Poesias

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 10

Raíssa, precisou ficar quase um mês de molho por conta do acidente.
Como já estava há quase quatro semanas em casa, sem poder sair, já estava impaciente.
Tanto tempo dentro de casa. Logo ela que sempre fora tão saídeira. Nunca foi de ficar muito tempo em casa. Se não por seu temperamento irriquieto, para evitar as rusgas com a madrasta. Durante as aulas, só ficava em casa durante o almoço, e mesmo assim, era só o tempo de esquentar a comida, comer, colocar tudo de volta nos seus lugares, lavar a louça que sujou e voltar para a rua. Mais tarde, só voltava para casa para jantar e dormir.
Por essa razão, seus amigos raramente a iam visitar em casa, pois sabiam que Raíssa raramente ficava lá. Só em caso de emergência a procuravam ali.
Até mesmo porque, sua madrasta tinha muitos maus bofes, posto que sempre os tratava rispidamente.
Mas agora, a situação era diferente.
Apesar da madrasta, precisavam visitar a amiga. Afinal, era uma questão de consideração. Mesmo que só a visitassem de vez em quando.
E assim, foram novamente visitar a amiga, estavam totalmente preparados para enfrentar a fera, caso Dona Eulália estivesse em casa.
Assim, caminharam silenciosos pelas ruas do bairro pobre, até chegar na rua onde Raíssa morava. Tencionavam fazer uma curta visita.
Ao adentrarem a casa, logo puderam perceber, que ela progredia a cada dia. Da última vez que a visitaram, ainda estava sentada no sofá da sala, sem poder andar. Durante o período em que esteve se recuperando, passou o tempo todo ouvindo rádio, assistindo televisão, remoendo suas brigas com a madrasta.
Afinal de contas, sentia muito rancor dela.
Aliás, enquanto esteve impossibilitada de sair pela cidade, ficou pensando que, quando melhorasse iria mudar sua vida. Já não agüentava aturar as agressões verbais de sua madrasta. Queria ir embora daquela cidade. Estava infeliz vivendo daquela forma. Desejava encontrar seu pai.
Assim, quando os amigos foram visitá-la, foi ela própria quem abriu a porta e os convidou para entrar. Apesar de já poder andar, caminhava um pouco devagar e mancando um pouco. O médico lhe advertira de que talvez tivesse que fazer fisioterapia.
Entretanto, para isso, precisava que alguém a amparasse, levando-a até o posto médico. Prestativo, diante da situação da amiga, Luís se prontificou em levá-la e trazê-la.
Raíssa então, tratou logo de agradecer. Logo avisou:
-- Então, se for possível. Você poderia vir me buscar amanhã, as nove horas?
-- Logo às nove? Amanhã já começam as aulas.
-- É verdade. Eu já tinha me esquecido. Também depois de quase um mês de molho, eu já tinha me esquecido deste detalhe. Como é que eu vou fazer para estar em dois lugares?
-- Com assim, em dois lugares? Você não pode ir para a escola. Mal pode andar. – disse Cláudio, apreensivo.
-- Eu sei disso. Mas se eu não for, minha madrasta vai me infernizar a vida.
-- Nossa! Nem vendo que você ainda não se recuperou totalmente, ela não facilita nem um pouco? – insistiu Cláudio.
-- Nem assim.
-- Então, precisamos arrumar uma maneira de te levar. – afirmou Luís.
-- Poderíamos sair um pouco mais cedo de casa e buscá-la. – sugeriu Leocádio.
Diante de tanta solicitude, só restou a Raíssa, dizer o seguinte:
-- Obrigada, amigos, mas não é necessário. Minha madrasta vai me levar. Ela quer se certificar que eu realmente fui até a escola.
-- Nossa! Mas ela está pegando pesado mesmo. – afirmou Léo.
-- É verdade, Léo. Por essa e por outras que eu quero ficar bem logo. Eu preciso resolver minha vida.
-- O que você quer dizer com isso, Raíssa? – perguntou Luís.
-- Nada. – respondeu.
Muito embora, cogitasse a possibilidade de até, sair da cidade, resolveu não revelar seu intento. Até por que, para isso, tinha que estar em condições.
E por isso, passou todo o mês de agosto indo para a escola, voltando para casa, e da casa para o Posto de Saúde, submetendo-se a fisioterapia.
Lá encontrou Pedro novamente. Simpático, perguntou-lhe como ía.
No que Raíssa respondeu:
-- Como você mesmo pode ver. Eu me machuquei. Mas estou me recuperando. Lentamente, mas estou melhorando.
Pedro, ao perceber que Raíssa mancava, comentou:
-- É. Fiquei sabendo do seu acidente. É um perigo brincar com fogos.
-- Porque? Você acha que foi eu que soltei aqueles fogos na festa?
-- Não. Mas acho que você foi muito imprudente em ficar justamente lá, onde os fogos foram soltos.
-- Eu não tinha percebido.
-- Pois, então. Como eu disse. Você foi imprudente. Mas chega de conversa. Vamos a sala da fisioterapia.
E assim, passava todos os dias, pelo menos uma hora e meia no Posto de Saúde. Como o ferimento envolvia uma queimadura, houve uma demora razoável para que o ferimento fechasse, cicatrizando-se e a pele voltasse a seu aspecto normal. Ademais, em razão da queimadura, passaria a ter uma cicatriz na perna.
Ao saber disso, quis saber como ficaria sua perna.
O médico então lhe explicou, que se formaria uma camada ressecada de pele, que aos poucos, daria lugar a pele normal. No entanto, apesar da recuperação da epiderme, ficaria uma cicatriz, uma mancha razoável, no local da queimadura.
Diante de tal fato, Raíssa tentou descobrir uma forma de minimizar o estrago.
Foi então que o médico lhe disse, que talvez desse para remover uma parte da cicatriz através de um processo médico. Entretanto, para poder falar sobre isso, comentou com a jovem, que primeiro, precisaria ver como sua perna iria ficar, quando sua pele cobrisse o ferimento.
Com isso, dadas as explicações, se acalmou.
E apesar de seu temperamento inquieto, obedeceu a todas as prescrições médicas. Todos dias, foi até o Posto e lá fez a fisioterapia. Aceitou ficar mais algum tempo de repouso em casa, e de lá só saía para ir até a escola e ao Posto, como já foi dito.
Na escola, os professores estranharam seu comportamento. Estava comportada demais. Chegaram a desconfiar de seu silêncio. Afinal, independente de qualquer coisa, estava sempre aprontado.
Mas, surpreendentemente, Raíssa estava quieta. Tal quietude até, facilitou as gozações que faziam a respeito do acidente.
-- É, Raíssa, parece que as coisas não saíram muito bem para você não é?
Entretanto, como sua situação atual era delicada, teve que aturar as gozações durante todo o mês, até que se recuperasse totalmente do acidente e pudesse enfrentar as feras em condições de igualdade.
Discutir com eles agora, só lhe traria desvantagens. No momento, não precisava chamar a atenção de ninguém para si.
Ademais, diante das circunstâncias, só pensava em uma coisa. Queria se recuperar e cuidar de sua vida. Não pensava em outra coisa. Queria ir embora da cidade.
Mas, visando sua pronta recuperação, submeteu-se ao tratamento médico. E sob esse regime disciplinar, ficou durante um mês. Até que o médico a liberou da fisioterapia.
Entretanto, precisaria ir até o Posto, uma vez por semana para que o médico fosse analisando a evolução da cicatrização do ferimento e com isso, poder prescrever o melhor tratamento.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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