Poesias

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

VIVERES HISTÓRICOS

Cruzeiros a singrar os mares
Aventuras vividas em meio aos cruzados

Grandes embarcações construídas em madeira
A abrigar muitas histórias, muitas vidas
As naus com suas velas enfunadas, a percorrer os mares
Ao sabor de grandes conquistas, e novas descobertas

As missões religiosas, em busca da expansão imperial
A dizimar povos, as gentes
Destruir legados
Tudo em nome da sanha conquistadora
Enrustida em missão religiosa

Como os jesuítas a catequizarem os índios
A ensinarem a doutrina cristã
De um salvador que se tornara a luz do mundo
E deixara um grande exemplo de doação e humildade

Índios que viviam de modos livres
A exporem suas vergonhas,
Como nos dizeres da carta

Famosa correspondência epistolar de Pero Vaz de Caminha
Caminha em busca de novas rotas para as especiarias
Cravo, gengibre e noz moscada

Especiarias a mudarem os rumos da história
E a denominar índios,
Os habitantes da terra descoberta

Especiarias destinadas a melhorarem o gosto dos alimentos
A tornar o paladar e o sabor dos alimentos, mais agradável

Não descobriram a rota das Índias,
Conforme esperavam
Mas descobriram uma terra maravilhosa
De matas verdejantes, verde exuberante
Lindas e fartas fontes de água e de vida
Céu azul, forte e claro

Com índios desnudos,
A se pintarem com tintas naturais
A se enfeitarem com a beleza das penas das aves da terra
Como se fora a primeira criação divina

A viverem em aldeias, a dormirem em ocas
A caçarem e a pescar
A deslumbrarem os aventureiros europeus

Todos cheios de vestimentas, calçolas, sapatos, camisas, colas, chapéus rebuscados
Portugueses protocolares
A sofrerem com o calor da terra

Doentes da longa viagem do mar
Acometidos de escorbuto, e outras doenças, além de piolhos
Muitos perecendo em longa viagem
A enfrentarem borrascas, desvios de rotas, entre outros percalços
Além de brigas e desentendimentos

Convés e proa, popa
Bombordo e estibordo, sul e oeste
Coordenadas cartográficas
Grandes navegações

Índios e índias a deslumbrarem os olhos admirados dos portugueses
Acostumados aos preceitos cristãos,
Assolados pela culpa do pecado original
E distantes da pureza inocente,
De não se ter vergonha do próprio corpo
Acometidos pelas imposições da sociedade 
A viverem nos conformes dos reclamos sociais

Em tributo a amizade,
Ofereceram bugiarias aos índios
Bijuterias, colares, espelhos, entre outras tranqueiras
Em troca da árvore de madeira nobre, abundante no país
Mais tarde denominado Pau Brasil

Que em razão de sua cor vermelha,
Era utilizada no tingimento das peças,
Das ricas indumentárias europeias

Árvore fartamente explorada
Tanto ao ponto de chegar ao seu quase esgotamento
Planta que deu nome a esta terra de contrastes     

Em sua rota errática,
Europeus se deslumbraram com os primeiros sinais de terra
Terra à vista, a gritar
Após meses a desbravarem mares inóspitos

Perdidos em um oceano de água
Tendo por instrumentos náuticos a bússola e o astrolábio
Bem como as cartas náuticas
E a lua e sua constelação de estrelas, por farol

Dura a vida de marinheiro
Dura a vida de aventureiro
A despedir-se dos parentes no cais do porto
Os quais acenavam-lhes tristemente,
Sem a certeza de que algum dia, tornariam a vê-los

Hoje alhures, alheados em algum lugar perdido
Em um oceano de monstros e tormentas
Quem sabe um dia, a se encontrar algures
Em algum lugar de ventura
Os mortos desta vida de desditas
Terrifica aventura,
Por muitos, desacreditada

E a terra a ser avistada
Aos poucos se pareceu ilha

Por breve instante,
Acreditaram haver chegado as Índias
Terra que com tanta luta,
Mais tarde conquistaram

Ao se aproximarem as naus,
Pouco a pouco puderam notar, tratar-se
De um lugar maravilhoso
Terra deslumbrante

Com suas praias de águas limpas e plantas exuberantes
A serem levados ao líder da tribo
E a negociar madeira,
Em troca de quinquilharias, bugigangas
Que tanto encantaram os índios

E os portugueses,
Levaram toras e mais toras de madeira
Para o velho continente

Caminha, a escrever maravilhas da terra recém-descoberta
As aves, exuberantes e coloridas,
Com seu canto canoro
A entoar sonoro,
Na densidade das matas

Floresta tropical, com árvores frondosas, folhas e flores várias
Variedades antes nunca vistas
Cenário diverso da frieza europeia

Com índios a se banharem em rios, lagos e cachoeiras
A brincarem entre si

As mulheres a prepararem os alimentos
A criarem ornamentos de penas

O pajé a cuidar das doenças da tribo,
A realizar os rituais, as danças e os rituais de iniciação

A mulheres a moldarem o barro,
A fazerem cuias e vasos
A confeccionarem cestas de palha,
Nas tramas que elaboravam

Abrigando-se em suas ocas,
Cujo aglomerado, formavam a taba

Adoravam Tupã, entre outras divindades
Contemplavam a lua, Jaci
E possuíam várias formas do falar

Os índios guerreavam entre si
Lutavam e se combatiam
Haviam índios canibais
E índios aculturados,
Que se aliavam aos portugueses, em suas batalhas

