Diante desse quadro lastimável, mestres, pais e autoridades, percebendo que não seria simples resolver o problema das drogas, sentindo-se no dever de alertar a população da cidade para o perigo dos tóxicos, unindo-se, passaram a elaborar um plano de campanha, visando a conscientização.
Cansados de perderem na luta contra as drogas, os educadores e as famílias passaram a se posicionar contra esse mal que ao que parecia, tinha vindo para ficar.
Assim, abandonando a postura passiva, passaram a agir.
Determinados, exigiram que o prefeito, autoridade máxima do lugar, se posicionasse firmemente contra aquela situação. O homem, acuado, concordou que tomaria as providencias necessárias para compelir aquele abuso.
Nisso, conforme os dias se passaram e conforme mais mortes de jovens ocorreram, os populares, aproveitando a oportunidade, participavam dos enterros e discursando sobre o problema das drogas diziam que enfrentariam o problema de frente.
Alegando que estavam cansados de verem crianças morrendo, pais, mães e educadores comentaram que ninguém poderia se omitir mais.
Recriminando a todos pela omissão, os mesmos disseram que as famílias precisavam ficar atentas. Qualquer comportamento incomum poderia ser o indício de esta pessoa poderia estar envolvida com as drogas.
Alertando para o discurso sedutor e envolvente que os traficantes usavam para envolver os jovens nesse submundo, os educadores disseram que pesquisando sobre o assunto, descobriram que num primeiro momento, a droga é altamente atrativa.
Inicialmente causando uma profunda sensação de bem-estar, aos poucos, mina a resistência dos jovens que cada vez mais, se vêem dependentes destas substâncias químicas.
As pessoas que até então ouviram tudo placidamente, já que abaladas com a morte de mais um jovem só conseguiam pensar na dor e no desespero, ao saberem o quão poderoso é o argumento para que os jovens passassem a usar drogas, ficaram horrorizados.
Perplexos muitos se perguntavam: ‘Como faremos então para nos livrarmos desse mal? Afinal de contas, se ela é tão atrativa, não podemos fazer nada para impedir que esse mal se espalhe, se dissemine?’
Os educadores, pais e mães envolvidos no combate as drogas, percebendo o ar aterrado dos acompanhantes da cerimônia fúnebre, explicaram que não seria recriminando ou proibindo os jovens de experimentarem a novidade, que conseguiriam afastá-los desse universo nefasto.
Muito pelo contrário.
Somente explicando-lhes o mal que tal produto fazia, é que eles talvez conseguissem vencer a luta.
Nisso o enterro prosseguiu.
Padre Olavo proferindo as últimas palavras em tributo ao jovem que falecera, comentou que os responsáveis por mais aquela morte seriam punidos.
Ao proferir essas palavras, a multidão que acompanhava o enterro, o aplaudiu calorosamente. Emocionados, os pais do jovem morto choraram.
Raíssa, acompanhando a cerimônia de longe, profundamente abalada com os novos acontecimentos, decidiu acabar de vez com esse mal.
Decidida, foi até a casa de Marcílio, e conversando com ele, comentou que não podia mais participar de toda aquela imundice.
Dizendo que se sentia enojada de ter compactuado com toda aquela barbaridade, mostrou-se arrependida. Comentando que antes de conhecer a nocividade dos tóxicos acreditava que esta forma de ganhar dinheiro, não prejudicava ninguém, qual não foi sua surpresa ao ver tantos jovens dependentes ou mesmo mortos em decorrência do vício. Gente que muitas vezes, tinha a mesma idade que ela. Gente que ela conhecia. Gente que ela estava vendo definhar e morrer.
Dizendo que não agüentava mais ver tanta miséria humana diante de si, Raíssa comentou que não dava mais para continuar envolvida em tudo aquilo.
Comentando que estava disposta a mudar de vida, respondeu que precisava se redimir. Alegando que a culpa que carregava lhe era insuportável, disse que precisava parar com tudo aquilo.
Marcílio, ao ouvir de Raíssa seu pedido de dispensa, comentou que ele não tinha poder para isso.
