Poesias

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

BARRACÃO DE ZINCO - CAPÍTULO 3

Assim, após auxiliar Raquel, Clarissa aproveitou então, para ouvir um pouco de rádio. Com isso, depois de ouvir por meia hora, os sucessos da década de 40, um novo capítulo da novela que estava acompanhando, iria começar.
Quando os locutores anunciaram a rádio-novela, ‘Encontro com o Desconhecido’, Clarissa tratou logo, de aumentar um pouco, o volume do rádio.
Como já vinha acompanhando há um tempo, as peripécias da heroína, já estava começando a se interessar pela história.
Essa notícia para seus tios, era muito auspiciosa.
Mas, voltemos a rádio-novela.
Conforme o combinado, Eleonora às oito horas em ponto, já estava no saguão aguardando a chegada de Handolph.
Magnificamente vestida de vermelho, parecia uma verdadeira diva.
Handolph, como não poderia deixar de ser, ficou deveras encantado sua presença.
Ao adentrar o saguão do hotel, Eleonora estava de costas para ele. Mas mesmo de costas, vê-la já era um acontecimento. Por isso, quando a moça se voltou para ele, Handolph ficou sem palavras.
Impecavelmente vestida em um longo vermelho, a moça parecia recém saída de um filme. Uma verdadeira deusa.
Assim, mais do que se poderia esperar, Eleonora estava irresistível.
Embora não tivesse dito nada, pelo seu olhar em direção a moça, percebia-se o seu deslumbramento.
E assim, fascinado com a beleza da jovem misteriosa, Handolph ofereceu seu braço e disse:
-- Vamos?
-- Mas, é claro. – respondeu ela.
Nisso, o rapaz, educadamente conduziu-a até seu carro, uma luxuosa limusine. Primeiro, a moça entrou no automóvel, depois ele. Daí seguiram em direção a um restaurante.
Ao lá chegarem, Handolph deu novas mostras de educação e gentileza. Antes de se sentar, o rapaz auxiliou a moça, puxando a cadeira, para que ela pudesse se sentar. Só depois desse gentil gesto, é que finalmente, se sentou.
Em seguida veio o maitre com o cardápio, perguntar ao cavalheiro, se este desejava escolher uma bebida.
Educadamente, então, Handolph perguntou a Eleonora, se ela tinha alguma preferência. Foi então que ela comentou, que primeiramente, gostaria de tomar um pouco de champagne, depois, quando a comida fosse servida, um bom vinho.
Handolph então, concordou, como Eleonora sugeriu, pediu champagne.
O maitre então, retirou-se, para rapidamente, trazer a bebida.
Nisso, enquanto o maitre não retornava, os dois aproveitaram para escolher o que iriam comer.
Assim, quando o maitre retornou com a bebida, Handolph fez logo o pedido.
Nisso, enquanto o jantar era preparado, os dois aproveitaram para conversar.
Handolph queria saber mais sobre ela. Queria saber de onde vinha, o que estava fazendo na França, por que estava sozinha, se tinha compromisso com alguém, de onde conhecia o dono da festa, etc.
Ao dar-se conta do teor das perguntas, fez o possível para não respondê-las. Lacônica, sempre que lhe eram feitas perguntas pessoais, respondia que sua vida não tinha nada que despertasse o interesse de ninguém. Sua vida era como a de muitas outras pessoas.
Mas Handolph insistiu. Se não havia nada de mais, por que tanto mistério?
Foi então, que Eleonora respondeu:
-- Não é questão de ser um mistério. Mas é que eu acho que está um pouco cedo para eu falar tanto assim de mim. Além do mais, eu já disse, não tenho muito o que dizer sobre minha vida. Já o senhor, deve ter muitas coisas interessantes para contar. Por que não fala um pouco de sua vida? Aposto que ela deve ser bem mais interessante do que a minha.
Pronto, achou o ponto fraco de Handolph.
O rapaz, vaidoso como era, fez logo questão de comentar sobre sua vida. Contudo, evitou falar de assuntos comprometedores.
Apesar de no jantar do anterior não ter tido o menor receio em contar detalhes escabrosos de sua vida, agora o rapaz tinha pudores em comentar sobre seus negócios escusos.
Foi então que Eleonora percebeu que precisaria fazer algo mais para descobrir detalhes sobre seu envolvimento com os nazistas.
