Poesias

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

A DEUSA NEGRA - CAPÍTULO 20

Nisso Thereza, pensativa, cheia de dúvidas, não sabia o que pensar da resposta de Rodrigo. Por ser viúva, não seria bom que ela se casasse tão cedo.
Isso por que, naquela sociedade conservadora e machista, ela precisaria esperar um longo tempo para novamente se casar.
Em virtude disso, Thereza pensou diversas em recusar o pedido.
Contudo, quando Rodrigo, retornando a fazenda, foi conversar com Thereza,  a moça ficou sem jeito. Temendo magoar o amigo, demorou algum tempo para responder a famigerada pergunta. Dizendo que não estava pronta para se casar novamente já que estava viúva a tão pouco tempo, tentou o máximo que pôde, dissuadi-lo da idéia de casamento.
Rodrigo, ao perceber a relutância de Thereza, respondeu-lhe que não precisavam casar-se logo. Ciente de que a moça estava em uma posição delicada, o mancebo respondeu que detalhes circunstanciais não eram motivo suficiente para ela recusar o pedido.
Insistindo muito, o rapaz disse que não iria deixá-la se casar novamente. A menos é claro, que fosse com ele.
Thereza ao ouvir a resposta de Rodrigo, achou seu tom engraçado. Por isso mesmo, riu, acreditando se tratar de uma brincadeira.
Rodrigo percebendo que Thereza não o levava a sério, respondeu que não sairia dali enquanto ela não desse a resposta certa.
Thereza percebendo isso, tentou convencê-lo a desistir da idéia. Dizendo que ele estava confundindo um sentimento de amizade com algo mais profundo, Thereza alegou que aquele não era um bom momento para assumir um novo compromisso.
Rodrigo dizendo que eles é que deviam fazer o momento ser bom, comentou que se fosse esperar o momento certo nunca teria coragem para se declarar. Alegando estar cansado de esperar por ela, o rapaz disse que não iria aceitar não como resposta. Menos ainda um não vago.
A moça, percebendo que não conseguiria fugir da resposta, disse decidida:
-- Não!
Rodrigo desapontado, perguntou:
-- Como não? Eu venho até aqui, me declaro para ouvir um simples não? Por que isso?
Thereza, tentando explicar seus motivos, contou novamente sobre a história de ser uma viúva.
Rodrigo, cansado da ladainha, respondeu que aquele motivo não o suficiente. Dizendo que se ela tivesse lhe dito que amava muito o marido para pensar em casamento, ele mesmo desapontado, aceitaria a recusa. Porém, percebendo que ela procurava desculpas para a recusa, respondeu que ficaria na fazenda dela até ela se decidir sobre o assunto.
Thereza, sem saber o que fazer, tentou diversas vezes convencer o rapaz a voltar para a fazenda.
Rodrigo contudo, se recusava veementemente. Dizendo que só arrastado sairia dali, permaneceu na sede por horas.
Nisso Thereza cansada de se explicar, recolheu-se.
Rodrigo, insistindo em ficar por lá, acabou dormindo na sala da casa de Thereza. Dormindo pesadamente, só acordou ao ser sacudido por ela.
Espantada a moça ao vê-lo dormindo no sofá de sua sala, foi logo perguntando-lhe o fazia ali.
Rodrigo dizendo que não sairia dali sem ouvir sua resposta, sentou-se no sofá.
Thereza, percebendo que não conseguiria expulsá-lo de lá, respondeu:
-- Está certo! Então nós nos casamos. Só que não agora.
Rodrigo ao ouvir a resposta, ficou radiante.
Feliz, abraçou Thereza. Depois, dizendo que precisava voltar para casa, partiu.
Cleide, dizendo que ouvira a conversa, desejou a moça muitas felicidades.
Thereza ao saber que Cleide ouvira o colóquio, não gostou nem um pouco disso. Censurando-a disse ela não deveria ficar bisbilhotando-os.
Cleide ao se ver objeto de censura, comentou que ouvira tudo por acaso.
Thereza respondeu:
-- Sei bem!
