Mas, mesmo com esta atribuição, sempre arrumava um tempo, aproveitava para passear pela cidade. Curiosa, acabou descobrindo os pontos turísticos e conhecendo algumas pessoas interessantes.
Numa dessas andanças, descobriu que havia um casarão nas cercanias da cidade.
Impressionada com as dimensões da construção, ficou imaginando, que histórias teriam acontecido ali.
Muitos dos moradores diziam que aquele fora o palco de uma bela história de amor.
Daquelas que poderiam enriquecer as páginas de um romance.
História essa, que aos poucos foi descobrindo. Como as informações eram desencontradas, passou a fazer pesquisas na Biblioteca Municipal.
Nela, ao contrário do que ocorrera na cidade vizinha – quando seus amigos foram pesquisar sobre o surgimento de uma estranha aparição de lá –, havia um belo acervo de documentos da época, relatando acontecimentos da cidade. Entre estes documentos havia alguns que faziam referências a grandes festas realizadas no casarão.
Algumas, inclusive, informavam os nomes dos moradores da mansão. Prestigiados na sociedade da época, eram mestres em grandes comemorações. Suas festas eram um sucesso, badaladíssimas na pequena cidade de Água Viva.
Enfim, parecia ser uma família muito feliz.
Entretanto, depois de alguns dias de pesquisa, Raíssa descobriu que, apesar da presunção de harmonia familiar, nos últimos tempos, a família estava passando por alguns problemas.
Pelos jornais da época, a família Morales, estava atravessando uma crise. A inabalável solidez de seu patrimônio, estava sofrendo alguns ataques. Por conta de alguns investimentos equivocados, a família havia perdido um bom dinheiro. Nada que os levasse a miséria, mas, independente disso, abalava a credibilidade de seu patriarca.
Para piorar, a Senhorita Morales, passou a sofrer de uma grave doença, nos meses seguintes.
Raíssa, continuou ali, procurando mais informações. Foi assim que, lendo outras notícias, descobriu que a moça morrera em decorrência das complicações da doença, sete meses depois.
E assim, ligando os fatos, notícias de jornais, com os relatos dos moradores, chegou a uma conclusão.
Se ocorrera realmente como lhe foi contada a história, os jornais não foram fiéis aos acontecimentos.
Mas Raíssa acreditava ser tendenciosa a história que lhe contaram.
A pobre mocinha morrendo de tristeza por conta de um amor não correspondido, parecia história de livro.
Não acreditava nisso. Mas curiosa, precisava saber mais sobre o que tinha acontecido. Por essa razão, não satisfeita, resolveu que iria continuar a pesquisa.
E assim, se desdobrando, trabalhando durante á noite e parte da manhã, sempre que era liberada, tratava de ir até a Biblioteca Municipal, continuando seu trabalho de detetive.
A famosa história, lenda da cidade, a interessou.
Diversas vezes se perguntou se havia ligação desta história com a estranha aparição que ocorrera em sua cidade. Seus amigos, em breves visitas que lhe fizeram quando convalescia, a informaram que estavam investigando a estranha aparição de um homem, nas proximidades do cemitério da cidade.
Pensativa que estava, correu logo para o Cemitério de Água Viva.
Ao lá entrar, foi logo perguntando ao coveiro, onde estava enterrada a Senhorita Morales.
Espantado, ao ouvir isso, disse:
-- Como? A sepultura da Senhorita Morales? Mas ela não está enterrada aqui.
-- Não? Mas ela não era natural desta cidade?
-- Sim, mas ela foi enterrada em outra cidade.
Curiosa, perguntou:
-- Onde?
-- Ela está enterrada na cidade de Água Branca. Não sabia?
-- Não.
Nisso, o coveiro virou-lhe as costas e voltou para seus afazeres.
Espantada com a novidade, Raíssa não conseguia entender por que havia sido enterrada lá. As cidades nem amigas eram. Por que isso?
Por esta razão, perguntava as pessoas que encontrava o porquê de tal proceder.
Como poderia ser isso?
Estranho.
Tão estranho que, nem mesmo os moradores mais antigos de Água Viva sabiam explicar.
Somente quando um estranho senhor trajado com uma longa capa preta apareceu, é que Raíssa teve suas dúvidas parcialmente dissipadas.
Curiosamente, o misterioso homem, parecia uma personagem saída de um romance do século dezenove. Traje elegante, modos refinados, postura altiva. O cavalheiro era um autêntico retrato dos heróis dos livros de José de Alencar e de Joaquim Manuel de Macedo.
Diante da extraordinária aparição, só restou a Raíssa perguntar-lhe sobre sua história.
Quando então deu-se conta do fascínio que exercia sobre os moradores da cidade, o cavalheiro começou a rir. Nunca imaginara que após tanto tempo, ainda era alvo da curiosidade das pessoas.
Assim, disse sorrindo, que vivia naquela mansão há muitos anos, desde que sua amada desaparecera. Vivia ali segundo ele, na esperança de reencontrá-la, já que era ali que vivera seus últimos dias.
Foi então, nesse momento, que Raíssa passou a compreender um pouco melhor o que se passava na bela mansão. A assombração de que todos falavam, não passava de um homem atormentado pelo desaparecimento da mulher amada. Não havia nada de mais em sua história.
Nisso, quando se virou para fazer uma última pergunta ao misterioso cavalheiro, este havia sumido.
Nesse momento então, dado o abrupto desaparecimento do homem com quem conversava, e a estranha circunstância em que se deu o encontro, Raíssa resolvera então, vasculhar o cemitério. Queria encontrar o homem com quem conversara por poucos minutos.
Por estar o cemitério, em um amplo descampado na cidade, vasculhou por todos os cantos na tentativa de encontrá-lo, já que, dado o momento em que desapareceu, não teria dado tempo para ter saído de lá.
Procurou, procurou. Debalde, pois não conseguiu encontrá-lo. Evaporou. Sumiu como que por encantamento.
Impressionada, Raíssa foi novamente em direção ao coveiro do cemitério e lhe perguntou se algum homem havia passado por ele.
Lacônico, o coveiro lhe disse que não.
Espantada Raíssa indagou:
-- Mas como não? O homem acabou de conversar comigo e sumiu. Procurei-o por todo o cemitério e não o encontrei. Como pode ter saído daqui e o senhor não o viu?
Interessado, o coveiro lhe perguntou então:
-- Como era esse homem que conversou com você?
-- Era um homem alto, elegante, vestido com umas roupas estranhas. Usava uma longa capa preta e possuía um linguajar meio rebuscado. Parecia aquelas figuras dos livros de história.
-- Como se pertencesse a outra época.
-- Isso. Quem é ele?
Seguiu-se então, um longo período de silêncio.
Aterrado, o coveiro disse, assombrado, que:
-- Só pode ser o amante da Senhorita Morales. Só pode ser. – insistia, desesperado.
O pobre ficou tão assustado com isso, que mais que depressa retirou-se do cemitério. Temeroso, não queria dar de cara com um fantasma. Fantasma que assombrava a mansão da família.
Raíssa ao perceber que conversara com um fantasma também se assustou, mas, a despeito do susto que passou, Raíssa nunca desistiria da idéia de continuar investigando a família. Precisava saber mais detalhes sobre a história. Afinal de contas, queria estar mais inteirada sobre os assuntos da cidade.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 15
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