E assim, Rosália tornou-se mãe de Carolina.
E Carolina, a matriarca da família conheceu seu Adroaldo, em uma festa organizada na fazenda.
Criança nascida na década de trinta.
Ao tornar-se adulta, conheceu Adroaldo.
Era um rapaz elegante de modos refinados.
Ele foi apresentado a moça, por parentes.
Conversaram sobre amenidades, sob os olhares atentos e vigilantes de Rosália, que a todo
momento observava o casal.
Carolina ria das palavras do rapaz.
Adroaldo, apoiado em um dos galhos da árvore em que a moça estava sentada, contava peripécias
sobre os tempos em que passou em São Paulo estudando, e de sua falta de habilidade para a vida
no campo.
Comentou rindo que não tinha jeito com os animais, e que ao tentar montar um cavalo, quase caiu
de cara no chão.
Rosália gostou do entrosamento dos dois, mas recomendou ao rapaz, quando o mesmo convidou
a filha para se sentar a sombra de uma árvore, que se comportasse.
O moço cavalheiresco assentiu, com a cabeça concordando.
Carolina gostava do céu azul daqueles dias, as nuvens brancas e o sol claro.
Gostava das árvores e das flores.
E como tinha flores naquele lugar.
Com relação a isto, sua avó Carolina, costumava dizer que nas terras de sua família, não haviam
tantas flores.
Lá o clima era frio, e o vento cortante.
Sua avó, costumava dizer que as hortênsias e as camélias enfeitavam os caminhos da fazenda.
Além
de algumas árvores.
Também havia rosas, mas só floriam em tempos ensolarados.
Boa parte do tempo só tinham a companhia das araucárias que faziam parte do cenário.
E as árvores.
Uma delas morta e cheia de buracos, provavelmente de balas.
Dizia que caixões foram feitos com aquelas madeiras, onde foram sepultados seus ancestrais.
Sua avó Carolina, ainda costumava dizer que o grande Abaeté fora sepultado em um desses caixões
e enterrado nas terras da fazenda.
Também costumava dizer que em criança, gostava de brincar perto das árvores.
E gostava de se relembrar de Olavo, dos tempos difíceis para formar a fazenda.
Sozinhos e com tudo por fazer, e dos tempos em que o homem foi convocado pelo exército.
Mais tarde, a neta saberia que o avô participou de um dos movimentos mais importantes da história
do país.
Carolina dizia a avó, que era uma história triste e muito bonita.
A avó da jovem por sua vez, dizia que Olavo morrera, lutando por algo que nem ele conseguia
entender direito o que era.
Por diversas vezes a mulher mostrava as cartas que o moço lhe escrevera.
Carolina – a avó, dizia – que com o tempo, passou a ter criadas, e que a exemplo da primeira
Carolina, que não possuía escravos, e procurou cercar-se de pessoas de confiança.
Dizia que vendeu as terras que possuía no sul, juntamente com suas primas.
Nunca mais regressou a terra onde nascera.
Sua avó, gostava de falar da primeira Carolina, a matriarca.
De vez em quando, Carolina, gostava de mostrar uma canastra cheia de fotos e recordações dos
familiares.
Documentos que vieram para suas mãos após se estabelecer no Valongo.
Vieram em carroças, assim como a mobília, que guarnecia a propriedade onde vivera a mãe e todos
os seus ancestrais.
Foi assim, que mobiliou a sede da fazenda, e animada, resolveu ampliar a construção.
Após a morte de Olavo, descobriu um único objetivo na vida.
A filha Rosália, e para ela, investiu em melhorias na propriedade.
Planejava um bom casamento para a filha.
Mas um acidente interrompeu seus planos.
Abelardo foi atropelado pelo automóvel de um forasteiro.
Naquelas terras tranquilas, como imaginar que alguém viria a toda velocidade possível com um
veículo?
Abelardo seguia a pé, e foi surpreendido por um automóvel.
Quando Rosália tomou conhecimento do fato, estava sentava no alpendre do casarão, bordando.