Eleonora precisaria passar mais tempo com o rapaz.
Nesse instante então, finalmente o jantar foi servido. Por se tratar de fina iguaria, os dois foram servidos com parcimônia. Isso por que, para se comer lagosta é preciso um certo cuidado.
Dessa forma, enquanto degustavam o fabuloso repasto, conversavam sobre amenidades.
Assim, não foi desta vez que Eleonora conseguiu alcançar êxito em sua missão.
Entrementes, não desistiria. Apesar de infrutífero o primeiro encontro, sabia que poderia arrancar de Handolph, o que precisava. Mas para isso, precisava de tempo.
Com isso, após o término do jantar, mesmo diante da insistência do moço em prolongarem o encontro, Eleonora, fazendo charme, decidiu que seria melhor retornar para o hotel.
Contudo, diante dos apelos de Handolph, concordou em se encontrarem pela manhã no saguão do hotel onde estava hospedada, para poderem tomar o café da manhã juntos.
E assim, depois de se despedir da moça, na entrada do hotel, o rapaz saiu satisfeito conduzindo seu carro.
No caminho de volta para o afamado hotel em que estava hospedado, Handolph, pôde avistar uma pequena confusão. Dois homens brigavam entre si, sabe-se lá por que motivo, mas Handolph, espantado com a confusão, não se preocupou nem por um momento em descer do carro para saber o que era. Pelo contrário, o rapaz continuou dirigindo seu carro e retornou para o hotel.
Ao lá chegar, entregou as chaves do carro a um dos manobristas do hotel e em seguida, foi para seu quarto.
Estava realmente encantado com Eleonora.
A própria, também tinha perfeita consciência de que havia arrebatado todas as atenções do moço.
Contudo, precisava ser mais persuasiva, ou então a missão seria um completo fracasso, e ela, obstinada que era, não podia falhar. Sim, Eleonora não estava de brincadeira, e se precisasse invadir o quarto do rapaz, para descobrir seu segredo, faria essa loucura, sem pestanejar.
No entanto, precisava ser cautelosa e paciente o suficiente, para tentar descobrir as coisas do modo mais cordato.
Com isso, esperaria pelo dia seguinte.

E assim, na hora combinada, usando um belo vestido florido, Eleonora, com dez minutos de atraso, encontrou o rapaz olhando o relógio, ansioso por encontrá-la. Por esta razão, a moça ao vê-lo, perguntou:
-- Me desculpe. Demorei muito?
No que o rapaz respondeu:
-- Não. Mas foi tempo o suficiente para que eu viesse a sentir saudades da senhorita.
Depois de Handolph dizer estas palavras, fez-se um profundo silêncio entre os dois.
Silentes, os dois passaram a se olhar diretamente, como se não houvesse nada que os pudesse atrapalhar.
Mas, após alguns minutos se observando mutuamente, Eleonora então, tomou a palavra:
-- Vamos?
-- Sim, claro. – respondeu ele, concedendo passagem a Eleonora.
E juntos foram até um café. Lá se deliciaram com frutas, sucos e deliciosos croissant’s.
Sim, e estaria tudo perfeito, não fosse o inesperado aparecimento de Herman, o inconveniente admirador de Eleonora.
Foi assim. O rapaz, caminhando por entre ruas e avenidas, acabou se deparando com o Boulevard. Ao lá chegar, encantado com a bela arquitetura e a imponência do lugar, decidiu conhecer o ambiente. Nisso, depois de algum tempo andando, acabou encontrando o casal conversando, em um café – estabelecimento comercial, bastante comum na França.
Ao ver Eleonora ali, mal pôde se conter, posto que estava admirado com a agradável surpresa.
Dessa forma, ao perceber a presença da moça no lugar, começou a acenar para ela chamando-a. Contudo, por estar a moça de costas, quem acabou vendo os sinais de Herman, foi seu amigo Handolph.
Mas este, percebendo que sua presença atrapalharia seus planos com a moça, resolveu ignorá-lo. Afinal, diante das circunstâncias, não haveria mal nenhum em o fazer. Isso por que, precisava conversar a sós com a moça.
Herman, no entanto, percebendo o comportamento negligente do amigo, resolveu então se aproximar do casal.
