Rodrigo bem que tentou retê-la por mais alguns minutos. Debalde.
Apressada, Thereza nem deixou o amigo falar. Ansiosa por encontrar o marido, Thereza atravessou rapidamente ruas e calçadas.
Desta forma, quando o rapaz foi até a rua para ver onde ela estava, não viu nem a sombra da moça que a esta altura já estava bem longe dali.
Desolado por saber que Thereza havia se casado, o rapaz, mesmo assim, ainda tentaria se aproximar mais uma vez, antes de voltar para a fazenda.
Thereza caminhando, ao então ver Abelardo, foi logo dizendo:
-- Então a reunião acabou?
-- Sim. Já faz algum tempo. Onde você estava?
-- Bem... eu fui dar algumas voltas e acabei entrando em uma das confeitarias. – respondeu ela, um pouco nervosa.
Abelardo sorrindo, perguntou-lhe se já podiam ir.
A mulher, aturdida, assentiu com a cabeça.
Assim os dois caminharam juntos em direção ao hotel.
Rodrigo ao voltar para casa, foi logo cumprimentando o tio. Dizendo que encontrou na cidade, uma pessoa que não via há tempos, perguntou a Altino, como fazia para encontrar uma pessoa que não havia deixado endereço.
O homem, cauteloso, perguntou ao rapaz, por que a pessoa não deixara seu endereço.
Rodrigo, contou então as circunstância na qual se deu o encontro.
Altino, percebendo que o encontro fora inesperado, perguntou ao rapaz se a moça realmente tinha interesse em revê-lo.
Rodrigo, aborrecido com a pergunta, comentou:
-- Mas é claro que tem. Afinal de contas, nós não nos vemos desde há muito...
Altino ao ouvir a resposta decisiva do sobrinho – filho de Ataúfo –, e temendo magoá-lo, disse que a melhor maneira maneira de fazê-lo, seria procurar a moça em hotéis. Isso por que, segundo o mancebo, Thereza estava muito bem posta na vida. Dizendo que a moça estava muito bem vestida, Rodrigo mostrou qual era o melhor caminho para encontrá-la.
Rodrigo então, seguindo os conselhos do tio, agradeceu-o e prometendo procurá-la no dia seguinte, comentou que vasculharia todos os hotéis da cidade, se fosse preciso.
Altino preocupado, sorriu.
Porém, por mais que se preocupasse com o mancebo, não adiantava discutir. Quando Rodrigo colocava uma idéia na cabeça, não havia quem o convencesse do contrário.
E assim, mesmo sabendo que Thereza era casada, lá se foi ele, a sua procura.
Ansioso, nem bem esperou o dia amanhecer para se levantar e caminhar pela cidade. Alugando um tílburi, percorreu as principais ruas da cidade. Vasculhando os hotéis mais luxuosos da Corte, o rapaz levou algum tempo para encontrar Thereza.
Mas de tanto persistir acabou encontrando.
No momento em obteve a confirmação de que a moça estava hospedada em um dos hotéis da cidade, o moço pediu para que o recepcionista o avisasse assim que ela surgisse no saguão. O homem prometeu que o faria.
E assim, Rodrigo esperou pacientemente que a moça saísse de sua alcova.
Porém, ao contrário do que imaginara, não foi preciso que alguém o avisasse. Quando Thereza surgiu fulgurante de braços dados com seu marido, Rodrigo pôde ver com seus próprios olhos o casal. Surpreso ao saber que a moça havia se casado com alguém tão jovem quanto ela, o rapaz ficou profundamente decepcionado.
Isso por que, acreditava que Thereza havia se passado por uma senhora, simplesmente para provocá-lo. Mas não, a moça havia mesmo se casado.
Para Rodrigo, o desalento não podia ser maior.
Por isso mesmo, depois de ver a moça passar por ele, sem nem sequer lançar-lhe um olhar, Rodrigo saiu do hotel aborrecido.
Quando chegou em casa e o tio perguntou como tinha sido o encontro, ouviu uma resposta atravessada. O jovem mancebo, dizendo que não tinha tempo para conversas, resolveu deixar o assunto de lado.
Altino, homem experiente que era, percebeu que o encontro não transcorreu da forma como ele imaginara. Pensando nisso, o homem tranqüilizou-se. Afinal de contas, se as coisas não ocorreram como ele gostaria, certamente o rapaz havia caído em si. Dessa forma, seria apenas uma questão de tempo, para que ele desistisse da idéia de se encontrar novamente com Thereza.