Dizendo que não podia deixá-la sair da organização, respondeu que ela sabia de mais para poder garantir sua integridade física. Alertando-a para o perigo de tal decisão, comentou que ela não podia sair.
Raíssa, ciente de que estava se arriscando, comentou que não podia mais permanecer integrando a quadrilha. Dizendo-se envergonhada com sua atitude, pediu a Marcílio que também saísse da organização enquanto era tempo.
O homem, respondendo que era tarde demais para ele, pediu para que ela também ficasse. Dizendo que não poderia mais protegê-la se ela saísse, comentou que era suicídio fazê-lo.
Raíssa porém, teimosamente insistiu em sua desistência. Alegando que tinha que mudar sua vida, comentou que estava desistindo de tudo.
Marcílio ao perceber que a moça estava decidida, bem que tentou convencê-la a desistir da idéia.
Todavia, por mais que a alertasse dizendo que a mesma teria problemas, Raíssa continuava a dizer que não voltaria atrás.
A moça, ao ver o olhar de espanto de Marcílio, comentou que sua decisão não seria mudada.
Marcílio, temendo pelo pior comentou que ela estava certa.
Dizendo que sua decisão não tinha volta, comentou que ela já havia selado seu destino.
Raíssa engoliu seco.
Depois, cansada das ameaças veladas de Marcílio, saiu da casa dele, e caminhando de volta para sua residência, percebeu o olhar de algumas pessoas a recriminando.
Com isso, Dona Eulália, ao saber que Raíssa desistira de seu trabalho, comentou que ela havia feito uma grande besteira ao deixar tudo para trás. Dizendo que ela era uma tola, alegou que em seu lugar, jamais abandonaria um emprego que pagasse tão bem.
Recriminando a enteada, a mulher dizia-lhe para reconsiderar sua decisão.
Raíssa dizendo que não iria voltar atrás, comentou que não adiantava ela lhe dizer aquelas palavras. Não mudaria de idéia.
Eulália, ao perceber o desdém de Raíssa por sua pessoa, começou a reclamar.
Dizendo que ela era muito atrevida, comentou que acima de tudo era preguiçosa e irresponsável. Nessa ladainha prosseguiu por horas.
Raíssa, que cansada que estava de ser tão recriminada, retirou-se e trancando a porta de seu quarto, deixou a madrasta falando sozinha.
Irritada, bem que Eulália tentou impôr sua vontade a enteada. Querendo que a garota voltasse a trabalhar, exigiu que ela lhe ouvisse.
Como Raíssa não atendeu, Eulália irritada com o pouco caso da enteada, foi até a casa de Marcílio.
Comentando que a moça não trabalhava mais, a mulher exigiu que ele aumentasse o valor da quantia que ela recebia mensalmente.
O homem, ao ouvir a exigência da mulher, começou a rir.
Eulália, irritada, logo quis saber o por quê das gargalhadas.
Marcílio respondeu então:
-- Você quer saber por que estou rindo? Pois bem, eu te digo. Eu estou rindo da sua cara-de-pau.
Eulália recebendo a resposta atravessada, comentou que não estava interessada em ouvir deboches. Alegando que Raíssa era muito gastadeira, respondeu que a quantia que ele lhe pagava não era suficiente para mantê-las.
Ao ouvir isso Marcílio respondeu que não pagaria mais nada para ela.
Eulália espantada, perguntou logo o que ele queria dizer com aquilo.
Marcílio irritado com Eulália, respondeu:
-- Ah, você não entendeu? Tudo bem, eu lhe explico. O que eu disse é que eu não vou pagar mais nada para a senhora. Está acabado! Este foi o último mês que Vossa Senhoria recebeu aquele dinheirinho fácil. Entendeu agora?
Aturdida, Eulália tentou fazer com que ele desistisse da idéia.
Todavia, ao invés de fazê-lo mudar de idéia, o que ela conseguiu foi irritá-lo ainda mais.
