Poesias

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A GANGUE DO TERROR - CAPÍTULO 22

 Assim, em setembro de 1993, estavam prontos.
Passaram então a vender as mercadorias em um lugar afastado, longe do olhar de curiosos e de policiais indesejáveis.
Finalmente estavam trabalhando.
Para não levantarem suspeitas, vendiam as aludidas mercadorias, ainda durante o dia. Durante a noite fatalmente geraria desconfianças. Assim, começaram a trabalhar a tarde.
Como não havia uma fachada para o negócio, não podiam se expor tanto. Tinham que ser cautelosos, ou tudo daria errado.
Portanto, trabalhavam dessa forma.
Procurando se precaver, sempre perguntavam que ao comprador quem lhe havia indicado o ponto, e onde estavam. Com isso, só depois de respondidas as perguntas, vendiam a mercadoria ao interessado. E ainda assim, quando desconfiavam de algo errado, não executavam o negócio.
Entretanto, como fazia pouco tempo que estavam no ramo, não haviam sido alvo de pessoas suspeitas. Mas como sempre, todo cuidado é pouco. Isso porque, certa vez, chegaram a ver alguns policiais se aproximando dali.
Mas do que depressa, guardaram tudo e sumiram do lugar por algum tempo.
Só voltaram a vender as ditas mercadorias quando os policiais se afastaram do lugar, depois de algumas horas.
Contudo, combinaram entre si, que nas próximas vendas, iriam para lugares diferentes. Não ficariam sempre no mesmo lugar. Poderiam ser pegos se assim fizessem. E assim passaram a proceder.
Procedendo dessa maneira, os quatro garotos passaram a vender as mercadorias nos lugares mais inusitados. Contudo, como precisavam ser discretos, evitavam executar seus negócios em presença de estranhos.
Diante disso, conforme o tempo foi passando, os garotos, percebendo que o trabalho deles estava dando lucro, passaram a querer gastar o dinheiro que ganhavam.
Raíssa, temendo que o fato de terem tanto dinheiro levantaria suspeitas, recomendou aos garotos que guardassem a quantia. Cautelosos, deveriam gastar somente uma pequena parte da quantia.
Luís, Cláudio e Leocádio, não gostaram nem um pouco de ouvirem as palavras de Raíssa. Aborrecidos com a interferência da garota, os rapazes comentaram que independente do que ela pensava a respeito do comportamento deles, eles gastariam o dinheiro como bem lhe conviesse.
Atrevidos, chegaram até a dizer que ela não tinha nada que ver com isso.
Raíssa, ao constatar que não seria ouvida, resolveu deixar o assunto de lado.

