*Trecho do livro ‘E a chuva que cai...’.
A chuva na janela prenuncia que o mal tempo vai continuar, estando todos presos em
casa olhando o mundo pela janela.
O mundo que parecia cada vez maior, visto pela vidraça.
Pelos olhos corriam as paisagens verdejantes do lugar, vista tão longa e tão ampla.
O céu azul que escurecido pela chuva não se podia ver claro.
Nos campos plantações verdejantes.
A colheita ao fundo da paisagem, agradece ao
suave presente do céu.
As gotas, caindo suaves molhando os grotões e a terra, bem como gotejando sobre
as folhas.
Os pássaros procurando se abrigar em seus ninhos no alto das árvores, para escapar
da chuva.
E o céu, o céu que permanecia escuro e sombrio, entristecia a tarde.
A tarde caía lá fora e o tempo ficava cada vez mais triste, enquanto a temperatura
diminuía e a chuva virava pesadas pedras de gelo.
O tempo transcorria cada vez mais lento, e as crianças ao olharem para a janela se
admiraram com o que viam.
Nunca viram chover pedra antes.
Tudo neste mundo infantil
quando visto pela primeira vez é lindo e mágico.
As pedras caíam pesadas sobre o chão de terra, já molhado.
Machucavam as plantas
que, passivas, nada mais podiam esperar.
E a chuva que cai... A chuva que continua caindo... e o tempo passa cada vez mais
lento.
Nada para se fazer, talvez toda a esperança de trabalho perdida.
Talvez a plantação
se perdesse em meio a fome arrasadora da chuva de pedras.
-- Chuva de granizo. – corrigiu Augusto, o filho mais velho e mais sabido de uma
grande família. – É a chuva em seu estado natural, condensada. – continuou.
Quando Augusto falava ninguém se atrevia a questioná-lo, pois todos o consideravam
a pessoa mais inteligente da casa.
Muitas dúvidas que seus outros irmãos tinham, eram logo
resolvidas por ele.
Poucos questionamentos escapavam de seu crivo meticuloso.
-- Pudera, também ele é o filho mais velho. – comenta Otávio o filho do meio desta
família. – Não poderia ser diferente. – continuou.
-- Mas ele teve as mesmas chances que nós. – disse Carlota, a filha mais velha.
E o tempo passa.
Em meio a conversação dos irmãos, a chuva continuava cada vez mais forte.
A
tempestade avançava, o tempo escurecia, nuvens carregadas riscavam os céus.
Brumas,
neblinas.
Parecia que a chuva não ía parar tão cedo e nesse período, nada para se ver além
da imensidão do campo verde que se tinha em vista.
Além do verde se podia ver macieiras ao redor do alpendre.
A casa protegida do mal tempo, pequenina ao longe na colina, parecia tranqüila,
mas o vento murmurava sons nítidos e atormentadores.
As figueiras ao longe balançavam ao sabor dos ventos.
As folhagens das árvores
dançavam ao sabor do vento.
E a chuva... a chuva cairá... sobre este mundo que parecia tão pequeno e que de perto
parecia estar tão longe de tão extenso que era.
Templo perdido na distância do tempo que passa e devora tudo, consome a vida e os
sonhos.
A desilusão de quem vive.
Somente se lembrará do que passou.
Afinal, não pode reter o tempo.
Mas para alguns nostálgicos:
-- Ah, que bom se eu pudesse!
Portanto, essa é a história de um passado nem tão recente nem tão distante.
Uma família que vendeu tudo o que tinha em um rincão brasileiro para se aventurar
em um nova terra, muito longe daquele lugar de origem.
Propriedades de médio porte foram vendidas, e esta família tratou de juntar o que
sobrara desta feita.
Juntaram o dinheiro, pegaram suas malas e partiram.
Vieram no
primeiro trem que apareceu naquela estação.
Uma linda estação recém construída no início
do século, época em que começa esta história.
História que retrata a vida de um homem que veio com sua família ainda criança,
para o interior do estado de São Paulo no Vale do Paraíba, no período do ciclo do café.
Se
fixaram numa cidade próspera do lugar e começaram logo a procurar uma propriedade
pequena em tal paragem.
Como era de se esperar plantaram o café, mas também outros produtos para garantir
a subsistência da família.
Um casal e seus oito filhos, que também ajudavam no trabalho na
lavoura.
Trabalho pesado, duro.
Levantavam ainda quando o sol estava por nascer e preparavam a comida que era
feita pela mãe que também ajudava no trabalho, ficando na roça o dia inteiro, até o sol estar
por se pôr.
Que lindo momento que era o cair da tarde.
O crepúsculo, num momento em que ainda se dava para ver os raios dourados do
astro-rei.
As cores do sol que faziam uma bela composição com o céu azulado que se
mostrava cada vez mais insinuante.
Esta era a hora de voltar para casa.
Tomar um banho de bacia, jantar e em seguida
dormir.
Dormir cedo, por que no mais, nada se tinha para fazer.
Luz elétrica não havia.
Somente um lampião que mal iluminava a sala.
A luz clara
que cintilava no lampião a gás era somente para que todos pudessem achar suas camas e se
recolher.
Se recostarem na cama e finalmente dormir.
Logo o dia estaria novamente a raiar.
No dia seguinte, mais um longo dia de trabalho onde tudo se repetiria.
Novamente o céu estrelado por companhia durante a caminhada até a plantação.
Nesse tempo algumas crianças iam para a escola.
Oh! Infeliz força do dinheiro que faz com que poucos tenham chances na vida.
Onde
as coisas só valem para quem nasceu bem!
E o tempo foi passando, passando, passando, até chegar um dia...
Em que crescidas, estas que não são mais crianças, tiveram filhos e esses filhos
estudaram até onde foi possível.
-- Estudem se querem virar alguma coisa na vida. – foi o que sempre ouviram.
Portanto, mais tarde as crianças passaram a ir para a escola e lá aprenderam um
pouco sobre a ciência da vida.
Caminhavam longas léguas até chegar ao grupo escolar, onde estudavam juntas,
crianças de várias séries.
Ao voltarem para a casa tinham por companhia as molecagens da infância e mais
tarde o sonho dos livros, com histórias de piratas, vilões e mocinhos, grandes textos
literários e outros contos infantis de autores contemporâneos.
Neste mundo de fantasia, tudo
era lindo e fantástico.
Afinal, tem que haver tempo para sonhar, e mais do que isso, alguém
com quem possam dividir os sonhos.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário