Poesias

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

A DEUSA NEGRA - CAPÍTULO 7

Assim, como se pôde perceber Ricardo é era bem diferente de seu irmão Diego. Isso por que, apesar de sua admiração por seu pai, não concordava com o modo com o qual tratava os escravos.
Ricardo, desde pequeno fora assim. Ensinado a ser sempre educado com as pessoas, apesar da pouca idade que tinha quando a mãe faleceu, ainda se lembrava dela lhe ensinando a respeitar os escravos.
Com isso, mesmo vendo o pai maltratar os negros – escravos da fazenda –, o garoto nunca concordou com isso.
Já Diego, sempre achou divertido humilhar os escravos.
Certa vez, ao avistar Thereza no meio do cafezal, trabalhando com os demais escravos, resolveu provocá-la dizendo que lugar de negro era na senzala e que todos ali lhe deviam respeito. Porém sempre que falava alguma coisa olhava para ela.
Contudo, só falar não lhe bastava, precisava também agredi-la, e assim o fez.
De posse de um látego, ameaçou surrá-la ali mesmo na frente de todos.
Isso por que, o mesmo ao pedir que o ajudasse a descer do cavalo, ouviu como resposta de Thereza que ela tinha mais o que fazer.
No entanto, Rodrigo, que também passava pelo lugar, percebendo a confusão, tratou logo de intervir e impedir que Diego concretizasse as ameaças.
Entrementes, devido o enfrentamento que tiveram, Diego ficou furioso com ele, e desde então sempre arrumava motivos para brigar com ele.
O problema de Diego era a profunda inveja que sempre sentiu de Rodrigo. Isso por que, sendo o mais velho, estava acostumado a ser o centro das atenções. Mesmo com Ricardo, não se sentia ameaçado. Mas agora com a presença de Rodrigo, não se podia dizer o mesmo.

Rodrigo, apesar de negro, desde o primeiro momento, sempre fora bem tratado por Ataúfo. Este, preocupado com seu futuro, prometeu-lhe financiar seus estudos e proporcionar um futuro garantido.
Sim, por que, ele garotinho pequeno e assustado, desde o início, cativou Ataúfo.
Cativou tanto, que logo que chegou na fazenda foi levado para a sede e vestido com as melhores roupas que haviam.
Isso por que, o fazendeiro, vendo que o menino estava sujo e maltratado, mandou que as escravas lhe dessem um banho e lhe vestissem com as roupas velhas de seus filhos, que por serem crescidos, não as podiam usar mais.
Generoso, depois de devidamente banhado e trajado, mandou que as escravas lhe preparassem uma lauta refeição, já que o menino parecia estar com fome.
Isso causou espanto geral, mas ninguém teve coragem de desobedecer as ordens dadas. E assim, a refeição foi preparada.
Embora assustado, Rodrigo comeu com apetite tudo o fazendeiro lhe oferecia enquanto lhe fazia companhia.
Foi neste momento que Ricardo e Diego entraram na sala, e viram um estranho sentado à mesa, comendo do bom e do melhor.
Ao verem Rodrigo comendo e bebendo de sua comida, os dois meninos ficaram surpresos. Principalmente dado o fato dele ser negro.
Diego espantado com a cena, perguntou logo ao pai:
-- Papai, o que este negrinho está fazendo sentado aí?
No que Ataúfo respondeu:
-- Meu filho! Você não deve chamá-lo de negrinho, está bem? Isso por que, daqui por diante ele viverá conosco nesta casa.
Mas o menino não ficou satisfeito.
Ricardo por sua vez, também ficou admirado com a atitude do pai, mas ao contrário do irmão, não resistiu durante muito tempo a idéia.
Assim, com o passar dos dias, Ricardo e Rodrigo passaram a ficar cada vez mais unidos. Em pouco tempo os dois já passavam tanto tempo juntos que mais pareciam irmãos.
Diego no entanto, não havia gostado nem um pouco desta aproximação.
Por isso, sempre que via os dois juntos, não perdia a oportunidade para provocá-los. Dizendo ao irmão caçula que este não podia brincar com um negrinho, a todo o momento dava-lhe ordens para que deixasse Rodrigo sozinho.
Mas Ricardo não obedecia ao irmão.
Uma vez, irritado com desobediência de Ricardo, Diego se aproximou dele e começou a puxar seus cabelos.
Rodrigo ao ver o menino gritando, tratou de acudi-lo dando uns safanões em Diego que, revoltado, fez questão de contar tudo ao pai.
Contou no intuito de fazer com o pai mudasse de idéia e desistisse de manter o menino em casa.
Porém, quando contou ao pai sobre o ocorrido, para seu desapontamento, nada do que estava esperando aconteceu.
Seu pai, prevenido pelas escravas, já sabia de antemão que Diego havia maltratado o irmão e que Rodrigo só o havia defendido. Por isso, quando ouviu a história de Diego, pediu ao menino para que parasse de mentir e contasse a verdade. Mas o menino insistia em dizer que havia sido provocado.
Contudo, Ataúfo sabia que o filho mentia.
Assim, irritado, sem ter conseguido convencer seu pai a respeito de sua história, saiu da sala pisando duro e entrou em seu quarto, batendo fortemente a porta.
E nisso se passaram os dias, semanas, meses, e até anos.
Rodrigo, um aluno dedicado, aprendia cada vez mais rápido as coisas que sua preceptora lhe ensinava. Ao contrário de Diego que não queria saber de estudos, Rodrigo estava cada vez mais adiantado. Tanto que em questão de tempo, passou a fazer companhia a Ricardo nas aulas. Sim, os dois estavam no mesmo nível.
Já Diego, desinteressado dos estudos, procurava passar cada vez mais tempo longe da sede da fazenda.
Para ele que era filho de fazendeiro, não havia necessidade de estudar. Segundo ele, já estava com o futuro assegurado.
Mas isso não deixava Ataúfo satisfeito. Apesar do orgulho que sentia do filho, sabia o quanto era importante estudar. Porém, a despeito disso, em razão de sua própria história, não queria impor ao filho sua vontade. Sim, por que ele também nunca fora afeito aos estudos.
Aliás, fora um péssimo estudante.
Sempre que podia, saía de seu quarto pela janela e ganhava a liberdade.
Seu pai, Valério, ficava furioso, mas Ataúfo sabia como ninguém desarmá-lo. Era um mestre em convencer as pessoas.
Dessa forma, ao ver o comportamento do filho mais velho, parecia se ver alguns anos mais jovem. Assim, sentia-se envaidecido em ter um filho tão assemelhado a ele.
Por isso, não brigava com ele por isso.
Contudo, ao ver a dedicação de Rodrigo aos estudos, também sentiu-se feliz por isso. O rapaz estava fazendo por merecer tudo o que estava recebendo nestes anos todos. Sim, por que vivendo ali na sede e sendo tratado como filho, precisava de alguma forma, retribuir todo o carinho que recebera.
Quanto a sua ida para a fazenda, desde que o menino passou a viver por ali, todos estranharam o tratamento que o mesmo passara a ter.
Isso por que, sendo negro, todos imaginaram que Ataúfo o havia comprado para que ajudasse no trabalho na lavoura. Porém, logo que pôs os pés na fazenda, passou a ser tratado como um filho pelo fazendeiro.
Tal fato, gerou comentários.
Desconfiados, os escravos começaram a desconfiar que Rodrigo talvez fosse filho de Ataúfo com alguma escrava. Até por que, se assim não fosse, qual a razão de tanto desvelo e dedicação?
Logo Seu Ataúfo que sempre fora duro e rude com os escravos!
Antes daquele menino aparecer na fazenda, nunca havia concedido tantos privilégios a tão humilde classe.
Era estranho decerto.
Mas os escravos não tinham coragem de dizer isso claramente na frente de Ataúfo.
E a despeito disso, Rodrigo continuou vivendo sob seus cuidados. Ataúfo tinha em mente grande planos para ele. Porém, ao menos por enquanto não podia revelá-los.
Para ele saber sobre a existência de Rodrigo, era uma satisfação. Tanto que quando soube dele, tratou logo de tomar todas as providências para que o mesmo fosse para a fazenda.
E assim feito não descuidou nem por um minuto de sua educação.
Dessa forma, conforme os anos se passaram e Rodrigo se tornou um forte e inteligente mancebo, o fazendeiro fez questão de libertá-lo.
Tamanho orgulho e tanta generosidade só podiam ser por uma razão. O rapaz devia ser filho de Ataúfo.
Contudo, se realmente era, o fazendeiro nunca lhe disse. Pelo menos não claramente.
Entretanto, realmente era de se estranhar o comportamento do fazendeiro. Por que o protegia tanto? Mesmo seus filhos não gozavam dos mesmos privilégios que ele.
Isso começou a intrigá-los.
Afinal de contas, observando a forma como o mesmo tratava os escravos, era realmente muito estranho que ele passasse a fazer favores para um representante da classe sem nenhum motivo aparente. Não era de seu feitio agir dessa forma. E isso todos os escravos e moradores da fazenda sabiam.
Até mesmo Diego e Ricardo, filhos legítimos do fazendeiro, desconfiavam que haviam algo de muito errado em toda essa história. Porém, sempre que pressionavam Rodrigo para que contasse alguma coisa, o mesmo lhe respondia com evasivas.
Dizendo que nem mesmo ele sabia por que havia sido escolhido para viver ali, não tinha como responder a eles. A única coisa que podia fazer era agradecer pelo ato de generosidade de Ataúfo. Isso por que, esse tipo de generosidade era algo muito raro.
Porém, para aplacar a sede de curiosidade dos dois rapazes, comentou que antes de viver ali, vivia em uma fazenda da região com sua mãe adoentada. Para ajudá-la trabalhava nas lavouras de café, mas por ser pequeno, seu trabalho não era de grande valia. Mas ainda assim trabalhava, e passaria a vida inteira fazendo isso não fosse Ataúfo aparecer e comprá-lo.
Em tempo, pois quando o fazendeiro veio a conhecê-lo que fazia poucos dias que sua mãe havia morrido e ele havia ficado só no mundo.
Com isso, só podia ser grato ao generoso fazendeiro que o ajudara.
Mas essas explicações não convenceram a Diego.
Por isso, cada vez mais cismado com a história, passou a inquirir seu pai, para que revelasse os verdadeiros motivos de sua atitude.
Ataúfo porém, além de não gostar da atitude impertinente do filho, não estava nem um pouco interessado em lhe contar os verdadeiros motivos que o fizeram agir desta forma. Isso porque, percebendo a hostilidade declarada de Diego em relação a Rodrigo, sabia que não poderia lhe contar a verdade.
Porém, sabia que a cada dia que passava ficava mais difícil esconder de todos os seus motivos.
Mas para ele, era mais seguro não contar nada a ninguém.
Além disso, Rodrigo estava superando suas expectativas.
Aplicado, revelou-se um ótimo aluno. Sua preceptora não se cansava de elogiá-lo.
E isso era um orgulho para ele.
Muito embora Ricardo também fosse estudioso, Ataúfo considerava seu empenho algo menor, como se o mínimo que ele devesse fazer era estudar. Isso por que, por não ser tão bom cavaleiro quanto seu irmão Diego, de alguma forma ele tinha que mostrar serventia.
Com isso se denota que Ricardo não era alvo de atenção de Ataúfo.
Contudo, como desde criança fora assim, o rapaz não mais se importava com isso. E assim, também não se importava muito com seu pai.
Entretanto, a despeito disso, era muito amigo de Rodrigo e até mesmo pasmem, de Thereza.
Quando o pequeno Rodrigo chegou a fazenda e recebeu todo aquele cuidadoso tratamento já falado, Ataúfo fez questão, conforme foram se passando os dias, de apresentá-lo a todos. Escravos e feitores, todos tinham que conhecer o novo morador da casa grande. Até para que se evitassem equívocos e o confundissem com um escravo.
Com isso, os escravos ao verem o menino negro, se admiraram. Mas não falaram nada.
E assim, nas primeiras vezes em que andou pela fazenda, fora acompanhado por Ataúfo. Depois, em razão dos afazeres de Ataúfo, Rodrigo passou cada vez mais tempo com as escravas. E eram essas que levavam o garoto para passear.
E num desses passeios conheceu Thereza.
A garota que a essa época já trabalhava no cafezal, não percebeu quando este insistiu com uma das negras que o acompanhavam para ir até onde ela estava e conversar com ela.
Sim, por que as mesmas não queriam que ele se aproximasse dos escravos. Ordens de Seu Ataúfo.
Porém, o menino era teimoso e num momento de distração, aproveitou para sumir de suas vistas e caminhando se deparou com o cafezal.
Lá vendo Thereza tão pequena já trabalhando, começou a conversar com ela.
Estranhamente conversava com ela como se a conhecesse há muito tempo.
Por isso mesmo ela ficou espantada. Afinal, por que o protegido de Ataúfo apareceria por ali para conversar? E assim desconfiada, respondia secamente as perguntas do menino, ela que também era uma criança na época.
Mas a resistência não durou muito.
Depois de algum tempo, os dois se tornaram grandes amigos.
Para isso porém, Rodrigo contou com a conivência das escravas, que prometeram não contar que enquanto passeavam, o mesmo aproveitou para fugir e ver os escravos trabalhando.
Isso por que, temerosas do castigo que receberiam por não terem seguido a risca as instruções do patrão, fatalmente seriam castigadas. Assim, para evitarem uma punição, concordaram em silenciar.
Nesse momento Rodrigo aprendeu a primeira regra para viver bem com todos da fazenda. Não revelar tudo o que sabia.