A certa altura, cansado da insistência de Eulália, Marcílio mandou ela sair dali. Dizendo que estava cansado da sua presença incômoda, exigiu que ela sumisse de sua frente.
Eulália, que sabia que ele não estava brincando, aquiesceu.
Percebendo o quão irritado ele estava, ela comentou que eles ainda conversariam novamente sobre o assunto.
Marcílio ao notar que ela não havia saído da casa, ameaçou colocá-la porta afora.
A mulher percebendo que não adiantava brigar, saiu da casa.
Nisso, nos dias que se seguiram, muito embora Eulália tenha tentado conversar várias vezes com ele, tudo o que conseguia era ser repelida por Reginaldo.
Para Raíssa porém, as coisas estavam ainda piores.
Seus amigos, ao saberem que ela ousara enfrentar Marcílio, temendo serem alvo de represálias, passaram a evitá-la.
Não bastasse isso, Raíssa ainda tinha que enfrentar a fúria dos moradores da cidade que acreditavam ser ela a responsável, ao menos em parte, por a confusão que se instalara ali.
Ao tentar ir para a escola, diversas vezes, pais de alunos exigiram que a mesma fosse expulsa dali.
Em decorrência disso Raíssa abandonou a escola.
Chateada, percebeu o quanto perdera ao se envolver com as pessoas erradas.
Sozinha, diversas vezes vagou pelas ruas da cidade. Sem rumo, sem direção, caminhou por lugares ermos e sombrios. Tão sombrios como seu espírito.
Desolada, a todo custo tentava se redimir, mas sempre que se oferecia para fazer alguma coisa útil era rechaçada.
Até mesmo Padre Olavo não podia vê-la por perto que já a mandava se afastar. Temendo que ela estivesse aprontando, o sacerdote nem queria saber de aproximação. As beatas também não.
Rogério e Marta certa vez, ao serem-na circulando em frente a Igreja da Matriz, na Praça principal da cidade, trataram logo de interpelá-la.
Dizendo que ela não era benvinda naquela cidade o casal exigiu que ela saísse dali.
Raíssa, bem que tentou reagir, mas vendo havia mais pessoas no local, procurando evitar confusão saiu dali.
Pedro, revoltado com sua atitude, sempre que a via por perto, fazia questão de lhe virar o rosto.
Triste, Raíssa não sabia mais o que fazer para mudar sua situação.
Desolada, sentia como se uma nuvem de chumbo se abatesse sobre ela.
Entrementes, nem tudo seriam espinhos.
Um dia...
Um dia somente, ao ver uma criança precisando de ajuda, Raíssa acorreu em seu encontro. O menino de cinco anos, afastando-se da família, acabou inadvertidamente alcançando a estrada.
Distraída, a criança não percebeu que um carro se aproximava.
Raíssa, percebendo o perigo não pensou duas vezes. Segurando o menino pelos braços, tirou-o do ponto de perigo e levando-o de volta um lugar seguro, perguntou se o mesmo estava bem.
O menino assustado, respondeu que sim.
Em seguida, perguntando sobre sua mãe, começou a chorar.
Raíssa sem saber o que fazer, foi logo perguntando onde estava ela.
O menino sem saber o que dizer, comentou que ela estava naquele lugar.
Raíssa, ficou surpresa.
Muito embora o menino apontasse numa determinada direção, Raíssa não fazia idéia de onde a mulher poderia estar.
Por conta disso os dois saíram a procurá-la.
Porém, nada de achá-la.
O menino só voltou para os braços da mãe quando esta o encontrou.
Ao vê-lo ao lado de Raíssa porém, a mulher não gostou nem um pouco. Tanto que a primeira medida que tomou foi puxar o garoto pelo braço.
Depois dizendo para ela se afastar deles, ameaçou Raíssa. Exigindo que ela não se aproximasse mais dos dois, respondeu que chamaria a polícia se ela os cercasse de novo.
Sem conceder nenhuma chance a moça, a mulher saiu dali segurando o filho pelas mãos.
