a promessa.
Conforme o menino se recuperou do acidente, foi levado para a casa dos avós, sendo criado por eles.
Mais tarde a criança foi matriculada em um colégio interno, onde passou a receber visitas dos pais.
Mais tarde, Carolina deu luz a outra Carolina.
Com isto, cerca de dois anos mais tarde, Adroaldo faleceu dormindo.
Era jovem ainda, fato este que causou perplexidade em todos os moradores da região.
Carolina não veio a se casar com o moço, em razão do mesmo já ser casado em primeiras núpcias com uma jovem.

Segundo Adroaldo, o casamento se desfizera em virtude de erro de pessoa.
Dizia ter sido enganado, pois ao casar-se com a moça, não sabia que a mesma possuía sérios problemas de saúde.
Esmeralda padecia de problemas mentais.
Embora aparentasse sanidade mental, com os intervalos de lucidez, possuía sérios distúrbios de comportamento.
Com o tempo se tornou agressiva, ameaçando inclusive a integridade física do marido.
Que sem condições, precisou interná-la em uma casa de saúde.
Desde então vinha tentando anular o casamento, em que pese a reprovação da família da moça, que entendia o gesto como falta de caridade e humanidade.
Adroaldo dizia que jamais desampararia a moça, em que pese ter sido enganado, mas argumentava que tinha direito de retomar sua vida.
Nisto mostrou a Carolina, uma marca de faca, a qual disse ter sido feita por Esmeralda.
Quando Carolina soube disto, ficou furiosa.
Dizia que havia sido enganada.
Exigiu explicações.
Perguntou-lhe por que não lhe dissera sobre o impedimento.
Adroaldo disse-lhe que havia gostado dela, e que se contasse a verdade, provavelmente seria rechaçado por todos os componentes de sua família.
Carolina argumentou que sua mãe, Carolina, jamais aceitaria seu envolvimento com um homem separado, cujo desenlace conjugal não havia sido desfeito pelas leis da igreja, encontrando-se impossibilitado de se casar.
De fato, Carolina resistiu a ideia.
Dizia que a filha estava louca.
Carolina dizia que nenhuma das mulheres da família casara.
Argumentou que quem chegou perto da possibilidade de casamento, não conseguiu realizar o intento.
Dizia que poderiam realizar uma cerimônia, e que ninguém precisava saber que não era de fato, casada com Adroaldo.
Com isto, para provar que estava sendo sincero, o homem levou a jovem para a casa de repouso onde Esmeralda estava internada.
Pelos documentos mostrados, a moça, verificou que quando da internação, a mulher ainda era casada com Adroaldo.
Como era de se esperar, a moça, que não reconhecia mais ninguém, foi agressiva com o casal.
Carolina ficou penalizada ao ver a moça sendo amarrada e sedada pelos enfermeiros.
Adroaldo então, retirou-se com a jovem da sala.
Rosália então, ao perceber que não teria como impedir a união, pressentindo que a filha poderia fugir com o moço, acabou por aceitar o relacionamento.
Preparou uma cerimônia religiosa.
Conversando com o padre, prometeu auxiliá-lo com doações, em troca do sigilo da cerimônia.
O homem concordou com a proposta.
Carolina vestia um bonito vestido branco.
Adroaldo usava um fraque.
Carolina guardava fotos do evento.
As poucas fotografias tiradas com um fotografo.
Lembrar fazia amenizar a saudade.
Pois como sua mãe e sua avó fizeram, bem como todas as outras mulheres que as antecederam, todas ficaram sozinhas no mundo a cuidar de seus filhos.
Carolina sua filha, se envolveu com um forasteiro.
Grávida a jovem se mudou para São Paulo.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

VERSÃO ALTERNATIVA

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