Na festividade de aniversário da matriarca, foi preparado um novilho, a ser assado no rolete.
As crianças gostavam de ver o preparo do prato.
E nisto a cozinheira ao ver as crianças em volta da fogueira, repetiu o fraseado de que quem brinca
com fogo, acaba molhado.
Argumentou que aquilo não era brincadeira de criança, e pediu para se afastassem.
Lara chamou todas as crianças para junto de si.
Ralhando com elas, disse que não deveriam atrapalhar o trabalho das pessoas que estavam
organizando a festa de Dona Carolina.
Com isto, chamou todas elas para um passeio pelo jardim.
E assim, Helena, Tereza e André, ficaram a correr por entre azaléias, hortênsias, rosas e girassóis.
Dona Carolina nascera naquelas terras.
Filha de Rosália, a qual herdara a imensa propriedade de sua mãe, Adélia.
Propriedade a qual estava com a família há várias gerações.
Nos últimos tempos, gostava de se lembrar da mãe, Rosália, ensinando-lhe as prendas domésticas.
Dona Carolina, a matriarca, era uma doceira de mão cheia, segundo sua filha Carolina.
Possuía um belo livro de receitas, antiquíssimo, com todas as receitas mais sofisticadas da família.
Orgulhosa, dizia possuir guardado o antigo livro de receitas da primeira Carolina.
Certa vez, chegou a mostrar o referido livro a filha Carolina.
A mulher ficou encantada com o livro.
No referido compendio, havia receitas com preparados
com ervas, para problemas de saúde.
Mas as ocasiões em que a matriarca mostrava o livro eram raras.
Até por que, de tanto ser manuseado, o livro estava precisando de um restauro.
Sua filha Carolina se propôs a procurar um profissional para recuperar o trabalho, sem êxito.
Dona Carolina não estava disposta a entregar a preciosidade para estranhos.
A mulher tentou argumentar com a mãe, dizendo que se o livro não fosse rapidamente restaurado,
poderia se perder para sempre.
Mas Dona Carolina era inflexível.
Com isto, algumas vezes Vandré e Venâncio puderam se deliciar com algumas iguarias preparadas
pela mulher, quando em visitas raras a fazenda, ou então quando a mulher encaminhava compotas
para os netos via correio.
Quando as delícias chegavam em sua casa, era sempre motivo de muita festa.
E eles, passavam dias comendo os doces.
Voltavam da escola, trocavam o uniforme, faziam a lição de casa, brincavam na rua, e mais tarde
após o banho e o jantar, comiam uma porção das sobremesas.
E as delícias duravam meses.
Carolina nunca permitiu que os filhos comessem mais do que necessário para saciar a fome.
Não gostava de crianças gulosas.
Era o que costumava dizer.
Carolina, a matriarca, também gostava de deixar a casa arrumada e enfeitada.
Gostava de artesanato.
Na velha sede centenária, havia várias colchas nos quartos, feitas de fuxico, além de almofadas
feitas do mesmo material.
Algumas criadas que passaram pela propriedade também deixaram suas prendas.
Dona Carolina gostava das criadas prendadas e prestativas.
Fora criada com todo o rigor por Rosália, a qual temia que a filha tivesse a sorte de todas as suas
antecessoras.
Acreditou que pelo fato da jovem ter sido registrada como filha legítima, sua sorte seria diferente
de todas as outras que a antecederam.
O tempo mostrou-lhe que estava errada.
Carolina também envolveu-se com um homem, com o qual não pode casar-se.
E assim, como todas as outras mulheres, era dona de uma história triste, a qual integrava o triste
quadro de desventuras da família.
Luciana Celestino dos Santos
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