“ Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones
Girava o mundo sempre a cantar, as coisas lindas da América
Não era belo mas mesmo assim, havia mil garotas a fim
Cantava Help a Ticket Ride...”
Vivendo numa época tão conturbada soube conduzir sua vida.
Nasceu no período da
nova ordem política, a democracia.
Porém sua geração viveu o fantasma da ditadura.
Mas
em meio a tantas sementes que lançadas foram descontentes, muita coisa brilhou,
resplandeceu entre aquela juventude tão dividida.
Juventude que abandonou os antigos modelos de comportamento e criou algo novo
que se reflete até hoje.
Juventude polêmica que passou a ser contestadora, que reinventou e
revolucionou o mundo.
Vindo na esteira de um movimento musical chamado Bossa Nova que
tudo renovou.
Inclusive na maneira de cantar, essa juventude marcou época.
No período da Bossa Nova, movimento que criou uma nova forma de cantar, as
grandes vozes do rádio deram lugar a canções alegres e suaves, nada daquela antiga
intensidade dramática das músicas que falavam do amor traído, desconsolado e
desesperado.
Os cantores de menor potencial vocal podiam então se utilizar de suas vozes
pequenas e cantar quase sussurrando nos ouvidos ansiosos pela novidade.
Foi aí que tudo passou a se modificar.
Em razão do progresso, muitos cantores
ficaram saudosos de suas glórias pretéritas, pois o que era vidro se quebrou.
Para que tudo
que acontece na vida, se paga um preço e a estrela que sobe, um dia também tem que descer
para ceder lugar para outros astros.
A Bossa Nova trouxe novos caminhos para a música, e o país estava em franco
desenvolvimento.
A indústria ganhava força e o país parecia próspero.
Tão próspero e cheio
de novidades que até o presidente passou a ter sua canção:
“ Bossa Nova mesmo é ser presidente,
Desta terra, descoberta por Cabral...”
Logo em seguida viria o sonho da Copa e a vontade de ser jogador de futebol.
Também nesse momento, o modelo americano chamou por todos para que viessem consumir.
Que contradição!
Tanto desenvolvimento em meio a um país predominantemente agrário
que permanecia ouvindo as modas de viola cantadas no rádio, que retratavam a vida sofrida
de quem vivia no campo.
A riqueza e o tão aclamado país da prosperidade se nota, não era
para todos.
Mas ainda havia lugar para onde se dirigir os sonhos.
Enquanto na vila o mundo era
estreito, na cidade parecia um universo.
As vindas para a cidade era uma realização que se
completava com a sonora visão dos doces e outras delícias que inundavam a visão das
crianças.
Mais tarde a mudança de vida, a procura por um futuro melhor.
A ilusão da cidade
maravilha que era São Caetano para aquele olhos tão esperançosos.
A prosperidade, as
baladas de rock que iluminavam os ouvidos dos transeuntes.
A fantástica visão da cidade,
onde ainda havia elementos remanescentes das antigas fazendas que por cá existiram.
Mas,
para você tudo era novidade.
Você aqui se divertiu, estabeleceu raízes, conheceu gente, estudou, trabalhou e viveu.
Veio e construiu sua vida aqui, seu futuro.
E também preparou um futuro para nós, pai, que
também foi um dia foi filho e fez parte de uma grande família.
Que soube fazer sua hora em vez de ficar esperando alguma coisa acontecer.
Apesar
de não acreditar no sonho dourado da juventude revolucionária, e não ter se envolvido na
luta da causa, acreditou que podia melhorar e fez o melhor que pôde para ajudar quem você
poderia ajudar.
Talvez você tenha feito até mais que aqueles sonhadores inconseqüentes que não
souberam medir seus planos e pagaram um alto preço pelas imprudências e infelicidades
que realizaram.
O sonho romântico deles não foi a realidade perfeita do que ocorreu.
Não souberam merecer o sonho que agarraram.
Talvez por isso muito foram
engolidos pelos porões do DOI-CODI e massacrados pela máquina da
ditadura.
Muitos foram vítimas dessa juventude que também foi muito radical e para o qual
era oito ou oitenta. Passeatas contra o imperialismo ianque, movimentos contra a música
que é ‘alienada’.
Quantos excessos para uma época tão fantástica ... mais tais ocorreram e
não se pode negligenciar esse fato.
“A mesma praça, o mesmo banco,
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Por que não tenho você perto de mim...”
Nas ruas, movimentos pelas calçadas, carros passando, movimento e admiração.
Nessa época a democracia sofreu um duro golpe, golpe este quase fatal e no qual quase se
deu seu encerramento.
A democracia só se recuperou muito tempo depois.
Com a ressurreição da ditadura que já existira por cá na era Vargas, passaram a
surgir inúmeras manifestações de repúdio a esse modelo.
E tais manifestações fizeram frente
ao governo.
Que era forte e que contava com isso para tudo.
Por isso a década foi ainda sim
luminosa, uma das mais representativas deste século.
Período de grande riqueza cultural apesar de tantos meios para ser cerceada.
Essa
flor nascida no meio das pedras, no meio de tanta aridez desabrochou e lançou sementes
para que outras flores também surgissem e vingassem nesse terreno praticamente infértil.
Tudo conspirou contra vocês, mas com força fizeram valer essa vontade e mudaram
muita coisa.
Com essa abertura muito se modificou, mas muito também se perdeu.
Os jovens que ontem mudaram o mundo, hoje estão fornecendo subsídios para que o
mundo continue mudando.
Isso se faz na forma de preparar outros jovens para o futuro.
Os
mais não jovens hoje, são pais daqueles que poderão vir a continuar a história desses que
começaram a realizar uma revolução cultural e acabaram por transformar muita coisa.
As
mudanças se fazem por necessidade e também por vontade e é por isso que as sementes
lançadas no passado continuam florescendo.
Representam o passado que nunca morre e
sempre volta revigorado.
Volta na figura de seus filhos, de suas realizações e estas, nunca
morrem.
Apesar da situação estar muito ruim ainda dá para se consertar muita coisa.
Ainda que seja difícil acreditar que tudo pode mudar, acredite.
E apesar de tudo o
que aqueles rapazes disseram quando se separaram, o sonho ainda não acabou.
E enquanto
alguém viver ainda haverá motivos para se sonhar.
Parabéns pelo seu dia!
Do século XX.
Século passado.
Luciana Celestino dos Santos
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