Apesar do desfecho, mesmo desapontada com a atitude da mulher, Raíssa sentiu-se leve pelo gesto que praticara. Feliz por ter praticado uma boa ação, Raíssa voltou apressadamente para casa.
Contudo, muito embora estivesse feliz pelo gesto que praticara, Dona Eulália, aborrecida com a perda da mesada mensal que recebia, a cada dia que passava infernizava mais e mais a vida de Raíssa.
Dizendo que ela tinha que ajudar a manter a casa, a mulher respondeu-lhe que se a mesma não colaborasse teria que sair dali.
Raíssa aborrecida e cansada de tanto brigar certa vez, decidiu dar uma volta pela cidade.
Voltando mais tarde, as coisas estariam mais calmas e ela não seria perturbada.
Foi nessa época, que caminhando pelos arredores do cemitério, Raíssa percebeu um vulto. Acreditando ser Frederico Lopes, Raíssa acorreu em seu encontro. Porém, ao se aproximar o vulto desapareceu em meio a fumaça.
A visão deixou Raíssa estupefata.
Surpresa a moça prometeu a si mesma que voltaria na noite seguinte. Decidida a descobrir os últimos detalhes da história, a moça se preparou para estar atenta na noite seguinte.
Assim a moça aproveitou para dormir bastante durante o dia para que durante a noite tivesse condições de madrugar no cemitério. Sozinha, passou a madrugada inteira acordada, aguardando o misterioso vulto.
Todavia, para sua decepção, nada do vulto aparecer.
Luís, Léo e Cláudio, a certa altura, sentindo a falta da amiga, resolveram visitá-la. Sabendo da situação delicada pela qual Raíssa passava, os três garotos, sequiosos de lhe serem solidários, foram até sua casa.
Aguardando Eulália sair, para poderem falar com Raíssa, os três garotos ficaram quase meia-hora batendo na porta. Em vão.
Raíssa, cansada, dormia pesadamente.
Os garotos, acreditando que não havia ninguém em casa, já que tudo estava fechado, resolveram voltar ao trabalho. Decididos a ajudar Raíssa, prometeram que assim que fossem liberados, retornariam a sua casa para conversar com ela.
Assim o fizeram.
Ao cair da noite, verificando se Eulália não havia retornado a casa, os três garotos novamente bateram a porta de Raíssa.
Acordada, Raíssa os atendeu imediatamente.
Surpresa, ao ver os três garotos a sua porta, Raíssa logo quis saber o que eles estavam fazendo ali.
Leocádio, comentando que sentira sua falta, respondeu que eles estavam ali para lhe fazer companhia.
A garota, agradecida com a visita, comentou que não tinha tempo para falar com eles naquele momento. Dizendo que tinha um assunto para resolver, comentou que já estava saindo.
Curiosos Luís e Cláudio perguntaram logo sobre o que se tratava.
Raíssa dizendo que não podia explicar, comentou que assim que o resolvesse, contaria sobre o que se tratava.
Todavia, quem disse que eles a deixaram em paz?
Dizendo-se curiosos, os três disseram que não a deixariam ir se ela não contasse sobre o que se tratava. Tentando fazer mistério, Raíssa respondeu que tinha que ir até um lugar.
Os garotos dizendo que não era recomendável ela sair sozinha, diante dos últimos acontecimentos, insistiram em acompanhá-la.
Raíssa, tentando dissuadi-los da idéia, dizendo que poucas pessoas estavam na rua aquela hora, comentou que podia perfeitamente andar sozinha pela cidade.
Os garotos não concordavam.
Assim, não restou a Raíssa senão seguir até o cemitério em companhia dos três. Lá dizendo queria descobrir quem era o vulto que muitos viram adentrar o cemitério, revelou aos garotos que iria até lá quantas vezes fosse preciso.
Os garotos, surpresos com a curiosidade de Raíssa, comentaram tempos atrás, tentaram investigar a lenda do misterioso vulto que aparecia no cemitério.
No entanto, apesar do empenho em prosseguir com a investigação, não conseguiram chegar a nenhuma conclusão. Em razão disso, desistiram.
