As aulas transcorriam normalmente sem nenhum incidente. Os alunos estavam prestando atenção ao que era ensinado.
Só que, num dado momento, um dos alunos atirou um pedaço de papel amassado, que acabou atingindo a cabeça do professor, que até então estava distraído procurando no livro de história a página em que estava a matéria da aula.
No momento que foi atingido, o professor pegou o papel e o abriu. No papel estava escrito um pequeno comentário sobre a aula, sem menção do autor. Como o comentário não era nem um pouco elogioso, o professor se aborreceu e perguntou quem era o autor daquele comentário. Como ninguém respondeu, ele interrompeu a aula e foi até a diretoria.
Conversando com a diretora, não conseguiu autorização para a suspensão da classe. Mas ao voltar a sala de aula, disse que aquela aula estava encerrada e que aquela matéria constaria como já tendo sido dada, portanto consideradas como objeto de prova.
Todos os alunos reclamaram, mas não teve jeito. O prejuízo já tinha sido causado.
Muito alunos acusaram Luís, Cláudio, Leocádio e Raíssa, do ocorrido. Só que os quatro não somente não aceitaram a culpa como também intimaram a quem fez o comentário, a se apresentar se tivesse coragem.
Nisso, o tempo foi passando e as aulas acabaram. Novamente se deu a euforia para voltar para casa. A pressa em arrumar o material, a correria, e a balbúrdia.
Todos foram para suas respectivas casas almoçar, e mais tarde, foram se encontrar na Praça. Os comentários foram quase todos sobre o bilhete recebido pelo professor.
-- Pessoal, essa história do bilhete ainda vai acabar mal. – afirmou Leocádio.
-- Porque você acha isso? – perguntou Cláudio.
-- Porque, do jeito que aquele professor é encardido, ele vai guardar o bilhete. E se ele fizer isso, vai acabar descobrindo o autor da mensagem.
-- Infeliz. É verdade. Você tem toda a razão Luís. Ele pode descobrir. – concordou Raíssa.
-- Mas, também, quem será o burro que jogou o papel nele? – perguntou Cláudio.
-- Isso eu não sei. Mas algo tem que ser dito. Foi algum de vocês que escreveu naquele papel? – perguntou Raíssa.
-- Não, não. – responderam os três em uníssono.
-- Olhem lá, heim? Porque se foi um de vocês, vocês tem que contar, antes que sobre pro nosso lado. E isso é sério. Não mintam.
-- Não Raíssa, nós não escrevemos nada. Não é? – falou Cláudio.
-- É sim. – concordou Léo.
-- Isso mesmo. – emendou Luís.
-- Se não foi nenhum de nós. Quem foi então? – perguntou então Léo.
-- Melhor a gente descobrir. – continuou Cláudio.
-- Antes que acabe sobrando para nós. – emendou Luís.
Nisso, todos começaram a falar ao mesmo tempo, o que causou uma confusão. No meio desse turbilhão de sons, Raíssa procurou pensar em uma forma de tentar descobrir o autor da mensagem. Até que...
-- Pessoal, espere... espere, eu acho que encontrei uma solução.
-- E qual seria? – perguntou Leocádio.
-- É o seguinte... – e começou a contar o plano cochichando-o para os três.
-- Será que isso vai dar certo? – perguntou Luís.
-- Eu espero que sim. – disse Leocádio.
-- Claro que vai dar, Léo. – Cláudio.
Nisso continuaram conversando por mais algum tempo, até começar a ficar tarde e aí, todos foram para suas casas.
Nas casas de Luís, Cláudio e Leocádio, tudo ía muito bem. Todos eram bem cuidados por seus pais. Luís e Cláudio, inclusive, chegavam até a ser um pouco mimados. Talvez essa fosse a razão para terem esse tipo de comportamento, qual seja, meio rebelde e displicente com os estudos.
Já na casa de Raíssa, seu relacionamento com a madrasta, não era dos melhores. As duas se estranhavam muito, sendo que sua madrasta, Dona Eulália, possuía um temperamento um tanto quanto duro. Principalmente em se tratando da educação de Raíssa.
Dona Eulália, sempre tratou Raíssa com muito rigor, sempre a repreendia quando agia de modo errado, mas também criticava muito suas atitudes, suas vestes, seu comportamento, seus modos e seus amigos.
Na maioria das tentativas de Raíssa em ser amigável com a madrasta, era sempre rechaçada e tratada como uma aduladora fingida.
Eulália não gostava da enteada.
Em razão disso aliás, Raíssa nunca entendeu por que Dona Eulália não a deixou em algum orfanato após o sumiço de seu pai, pois nunca a tratou bem, nem mesmo quando ele estava por perto.
No entanto, essa era uma questão que apesar de muitas vezes apresentada por ela, nunca foi bem respondida pela madrasta que sempre alegava:
-- Eu tenho uma dívida com seu pai, e você é um fardo que eu tenho que carregar.
No entanto, essa resposta nunca a satisfez totalmente e por isso chegava a acreditar que talvez um dia, seu pai a viesse buscar.
Talvez por isso sua madrasta cuidava dela sustentando-a. E Dona Eulália, que não era tola, não se livrava dela de medo do marido voltar e cobrar a presença da filha.
No fundo, no fundo Raíssa sentia que sua presença naquela casa, junto a sua madrasta, era mais por temor da ira de seu pai que sumira, do que por qualquer consciência cristã, ou mesmo por bondade.
Mas apesar disso tudo, Dona Eulália, ultimamente vinha cobrando da enteada uma posição. Queria por que queria que Raíssa, passasse a trabalhar. Afirmava que ela já estava forte o suficiente para pegar no pesado e começar a trabalhar.
Muito embora a garota só tivesse 13 anos.
Isso porque a madrasta já sentia que tinha feito tudo por ela e agora tinha que ser restituída por o esforço que teve para terminar de educá-la.
Por esta razão é que ultimamente as duas brigavam.
Dona Eulália queria que Raíssa se sustentasse sozinha para poder cuidar de sua vida, e Raíssa afirmava que daquela casa ela não sua.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
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