Contudo, conforme os anos foram se seguindo, o menino já crescido, passou a perceber o tratamento que Ataúfo impingia aos escravos, e o quão degradante o mesmo era. Porém, cada vez que tentava conversar com o fazendeiro a respeito do assunto, o mesmo lhe dizia que era preciso ser duro com os escravos, afinal muitos eram indolentes e indisciplinados.
Rodrigo cada que ouvia esse tipo de comentário ficava mais e mais insatisfeito. Afinal, se todos os negros eram iguais, por que ele, sendo um negro, merecia tratamento diferenciado? Acaso ele era diferente de algum daqueles escravos?
Decerto que não. Mas para Ataúfo, o garoto tinha algo de especial. Por isso resolvera anos atrás, levá-lo para casa.
Nesse ponto da conversa, Rodrigo, cada vez mais curioso sobre os motivos que o levaram a cuidar dele, resolveu perguntar:
-- Então foi por isso que o senhor me trouxe para esta casa? Só por que achava que eu tinha algo de especial?
Ao ouvir isso, Ataúfo ficou desconcertado. Porém, procurando disfarçar o constrangimento, respondeu:
-- Sim. Desde que o vi pela primeira vez, senti que você tinha algo de especial.
-- E quando foi que você me viu pela primeira vez? – perguntou Rodrigo, cada vez mais curioso.
-- Foi na fazenda. Vi você trabalhando, ajudando os outros escravos a cuidar dos cafezais.
-- E assim do nada, o senhor resolveu me trazer para cá?
-- Não, é claro que não. Eu já conhecia sua mãe, assim como seu pai.
-- Conhecia? Acaso eles chegaram a trabalhar nesta fazenda?
-- Sim, chegaram. E você também nasceu aqui. Nós estavamos em uma época difícil, precisando de dinheiro. Assim, quando um fazendeiro se interessou em comprar algumas peças ...
-- Peças?
-- Sim, peças. Embora não seja a maneira mais delicada de se referir a um escravo, é assim que ainda hoje os brancos se referem aos escravos que são vendidos. E assim, ao ver o interesse do fazendeiro em comprar alguns de meus escravos, eu me prontifiquei a vender alguns destes. Entre eles, estavam seu pai e sua mãe, bem como você recém nascido. O fazendeiro, generoso, fez questão de não separar a família.
-- E nisso eu passei a viver na fazenda, como um escravo, mesmo depois das mortes do meu pai, e da minha mãe. E qual o seu interesse em me ajudar? Me desculpe, mas eu não entendo.
-- Está bem, eu explico. É que há muito tempo atrás, sua mãe me fez um grande favor. Algo que não te posso contar. Ao menos por enquanto. E assim, em dívida com sua mãe, precisava fazer algo para agradecer o favor que ela havia me feito.
-- Mas, espere aí! – exclamou Rodrigo espantado. – Se o senhor devia um favor a ela, por que a deixou ser vendida?
-- Por que o fazendeiro me impôs essa condição.
-- Então se não a vendesse, não haveria negócio?
-- Sim. – respondeu o fazendeiro.
-- Então minha mãe foi amante deste fazendeiro? – perguntou o rapaz, indignado.
-- Acredito que sim. Mas não posso afirmar com toda a certeza.
-- Foi tudo um acordo?
-- Sim. – respondeu mais uma vez o fazendeiro, agora se retirando da sala.
Ataúfo, insatisfeito com os rumos que a conversa tomara, resolveu se retirar da sala, na vã tentativa de fugir do assunto. Mas Rodrigo, indo atrás dele, resolveu lhe fazer uma última pergunta:
-- E que grande favor é esse? Não pode nem ao menos dizer alguma coisa sobre isso?
Mas o fazendeiro continuou a caminhar em direção a seu quarto e nada respondeu sobre o assunto. Apenas disse:
-- Agora não. Eu preciso dormir. Tive um dia muito cansativo.
Logo em seguida fechou a porta, deixando Rodrigo do lado de fora.

No dia seguinte, o rapaz, interessado em conversar com Thereza, resolveu se levantar cedo e passar pela cozinha antes de percorrer a fazenda com Ataúfo, Ricardo e Diego.
Sim, por que, apesar de a ter ajudado a abandonar os cafezais e desempenhar um trabalho mais leve, desde que a moça passara a trabalhar na sede, nunca parou para conversar com ela.
Por conta de inúmeros afazeres, mal tinha tempo para si mesmo, assim acabou deixando de lado a convivência com sua amiga.