E assim, caminhando, estando a menos de dois metros dos dois, começou a dizer:
-- Olá. Como vão vocês?
Ao ouvi-lo, Eleonora virou-se para ele e respondeu:
-- Bem obrigada. E o senhor, como vai?
No que ele respondeu:
-- Não tão bem quanto vocês dois com certeza, mas vou indo.
Handolph, irritado com a intromissão, perguntou:
-- Mas, você não está atrasado para algum encontro?
-- Absolutamente. Desde daquele jantar em que estivemos, não tive nenhum encontro. Mas se vocês não se importam, eu vou me sentar na mesa ao lado e pedir um café.
Eleonora então, percebendo que seria extremamente indelicado não convidá-lo para se sentar com eles, fez o convite.
Nisso, Herman, que estava procurando uma forma de novamente conversar com a moça, aceitou prontamente o convite.
Aproveitando que uma das mesas ao lado estavam vazias, pegou uma cadeira e sentou próximo da moça.
Isso só fez aumentar a ira de Handolph.
Mas aí já era tarde. Apesar de sua visível insatisfação com a presença de Herman, o rapaz teve de ser sociável.
E assim, por mais que Herman o irritasse, teve que aceitá-lo em sua presença.
Herman então, aproveitando o inesperado encontro, fez todo o possível para se aproximar de Eleonora. Conversando sobre amenidades, descobriu que a moça adorava o som dos violinos.
Por isso, aproveitando-se de sua inesperada descoberta, logo a convidou para um concerto que haveria numa cidade próxima.
O inesperado convite contudo, surpreendeu até mesmo a solerte agente.
Mas, sem perder a pose, a moça respondeu-lhe que precisava pensar.
Herman no entanto, não se deu por vencido. Ciente de que as coisas poderiam não se encaminhar da maneira como imaginara, resolveu então, que, tentaria um outro recurso.
Assim, vendo que a resposta não seria imediata, combinou com a moça de almoçarem juntos.
Dessa forma, teria a manhã toda para pensar e no começo da tarde, poderia lhe dar uma resposta.
Isso por que, o concerto se realizaria naquela noite.
De formas que, para poderem assistir ao concerto, precisariam chegam em tempo, na cidade.
Com isso, diante de tanto cuidado, a moça decidiu aceitar o convite.
Apesar de inicialmente inconveniente, o encontro com Herman,– seu outro admirador – fez Handolph avançar. Temeroso de perder a atenção da moça, fez o possível para que esta recusasse o convite de seu amigo.
Mas Eleonora não gostava que decidissem por ela, e assim, percebendo que Handolph tentava controlá-la, resolveu aceitar a proposta de Herman.
Handolph contudo, não se deu por vencido.
Ao perceber que perdera momentaneamente para o amigo, resolveu contra-atacar. Para isso, precisava de uma estratégia.
Por isso, ao saber que os dois iriam ao concerto, o rapaz empenhou-se ao máximo, para conseguir entradas para o espetáculo.
Assim, durante boa parte do dia empenhou-se para localizar o local do concerto, bem como os locais onde seriam vendidos os ingressos para o espetáculo.
Nisso, Eleonora, após o conturbado encontro, aproveitou para se encontrar com membros de sua organização. Precisava de uma nova estratégia.
Assim, tomando todo o cuidado para não ser seguida, retornou ao hotel. Ao passar pelo saguão, entrou em seu quarto, mudou sua roupa e sorrateiramente, procurou sair pela saída dos funcionários.
Dessa forma, não havia como ser seguida. Até por que, ninguém imaginaria, que usando aquelas roupas simples, estaria a mulher fascinante a qual tinha dois pretendentes a segui-la.
Justamente por isso, precisava se disfarçar. Não poderia por tudo a perder.
Com isso ao chegar ao lugar do encontro, depois de dizer algumas senhas e de ser mandada para um lugar diferente, Eleonora fora inquirida se estava dando tudo certo.
No que ela respondeu:
-- Bem, até demais.
Nisso, seu interlocutor respondeu:
-- Que bom!
E enquanto a conversa transcorria, lhe foram passados os últimos detalhes da operação.
Isso por que, em virtude dos últimos acontecimentos, o plano inicialmente traçado, mudara um pouco de aspecto. Adquirira novas feições. Assim, o plano precisava de alguns retoques.
E dessa forma, foram acertadas as mudanças de estratégia.