No entanto, nem tudo saiu como Altino esperava. Isso por que, apesar da decepção de sabê-la casada, Rodrigo, planejando voltar para a fazenda, cismou que tinha que se despedir da moça. Dizendo ao tio, que não podia simplesmente partir sem ao menos dizer adeus, o rapaz insistiu na idéia de que tinha que se despedir. Isso por que, temendo a idéia de que os dois nunca mais se encontrassem, sentia-se em débito com a moça, e apesar de achá-la ingrata, já que nunca o procurou, achava que devia finalmente encerrar aquela página de sua vida. Decidido, retornou, dias depois ao hotel e ansioso, esperou que a moça aparecesse.
Conforme as horas passavam, e nada de Thereza aparecer, Rodrigo foi ficando cada vez mais preocupado. Temendo que a moça houvesse partido sem se despedir dele, Rodrigo foi ficando cada vez mais angustiado. Diante disso, foi até a recepção do hotel.
Antes que qualquer um dos recepcionistas viesse atendê-lo, Thereza, desconfiada de que era Rodrigo o rapaz que se aproximava da recepção, resolveu chamá-lo.
-- Rodrigo!
O mancebo ao ouvir seu nome, virou-se. Era Thereza quem o chamava.
Surpreso, o rapaz mal pôde esconder sua alegria ao vê-la diante de si.
Por um instante esqueceu de tudo o que havia se passado em sua vida desde que deixara a fazenda. Por um instante era como se tudo havia voltado a ser como era antes. Novamente se viu menino, conversando em meio ao cafezal com Thereza, a amiga de infância, a querida companheira de suas horas felizes. Porém, em meio a toda essa felicidade, veio a lembrança de Ataúfo, criando e cuidando dele.
O jovem, ao se lembrar disso, ficou profundamente emocionado. Isso por que, ao lembrar-se de Ataúfo, inevitavelmente lembrava de quanto havia sido enganado e de como, mesmo sem poder dizer a verdade, o homem o criara com um verdadeiro pai.
Ressentido, não conseguia entender como um homem como ele, tão incisivo e assertivo, não teve coragem para assumir que era seu pai.
Thereza, percebendo que rapaz se distraíra com alguma coisa, chamou-lhe novamente pelo nome:
-- Rodrigo!
Nesse instante, o rapaz, percebendo que a moça estava diante de si, notou que havia se distraído.
Thereza preocupada, perguntou-lhe se estava sentindo alguma coisa.
Rodrigo respondeu que não. Apenas o passado, que havia se apresentando diante dele.
Thereza ao ouvir isso também se emocionou.
Rodrigo, percebendo que magoou a moça, pediu desculpas. Dizendo que esta não fora sua intenção, pediu para que ela esquecesse tudo aquilo.
Thereza respondeu-lhe então:
-- Esquecer o que me dissestes eu até posso fazê-lo. Só não me peças para eu esquecer o passado. Ele faz parte de mim, e nada do mundo pode apagá-lo. Por mais que isso me doa, eu não posso me livrar dele.
Nisso fez-se um longo período de silêncio entre os dois.
Thereza retomando a palavra, prosseguiu:
-- Mas não se preocupe. Eu não sou triste.
Rodrigo, observando o sorriso da amiga, percebeu que ela não era sincera quando dizia aquilo. Porém, não querendo entrar em detalhes quanto aquele assunto, Rodrigo resolveu mudar o rumo da conversa.
Dizendo que tinha ido até lá para se despedir, comentou brincando que ela havia se escondido muito bem.
Thereza, ao ouvir as palavras do amigo, levou algum tempo para entender o que ele estava querendo dizer com aquilo. Mas, ao entender as palavras do amigo, pediu-lhe desculpas.
Dizendo que fora negligente com ele comentou:
-- Que indelicadeza a minha! Quando eu me despedi de você na confeitaria, nem me lembrei de dizer-lhe onde estava hospedada. Que modos péssimos!
Rodrigo, ao ouvir as palavras de Thereza, aceitando as desculpas, contou a ela como fizera para descobrir onde estava hospedada.
Thereza ao tomar conhecimento das artimanhas do amigo, elogiou sua esperteza.
Percebendo que os dois ainda estavam no saguão do hotel, Thereza, notando que aquele não era o lugar mais adequado para terem uma conversa, pediu para ele acompanhá-la até o restaurante.
Rodrigo aceitou o convite.
E assim, lá se foram os dois a caminhar.
Ao encontrar um bom lugar para comerem uma refeição, Thereza comentou que por Abelardo estar envolvido em discussões políticas, podiam conversar o tempo que quisessem até que ela tivesse que voltar para casa.
Curioso, Rodrigo perguntou a ela como era estar casada com um ativista político.
