Dias depois, Thereza foi presa. Denunciada por testemunhas, a mulher foi encarcerada.
Quando Cleide e os amigos da moça tomaram conhecimento do fato, trataram logo de avisar Rodrigo.
Alvoroçada com os últimos acontecimentos, Cleide tratou logo de escrever uma missiva. Contudo, como a comunicação naqueles tempos idos eram muito complicada, Cleide, percebendo que Rodrigo talvez não recebesse a correspondência a tempo, resolveu ela mesma, ir até o Rio de Janeiro, contar a ele o que estava acontecendo.
Apressadamente, a mulher arrumou sua mala e partindo para o Rio de Janeiro, foi ao encontro de Rodrigo.
Nisso Thereza, humilhada pelo delegado da cidade, era obrigada a trabalhar como uma escrava.
Durante as investigações sobre o crime, o comissário, descobrindo que Thereza mentira sobre sua condição de liberta, prometeu a ela que a mesma se arrependeria de tudo o que fizera. Muito embora Diego fosse detestado no lugar, o fato de a assassina ser mulher e negra, tornava-a a pior das criminosas.
Mesmo quando ela contou que matou o homem por que ele tirara a vida de sua filha, o comissário não desistiu da idéia de puni-la.
A descoberta da falsidade de sua carta de alforria se deveu ao fato de ter sido realizada uma cuidadosa perícia. O técnico, percebendo que a carta fora forjada, avisou imediatamente ao comissário.
Tal fato complicou deveras a situação da mulher.
Thereza, com seus trinta e quatro anos, era a mais completa imagem da derrota. Abalada e abatida, era insensível a qualquer agressão. Indiferente dizia que não via a hora de cumprir receber sua pena. Ciente de que morreria, não sofria nem um pouco por isso.
Assim, o tempo foi passando.
Rodrigo ao saber da situação da mulher, fez todo o possível para impedir que o pior acontecesse. Contudo, por mais que se esforçasse, nada poderia impedir que Thereza fosse punida.
Em uma sociedade racista e patriarcal, salvá-la da morte certa era praticamente impossível.
Ao saber disso, Rodrigo desesperado, pediu ao tio para intervir.
Altino ao tomar conhecimento do ocorrido, pesaroso pela morte de Rosália, fez todo o possível para ajudar a mulher. Contudo, nem assim foi possível evitar que o era praticamente certo.
Angustiado, Rodrigo ao perceber que nada podia fazer para impedir a morte certa da esposa, resolveu voltar a região.
Ao lá chegar, percebeu que era deveras tarde para fazer qualquer coisa. Thereza, acorrentada, seguia até o pelourinho montado em frente a igreja. Como punição por seus crimes, Thereza seria martirizada até sua morte.
Ao ser julgada e condenada, tomou logo conhecimento de sua pena.
Conformada, a mulher aceitou a punição.
Quando foi conduzida até o pelourinho, Thereza deixou-se amarrar. Em nenhum momento ofereceu resistência.
E assim foi sendo chicoteada.
Rodrigo ao vê-la sendo torturada, gritou seu nome.
Thereza, esgotada pela surra, não compreendeu que Rodrigo a chamava. Desfalecendo agonizava. Ao sentir o peso do látego em suas costas, pouco a pouco a mulher foi se recordando de passagens de sua vida. Gritava, pela última vez por Rosália.
Enquanto sofria açoites, Thereza, viu sua vida se esvaindo.
Como último gesto cerrou os olhos. Cansada de sofrer, despediu-se da vida.
O povo ao perceber que Thereza estava morta, começou a chamar os homens que a conduziram para a morte, de assassinos. Furiosa, a população, exigindo que o comissário e seus homens fossem embora dali, começaram a lançar pedras e outros objetos contra os mesmos.
O comissário, percebendo que não podia conter a multidão, resolveu se afastar dali.
Nisso Rodrigo e Cleide, ao se aproximarem da moça, percebendo que estava morta, entraram em desespero. Rodrigo, chorando pedia ao corpo sem vida de Thereza que o perdoasse.
Cleide que também chorava, dizendo que ela não ouvia mais nada, tentava fazer com que Rodrigo liberasse o corpo dela.
Homens e mulheres, escravos e libertos, vendo que a mulher estava amarrada, acorreram para desamarrá-la. Prestativos, conduziram o corpo em procissão até a sede da fazenda onde a moça vivera os últimos anos de sua vida.
Lá, Cleide, auxiliada por várias mulheres, que, gratas pelo que Thereza fizera por elas, resolveram cuidar de seu corpo. Lavaram-na e colocando um lindo vestido branco, deitaram seu corpo na mesa de jantar da casa.
Lá, velaram o corpo da mulher que para eles era a melhor pessoa do mundo.
Era doze de maio de 1888.
Diz a lenda que muitos escravos vindos das fazendas da região acompanharam o velório e o enterro. Dizem ainda que escravos há muito tempo fugidos da região, voltaram para se despedir da mulher que ajudou tanto os negros.
Gratos, visitaram o túmulo de Abelardo e dizendo que os dois eram almas elevadas, rezaram dias e dias por eles.
Rodrigo desolado com as perdas recentes, resolveu definitivamente se livrar da fazenda onde passara boa parte de sua vida. Ricardo, compreendendo o pesar do irmão, pediu a ele que lhe vendesse a propriedade.
Rodrigo cansado de tudo resolveu doar a propriedade.
Sozinho, o rapaz voltou para o Rio de Janeiro. Atormentado com a sua triste história, o rapaz nunca mais se casou.
Ricardo e Dorothéa por sua vez, tiveram muitos filhos.
Cleide e os amigos de Thereza, depois de sua morte, abandonando a fazenda, voltaram para São Paulo.
Ercílio, depois de muitos anos, passando por São Paulo, ao rever os amigos, descobriu que Thereza matara Diego. Ao tomar conhecimento de detalhes da história, o rapaz resolveu visitar Rodrigo.
Este porém, desejando se libertar do passado, não quis nem saber de aproximação. Depois que voltou ao Rio de Janeiro, vivendo com o tio, resolveu dedicar-se exclusivamente ao trabalho.
Conforme o tempo foi passando, as fazendas passaram a receber cada vez mais visitas. A região, considerada histórica, passou a ser preservada.
No túmulo de Thereza, diariamente os moradores depositam flores. Dizem ser agradecimento por um pedido atendido.
Segundo o padre que hoje vive na região, tudo não passa de conversa para boi dormir.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
A DEUSA NEGRA - CAPÍTULO 24
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