Raíssa, percebendo que o interesse era comum, comentou que já vinha investigando sobre esta lenda desde há muito tempo.
Comentando que enquanto esteve em Água Viva, aproveitou o tempo livre para descobrir algo mais sobre a lenda, revelou que o vulto que os moradores viram poderia perfeitamente ser Frederico Lopes.
Curiosos, Cláudio e Luís logo quiseram saber de quem se tratava.
Raíssa, revelando sua história, deixou todos entre incrédulos e fascinados com a riqueza de detalhes com que a moça contava a história.
Depois da algum tempo, fazendo um profundo silêncio, os jovens, escondendo-se entre as sepulturas, aguardaram pacientemente pela aparição.
Finalmente depois de muito esperar, apareceu um vulto.
O mesmo, postando-se diante do túmulo de Beatriz Morales, começou seu choro lamentoso.
Leocádio, ansioso, tentou interpelar o homem.
Raíssa, porém, dizendo que precisava entender o que se sucedia, respondeu para que eles esperassem.
Com isso, o homem, depositando flores no túmulo da mulher, estando prestes a partir, seguiu em direção ao outro estremo do cemitério.
Raíssa, perceber que ele iria escapar, chamou-lhe pelo nome:
-- Frederico Lopes. Precisamos falar com o senhor.
O espírito, voltou-se para ela.
-- Você de novo? Por que não me deixa em paz? O que foi que eu fiz para que você tenha tanto prazer em me perseguir? – respondeu ele, impaciente.
-- Nada. Apenas quero ajudar. Quem você procura não está aqui, não é mesmo?
-- Como você sabe? – perguntou ele.
-- Por que se estivesse, você não a procuraria quase todas as noites. – respondeu Luís.
O vulto ficou surpreso. Perguntando quem ele era, o garoto respondeu:
-- Sou amigo de Raíssa. E estes são Leocádio, conhecido como Léo, e Cláudio.
Os garotos fizeram um gesto de reverência.
Frederico então, explicando que depois que a moça falecera nunca mais os dois se encontraram, revelou-se o quão perturbado estava seu espírito. Dizendo que há muito tempo buscava consolação na esperança de um dia encontrá-la, Frederico revelou estar cansado de procurar por ela. Desalentado revelou que dia e noite procurava sinais de sua presença no plano terreno. Por conta disso, a casa onde a família Morales viveu, era conhecida com mal assombrada.
Por esta mesma razão ele visitava assiduamente o cemitério.
Separados na vida, tiveram igual destino na morte.
Como já se sabe, o corpo de Frederico jazia em Água Viva.
Curiosa, Raíssa perguntou-lhe a razão disso.
Frederico Lopes explicou:
-- Isso se deveu ao fato de que Augusto Morales, revoltado com minha conduta, procurando me agredir, resolveu enterrar Beatriz, na mesma cidade que fora palco de nossas maiores alegrias. Só para me atingir. Para completar o quadro, após a minha morte, usando de manobras, conseguiu convencer meus fiéis amigos a me enterrar lá. Todavia, nunca consegui descansar em paz. Isso por que, sabendo da triste morte de minha adorada Beatriz, nunca consegui me desligar deste plano.
Raíssa, observando o desespero em seu semblante etéreo, perguntou-lhe o que eles poderiam fazer para ajudá-lo.
Frederico respondeu que eles podiam rezar com ele. Quem sabe rezando muito, ele conseguiria elevar sua alma e assim, finalmente encontrar Beatriz, liberando-se de seu penoso fardo.
Raíssa, prometeu que rezaria por ele.
Dizendo que ele finalmente poderia se encontrar com Beatriz e seu filho, ouviu como resposta que ele nem mesmo chegou a nascer. Devido o estado de debilidade da moça, a criança não chegara a conhecer este mundo, segundo ele tão injusto.
A seguir, dizendo que Raíssa entendia seu sofrimento, comentou que o penar dela não duraria eternamente.
Ao ouvir isso Raíssa sorriu.