Thereza respondeu que Abelardo, por ser escritor e poeta, era por demais idealista. Por esta razão, o rapaz estava mais preocupado em libertar os escravos, do que com uma vida vulgar. A moça, dizendo que admirava-o por isso, contou que o rapaz era um grande lutador. Filho ilegítimo de rico fazendeiro, Abelardo lutou muito para estudar e ter a vida que merecia.
Rodrigo sentido, comentou que conhecia esta história.
A moça, percebendo que tocara em feridas não definitivamente cicatrizadas, pediu-lhe desculpas, e dizendo que não tivera a intenção de magoá-lo, deixou bem claro que só queria contar a trajetória do marido.
Rodrigo então, aceitou as desculpas e pedindo para que a moça prosseguisse o relato, descobriu que Abelardo estava trabalhando como jornalista. Curioso, assim que soube disso, logo perguntou se o rapaz já possuía algum livro publicado.
Thereza, dizendo que o Brasil era um país negro comandado por brancos, respondeu que, muito embora ele já tivesse alguns textos publicados na imprensa brasileira, até agora não conseguiu convencer ninguém a publicar seus livros.
Rodrigo irônico, perguntou a Thereza por que ela não sugeria ao marido usar um pseudônimo para publicar suas obras.
A moça, percebendo o tom das palavras de Rodrigo, respondeu que sugerira isso a Abelardo, mas este, dizendo que devia ser aceito pelo que ele era e não por uma idéia que faziam dele, respondeu que jamais aceitaria esse tipo de solução.
Rodrigo então sorriu.
Thereza irritada, respondeu que ele não tinha o direito de debochar de Abelardo já que ele nem o conhecia. Aborrecida com o pouco caso de Rodrigo em relação a Abelardo, Thereza levantou-se e ameaçou até deixá-lo sozinho no restaurante.
O mancebo, percebendo que havia se excedido, pediu desculpas e dizendo que não falaria mais nada a respeito de Abelardo, pediu a moça para que se sentasse.
Thereza titubeou, mas o rapaz, segurando-a pelo braço, pediu novamente para que ela se sentasse. Dizendo que não se sentiria bem em saber que a deixara aborrecida, prometeu novamente não falar de seu marido.
A moça, percebendo que Rodrigo estava sendo sincero, sentou-se novamente.
Nisso, Rodrigo, dizendo que estava ali para se despedir, comentou com a moça que estava voltando para a fazenda.
Thereza, surpresa com a atitude do rapaz, perguntou interessada, o que o fazia querer voltar para lá.
O rapaz então respondeu:
-- Oras! Eu tenho direito a parte daquelas terras. A senhora bem o sabe. Muito embora eu não precise delas, eu não posso esquecer de Ricardo.
-- É verdade! Vosmecê me disse que Diego se apoderou de tudo. – respondeu ela.
-- Sim. E é por isso que eu preciso voltar para lá. Em consideração a ele e a tudo que aquele lugar representou em minha vida, eu não posso desistir daquelas terras. – respondeu ele um pouco emocionado.
-- Sim, eu sei. Aquilo tudo deve significar muito para você. Eu sei o que é isso e não lhe tiro a razão.
Rodrigo, ao notar o tom saudoso de suas palavras, perguntou a Thereza se ela também tencionava voltar para lá.
A moça, sem saber o que responder, contou que não havia razão nenhuma para voltar para lá. Ademais, como escrava que era, não podia voltar para lá, ou certamente Diego tentaria prejudicá-la. Segundo ela, se Diego havia se adonado de tudo, certamente ele também tentaria se apossar de todos os escravos que fugiram da fazenda.
Rodrigo, percebendo que havia razão na preocupação de Thereza, disse a ela que se tencionava voltar, não deveria jamais revelar que era a mesma moça, que anos antes, fugira da fazenda. Sequioso de que a moça um dia o visitasse, disse a ela, que quando quisesse ficar por lá, era só dizer que era uma conhecida do Rio de Janeiro, que não haveria problema algum. Por ser ele negro, ninguém suspeitaria ser ela alguma escrava, posto que devia ter muito amigos da mesma cor.
Segundo ele, os negros, em sendo muito unidos, procuram sempre se reunir em grupos, para que assim sofressem menos com as agressões daquela sociedade escravagista e preconceituosa.
Isso por que, ser negro e influente, naqueles tempos, era algo quase impensado.
Se unir então, era uma forma de se proteger um pouco das agressões dos brancos.
Thereza, ao ouvir o convite, sorriu. Porém, declinando da oferta, respondeu que tinha assuntos para resolver por ali e que por isso mesmo não podia se ausentar.