Entusiasmado, Rodrigo, andando a galope, era só alegria. Imaginando como faria para contar a todos que se casaria com Thereza, ficou a pensar. Feliz, nada parecia abalá-lo, nem a reação desabrida de Diego.
Assim determinado, ao chegar na fazenda, o rapaz, se arrumando, resolveu descansar um pouco.
Mais tarde, ao contar a Ricardo, recebeu um forte abraço de felicitações. O moço, sabendo que isso certamente aconteceria, chegou até a comentar que Rodrigo agira muito rápido.
Diego, ao tomar conhecimento da notícia, agiu com desdém. Debochando de Rodrigo, disse que aquele seria o casamento do ano.
O jovem noivo, ciente de que essa seria a reação de Diego, nem ligou.
E assim, nos dias que se seguiram, o rapaz, visitando reiteradas vezes a noiva, comentou que precisavam marcar a data. Thereza, cautelosa, dizia que ainda era cedo para isso, mas Rodrigo ansioso, dizendo que tinham muito o que fazer, acabou convencendo-a providenciar a data.
Insistindo com Thereza para que cuidasse do enxoval, comentou que quando tudo estivesse pronto, os dois poderiam se casar.
A moça, tentando adiar a data do enlace, bem que tentou retardar os preparativos do casamento.
Cleide porém, ajudando o rapaz, sempre lhe avisava quando Thereza estava tentando lhe enrolar.
Diante disso, não demorou seis meses para a moça se casar novamente.
O novo casamento, ao contrário do primeiro, teve todo o luxo e requinte que Rodrigo esperava para tão nobre momento. Dizendo que era o seu casamento, comentou que queria uma cerimônia inesquecível.
Thereza, ao perceber o interesse de Rodrigo em organizar uma bela festa, ficou espantada. Isso por que, geralmente quem sonhava com as festas eram as noivas e não os noivos. Assim, vê-lo tão animado com a festa, era surpreendente.
Rodrigo, por sua vez, não se importava nem um pouco com a reação das pessoas. Dizendo que aquele era o seu casamento, ressaltou que queria mostrar a todos o quão estava feliz por aquele enlace.
Cleide entendendo a posição do rapaz, concordou com ele. E assim a festa se fez do jeito que ele pretendia.
A cerimônia, ao ar livre, foi celebrada por Padre Lívio. Este, feliz pelos noivos, preparou um belo discurso.
Cleide madrinha do casal, acompanhada dos amigos da moça, e Ricardo, permaneceram junto dela no altar – montado especialmente para aquela ocasião.
Emocionado, Padre Lívio comentou que estava celebrando o casamento de uma guerreira, de mulher que apesar de abatida com os últimos acontecimentos, se reergueu e retomando sua vida, resolveu se casar novamente. Em seguida, dizendo que Rodrigo também era um jovem nobre, respondeu que aquela união, indissolúvel, era a mais bela aliança do mundo.
Desfazendo-se de seu luto, Thereza ao se casar, vestiu um lindo vestido perolado.
Com isso, depois do casal colocar as alianças, seguiu-se o encerramento da cerimônia e Thereza, caminhando de braços dados com Rodrigo, recebeu os cumprimentos dos convidados.
A pedidos, jogou o buquê. Ansiosas as mocinhas da região, ficaram afoitas. Como todas queriam segurar o buquê, foi uma disputa, conseguir o almejado objeto.
Quando Cleide conseguiu segurar o buquê, todos ficaram surpresos. As mocinhas, decepcionadas, não se conformavam com o fato de justamente dela o ter pego.
Thereza ao ver Cleide segurando o buquê, ficou muito feliz por ela.
Mais tarde, dançando no belo baile pedido por Rodrigo, Thereza encantou a todos com sua habilidade para valsar. Até mesmo Rodrigo ficou espantado com sua leveza.
Dançando ficaram a noite inteira.
Que bela festa! O baile que se seguiu e o casamento foram impecáveis.
Desse baile os moradores da região, falariam ainda por muitos anos.