Ao sair do local, mais uma vez Eleonora, retornou ao hotel, e vestiu agora, um vestido azul, próprio para passeios vespertinos.
Já era quase meio-dia.
Dessa forma, precisava descer.
Assim, enquanto descia as escadas, Herman ansioso já a aguardava, esperando-a ao pé da escada.
Por isso, pôde ver quando a moça apareceu, descendo as escadas.
Foi uma magnífica visão.
Enquanto a moça descia degrau por degrau da escadaria, Herman aproveitava para olhá-la e admirá-la. Grandioso espetáculo.
Dessa forma, quando a moça finalmente terminou de descer a escadaria, Herman gentilmente estendeu sua mão para ela.
E assim de mãos dadas, saíram juntos.
Mas, antes de chegarem até o restaurante, aproveitaram para caminhar um pouco. Após, foi que então, entraram em um bistrô e almoçaram.
Em razão do horário, como bebida, pediram um suco de frutas e se deliciaram com entradas leves e saladas. Como prato principal, uma comida leve e saborosa.
Com isso, enquanto se alimentavam, aproveitaram para continuarem a conversa que tiveram pela manhã. E a certa altura, intimada pelo rapaz, Eleonora teve de dar sua resposta.
Afinal, iria ou não com ele, assistir um concerto numa cidade próxima?
Fazendo um pouco de suspense, Eleonora respondeu:
-- Está bem. Diante de tão delicado convite, eu aceito.
Ao ouvir estas palavras, Herman ficou deverasmente feliz.
Nervoso, esperou ansiosamente durante toda manhã a resposta de Eleonora.
Por não saber se a moça aceitaria o convite, ficou um tanto quanto angustiado com a situação. Como a espera fora demorada!
Mas ao que parece, valera a pena esperar.
Agora, diante da aceitação do convite, só faltava combinar a hora em que ele a iria buscar e partir em direção a aludida cidade.
Dessa forma, como ainda tinham tempo de sobra, após o término do almoço, o rapaz, encantado com a companhia, resolveu convidar a moça, para um passeio pela cidade.
Disse:
-- Eu sei que parece bobagem, já que você deve conhecer muito bem a cidade, mas eu gostaria de fazer um passeio com você, se a senhorita me permite.
-- Mas é claro. Com muito prazer. – respondeu.
Nisso novamente, os dois saíram de braços dados.
Caminhando pelas ruas da cidade praiana, Eleonora admirou vitrines, visitou alguns lugares e comentou que adorava passar férias na cidade.
Ao comentar que estava de férias na cidade, Herman então quis saber de onde ela veio.
Eleonora então, resolveu desconversar.
Mas o rapaz era persistente e repetiu a pergunta. Queria por queria saber de onde ela veio. Afinal de contas, não era comum àquela época, uma moça andar sozinha, por qualquer canto, ainda mais quando em viagem.
Curioso, desejava saber o paradeiro dela.
Eleonora disse então, que não iria lhe contar enquanto não estivessem seriamente envolvidos.
Afinal de contas, como ela poderia falar o que quer fosse sobre sua morada se nem o conhecia direito? Alegando que aquele não era ainda, o momento oportuno para falar do assunto, comentou que mais tarde diria.
E assim, o rapaz teve que se conformar.
Eleonora só diria algo a respeito, na hora que julgasse conveniente. E não adiantava insistir.
Com isso, à certa altura, depois de algum tempo caminhando, o casal se deparou com uma luxuosa vitrine. Era uma joalheria. Dentro, os mais magníficos exemplares de pedras preciosas.
Herman, na intenção de agradar Eleonora, resolveu então presenteá-la com uma das belas peças do mostruário.
Contudo, para que a moça não percebesse, comentou com ela que precisava comprar um presente para sua irmã, que por coincidência, tinha quase a mesma idade dela. Além disso, sua irmã, por ter um gosto refinado, não aceitaria qualquer coisa.
Por isso, sabendo do bom gosto de Eleonora, resolveu segredar-lhe a história, e lhe pedir ajuda para comprar um lindo presente para a irmã.
Eleonora então, prontamente, atendeu ao pedido de Herman.
Mas cautelosa primeiramente, perguntou ao rapaz, quais eram as pedras preferidas da irmã. Herman então, desconcertado, disse que não sabia ao certo.