Rodrigo, um pouco decepcionado, respondeu:
-- Que pena!
E assim, bebericando um vinho, e comendo um regalado repasto, o jovem se despediu da moça que enchera sua vida de alegria. Dizendo que levaria muito tempo para ali voltar, disse a ela, em tom melancólico, que talvez nunca mais se encontrassem.
Thereza, ao perceber que a despedida fosse definitiva, chorou. Desalentada, abraçou o amigo, se esquecendo de todas as regras de moral e boa conduta.
Depois, percebendo havia se excedido, pediu desculpas.
Foi então que Rodrigo disse adeus.
Thereza, se despediu.
Quando o garçom chegou para recolher a louça usada no almoço, trouxe também a conta, que Rodrigo prontamente pagou.
E assim, quando o rapaz a conduziu de volta ao hotel, Thereza, perguntando a ele quando partiria, prometeu que iria até a estação ferroviária se despedir.
Rodrigo então respondeu.
Em seguida os dois se despediram novamente.
No dia seguinte, conforme o combinado, Thereza, esperando-o na estação, novamente se despediu.
Abelardo, participando de reuniões políticas não pôde acompanhá-la.
E assim Thereza e Rodrigo, aproveitaram para novamente se abraçar. Depois, pegando suas malas, o rapaz entrou no trem. Estava prestes a voltar para a terra de suas lembranças.
Altino, adoentado, não pôde acompanhá-lo até a estação. Por isso aproveitou para se despedir do sobrinho, momentos antes deste partir. Preocupado, pediu ao rapaz, que mantivesse contato.
Rodrigo atencioso, prometeu que o faria.
A seguir, disse até logo e fechou a porta da casa.
Na estação, Rodrigo encontrou Thereza e lá se despediu dela.
Depois de ver o trem partir, a moça, um pouco nostálgica, resolveu fazer um breve passeio na cidade. Solitária, percorreu ruas, praças, visitou inúmeros lugares e depois voltou ao hotel.
Para sua surpresa, quando adentrou o saguão do hotel, deparou com Abelardo que a esperava impaciente.
O mancebo, enciúmado, foi logo perguntando se ela estivera até agora na estação.
Thereza, surpresa com a reação do marido, respondeu que não. Dizendo que resolvera fazer um passeio, caminhou pela cidade. Tanto que até perdeu a hora.
Abelardo, ao ouvir as palavras da esposa, tranqüilizou-se.
Satisfeito com a resposta, estendeu o braço. A moça, percebendo o gesto, deixou que o marido segurasse seu braço. E assim, caminhando juntos, foram almoçar.
Em razão do término dos trabalhos de Abelardo na cidade, o rapaz comentou que no dia seguinte os dias voltariam para São Paulo.
Thereza, satisfeita com a novidade, ficou felicíssima. Cansada de ficar só na Corte, finalmente poderia voltar para casa e prosseguir com seus planos de vingança.
Decidida a retornar a região onde nascera, a moça começou a pensar em como faria para contar ao marido que tinha interesse em comprar terras na região. Determinada, passou a viagem toda pensando no estratagema que iria utilizar para convencê-lo a empreender uma longa viagem.
Temerosa de uma eventual recusa por parte do marido, Thereza achou por bem pensar bem no que iria dizer-lhe.
Cautelosa, assim o fez.
Porém, a uma certa altura, já tendo mandado um representante até a região e estando prestes a comprar uma pequena propriedade que já pertencera a família de Diego, Thereza sentiu que já era hora de contar seus planos ao marido.
Desta forma, usando de todo tato, a moça comentou que estava comprando terras na aludida região. Dizendo que proposta era irrecusável, comentou que por não ficar muito longe de São Paulo, a região era um ótimo lugar para eles descansarem.
Abelardo, que nessa época trabalhava como jornalista em um grande jornal da cidade, não gostou nem um pouco da idéia. Dizendo que ambos tinham uma vida estabelecida na cidade, não havia por que os dois mudarem seus planos. Além disso, Abelardo, que era filho de fazendeiro, cansado e desiludido com aquela vida de sofrimento e miséria, comentou que nunca mais gostaria de viver num lugar como aqueles.
Thereza, percebendo a resistência do marido, comentou que eles não precisavam morar lá. Aquele era apenas mais um investimento.
Quando Abelardo ouviu isso, perguntou a esposa por que ela não investia em propriedades na cidade.
A moça, dizendo que durante muito tempo viveu como escrava, disse que precisava voltar. Quem sabe agora, que tinha dinheiro, não conseguiria ajudar as pessoas? Perguntou.