Ao avistar o capataz da fazenda, percebendo seu olhar de pesar, perguntou-lhe o que havia
acontecido.
O homem então, com muita dificuldade, finalmente conseguiu revelar que seu noivo estava morto
a beira da estrada.
Por um momento, a moça custou a acreditar no que ouvia.
Parecia que estava a fazer chistes com ela.
Mas ao olhar novamente para o funcionário, empalideceu.
Caiu no sofá.
O homem, aflito, ao ver a moça desfalecida, entrou no casarão, buscando alguém para amparar a
moça.
Gritava que Dona Rosália estava passando mal.
Pedia ajuda.
Quando Carolina – sua mãe – tomou conhecimento da história, ficou perplexa.
Chegou a gritar
com o homem, que não se podia brincar com algo tão sério.
Como Rosendo insistisse em dizer que o corpo se encontrava inerte na estrada, Carolina
finalmente deu-se conta da gravidade dos fatos.
Ao perceber que sua filha estava sofrendo, Carolina tratou de partir ao seu encontro.
Mas para o pasmo de ambos, Rosália havia sumido.
Nervosa, Carolina comentou que a filha não poderia estar longe.
Temendo que a moça tivesse se dirigido a estrada, Carolina pediu ao homem que preparasse um
cavalo.
Foi quando Rosendo percebeu, que haviam pego seu cavalo.
Carolina concluiu que fora a filha, e exigiu que se apressasse, pois tentaria impedir a filha de ver
o corpo do moço.
Nisto, a mulher montou no cavalo e seguiu atrás da filha.
Leal, Rosendo a acompanhou.
Seguiram a cavalo até a estrada.
Nem sinal de Rosália.
Somente conseguiram encontrar a moça, quando a mesma apeara do animal que a conduzira.
Estava próxima de um pequeno grupo, que observava o corpo exposto.
Rosália então foi se aproximando e pediu licença a todos.
Os olhos estavam banhados em lágrimas.
Quando finalmente se aproximou, viu o rosto de Abelardo virado para o chão de terra.
Havia muita poeira no lugar.
Com as mãos trêmulas, tocou no terno alinhado e sujo de terra, e virou o corpo.
Ao ver o rosto do noivo, soltou o corpo inerte.
Gritou horrorizada e foi se afastando.
Quando finalmente Carolina avistou a filha, já era tarde.
Pois, a moça já havia visto o corpo.
Rosália ao ver o capataz, se aproximou e apoiando-se no homem, foi erguida.
Estava no chão.
Enquanto era erguia do solo, a moça começou a chorar.
Soluçava.
Carolina então, segurou a filha.
Rosália se desesperou.
Gritava que Abelardo havia morrido.
Nisto, percebendo que todos os observavam, recomendou que o capataz levasse a filha de volta
para a fazenda.
Rosendo a amparou, fazendo com que subisse no cavalo.
Em seguida o homem também montou em seu cavalo.
Partiram.
Antes de partir, porém, a mulher perguntou se os parentes do moço foram avisados.
Rosendo disse que havia pedido a um funcionário da fazenda, para avisar os pais do moço.
Carolina recomendou ao homem, para que levasse a filha para a fazenda.
Exigiu que a moça não saísse de lá.
Com isto, ficou a esperar por alguém.
Afinal de contas, precisava levar o corpo para a fazenda.
E assim, foi questão de minutos para que alguém chegasse.
Carolina acompanhou o transporte do corpo até a fazenda vizinha.
Ajudou a confortar a mãe do jovem.
Dona Lisete estava inconsolável.
Carolina acompanhou o velório até tarde.
Ao chegar em sua fazenda, tratou logo de verificar com a filha estava.
Rosália dormia profundamente.
As criadas disseram que ao chegar na fazenda, a moça resistiu a ideia de ficar recolhida.
Queria
muito se dirigir a fazenda e velar o corpo.
Disseram que não fosse a intervenção de Rosendo, e a moça teria ido mesmo sem autorização, para
a fazenda vizinha.