Eleonora então, comentou:
-- Como sempre, a falta de atenção masculina, não é uma exceção em nenhuma família, nem em qualquer lugar do mundo.
-- O que eu posso fazer? Nunca me preocupei com isso. – respondeu ele.
-- Acaso, nunca deu jóias as suas namoradas? – perguntou ela, impressionada.
-- Já. Mas sempre com a ajuda de uma outra mulher, para me ajudar na escolha. Sinto dizer, mas eu nunca fui bom em escolher presentes.
-- Está certo, então. Mas ao menos sabe dizer, qual é o tipo físico de sua irmã?
-- Sim, claro. Ela é alta e magra.
De posse dessas informações, Eleonora então ajudou-o. Muito embora não soubesse que escolhia um presente para si mesma, resolveu ter o máximo de cuidado ao escolher a peça.
Perguntando ao rapaz se ele pretendia comprar um anel, um brinco, um colar ou uma pulseira, ouviu como resposta que ela não precisava se preocupar com o valor da peça.
Dessa forma, ao ver um belo colar de pérolas e brincos no mesmo estilo, perguntou a ele se havia gostado da peça.
No que ele então assentiu com a cabeça concordando. Por fim disse:
-- Sim, é uma linda peça. E vou levar. Qual é o preço?
E comprou a peça.
No entanto, procurando disfarçar, disse que precisava combinar como seria feita a entrega. Assim, discretamente, para que Eleonora não percebesse, pediu para guardarem a jóia, que ele mais tarde passaria para buscá-la.
Nesse momento, então, Eleonora, percebendo o adiantado da hora, comentou com o rapaz que precisava retornar ao hotel.
Isso por que, teriam que viajar para assistirem o concerto.
No que prontamente o rapaz concordou e rapidamente, a conduziu de volta ao hotel.
Ao vê-la adentrar o hotel, rapidamente pediu a um dos funcionários do mesmo, para que o indicassem onde havia um ponto de táxi na localidade. Como tinha pressa, o próprio funcionário chamou um serviço de táxi e o rapaz então pôde retornar a joalheria e buscar a peça, já comprada.
Nisso, aproveitando o serviço de táxi, resolveu parar em uma floricultura e comprar um lindo arranjo de rosas vermelhas.
Isso porque, precisava criar um grande efeito.
Mandar simplesmente flores e jóias não era o suficiente.
Com isso, assim que desceu do táxi e retornou a sua suíte, resolveu pedir ajuda a um seu funcionário para colocar, delicadamente em meio as flores, a caixa contendo as jóias. Mas ainda faltava o cartão, como foi bem lembrado pelo funcionário.
E assim, o rapaz escreveu.
Dessa forma, após uma hora a moça finalmente recebeu o presente.
Um dos funcionários do hotel, batendo em sua porta, lhe trouxe o magnífico presente.
Eleonora, ao ver o buquê, perguntou quem o havia mandado.
O funcionário então pediu para que a moça lesse o cartão.
Assim, depois de pagar a gorjeta, a moça, fechando-se em sua suíte, resolveu ler o bilhete.
No mesmo estava escrito:
“Nessas horas que separam nosso encontro, quero confessar-te que mal posso esperar para que este finalmente aconteça.
Veja só, só faz algumas horas que estou longe de ti e já estou morrendo de saudades.
Não demore.
De seu admirador ostensivo, Herman.
PS: Espero que tenha gostado do presente singelo e misterioso.”

Ao ler o cartão, a moça ficou satisfeita, afinal de contas seu plano estava dando certo. Contudo, o que o rapaz teria querido dizer com presente singelo e misterioso?
Foi então que, ao deparar-se com o imenso arranjo de flores, resolveu olhá-lo com maior cuidado.
Assim, depois de algum minutos observando o buquê, percebeu que algumas folhas haviam caído no chão. Com isso, observando melhor o arranjo, notou que algumas rosas estavam entrelaçadas. Foi assim que percebeu que haviam colocado algo em meio as flores. E ao mexer no arranjo, descobriu uma caixa.
Ao ver a caixa, estranhou. ‘Parece a caixa da jóia que eu escolhi para Herman!’. Exclamou. ‘Não é possível’, comentou. ‘Ele não seria louco de dar um presente caro desses para uma pessoa que ele mal conhece.’
