De posse do endereço, mais do que depressa se dirigiu para o local da entrevista. Apesar de não ser a hora combinada, tentaria conversar com o responsável pela vaga. Por isso, precisava se apressar.
Ao chegar lá, encontrou um prédio abandonado, de aspecto sombrio. Mesmo desconfiada, resolveu bisbilhotar o que havia dentro do prédio. Devagar, andando lentamente, adentrou o prédio.
Vasculhando todas as entradas da edificação, procurou algum indício de que havia alguém trabalhando naquele lugar. E assim, caminhando lentamente, vasculhou todas as salas do edifício. Nada.
Estranhamente, não havia nada no local que o indicava com um ambiente de trabalho. Assim, diante das circunstâncias, pensou se tratar de uma brincadeira.
Aborrecida com isso, voltou ao local onde se encontrara horas antes com o homem que a entrevistara. Perguntou na portaria onde se encontrava o homem que, de manhã cedo, estava entrevistando moças para um trabalho. Disse que se tratava de algo de seu interesse.
Desconfiado, o porteiro interfonou para o escritório onde o referido homem estava, e explicou-lhe a situação.
Como resposta, o homem autorizou-a a subir.
O porteiro então informou a moça, que poderia subir.
Esta então tratou de ir até o local onde estivera horas antes.
Lá sentou-se novamente em frente ao referido homem e indagou-lhe sobre o endereço:
-- Por acaso, é alguma brincadeira?
-- Não, de forma alguma eu iria fazer uma coisa dessas. Eu só estava testando a sua curiosidade.
Aborrecida, ela perguntou:
-- E o que o senhor descobriu?
-- Descobri que você é desconfiada, e bastante esperta. Até foi verificar o local, antes da entrevista.
-- E daí? – perguntou, ainda aborrecida.
-- E daí, que você parece ser a pessoa indicada para fazer uns ‘servicinhos’ para um amigo. Que tal?
-- E que tipo de ‘servicinhos’ são esses?
-- É tudo muito simples. Só que primeiro, você vai ter que conversar com ele. Está bem?
-- Ele? Onde?
-- Eu já vou te dar o endereço. Não precisa se preocupar que esse é o endereço verdadeiro.
-- Quer dizer que eu fosse pra lá amanhã, eu não encontraria ninguém? Esse é o teste dos senhores?
-- Exatamente. Aqui está o endereço. Não se atrase.
E assim, novamente saiu do escritório. De posse de outro endereço, foi procurar o referido prédio. Para sua alegria, o prédio ficava próximo dali. No entanto, a entrevista estava marcada para o dia seguinte, de manhã, assim, teria que esperar mais um dia para começar a trabalhar.
Para Raíssa, finalmente sua estada na cidade começava a dar em alguma coisa.
Já ... na cidade de Água Branca, sua madrasta estava alvoroçada com o seu sumiço. Desde o momento em que deu pela sua falta começou a bater na porta de todos os vizinhos para que a auxiliassem, ajudando-a a procurar Raíssa.
Tentou conseguir ajuda da polícia, mas como se tratava de uma adolescente, e o desde o desaparecimento não tinha dado vinte e quatro horas, nada poderiam fazer.
Por essa razão, Raíssa não foi encontrada enquanto ainda estava na estrada.
Para tranqüilizar a madrasta, a polícia simplesmente alertou todos os motoristas de ônibus, de que seriam parados na estrada para que se verificasse quem viajava. Tudo isso, tentando encontrá-la. Isso porque, Dona Eulália, descobriu com os amigos de Raíssa, que ela fugiria de ônibus da cidade.
No entanto, mesmo parando todos os ônibus que saíram da cidade no dia seguinte a sua fuga, não conseguiram encontrá-la. Havia evaporado.
A única informação que obtiveram dos motoristas, foi de que havia na estrada algumas pessoas andando a pé, entre elas, estava uma garota, mais ou menos com a descrição dada, usando uma mochila.
Segundo estes motoristas, dada as condições da caminhada, talvez ela tivesse ido até a cidade vizinha, Pedra Tombada. Diante dessa informação, a polícia local, mandou um chamado para a polícia das cidades vizinhas, para que procurasse uma garota desaparecida.
E mesmo assim, após dias procurando por Raíssa, a mesma não havia sido encontrada. Passavam-se semanas e nada de encontrá-la.
Diante de tal quadro, a polícia já estava desistindo do caso. Davam-no por encerrado. Depois de tantos dias de desaparecimento, não havia mais nada a ser feito.
E assim fizeram. Mesmo diante da insistência de Dona Eulália, os policiais não sabiam mais por onde procurar.
Raíssa, conforme o combinado, apresentou-se no lugar da entrevista no dia seguinte.
Logo ao adentrar o edifício, constatou que se tratava de uma construção de alto padrão. Uma edificação realmente luxuosa. Curiosa, mais que depressa se dirigiu ao elevador e foi para sua entrevista.
Quando apertou a campainha, logo um empregado vestido formalmente a atendeu. E, ainda na entrada, ouviu uma voz pedindo para entrar.
Raíssa então entrou na sala e se apresentou para um senhor que aparentava cerca de quarenta e poucos anos. Disse-lhe que lá estava por conta da entrevista marcada.
