A lua com seus ornatos multiformes
Atuando de forma desconforme
Em altaneiro cenário abobadado
Ora se faz brancura,
Linda e redondamente branca
Aos poucos vai se findando,
Minguando dia a dia
Postando-se no céu de forma mais elevada
A fazer variadas poses
Como se caminhasse em seu firmamento
Dando passadas cada dia mais longas
Distanciando-se mais e mais dos olhares
De seus poucos admiradores e amantes apaixonados
Um céu carente de estrelas
Poucas ainda teimam em brilhar em seu firmamento
Mas iluminam o céu escuro
Breu profundo
A lua a mostrar suas formas
Arredondada, branca,
Ora manchada em negro manto de poluição
A diminuir suas formas, até sumir de nossos olhares
Inicialmente uma forma quase arredondada
A se desfazer aos poucos no horizonte
Linda em seu espetáculo noturno de transformar-se
A forma quase redonda, a diminuir os contornos
A ficar cada vez mais fina, mais esquálida
Até sumir nos céus
Obumbrada pelos movimentos de outros astros celestes
Nova configuração
Até novamente mostrar-se em seu formato cheio
Opulência branca
Mal posso esperar para admirar tanta beleza!
Natureza cíclica
E assim, a lua segue seu curso
Mostrando com suas transformações,
As mudanças por que passa o tempo
O tempo, sempre o tempo,
Cavalheiro tão inconstante
E o trem a atravessar as escuras e obscuras madrugadas
Em meu caminho de prédios antigos, construções abandonadas
Uma velha chaminé de fábrica,
A soltar um pouco de fumaça, durante os dias fugidios
Chaminés a me acompanharem em meus caminhos
Em quase todos os destinos que faço
São Paulo, São Caetano, Santo André
Troleibus a circular por caminhos de prédios novos,
E construções abandonadas
Promessas de melhores tempos,
Com melhores moradas para se habitar
Ao chegar na estação férrea
Aglomerado das gentes, a se ajuntar quando o trem se aproxima
Condução dos moradores do ABC,
Migrantes nordestinos em grande parte,
E outros naturais do lugar,
Como uma simples moradora,
Há muitos anos afastada, e agora ocupante de um espaço no trem
Trem de cenários abandonados,
Fábricas e galpões envelhecidos,
Telhados tortos, telhas caídas,
Mato a crescer por todos os cantos,
Por todas as paragens
A rivalizarem com as belas árvores frondosas, que ainda compõe o caminho
Para embelezar um pouco a vida árida dos viandantes
Por que percorrer o mundo, atravessar cidades,
Visualizar novas gentes
A dispersar o cenário lúgubre
É uma aventura de todos os dias
Viagem diária, migração pendular
A em pé permanecer,
E o trem a percorrer os trilhos de um tempo presente
Memórias de um tempo passado
Assaz distante, recuado num tempo de mudanças velozes
A tremular ao sabor dos trilhos imperfeitos
E os passageiros embalados pelo balançar inconstante do trem
Diariamente a aguardar o trem na plataforma
E a esperar que não ocorram transtornos
Com a multidão constante, a invadir os trens, e as escadas
Enxame de abelhas a invadir escada açucarada,
Como se fora favo de mel
O trem a rasgar a escuridão da noite
A vislumbrar o dia amanhecendo aos poucos
E a escuridão da noite, azular,
Em seus tons escuros, clareando aos poucos
Certos dias, um lindo amanhecer alaranjado
Com certos tons amarelos
Presenciar um belo amanhecer pela janela imensa
Abraçar um mundo de prédios
Construções contornadas pelos tons da madrugada,
Azuis a comporem a atmosfera,
Cada vez mais definida!
Azul marinho, a se tornar cada vez mais claro
Abrindo os caminhos para a manhã
E o trem a contornar caminhos,
A percorrer silos, entrepostos
Construções de tijolos à vista
Até chegar ao seu destino
E a despejar as gentes em uma nova plataforma
Lagoa de gente a inundar escadas e caminhos
E a lua cada vez mais clara,
A se dissolver na claridade do dia
A pegar metrôs, em suas linhas coloridas
Verde, azul e vermelha
Para finalmente se chegar em algum lugar
Em tempos mais escuros
Caminhos de breu,
Andados a passos rápidos,
Em direção ao destino
Em prédio, em ermo lugar nas manhãs, madrugadas escuras
Noites escuras
Ladeado a jardim com frutas,
Maciços de beri amarelos, árvores com flores amarelas
E o chão do caminho com pedras, paralelepípedos
Substituído por concretos em grande parte
E o sol a aquecer as tardes, e queimar as peles dos passantes
A ter por consolo, a suave brisa da tarde
Em domingo de manhã,
A realizar densas provas
São Paulo de outrora a dar o ar de sua graça
Em textos repletos de muita poesia
Pensamento povoado de intrincadas questões
E o voo das aeronaves a riscar os céus com constância
Diversas companhias a riscarem os ares
Assim como naves de pequeno porte
Céu azul, de densas nuvens a embelezarem a tarde azul
Lindo jardim a enfeitar saída de estacionamento
Lugar de acessos intrincados, complicados
Como num labirinto
Passeio em meio a shopping repleto de lojas vazias
A regalar-me com lauta refeição
Feita com muitas e saborosas iguarias
Mariscos; camarões; bolinhos caprichados; arroz com cenouras cortadas em diminutos pedaços, presuntos com igual corte; cenoura cortada, milho; peixe com alcaparras, medalhão de frango; camarão na moranga; suco de laranja
Regalado repasto
Um festival de sabores e de sensações maravilhosas!
A tarde, mais provas,
Na mais dura prova que é viver
Enfrentar a vida, para que assim se possa melhores caminhos escolher
De um viver poético e incessante
Cidade de prédios imensos, belas construções
Lugares aprazíveis
Assim como de lugares horríveis, feios, sujos, solitários, abandonados
Cenário de ricos e dolorosos contrastes
E assim, em meio a extenuante dia de dedicações
Em meio a interminável espera em meio a trânsito infernal
Sentar em meio ao gramado, em uma mureta
Banco improvisado
A multidão, lagoa das gentes, a se ajeitar no concreto duro das calçadas
A conversar para matar o tempo,
Ou esperar a vida passar, e a carona chegar
O regresso para o lar em meio a trânsito e engarrafamento
Em meio a cenário de ruas vazias, caminhos sinuosos,
Longas e imensas avenidas, oceano de carros
A chegar em casa para descansar,
Depois de muito labutar
Labuta que acontece de diversas formas no palco da vida
Trabalhar, estudar, aprender, conhecer, viver, sofrer
Realizar provas testes, escritas, estudos, ensinos,
As provas da vida
E a lua a ressurgir no palco da noite
A retratar as passagens do tempo
A sinalizar que tudo se transforma
Para permanecer constante
Afinal de contas:
Tudo nunca é sempre muito igual!
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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