Mas, qual não foi sua surpresa ao dar-se conta de que o presente que havia escolhido, era para ela. Assim pensou. ‘Esse Herman não está de brincadeira’.
Portanto, ao perceber a tática do rapaz, resolveu entrar no jogo. Decidiu então, que usaria as jóias para o concerto.
Contudo, precisa se preparar. Dessa forma, aproveitando a ocasião, tomou um demorado banho tépido na banheira de sua suíte.
Depois, Eleonora vestiu-se com todo o capricho, donaire, garbo e graça.
Usando um longo vermelho, estilo tomara-que-caia acompanhado de luvas da mesma cor, a jovem estava deslumbrante.
Assim, depois de se maquiar, observando a caixa de jóias que recebera pela tarde, Eleonora, pegou-a e abrindo-a, e colocou o colar e os brincos.
Estava impecável. Uma verdadeira princesa.
Tanto que ao vê-la, Herman exclamou:
-- Belíssima!
Após, abrindo gentilmente a porta do carro para a moça, Eleonora entrou no carro. Em seguida, Herman também entrou, sentou-se e enquanto um chofer guiava os dois até a cidade vizinha, o casal aproveitou para curtir a paisagem.
Na chegada, o próprio chofer educadamente abriu a porta para Eleonora que agradeceu e saiu do carro.
Nisso, Herman já a esperava do lado de fora.
O rapaz contente que estava, mal podia acreditar que a moça, que até dois dias atrás lhe era inacessível, era agora a sua companhia.
E mais, para sua surpresa, a moça estava mais linda que nunca.
Tanto que ao adentrarem o salão do teatro, um conhecido de Herman ao vê-lo, tratou logo de cumprimentar a ele e a sua senhora.
-- Senhora? – perguntou Herman espantado.
-- Me desculpe. Cometi uma indiscrição? – perguntou visivelmente constrangido, o conhecido – Mil perdões. É que faz tanto tempo que não o vejo, que imaginei que a moça que o acompanha fosse sua esposa.
Nisso, Herman, respondeu:
-- Tudo bem. Você não tem do que se desculpar. Afinal de contas, quem é que não gostaria de se casar com semelhante jóia?
-- Realmente Herman, a senhorita é deveras encantadora. Parece uma fada. Por sinal, ainda não sei seu nome.
-- Eleonora. – respondeu a moça.
Com isso, o gentil estranho segurou sua mão e beijou-a. Em seguida, percebendo que Herman preferia ficar a sós com Eleonora, aproveitou para se despedir e se retirar.
Desta forma, procurando dissipar qualquer possibilidade de constrangimento, Herman comentou:
-- Um tanto quanto inconveniente esse meu amigo Maurice, não é mesmo?
-- Maurice? Então ele é francês? – perguntou a moça.
-- Sim. E um francês típico. Não o apresentei? Que gafe a minha. Mas é que diante de tanta beleza, acabei me confundindo e desejando que as apresentações depressa se acabassem.
-- Tudo bem. – atalhou ela.
-- Doravante. – emendou o rapaz – Se por acaso viermos a nos encontrar novamente com ele, prometo fazer as apresentações.
Nisso, fez-se a chamada para o início do espetáculo.
Como se tratava de uma apresentação com violinos – instrumento musical preferido de Eleonora, pelo menos no momento –, a moça assistiu atentamente ao espetáculo.
Tocando alguns clássicos, mesmo para quem não era assíduo ouvinte de tal tipo de espetáculo, era divino o som.
Encantado com o som dos instrumentos, Herman chegou até mesmo, a elogiar o gosto musical da moça. Ao final do espetáculo, aplaudiu entusiasticamente a apresentação.
A própria Eleonora admirou-se.
-- Não sabia que você gostava tanto de violinos.
-- Não gosto. Para te ser sincero, eu ganhei esses convites há duas semanas atrás, de um amigo que teve que partir imediatamente para a Alemanha. Tinha negócios com o führer.
-- Ah, é mesmo? Quer dizer então que ele é amigo de Hitler?
-- Sim, mas é preferível chamá-lo de führer.
-- Um homem que tem orgulho de sua patente militar.
-- Não, Eleonora. Não é bem isso. É que como ele tem planos para a Alemanha, e como militar que é, convém que chamemos o grande Adolph Hitler, dessa maneira.