O homem porém, se interpôs entre ela e a porta, e dizendo que sem a autorização de Dona
Carolina, ninguém sairia dali, enfrentou a moça, que a todo o momento lhe dizia que ele era
apenas um empregado da fazenda e não tinha o direito de lhe dar ordens.
Rosendo porém, não se deixou intimidar.
E Rosália vencida, fez menção de subir as escadas.
Como o homem não saísse de perto da porta, Rosália acabou desistindo.
Revoltada dizia que eles não tinham o direito de fazer isto com ela.
Aflita, chegou a dizer que estava perdida.
Nisto, subiu correndo as escadas.
Trancou-se em seu quarto.
Rosendo, ao ser chamado para verificar a tranca, avisou que se a moça não abrisse a porta, a
colocaria abaixo.
Rosália, ao perceber que o homem não estava brincando, abriu-a.
As criadas então, deixaram um prato com comida em cima de um móvel.
Como a moça dissesse não ter fome, insistiram para que tomasse um chá.
Rosália tomou a bebida, e pouco tempo depois, adormeceu.
A mulher então agradeceu as informações e se dirigiu ao quarto da filha.
Carolina ao ver Rosália deitada, ficou penalizada.
Desalentada, pensou nos planos de casamento.
A vida a dois.
Tudo acabado.
A certa altura, precisou sentar-se para não cair.
Lembrou-se da história da praga lançada sobre a família.
Aturdida, pensou se nunca iriam se livrar da maldição.
Pensava no por quê de tanta maldade.
Tanta desdita, tanta desgraça.
Desolada, Carolina chegou a se lamentar.
Afinal tanto esforço para bem criar sua filha.
Ensinou-lhe a ler, escrever, bem como as prendas domésticas.
Criou-a como se fora uma princesa, apenas para que pudesse ter uma vida normal como as moças
do lugar.
Para se casar e ter uma família.
Triste chegou a balbuciar:
- Porque conosco? Somos tão ruins assim?
Este pensamento a fez ter vontade de chorar, mas ao olhar a filha adormecida, percebeu que não
podia fraquejar.
Sua filha precisava de sua força.
Mais tarde, mãe e filha seguiram para o fim do velório e enterro do moço.
Ao ver o corpo sendo velado em cima de uma mesa, com um terno alinhado, os olhos de Rosália
encheram-se de lágrimas.
Ao aproximar-se do corpo, chorou sentida, e a mãe percebendo que todos olhavam penalizados,
resolveu retirar a filha da sala.
Lisete providenciou água.
Também tinha os olhos inchados de tanto chorar.
Abraçou a moça e a consolou.
Por fim, o jovem foi enterrado na fazenda.
Rosália em prantos, deixou flores no túmulo do moço.
Voltaram para casa.
Nos dias que se seguiram, a moça passava boa parte do tempo dormindo.
Dormia para esquecer os problemas, a dor, o sofrimento.
A certa altura porém, precisou retomar sua rotina.
Mas Rosália já não era mais a mesma.
Sempre que podia, ia visitar o túmulo de Abelardo na fazenda.
Estava quase sempre alheia a tudo.
Às vezes também, ficava tão entretida em suas tarefas, que não percebia nada do que acontecia a
sua volta.
Sentia-se muito só.
Não tinha vontade de conversar com as pessoas.
Somente as cumprimentava e se isolava.
Tal comportamento fez com que Carolina sua mãe, ralhasse com ela.
Dizia que nenhum sofrimento justificava a descortesia e a falta de consideração.
Rosália porém, não queria saber de nada.
Não prestava atenção no que sua mãe dizia.
Rosália contudo, ao notar que suas regras estavam atrasadas, desesperou-se.
Aflita pensou que se estivesse grávida, não teria como esconder o fato por muito tempo.
Carolina por seu turno, passou também a desconfiar.
Em dado momento, sem poder mais esconder o fato, Rosália contou a Carolina, o que estava
acontecendo.
A mulher ficou furiosa.