Mas sentindo saudades de suas conversas, as conversas que sempre tinham nos cafezais, resolveu se levantar um pouco mais cedo para poder vê-la.
E ao chegar a cozinha, lá estava ela preparando o café para os patrões.
Espantado o rapaz perguntou se ainda não estava muito cedo para começar a cozinhar, mas ela lhe respondeu que não.
Foi nesse momento que Rodrigo descobriu que as escravas levantavam muito mais cedo que seus patrões para cuidar da casa.
Preocupado, perguntou então a Thereza se estava tudo bem.
No que ela lhe respondeu que sim. Apesar de ter muito trabalho para fazer, trabalhar em uma casa era bem melhor do que num cafezal, tendo que suportar um sol forte durante todo o dia enquanto cultivava, ou colhia os frutos da plantação.
Para ela, mesmo tendo a vida inteira trabalhado naquele ambiente, lhe era extremamente penoso o trabalho. Mas nunca havia se queixado.
Rodrigo porém, ao perceber sua insatisfação com o trabalho, resolveu ajudá-la, sugerindo que a mesma passasse a trabalhar na sede. Assim, utilizando de um estratagema para confundir Ataúfo, o rapaz conseguiu convencer o fazendeiro a mandar uma escrava para auxiliar no trabalho de cuidar da casa grande. Porém, ao descobrir quem estava desempenhando esse trabalho, ficou furioso.
Rodrigo porém conseguiu convencê-lo de que havia agido bem ao deixar a moça trabalhar na sede.
E assim, mesmo com as implicâncias do fazendeiro, que criticava de todas as formas seu trabalho, Thereza permaneceu na casa trabalhando.
Sua sorte era ter um amigo como Rodrigo, que ajudou a convencer o fazendeiro a deixá-la por lá.
Contudo, para evitar problemas, procurava não se apresentar na frente dele. Assim, quando tinha que cuidar da casa, limpar a sala, recolher a roupa de cama para lavar, limpar os quartos, arrumar a sala de jantar e a biblioteca, procurava fazê-lo quando Ataúfo não estava em casa.
Tudo para evitar sua ira.
Sim, por que Ataúfo nunca simpatizara com a moça.
Mas Rodrigo e Ricardo a defendiam.
Ricardo, convivendo com Rodrigo, e ouvindo do amigo as explicações dos motivos que o levaram a ajudar Thereza, passou a defendê-la também.
Com isso, depois de um certo tempo, percebendo a antipatia do pai pela moça, passou a desconfiar que havia algo de muito estranho em tudo isso. Afinal, seu pai realmente nunca gostara dos negros, mas a perseguição em relação a Thereza já era um pouco demais. O que será que havia acontecido? Se perguntava.
Contudo, por mais que pensasse nisso, não conseguia encontrar uma resposta.
Mas nem por isso deixou de pensar no assunto.
Assim, estimulado pelas idéias de Rodrigo passou a cada vez se interessar pela questão do negro.
Apesar de sua convivência com Rodrigo, mesmo antes de conhecê-lo, nunca tivera um comportamento hostil com os escravos que trabalhavam na casa. Já Diego, sempre tentando impressionar Ataúfo, fazia questão de ser insolente com os escravos.
Mas Ricardo era mais tolerante. Tanto que desde que Rodrigo passara a viver com a família, pouco a pouco passou a se acostumar com sua presença. E assim, foi questão de tempo, se tornarem amigos.
Tão amigos que o jovem defendia ardorosamente os pontos de vista de Rodrigo, e de tão próximos, passou a também ser amigo de Thereza.
Assim, sempre que a via trabalhando na casa, fazia questão de cumprimentá-la.
Algumas vezes, chegaram até a conversar.
Mas o melhor amigo de Thereza ainda era Rodrigo. Amigos desde pequenos, o rapaz sempre esteve presente em sua vida.
Tanto que nem mesmo ela acreditava que pudesse existir alguém tão generoso quanto ele.

Por isso mesmo, antes de ir trabalhar, o rapaz passou pela cozinha para saber como estava sua vida.
Dessa forma, passaram algum tempo conversando.
Foi então que ela comentou sobre suas desconfianças.
Para ela, havia algo de muito errado em sua história.
Rodrigo então, comentou que também não entendia por que havia sido levado para lá e tratado como se fora um filho.
Ao ouvir o amigo, Thereza concordou. Havia acontecido algo de muito ruim quando nasceram.
Tão ruim que todos os que os cercavam, faziam questão de esconder.
Devia ser algo vergonhoso e talvez, a história dos dois tivesse até, uma ligação.
Porém, ainda não sabiam o que era.
Contudo, o mistério não perduraria por muito tempo.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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