-- Está bem. Eu não quis faltar com o respeito. Muito pelo contrário. Mas fiquei curiosa. Que tipo de negócios ele tem com o ditador. Negócios de guerra? Ele vende armas ou coisa assim?
-- De certa maneira, sim. Como você deve saber, grande parte dos empresários alemães estão colaborando no esforço de guerra. Assim, só resta a nós vendermos tudo o que pudermos, para a glória do Terceiro Reich. Você não entende por que não é alemã.
-- Realmente eu não sou. Mas dedico grande admiração ao führer. Hitler está fazendo um grande trabalho na Alemanha.
-- Também acho. – concordou Herman.
-- Mas voltando ao que estavamos falando. O que te fez me convidar este concerto?
-- Não sei ao certo. Mas quando a vi, logo me lembrei dos convites e achei que seria uma boa oportunidade para te propor um passeio. Não gostou?
-- Absolutamente. Mas é claro que eu gostei. Eu só queria entender o motivo. Além disso, por que as jóias, por que criar tantas estratégias para me envolver, acaso está querendo me seduzir?
-- Mas é claro que sim. Por acaso pensas que sou parvo de perder você de vista mais uma vez? Só se eu for louco, não é mesmo? E eu não sou louco. A menos que gostar de uma pessoa seja considerado loucura.
Nisso Handolph, que já a estava procurando a horas, finalmente a encontrou, observando a imensa escadaria do teatro, enquanto Herman apoiava um dos braços no corrimão da escada.
Nisso, quando Handolph se aproximou, mais do que depressa, Herman percebeu. Por esta razão, tentando evitar que os dois se encontrassem, o rapaz convidou a moça para jantar em um aconchegante restaurante que havia por perto.
Mas Eleonora precavida, resistiu a proposta. Tinha que voltar logo para casa. Isso por que, segundo ela, no dia seguinte, teria alguns assuntos pendentes para resolver. Contudo, Herman insistiu. Mas já era tarde, Handolph já havia se aproximado da moça.
Na aproximação, foi logo perguntando:
-- Como vai?
-- Handolph? O que fazes aqui? – perguntou Eleonora, já consciente de que ele estava ali com uma desculpa para estar sempre por perto.
-- Nada de mais. Na última hora, um amigo meu me convidou para o concerto, e como não tinha nada de importante para fazer, resolvi vir. Este é um bonito lugar.
Nisso aparece Maurice.
-- Onde você estava Handolph? Procurei você por meia hora. – comentou aborrecido.
-- Me desculpe. É que por acaso acabei encontrando uma amiga minha. Deixe que eu os apresente ...
-- Não é necessário. Eu já a conheço. – respondeu Maurice, sucintamente.
-- Sim, é verdade. – comentou Eleonora.
-- A propósito, Eleonora, este é Maurice. – falou Herman, procurando consertar a situação.
-- Então já se conhecem? – perguntou Handolph desconfiado. – Pode-se saber de onde?
-- Mas é claro! Foi aqui mesmo, momentos antes de se iniciar o espetáculo. Você não viu por que estava atarefado demais procurando nossos lugares. – respondeu Maurice.
-- Está certo! – comentou Handolph.
Nisso, ansioso que estava para ficar novamente a sós com a moça, Herman desculpou-se com os amigos, mas disse que infelizmente precisa ir. Eleonora tinha compromissos inadiáveis para o dia seguinte.
Foi então que Handolph, sem nem mesmo pedir permissão ao amigo Maurice, ofereceu-se para lhe dar uma carona. Mas Eleonora, vindo acompanhada de Herman, delicadamente, recusou o convite.
Tal fato o deixou profundamente desapontado.
Maurice contudo, percebendo a saia justa, repreendeu o amigo, por ser tão impertinente. Afinal de contas, se a moça foi até o teatro acompanhada de Herman, não havia por que ela ir de carro com um estranho e um amigo inconveniente.
Handolph então comentou:
-- Mas ele não está querendo nada sério com ela.
-- E você, está? – perguntou Maurice.
-- Que maçada! Mas é claro que estou.
-- Por quanto tempo. Uma semana? Talvez duas?
-- Não me amole. – respondeu mal-humorado.
Nisso os dois rapazes saíram do teatro e voltaram para casa.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.   

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