No que o homem respondeu:
-- Eu sei. Meu amigo me avisou.
Enquanto dizia isso, a observava atentamente.
Desconfiada, Raíssa começou a encará-lo.
Diante disso, o homem respondeu:
-- Mocinha. Você tem idéia do que eu espero que faça?
-- Não. Mas é um trabalho, não é?
Ao ouvir isso, o estranho homem começou a rir. E rindo disse:
-- Sim, é um trabalho. Mas não é para qualquer um. Eu preciso de alguém esperto para isso. Alguém que não se complicaria diante de um contratempo. Que não ficaria nervoso diante de uma situação de tensão ... Enfim, alguém que soubesse agir rápido.
Ao ouvir isso, Raíssa, sempre confiante, afirmou:
-- Pois então, o senhor encontrou a pessoa certa. Eu posso fazer esse serviço.
Admirado, o senhor perguntou:
-- Ah! É mesmo? E como é que você pretende fazer isso?
-- Ué. É só o senhor me explicar o que tenho que fazer que tudo sairá a contento. Eu te garanto.
Rindo, o homem disse:
-- Está bem. A mocinha está certa de que é isso mesmo?
-- Ora senhor, eu só vou saber, se o senhor me contar do que se trata. – disse já impaciente.
-- Está certo. Você vai começar, passando alguns recados para mim. Se fizer tudo direitinho, eu posso lhe atribuir mais responsabilidades.
E nisso explicou-lhe os recados que teria que transmitir, e para quem. Curiosamente, a maioria deles, era para a mesma pessoa com que havia conversado no dia anterior.
No entanto, os recados não eram claros. Era como se fossem uma mensagem secreta. Mas Raíssa, intrigada que estava com isso, tratou de anotar os recados e guardar uma cópia dos recados consigo. Queria descobrir o que significavam.
E assim, depois de uma semana como garota de recados, entrando e saindo dos dois prédios seguidas vezes durante o dia, passou a ser reconhecida pelos porteiros de ambos os lugares. Tanto que muitas vezes, chegou a entrar no escritório de um e no apartamento de outro, sem nem ao menos ser anunciada.
Exatamente numa dessas vezes, chegou a ouvir algumas conversas de ambos. Pelo telefone, ditavam ordens a serem seguidas e operavam algumas transações.
Nas primeiras vezes em que ouviu as conversas, não achou nada de mais.
Sensata pensava, que jamais falariam pelo telefone sobre algo comprometedor. Não seriam imprudentes a esse ponto. Eles sabiam o que estão fazendo.
Até porque, ambos estavam acostumados a ter muita gente os cercando enquanto trabalhavam. Assim, não podiam cometer indiscrições.
No entanto, depois de alguns dias, Raíssa acabou ouvindo algo comprometedor.
Como seu patrão não a acompanhou até a porta, Raíssa deu um jeito, e acabou ouvindo sua conversa ao telefone.
Atenta, ouviu algo a respeito da entrega de algumas mercadorias, e de que precisavam de alguém para distribuí-las numa das cidades vizinhas.
Cauteloso, seu patrão insistiu para que as mesmas fossem distribuídas por ele.
Mas não teve jeito.
Quem conversava com ele não queria que ele se expusesse nessa operação. Queria alguém de menos importância para fazer isso. Assim, caso alguma coisa desse errado, não teria grandes problemas. Arrumando terceiros para fazer esse ‘servicinho’, mesmo que este fosse pego, não poderia entregar os outros. Não conheceria a organização.
Ao ouvir isso, Raíssa que havia retornado discretamente ao apartamento de seu patrão, sorrateiramente retirou-se do recinto. Não queria ser pega, ouvindo a conversa. Não queria por em risco o trabalho que arrumou com tanto sacrifício. Mas queria muito, passar a exercer atividades mais promissoras.
Para tanto, precisava conhecer melhor o ambiente em que estava envolvida e o trabalho que fazia. Desde que começou a trabalhar, sabia que havia algo mais. Sabia que havia tarefas mais interessantes a serem executadas. Algumas tarefas inclusive, mais bem remuneradas. Justamente o que a interessava.
Se queria continuar por ali, precisava arrumar um trabalho mais bem remunerado.
Mas para isso, precisava ganhar a confiança do patrão. Mostrar-se capaz de executar tarefas mais complexas.
E assim, passou a interessar-se mais e mais pelo trabalho que executava.
De posse das mensagens que transmitia, tentou descobrir seu significado. Em vão. Como qualquer mensagem secreta, somente quem possuía o código é que poderia decifrá-la.
Assim, precisava descobrir o código. Só assim poderia decifrá-las.
Mas, como faria isso? Pode ser até que tivessem o código escrito. Talvez até tivesse sido decorado. Afinal, não eram amadores.
Mas, mesmo diante da dificuldade que seria conseguir o código, não desanimou. Pensava que poderia conseguir o código. Só não sabia como.
Achava que essa era das formas que tinha para conseguir fazer tarefas mais ousadas.
Como fazia muito pouco tempo que trabalhava para essas pessoas, não poderia, logo de cara, querer exigir mais tarefas. Achava sempre, que precisava primeiro, ganhar a confiança dos mesmos.
Disciplinada, foi isso que planejou fazer.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 13
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