Abelardo, reticente, respondeu que ajudar os outros não era tão fácil assim. Dizendo que somente quando se abolisse a escravidão no Brasil que os negros teriam alguma chance, ressaltou que sua luta tinha mais valia em São Paulo do que no interior da província.
Thereza no entanto, dizendo que morando em uma propriedade rural poderia fazer algo de mais efetivo, acabou por convencê-lo a adquirir a pequena propriedade.
Assim, a moça comprou a propriedade. Com isso, o mandante de Thereza ao receber autorização para comprar as terras, foi logo adverti-la sobre as condições da mesma. Decadente a propriedade não era das melhores que havia na região. Thereza ao ouvir as palavras do homem, ainda assim não desistiu da compra. Dizendo para ele fazer uma oferta menor, recomendou que ele comprasse as terras. Contudo, se não desse para comprar por um preço pequeno, que comprasse a propriedade de qualquer jeito.
Ao ouvir as palavras de Thereza, o homem bem que tentou entender seu interesse em comprar em exatamente aquelas terras. Contudo, por mais que pensasse, não conseguia encontrar uma resposta. Por esta razão, o mandante, dizendo-lhe que havia encontrado uma propriedade melhor e maior, sugeriu que ela adquirisse-a.
Thereza, percebendo que seu comportamento poderia gerar desconfianças, concordou em comprar as duas propriedades. Contudo, não podia desistir de adquirir algo que pertencera a família de seus inimigos. E assim, a moça comprou as duas propriedades.
Feliz, comemorou com vinho, sua primeira vitória.
Cleide, sua preceptora, intrigada com interesse de Thereza, foi logo lhe perguntar por que ela fazia tanta questão de adquirir uma fazenda.
Enigmática, Thereza respondeu que simplesmente gostaria de mudar de ares por algum tempo.
Cleide, sabendo que moça possuía fazendas, disse:
-- Ora Thereza! Vossa Mercê é dona de inúmeras propriedades. Mesmo assim eu nunca a vi se interessar em ir vê-las. Por que justamente agora, você se interessou por terras?
-- Muito simples! É por que somente agora eu encontrei as terras que eu há muito tempo buscava. Quanto as outras terras, engana-se se pensa que eu nunca me interessei por elas. O simples fato de eu ir poucas vezes até lá, não significa que não me interesso por terras. Isso se deve ao fato de eu ter bons administradores, vosmecê bem o sabe.
Cleide concordou. Contudo, o inesperado interesse de Thereza por terras, ainda assim, deixava-a muito intrigada.
No entanto, como a moça demorou muito para ir até lá, Cleide pensou que os ânimos dela havia se arrefecido e desistira por completo da idéia de passar algum tempo na aludida propriedade.
O que ela nem sequer imaginava é que Thereza estava planejando tudo cuidadosamente. Como queria impressionar os proprietários da região, Thereza não poupou gastos para deixar a sede das duas propriedades impecáveis.
Decidida a imprimir sua marca no local, comprou móveis e deslocou para a região a melhor mão de obra que conhecia. Procurando ajudar alguns negros, comprou escravos e por meio de seu representante, libertou-os. Em seguida, contratando-os como empregados, convenceu-os a trabalharem para ela, sem que soubessem quem era o dono das terras, em troca de uma remuneração.
Assim, foi questão de meses para que tudo estivesse pronto.
Para Cleide, Thereza havia desistido da idéia de visitar o lugar.
Nada mais equivocado.
Thereza porém, gostava de pensar que todos achavam que ela desistiria da idéia de ir até lá.
Quando então Thereza, ao saber que tudo estava pronto, resolveu voltar para lá, foi logo avisando a todos que dentro em breve viajaria até sua nova fazenda.
Ao ouvir isso Abelardo, que já havia se esquecido da história, comentou que não poderia viajar naquele momento.
Thereza ao ouvir isso, ficou desapontada, mas dizendo que já havia adiado por muito tempo sua visita a propriedade, avisou ao marido que viajaria sozinha até lá.
Abelardo ao ouvir isso, não ficou nem um pouco contente. Por diversas vezes tentou fazer a mulher desistir da idéia. Contudo, não logrou êxito em seu desiderato.
Thereza, percebendo a resistência de Abelardo a idéia de que viajasse sozinha, resolveu dizer, persuasiva, que estava indo para lá, para pôr em prática seus planos e libertar alguns escravos, como seu pai fizera antes, nas fazendas que comprara.
Ao ouvir isso, Abelardo acabou concordando.
Acompanhada de Cleide entre outros amigos, Thereza voltou a sua terra natal. Mal sabia ela que esta seria sua última grande viagem.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
A DEUSA NEGRA - CAPÍTULO 14
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