E lá a velha Carolina, a se lembrar de suas antecessoras.
Nem todas com o mesmo nome, mas todas com nomes fortes, marcantes.
Sentada em sua cadeira almofadada, a mulher pediu a criada que trouxesse uma caixa grande com
vários retratos da família.
Era uma imensa caixa.
Com várias fotos antigas.
Fotos em preto e branco.
Fotos de seus pais, avós.
Baú com documentos, cartas.
Venâncio e Vandré, ao verem fotos suas, ainda crianças, no baú, começaram a rir.
Olhavam para si, e diziam o quanto haviam mudado.
Dona Carolina então, comentou que eles eram filhos de sua filha, Carolina.
A mulher disse-lhe que só estavam vivos, por que sua mãe decidiram viver longe dali.
Lugar de
lembranças tristes e palco de uma maldição.
Curioso, Venâncio perguntou do que se tratava a tal maldição.
Dona Carolina, percebendo a ironia, disse-lhe em tom sério, que não se brinca com este tipo de
assunto, e que não se pode ficar jogando praga nas pessoas.
Dizia que praga pegava.
Nisto, passou a dizer que a família fora amaldiçoada por uma velha, que dizia que nenhum varão
nascido naquelas paragens iria sobreviver.
Quanto as mulheres, estas seriam atingidas em sua honra, e no sentimento que lhe era mais caro.
O afeto.
E assim nenhum das mulheres da família, teriam frutos advindos do casamento.
Ou seja,
seriam todas mães solteiras, e somente mães de filhas mulheres.
Venâncio e Vandré, se entreolharam.
De fato, sua mãe, Carolina, não fora casada e nem mesmo filhos do mesmo pai, eram.
Contudo, o fato de estarem vivos e adultos, desacreditava a história da maldição.
Carolina, a mãe, então comentou que eles não nasceram naquela região.
Que viveram toda a sua vida longe dali, e que poucas vezes visitaram a propriedade da avó, como
naquela ocasião.
Vandré comentou que não entendia, por que sempre eram dificultadas as visitas a avó.
Recordou-se de quando em criança, vivia pedindo a mãe para que o levasse para conhecer a avó.
Contudo, ainda assim, considerava tudo aquilo crendice e bobagem.
Dona Carolina percebendo isto, comentou que não esperava compreensão por parte deles.
Mas
disse-lhes que gostaria de mostrar fotos da família.
A mulher então, mostrou fotos de sua juventude, do pai de Carolina, de uma festa em que ambos
dançaram juntos.
Comentou que dois dias após tirar a foto, Adroaldo faleceu.
O homem faleceu oito anos depois que o casal passou a viver como se fossem casados.
A velha senhora também mostrou fotos de seus pais, sua mãe e seu pai.
Comentou que o fato de não serem casados, escandalizou a todos, mas que o modo digno de viver
de Rosália, a fez ser aceita por todos, e a continuar a viver naquela sociedade.
Rosália ficou impedida de casar-se com o pai de sua filha, por que o homem falecera antes mesmo
de tomar conhecimento de que se tornaria pai.
Foi atropelado ao atravessar uma estrada.
Tal fato, deixou Rosália desesperada.
Carolina, sua mãe, visando protegê-la e ajustada com um funcionário do cartório, conseguiu
encontrar uma forma de registrar a criança como se fosse filha legítima.
Era década de trinta.
Tempos de carestia e de racionamento, por conta da Segunda Grande Guerra.
Os produtos mais básicos eram racionados, e a vida estava difícil para todos.
Dona Carolina, mostrou ainda fotos de Rosália ainda criança, também fruto de uma relação
considerada espúria.
Nascera no começo dos anos dez.
Sua mãe se chamava Adélia.
Nascida na última década do século dezenove.
Antes de rosália, veio Adélia, nascida na década de setenta do século dezenove.
Sua mãe chamava-se
Thereza, filha de Carolina.
A primeira, a que dera origem a todas as outras, dizia a velha senhora, Dona Carolina.
De todas, havia ao menos uma foto ou pintura.
E esta era a primeira vez, que a mulher se interessava em mostrar a todos o álbum com fotos.
Também era a primeira oportunidade em que animava a contar algo mais sobre a história da
família.
Todos os convidados pareciam interessados no relato de Dona Carolina.
Luciana Celestino dos Santos
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