Nisso, o vulto em meio a fumaça, desapareceu.
Todos ficaram surpresos.
Raíssa incumbida da tarefa de ajudar a alma combalida de Frederico, ao sair do cemitério, pediu aos amigos para que pedissem ao Padre Olavo para rezar uma missa em memória de Frederico Lopes.
Luís e Léo, dizendo que o padre não os levariam a sério, perguntaram a ela como fariam para convencer o sacerdote de que não estavam brincando?
Raíssa respondeu:
-- É simples! Se vocês se oferecerem para ajudá-lo a organizar a cerimônia. Digam que em homenagem aos cento e trinta anos de sua morte, seria importante lembrar de uma figura tão legendária.
Os três concordando com os argumentos dela comentaram que poderiam propor ainda uma romaria até o cemitério.
Raíssa concordou. Contudo, como o corpo não estava enterrado na cidade, como fariam para convencer o padre a realizar a procissão?
Os garotos ficaram a pensar.
Contudo, analisando o assunto, os quatro chegaram a conclusão de que o certo seria começar a procissão na cidade vizinha. Afinal de contas, era lá que o corpo dele estava enterrado.
Era aí que estava o problema. Como fazer para convencer as duas cidades rivais, a concordarem com essa solução?
Raíssa, sugerindo uma proposta drástica, recomendou a eles que fossem decididos até o padre. Contando a ele que fariam a procissão ainda que ele não concordasse, deviam deixar bem claro que iriam sozinhos até lá se fosse preciso.
Léo, Cláudio e Luís e concordaram com a idéia de Raíssa.
Animados, convidaram a moça a acompanhá-los até a igreja.
Raíssa porém, dizendo que não seria bem vinda, respondeu que seria melhor que eles fossem sozinhos.
Contudo a despeito de sua não participação na conversa, a garota prometeu que participaria da procissão ainda que todos a dissessem para sair.
Os três sorriram.
E assim, depois de algumas horas, lá estavam eles adentrando a igreja para conversar com o padre.
Embora Padre Olavo tenha resistido muito a idéia, ao ouvir os argumentos dos jovens, o sacerdote acabou concordando. Sim, fariam a missa e a procissão.
Enquanto isso Raíssa, passando a ser intimada a voltar ao trabalho, a despeito das ameaças, teimava em não retornar.
Marcílio, percebendo a determinação da moça, comentou certa vez, que aquela seria sua última oportunidade de voltar atrás.
Raíssa, cansada de tantas ameaças, comentou que se ele e seus capangas não a deixassem em paz, revelaria tudo o que sabia a polícia.
O homem furioso, saiu de sua casa para nunca mais voltar.
Irado, ainda tentou usar Eulália para convencer a garota a mudar de idéia.
Fazendo uso de sua influência sobre a mulher, Marcílio orientou Eulália a convencer Raíssa a mudar de idéia. Fazendo ameaças a mesma, Marcílio conseguiu fazer com que ela se comprometesse com ele.
Com isso Eulália, sabendo que ele podia revelar fatos que ela nunca contara a ninguém, empenhou-se ao máximo em convencer Raíssa a voltar ao trabalho.
Para seu desespero contudo, Raíssa não fazia questão nenhuma de ouvir seus apelos. Dizendo estar cansada de ver as pessoas se intrometendo em sua vida, a garota respondeu que iria revelar tudo que sabia a polícia.
Eulália ao ouvir isso, descobriu o que desconfiava.
Raíssa estava trabalhando em algo ilícito.
Espantada com a revelação, mesmo sabendo do caráter ilícito deste, a mulher temendo que Marcílio cumprisse com suas ameaças, continuou a insistir para que Raíssa mudasse de idéia.
Raíssa por sua vez, cansada de tanto ser cobrada por isso, passou a ficar cada vez menos tempo em casa. Aborrecida com as ameaças e também com as exigências vindas de todos os lados, Raíssa, passou a evitar as pessoas. Ficando cada vez menos tempo em casa, Raíssa aproveitava para rezar para Frederico Lopes.