Nisso, Thereza e Rodrigo, ao encerrarem as valsas, depois de muito se divertirem, foram até a sede e com as malas prontas prepararam-se para partir.
Thereza, trocando o vestido de noiva, colocou um traje discreto. Rodrigo fez o mesmo.
Em seguida, despedindo-se dos criados e amigos, os dois partiram.
De charrete, seguiram até a estação. A mesma estação que alguns anos antes trouxera ela e Abelardo para aquelas paragens.
Ricardo, a essa altura devia estar dormindo.
Quanto a Diego, Rodrigo não fazia a menor idéia de onde este pudesse estar. Como não aparecera no casamento, Rodrigo não sabia o que ele poderia estar fazendo.
Para Thereza, o fato dele não ter comparecido, foi um alento.
Sim por que para ela, se a simples idéia de ver aquele rapaz adentrando sua propriedade já lhe era penoso, o que se poderia dizer ter de conviver com sua pessoa? Por esta razão a moça ao ver que o rapaz não apareceria, ficou satisfeita.
Quem não gostou nem um pouco da desfeita foi Rodrigo.
Thereza, tentando acalmar o rapaz, respondeu-lhe que não precisava ficar aborrecido. Dizendo que fora até melhor ele não aparecer, comentou que o casamento fora perfeito, exatamente como queria.
Rodrigo, ao constatar que estava casado com Thereza, resolveu deixar a decepção de lado e aproveitando a viajem, observou a paisagem. Conversando com Thereza, descobriu o quanto sua vida mudara desde que ela deixara a fazenda.
Rodrigo também contou com fora sua vida nos últimos anos.
Durante a lua-de-mel o casal aproveitou para visitar as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Rodrigo que visitara poucas vezes São Paulo, encantou-se com o ar europeu da urbe. A moça, aproveitando a estada na província, comentou com o rapaz que precisava ver como andavam as coisas. Assim, conversando com Assírio  constatou que tudo estava indo bem.
Cuidadosa, durante o tempo em que estiveram na cidade, o casal ocupou a casa em que moça vivera quando morou por lá.
Aproveitando a estada na cidade, Thereza aproveitou para visitar as propriedades e verificar os investimentos que sua família fizera.
Rodrigo percebendo que a moça amealhar um vasto patrimônio, ficou espantado.
Mas não era só isso.
Thereza, proprietária de fazendas em outras localidades da província, deixou-o ainda mais boquiaberto.
Muito embora ele também possuísse alguns bens, não era nada se comparado com o vasto patrimônio de Thereza. Espantado com isso, o rapaz se perguntava como ela conseguira amealhar tão grande fortuna.
Cuidadoso, porém, não lhe fez nenhuma pergunta a esse respeito. Interessado em aproveitar sua lua-de-mel, o rapaz resolveu deixar as perguntas para mais tarde.
Além disso a moça, preocupada em visitar o túmulo dos pais, acabou fazendo-o desistir da idéia de inquiri-la. Thereza, procurando lembrar de Dona Odete e Seu Hélio, como forma de homenageá-los, depositou flores em seu túmulo.
Rodrigo, ficou tocado com a cena.
Dias depois, de viagem para a Corte, o rapaz, convidando a moça para se hospedar na casa de seu tio, ouviu como resposta, um sonoro não. A moça, dizendo que preferia se hospedar em um bom hotel, comentou que eles precisavam de um pouco de privacidade. Além disso, ela não queria incomodar o tio do rapaz, que por ser um homem de idade, poderia não estar interessado em receber estranhos em sua casa.
Rodrigo concordou.
Muito embora tivesse escrito de São Paulo sobre seu casamento, não havia comentado quando viajariam para o Rio de Janeiro. Assim, o tio Altino não devia nem fazer idéia de quando eles iriam para lá.
Assim, quando chegaram na Corte, o casal se hospedou em um luxuoso hotel da cidade.
Acomodados, o casal usufruiu de todos os confortos e luxos que um bom hotel pode proporcionar.
Mais tarde passeando pela cidade, revisitaram os lugares por onde passaram anos atrás.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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