Rosália, temerosa, pensou em arrumar uma trouxa e sair de casa.
Quando Carolina soube do intento da moça, passou-lhe uma admoestação.
Argumentou que aquela era uma ideia tola.
Perguntou-lhe onde ficaria até a criança nascer, e como faria para sobreviver sozinha e com um
filho no ventre.
Mencionou que ela estaria perdida se resolvesse sair pelo mundo.
Falou-lhe que
não agira de modo diferente de todas as que a antecederam, e todas encontraram uma forma digna
de sobreviver ao fato, levando uma vida honrada.
Argumentou que se fugisse, aí sim estaria
perdida para sempre, pois desonraria o nome de toda a família.
Ao ouvir as palavras da mãe, a moça se aquietou.
Com efeito, a criança foi registrada como se fora filha legítima.
Dona Lisete e o marido, ampararam a moça, auxiliando-a na criação de Carolina.
Chegaram a oferecer dinheiro, mas a avó da criança recusou.
Dizia que se quisessem ajudar, que se fizessem sempre presentes, legitimando a origem da criança.
Prestativos, o casal ofereceu a fazenda como moradia da moça.
Carolina por seu turno, interveio dizendo que filha sua, ficaria em sua casa, e que sua neta,
também.
Circunstância que gerou um certo mal estar, não fosse a intervenção de Agnaldo dizendo que a
moça estava vivendo uma situação complicada, e que precisava do amparo da mãe.
Contrariada, a mulher acabou acatando as palavras do marido.
Mas sempre que podia, convidava a moça para viver em sua fazenda.
Carolina a matriarca da família, costumava dizer que as portas de sua casa estavam sempre abertas
aos amigos, e que eles na qualidade de avós, poderiam visitar a criança, sempre que pudessem e
que quisessem.
Mas para Lisete, isto não era o bastante.
Queria por que queria, levar a moça e a criança para junto de si.
Mas a avó da criança não permitia.
Com o tempo a mulher ficou tristonha.
Carolina então, recomendou a filha que passasse alguns dias na fazenda de Dona Lisete.
Contudo,
assim que a mulher melhorasse, Rosália e a criança deveriam regressar.
E assim, foram meses morando em casa de Lisete.
Conforme a mulher foi melhorando, foi tentando impôr seus costumes a mãe da criança.
Dizia a Rosália que não poderia pegar a criança de qualquer jeito, que precisava continuar
amamentando a criança.
A criança a esta época já tinha quase dois anos, não precisava mais ser amamentada, e Lisete
palpitando em tudo.
Rosália não sabia mais o que fazer.
A certa altura arrumou seus pertences e os da filha e comunicou a Lisete e Agnaldo que voltaria
para casa.
A mulher tentou argumentar que precisava da companhia da neta, mas Rosália, com toda a
brandura, disse-lhe que já estava incomodando, e que não era certo ficar tanto tempo em uma casa
que não era sua.
Como Lisete insistisse para que a moça se sentisse em casa, Rosália argumentou que sentia falta de
casa, e que se não voltasse logo para sua residência, seria ela quem acabaria adoecendo.
Abelardo, percebendo que não teria como reter a moça por mais tempo, desejou-lhe um bom
regresso.
Disse-lhe que dali há alguns dias, iria visitá-la.
Rosália então, foi acompanhada por Agnaldo.
Ao chegarem no casarão, mãe e filha, foram recebidas com festa.
Dona Carolina gostava de mimar a neta.
Dizia que a criança trouxera alegria para a casa.
Certa vez, chegou a dizer que fora a melhor coisa que aconteceu na vida de Rosália.
Rosendo certo dia, enquanto a criança brincava no descampado, observando atenta o movimento
dos animais, aproximou-se de Rosália, e tímido começou a dizer que Carolina era uma criança
muito bonita e esperta.
Rosália ficou surpresa e agradecida com os elogios.
Rosendo então, enchendo-se de coragem, mencionou que admirava sua coragem em prosseguir a
vida, em cuidar da filha.