Numa casa abandonada, nos fundos do cemitério, a moça passou a rezar todos os dias por ele.
Eulália, ao ver um terço no quarto da enteada, ficou surpresa.
Tão surpresa que ao vê-la chegar, depois de um longo tempo afastada de casa, Eulália ironizou:
-- Não sabia que você agora aderiu a religião. Acaso pensa em se dedicar a caridade?
Ao ouvir a provocação porém, Raíssa não respondeu.
Cansada, fechou-se em seu quarto.
Dias depois, a garota, comparecendo a missa em homenagem a memória de Frederico Lopes, causou a todos espanto.
Ao adentrar a igreja, as beatas logo começaram a se benzer, o padre se espantou, e todos comentaram.
Rogério e Marta reprovaram, mas Luís, Cláudio e Leocádio, sorriram para ela.
Confiante com o apoio, mesmo que à distância, dos amigos, a garota sentou-se.
Com isso, a missa, que havia sido interrompida, prosseguiu.
Raíssa, era uma das pessoas que mais participou.
Nisso deu-se início a procissão, que começou no cemitério da cidade e se encerraria em outro cemitério, na cidade vizinha de Água Viva.
Finalmente a rivalidade entre as duas cidades acabaria.
Visitando o túmulo de Beatriz, os fiéis rezaram para que sua alma encontrasse o repouso eterno.
Durante o trajeto, a pé, entre as duas cidades, Padre Olavo revelou a história oficial sobre Frederico Lopes e Beatriz Morales.
Detalhista o sacerdote contou que os dois viveram numa sociedade conservadora. Se apaixonaram e viveram um romance proibido. Por conta do moralismo da época, pagaram muito caro por isso.
Enquanto explicava a história, os fiéis rezavam.
Raíssa, cantava.
Cantando tão belamente, os fiéis a seguiram.
Ao chegarem no cemitério da cidade vizinha, o padre procedeu exatamente como fizera na sepultura de Beatriz. Assim, fez algumas orações. Depois lançou água benta sobre o túmulo.
A seguir, pedindo para que ele descansasse em paz, pediu a todos que rezassem para ele a encontrasse. Encontrasse a paz e sua sonhada Beatriz.
Todos rezaram.
Em seguida, retornando de ônibus para a cidade, os fiéis continuaram rezando.
Raíssa feliz, durante o cerimonial, percebeu o vulto de Frederico assistindo a tudo.
Curiosa, ao chegar em Água Branca, a garota novamente foi até o cemitério. De longe conseguiu avistar Frederico Lopes.
Luís, Léo e Cláudio, após algum tempo, também surgiram por lá.
Curiosos, também foram até acompanhar a despedida de Frederico.
E exatamente como pensavam, o moço foi até a sepultura de Beatriz.
No entanto, diferente do que se sucedera outras vezes, a mulher, como que saindo da sepultura, surgiu diante dele.
Frederico e os quatros garotos mal podiam acreditar no que viam.
Feliz, o homem colocou-se aos pés da moça e chorando, respondeu que há mais de cem anos sonhava com isso.
Beatriz então, abaixando, segurando seu rosto, fez com que ele se levantasse.
Radiosa, a mulher lindamente vestida, parecia uma farol iluminando a tudo e todos.
Frederico ao vê-la tão bem, tão serena diante de si, quis logo beijá-la. Beijou-a.
Depois, dizendo que sentira saudades, pediu para ela o levasse consigo.
Beatriz sorriu. Estendendo sua mão, pediu para que ele a acompanhasse.
Frederico Lopes, segurando a delicada mão da moça, respondeu que ele a seguiria por onde quer que ela fosse.
Nisso, um facho de luz intensa iluminando os dois, fez com tudo se tornasse turvo para eles.
Raíssa, Léo, Luís e Cláudio, ao conseguirem diferenciar os túmulos, perceberam que os dois haviam desaparecido. O casal sumiu diante de seus olhos.
Assustados e maravilhados, não conseguiam pensar em outra coisa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 25
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