Nesse ínterim, Marcílio, que havia prometido a Raíssa conversar com Eulália, decidiu finalmente se apresentar. Ciente de que a mulher trabalhava durante o dia, o homem resolveu encontrá-la em casa.
Qual não foi a surpresa de Eulália ao ver Marcílio.
Totalmente mudado, nem parecia o homem que conhecera há tantos anos. Mais bem vestido, parecia bem sucedido.
Eulália, percebendo isso, tratou logo de se insinuar para ele. Dizendo que ele estava há muito tempo sumido, Eulália elogiou-o.
Marcílio, notando o ar bajulador de Eulália, agradeceu o elogio, mas dizendo que tinha algo importante a falar, comentou que vira Raíssa.
A mulher ao ouvir as palavras de Marcílio, ficou espantada. Surpresa perguntou:
-- Viu Raíssa? Quando? Onde?
Marcílio, percebendo que a garota não fizera nenhum comentário sobre sua provável visita, admirou-se de sua discrição. Realmente Raíssa estava saindo melhor que a encomenda. Notando o espanto de Eulália, Marcílio passou a explicar sua visita.
Dizendo que a vira de passagem por uma das cidades onde morava, – evitando porém dizer o nome da localidade – Marcílio comentou que a moça parecia estar trabalhando na loja de um conhecido, amigo seu.
Ao ouvir isso Eulália, se tranqüilizou. Afinal de contas se os dois se conheceram nesta circunstância, a garota não sabia qual era exatamente seu grau de parentesco com ela. Constatando isso Eulália ficou deveras feliz.
Decerto ele estaria ali para pedir algum favor para ela.
Por esta razão Eulália aguardou pacientemente o pedido de Marcílio.
O homem explicou então o que queria.
-- Como a senhora já deve ter percebido, eu estou aqui para te fazer um pedido. Antes porém, eu gostaria de saber, como andam as coisas por aqui? Vocês estão precisando de dinheiro?
-- Corta essa. Acaso não nos conhecemos há tanto tempo? Então pra quê formalidades?
-- Está bem, Eulália. Mas repito a pergunta, vocês estão precisando de alguma coisa?
-- Não. O dinheiro que você me manda mensalmente é mais do que o suficiente.
Marcílio, percebendo a pobreza do lugar em que viviam, perguntou:
-- Se não lhes falta nada, por que vocês vivem num lugar tão miserável com este? Acaso o dinheiro que eu lhes mando não é o suficiente para que tenham um padrão de vida melhor?
Eulália, percebendo que Marcílio notara que devia ser terrível viver num lugar como aquele, respondeu que ao contrário do que ele imaginava, o dinheiro era mais do que suficiente para alugarem uma casa na área central da cidade. A questão era, se elas passassem a viver num lugar melhor, como ela faria para manter as despesas da casa, bem como pagar a escola de Raíssa?
Marcílio ao ouvir as explanações de Eulália, perguntou se Raíssa estava estudando em uma escola particular.
Eulália respondeu que sim.
Marcílio, espantado, perguntou então:
-- Curioso! Eu estou a algum tempo nesta cidade e até agora não me deparei com nenhuma instituição de ensino particular.
Eulália, vendo-se desmascarada, tentou consertar a situação. Dizendo que estava guardando o dinheiro para a faculdade da moça, respondeu que acreditava que ela iria longe.
O homem não engoliu a história no entanto.
Por isso mesmo, procurando obter uma resposta para aquele engodo, Marcílio, segurando um dos braços de Eulália, exigiu uma explicação. Afinal de contas, o que ela estava fazendo com o dinheiro que ele mandava quase todos os meses praticamente desde que deixou a cidade?
Intimidada com o gesto bruto de Marcílio, que irritado segurava seu braço com cada vez mais força, Eulália, pedindo para que ele a soltasse, respondeu:
-- Está certo! Eu vou contar tudo. Quando meu marido sumiu, sem ter dinheiro para me manter na casa em que morava, passei a procurar uma moradia mais simples. Sem saber o que fazer da minha vida, voltei a trabalhar e assim consegui pagar o aluguel desse lugar... Veja bem! Ele não é tão ruim assim.
Marcílio, olhando atentamente para a casa, percebeu que apesar de pobre, era um lugar limpo. Assim, a despeito da economia de Eulália, Raíssa não estava mal acomodada.
Incomodado porém com o fato da garota morar num lugar tão pobre, o homem prometeu, que assim que tivesse condições, montaria uma bela casa na cidade para a garota morar. Aproveitando o ensejo, Marcílio, recomendou a ela que tratasse a garota bem. Isso por que, se viesse a tomar conhecimento de que a garota não vinha sendo bem tratada, ele a levaria para morar com ele e assim, adeus mesada.
Eulália, percebendo que poderia perder uma bela fonte de renda, concordou.
Marcílio, percebendo isso, ficou bastante satisfeito.
A seguir, dizendo que precisava resolver alguns assuntos, comentou que mais tarde voltaria para ver como estavam indo as coisas entre ela e Raíssa.
Eulália, dizendo que cuidaria muito bem da enteada, respondeu que ele poderia voltar quando bem quisesse.
Nisso Marcílio saiu.
Raíssa então, que fazia hora para voltar para casa, percebendo que havia demorado muito em seu trabalho, tratou logo de se apressar. Cautelosa, evitou entrar pela porta da frente em sua casa.
Assim, pulando novamente o muro, entrou em seu quarto pela janela.
Eulália que aguardava o retorno de Raíssa para casa, ao perceber que a garota estava em seu quarto, ficou espantada. Perguntando se ela estava há muito tempo ali, ouviu como resposta um sim.
Apavorada, a mulher perguntou a garota se ela havia ouvido parte da conversa que tivera.
Raíssa ao perceber o ar aflito da madrasta, foi logo perguntando com quem ela havia conversado.
Eulália, sem saber o que dizer, respondeu que conversara com uma vizinha sobre um assunto particular.
A garota, percebendo que sua madrasta não queria entrar em detalhes sobre o teor da conversa, resolveu deixar o assunto de lado. Dizendo que ela não precisava se preocupar com o jantar, comentou que já havia jantado.
Eulália, atônita com os últimos acontecimentos, respondeu que estava bem.
Com isso, para Raíssa as últimas semanas estavam sendo memoráveis.
Isso por que Eulália, passando a fazer horas extras, passou a ficar cada vez menos tempo em casa.
Desta forma, Raíssa, sem ter de suportar o controle da madrasta, passou a ficar cada vez mais livre.
Sem ter hora para chegar em casa, começou a ficar relapsa com seus estudos. Isso por que, com o passar do tempo vinha freqüentando cada vez menos a escola.
Seus amigos, percebendo isso, trataram logo de adverti-la. Sim por que, se eles tinham que ser discretos, ela também devia fazer o mesmo.
Raíssa porém, ao invés de seguir os conselhos dos amigos, retrucou dizendo que quando ela lhes aconselhara a não torrar todo o dinheiro que ganhavam, ninguém a ouvira. Assim, se a sua palavra não era dado crédito, ela também não se sentia na obrigação de fazê-lo com relação as palavras dos amigos.
Foi então que Luís, Cláudio e Leocádio, disseram que pensaram em suas palavras, e analisando melhor a situação, decidiram esperar um pouco mais para gastar o que haviam ganho.
Raíssa, ao ouvir os garotos, percebendo que os mesmos deram crédito a suas palavras, resolveu pensar um pouco.
Cláudio e Leocádio, contudo, não ficaram satisfeitos com a resposta.
Dizendo que esperavam mais de sua parte, não sossegaram enquanto não fizeram Raíssa se convencer de que o melhor que a fazer era voltar para a escola.
Raíssa, tentando argumentar, disse que tudo aquilo era uma imensa chateação.
No entanto, sem ter como recusar um pedido dos amigos, a mesma acabou concordando. Sim, cuidaria para não mais faltar tanto as aulas. Afinal de contas, eles tinham que manter as aparências.
Nisso, Marcílio, que planejava se instalar em Água Branca, auxiliado por Reginaldo, passou a acertar os detalhes de sua mudança. Como não podia se expôr, quem cuidou do aluguel da casa, foi seu braço direito.
Reginaldo, cuidando disso, viajou até a cidade.
Seguindo as recomendações de Marcílio, o mesmo palmilhou toda a cidade em busca de um lugar que pudesse alugar.
Esta casa devia ficar bem afastada da região central da cidade. E assim foi feito. Depois de algum tempo procurando, finalmente Reginaldo encontrou uma casa exatamente como Marcílio desejava.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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