Comentou que admirava Dona Carolina, por ter construído aquilo tudo
praticamente sozinha.
Rosália a certa altura, perguntou ao homem, o que ele estava tentando dizer com tantos elogios.
Sem graça, o homem, chegou a dizer que a admirava, e que águas passadas não moviam moinhos.
Em dado momento, enchendo-se de coragem, o homem comentou a achava muito sozinha.
Disse-lhe que merecia ser feliz.
Em seguida, perguntou-lhe se não tinha interesse em se casar.
Rosália ficou surpresa com a pergunta.
Pensando nas palavras do moço, perguntou-lhe se não tinha medo da maldição.
Rosendo perguntou-lhe de que maldição estava falando.
A moça contou-lhe então, que nenhum relacionamento com as mulheres da família perdurava.
Mencionou o curto casamento da mãe, e a interrupção de seu noivado.
Rosendo argumentou dizendo que tudo não passava de uma grande bobagem.
Rosália contudo, não estava interessada em casar-se.
Quando Carolina foi informada pela moça, do pedido de Rosendo, a mulher perguntou-lhe se
estava disposta a se casar com o capataz.
Rosália respondeu-lhe que não tinha interesse em ninguém.
A mulher argumentou que sendo ainda jovem, tinha todo o direito de se casar.
Mencionou que Rosendo era jovem ainda, forte, e que seria um bom companheiro para sua filha.
Rosália comentou sobre a maldição.
Mencionou que dissera algo para ele.
Foi o bastante para Carolina passar-lhe um sermão.
Disse-lhe que ninguém na região sabia da história, e que tudo deveria continuar como estava, ou
haveria o risco de terem de abandonar tudo novamente, por conta da maledicência das pessoas.
Rosália ao ouvir isto, comentou que só contara o fato de haver enviuvado cedo, e de ter ficado por
casar.
Ao ouvir isto, Carolina comentou:
- Menos mal! Mas seria melhor que não se mencionasse a maldição.
Rosália concordou.
Carolina então, passou a fazer recomendações a moça.
Dizia que Rosendo era de confiança, um
ótimo partido.
Entre outras coisas.
Mas Rosália dizia não estar interessada.
Mesmo como o passar dos anos, continuava a visitar o túmulo de Abelardo.
Fato este que fez com que Carolina se enervasse com a filha.
Dizia-lhe que o homem estava morto.
Insistia para que o deixasse descansar, e que retomasse sua vida.
Rosália tentava argumentar, mas Carolina insistia em dizer que estava errada.
Argumentava que se tivesse encontrado um outro companheiro, certamente tentaria retomar sua
vida.
Rosália, contudo, dizia que ninguém mais apareceu.
Carolina argumentou dizendo que a filha estava tendo uma boa oportunidade, e a estava
desperdiçando.
Rosália a certa altura, prometeu que iria pensar no assunto.
Chegou a se pensar em noivado.
Até jantar foi preparado.
O moço vestia um bonito terno.
O casal conversou sobre amenidades ao lado de Dona Carolina.
Quando Lisete soube disto, temeu que com um provável casamento, a criança seria afastada de
seu convívio.
Agnaldo tentou convencer a mulher de que estava errada, em vão.
Com isto, a mulher passou a visitar a jovem em horas inapropriadas.
Circunstância que aborreceu Carolina e Agnaldo.
Dessarte, sempre que se encontrava com Rosendo, dizia que Rosália era uma boa moça, e que seria
sempre fiel a seu filho, nunca colocando outra pessoa em seu lugar.
Isto aborreceu demasiadamente o homem.
Dona Lisete não perdia a oportunidade de dizer que a moça continuava a visitar o túmulo do filho.
Chegou até a dizer-lhe que verificasse isto com os próprios olhos.
Rosendo, ao ver a moça levando flores para o túmulo, questionou o comportamento da moça.
Dizia-lhe que precisava esquecer o jovem.
Rosália retrucava dizendo que era o pai de sua filha, e sentia necessidade de levar flores a seu
túmulo.