Santo André foi fundado por índio, Cacique Tibiriçá, sua filha Bartira,
E um português, chamado João Ramalho
A formarem a Vila de Santo André da Borda do Campo
A qual fora abandonada, dez anos depois de fundada
E pouco tempo depois, de ter sido alçada a condição de Vila
Reconhecida oficialmente como tal 

Índios que sofreram o opróbrio da escravidão
Que foram aculturados, nos moldes europeus
E catequizados por jesuítas
Os quais utilizaram sua força de trabalho,
Para a construção da terra Brasil

Índios que guerreavam ao lado dos portugueses,
Contra os portugueses
Que fizeram sua história
Aprenderam a ler e a escrever,
Que adotaram os costumes dos brancos
Que sofreram com suas doenças
Que eram milhões e hoje são poucos

Muitos lutam para preservar sua história
A grande maioria alijada

Muitos sofrendo com o tráfico de drogas,
Com a falta de uma divisão clara de terras
Sem rumo, vagando de um lado para o outro
Outros articulados, e engajados e novas lutas sangrentas               

Em tempos de antanho,
A caçarem e a pescarem
A viverem seus rituais,
A ouvirem os ensinos de seu cacique
A beberem o cauim
Bebida preparada com a fermentação do milho mastigado

A brincarem, a nadarem nas águas exuberantes do Brasil
A mais tarde, plantarem grãos
Vivendo em ocas de palha
Sem roupas para cobrir as vergonhas
Livres em sua oca, sem móveis

A caminharem pelas matas
A contemplarem a natureza e apreciarem o canto dos pássaros
A cultivarem as lendas, como a da vitória-régia

Jovem e bela índia, que encantada pela beleza da lua,
Ao vê-la refletida nas águas, atirou-se no lago, em busca de sua companhia
Vindo a se transformar em linda flor
A qual passou a ter este nome, em homenagem a uma rainha

E assim, pela tradição oral, para sendo criadas,
Histórias diversas para se explicar a origem do mundo,
E os propósitos da natureza

(Na Idade Medieval
Em contraste com os tempos coloniais)
As Cruzadas a cruzarem o oriente
A conquistarem outras terras, outras plagas, outras gentes
Para a cobiça dos bravos portugueses
E os navios a singrarem os mares

E o tempo dando saltos
Cada vez maiores

E os cruzados e os cruzeiros,
A moeda se tornarem
E cruzeiros, empreendimento comercial se tornar
Navios imensos e luxuosos a cortarem com constância,
As águas do nem sempre cristalino mar

Houve tempo, em que piratas
Percorreram mares brasileiros
A fazerem das suas, por estas plagas
Pelo litoral
A explorarem o Pau Brasil,
Assim como o fizeram, os portugueses
E a terror provocarem nos moradores destas paragens

Brasil, terra que aos poucos,
Passou a ser colonizada
Povoada pelos brancos portugueses
Tornando-se terra habitada
E refugio de muitos forasteiros

Sem poder industrializar-se
Adquirindo produtos manufaturados de outras plagas
E a industrialização aqui a tardar

E quando ocorreu,
De forma modesta,
Com cafeicultores a investir em outras atividades
Adquirindo casarões na Avenida Paulista
Tecelagens, fábricas, entre outras atividades

E os operários a trabalharem por longas horas em máquinas
Greves a ocorrerem,
E este estado de coisas a denominado ser:
Caso de Polícia, nos dizeres do presidente Washington Luís

Leis a serem redigidas,
Regulamentando jornadas, férias
Uma lei denominada Eloy Chaves,
A se preocupar com um sistema de previdência

E o apito da fábrica de tecidos
A todos conclamar para o trabalho
A fiar em teares, confeccionando tecidos     
Tempos antigos

A andarem de bonde,
E em cortiços viverem

Sindicatos,
Lutas por melhores condições laborativas
Industrialização tardia em terras tupiniquins

Viveres históricos
Lidos e aprendidos nos livros de história
Vividos e contados ao  sabor das passadas,
Pinceladas e escritas por alguém inspirado ou não

A contar as glórias e inglórias desta terra apaixonante
Palco de independência memorável retratada,
Em quadro magistral de Pedro Américo

Onde um Dom Pedro galante, ergue sua espada
A bradar em alto e claro som
Independência ou morte!

Pena ser a realidade tão diversa
Com direito a mal estar
E declaração de independência as margens de um riacho

Outrora de água límpidas e cristalinas
Hodiernamente tristemente esquecido, espremido e poluído

Ao lado dali, um casebre
Casinha modesta intitulada “Casa do Grito”

Famosa construção, tal como a conhecida “Casa de Pedra”
Localizada próxima a antiga Estrada de Santos
Onde supostamente
Dom Pedro I e sua amada Domitila de Castro do Canto e Melo,
Encontravam-se furtivamente
Muito embora,
A edificação tenha sido erigida,
Tempos após o falecimento de ambos

Quem sabe o fora,
Palco de encontro de almas amantes?

Estrada Velha, antiga Calçada do Lorena
A homenagear com estátuas,
O centenário da independência do Brasil

Resquícios de um passado que insiste em se fazer presente
Ainda que nas menores coisas

Brasil, terra boa e gostosa
Viveres históricos
Viva a história, viva o Brasil
Quem sabe um dia, saberemos ufanar
Ufa!       
E pensar que ainda,
Tem tanta coisa para se desvendar! 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

*alheado
adjetivo
1. que se transferiu; cedido.
2. absorto nos próprios pensamentos; distraído, desatento.

*algures
advérbio
em alguma parte, em algum lugar.

*alhures
advérbio
em outro lugar, em outra parte.

Conforme consulta ao Google.

Nenhum comentário:

Postar um comentário