E Rosendo procurou entender.
Com o passar do tempo, porém, esta circunstância passou a incomodar-lhe, fato este que gerou
desentendimentos com a moça.
Rosália não admitia que o homem lhe dissesse o que fazer.
Mais tarde, o homem se envolveu em uma confusão, que resultou na morte de um peão de uma
das fazendas da região.
Rosendo apontado como suspeito do crime, arrumou seus pertences.
Precisava fugir.
Como último gesto, foi até o casarão, onde atirou uma pedra na janela da moça.
Quando Rosália abriu a janela, perguntou-lhe o que fazia àquelas horas em frente a sua casa.
Rosendo explicou-lhe que precisava fugir, ou seria preso.
Rosália que já havia tomado conhecimento do fato, perguntou-lhe se havia matado o homem.
Rosendo respondeu-lhe que não.
Nisto a moça insistiu para que ficasse e provasse sua inocência.
Rosendo argumentou que não teria como provar que não cometera o crime, por estar passando no
local, próximo do horário em que o crime ocorreu.
Disse que o lugar era deserto, e que não haviam testemunhas.
Nervoso, disse que se desentendeu com o peão, e que o ameaçou.
Afirmou porém, que não o
matou.
Argumentou que jamais tiraria a vida de um cristão.
Rosália compreendeu sua aflição.
O capataz então, sugeriu que a moça seguisse com ele.
Pediu para que fizesse uma pequena trouxa com seus pertences, e o acompanhasse.
Rosália olhou-o com espanto.
Rosendo insistiu.
Argumentou que não podia se demorar.
A moça então, suspirando, respondeu-lhe que não poderia acompanhá-lo.
O homem então desceu do cavalo.
Rosália prosseguiu.
Disse que tinha uma filha para criar, e que não poderia abandoná-la.
Argumentou que a criança
já não tinha um pai, e que não poderia ficar sem a mãe.
Rosendo, percebendo que a mulher não poderia fugir com ele, levando uma criança pequena,
concordou.
Lamentou sua sorte, dizendo que estava deixando tudo para trás, por um destino incerto, e que
não poderia condená-la a padecer junto com ele.
Triste, comentou que não sabia ao certo se conseguiria fugir, ou se não morreria no meio do
caminho.
Ao constatar que poderia estar condenando a moça, a uma vida incerta ou mesmo a morte,
compreendeu-a.
Triste, insistiu para que descesse, e o encontrasse na porta.
Dizia que precisava se despedir.
Apreensiva, a moça disse que não poderia fazê-lo, que não ficaria bem.
Rosendo disse que sabia do falatório das pessoas, mas se descesse sem fazer barulho, ninguém
tomaria conhecimento do fato.
Nisto acrescentou que não sairia dali se ela não conversasse com ela.
Rosália então vestiu-se e desceu cautelosa, as escadas do casarão.
Ao chegar na sala, fez um pequeno esforço para abrir a porta, com a pesada chave que estava na
maçaneta.
Rosendo a esperava de chapéu na mão.
Nisto o homem se aproximou e abraçou-a.
Disse-lhe que provavelmente nunca mais iriam se encontrar.
Lamentou a despedida.
Disse que gostava muito dela e que sentiria muito pesar por não poder
levá-la junto de si.
Beijou-lhe o rosto e partiu.
Estava com os olhos banhados em lágrimas.
Rosália acompanhou o homem em seu cavalo, quando ainda fez um último gesto de despedida, até
o homem sumir na escuridão da estrada.
Era noite.
Rosália ainda ficou por algum tempo apoiada nos balaustres do alpendre.
Embora não o amasse, sentiu sua partida.
E assim, a jovem ficou por casar.
Ocupou seu tempo em cuidar da filha e auxiliar na lida da fazenda.
A senhora Carolina, lembrava-se destes fatos, que faziam parte da história da família.
Contava a Vandré, Venâncio, Lara, Antonia, e aos demais convidados, a história de sua família.
Prosseguiu o relato...
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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