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21 de agosto de 2011 às 16:52
E aos pés da serra exuberante,
Linda serra verdejante,
Entrecortada de montes elevados e muita serração
Havia sido edificado um pequeno povoado
Com casinhas pequenas, modestas,
Choupanas
Grandes sobrados coloniais,
Majestosos em seus beirais
E suas telhas trabalhadas nas coxas das antigas escravas
Formatadas de acordo com a curvatura das coxas
Lugar onde,
Negros e negras trabalhavam,
Nos mais pesados labores
Pisando os pés descalços,
No calçamento das pedras do lugar
E os humildes moradores, livres,
A viverem de pequenos serviços
E os grandes e nobres, da riqueza do café
Entreposto que era,
De passagem das sacas do negro ouro
Lugar de pouso de forasteiros
E homens dispostos a enriquecer,
Investindo no comércio do café
E neste humilde povoado
Uma mulher a caminhar pelos arredores
Linda serrana,
Que com seus passos a todos encantavam
Negros cabelos soltos ao vento, anelados
Seus vestidos e suas leves vestes
Rosto afilado,
E um sorriso enamorado
Cigana encantada, feiticeira
Neste povoado,
Casais de namorados passeiam de mãos dadas
Na praça do lugar,
Namoricos tímidos, acompanhados pelos pais
Palco de encontros amorosos,
Abraços, beijos e despedidas
Conversas animadas,
Palavras chorosas,
De pessoas a se afastarem,
Longas idas para novas paragens
Novos projetos de vida
Estudos, trabalhos, oportunidades novas
Sorte lançada,
Triste fadário para aqueles que não mais se encontrarão
E seguirão,
Nem sempre por caminhos felizes ...
E a serrana a passar e a todos encantar,
Seu futuro incerto também o é
E a natureza do lugar,
Companhia lhe faz
As serras verdejantes, as árvores,
Os pássaros de canto canoro,
Bica aberta na praça,
As casinhas a beira da serra,
O comércio parco
E as vidinhas seguindo leve
No lugarejo,
Onde se pode alcançar a pé,
Toda a extensão do vilarejo
Igreja, palco de encontros semanais,
A praça palco das reuniões sociais
Onde os moradores passeiam,
Com seus melhores trajes
Ao lado das flores do passeio público,
As jovens donzelas ornadas de cambraias,
Lencinhos, luvas e sombrinhas
Sentadas ao lado de seus pares,
Timidamente tentam conversar
Alguns bilhetinhos se pode encontrar,
Recados amorosos,
Promessas de reencontros,
Palavras que nunca se concretizaram
Moças que ficaram em suas janelas a observar,
Os passantes e os passos,
Nas ladeiras e nas calçadas de pedra
O tempo a passar,
E o amor não chegar,
Em suas gelosias
Algumas moças para longe foram
Estudaram e professoras se tornaram
E a ensinar ficaram,
Os filhos dos eminentes comerciantes do lugar
Outras se casaram,
E não se sabe se felizes foram
E a cigana de olhar esmeralda,
Seguia sua vida
Todos os dias caminhava pelo povoado
Dirigia-se ao leito de um rio próximo
Onde recolhia água diariamente
Os homens e os moços,
Sempre admiravam suas passadas e seu jeito cigano
Mas as moças,
Não gostavam de seus modos livres
Seu jeito simples de se vestir,
Seus longos cabelos soltos,
Seus modos um tanto selváticos
Marialva era livre,
O oposto das moças do lugar
E mesmo as mais belas,
Não podiam seguir suas vidas livres,
Pois estavam acorrentadas as convenções,
Como os antigos negros cativos do lugar
E assim a vida seguia morna ...
De vez em quando cavalos e carroças,
Quebravam a monotonia do lugar
E os moços que partiam para longe
E deixavam chorosas, as moças do lugar
E a praça, palco dos encontros amorosos,
Com furtivos olhares e leves roçar de mãos,
Transformava-se em cenários de desolação
E as moças lamentavam as despedidas,
Trancadas em seus quartos
Derramando sentidas lágrimas
Júlia por seu turno, ocupava seu tempo,
Olhando a paisagem da janela
E tecia seu enxoval, na esperança da volta do amado
E o moço longe, a se ocupar de estudos e leituras,
Muitas noites, trancado em seu quarto,
Em República de Estudantes, enfurnado,
Acompanhado por luzes de velas,
E os olhos mergulhados em letras e números
Ao se deitar em sua singela cama,
Em um quarto sem muitos adornos
Sonhava com sua siá
Moça da pele alva e macia,
Longos cabelos lisos,
Olhos escuros e penetrantes
Amada dos tempos queridos do povoado!
Em sua lida diária com os livros e ensinos,
A lhe aconselharem a desfrutar das belezas fugazes,
O doce perfume a exalar,
Das damas da noite, que viviam nas paragens
E o rapaz resoluto a dizer
Que não estava disposto,
A uma vida dissoluta viver
Pobre moço,
Ridicularizado pelos demais estudantes,
Que de modo promiscuo viviam
O pobre moço a contar os tostões, e os réis recebidos,
De seu pobre e lutador pai
Reconhecido o moço,
Prometeu-lhe dedicar todo o tempo ali vivido,
Em seus estudos, para que assim,
Um bom advogado pudesse se tornar
Indo para a escola a pé,
E os colegas de coche, a pilheriar
E anos mais tarde,
Ao regressar,
Ao nobre lugar
Encontrou a moça, com os olhos perdidos na paisagem
Desesperada, Júlia durante os anos de ausência,
Tentou lutar contra, as paternas imposições
Por noites chorou,
Greve de fome ameaçou,
Trancada em seu quarto, por semanas ficou
Até se curvar as vontades do pai
E o moço ao chegar, logo descobriu
Que Júlia condenada estava
Prestes a se casar,
Com um rico senhor que se instalara no lugar,
Vetusto senhor de terras
Aflito, o moço enamorado,
Ao se deparar com tal cenário
Moveu céus e terras para o enlace impedir
E assim, arrebatou a moça na porta da igreja,
Para desespero do pai e irmãos da donzela,
Que prometeram do rapaz se vingar
E assim, o filho com o pai,
Não pode mais se encontrar no lugar ...
Anos depois se soube que o moço prosperou
Nobre família estabeleceu
E a moça feliz fora, por longos anos a seu lado
E as jovens do lugar a suspirar,
Desejando um grande amor viver
Mas para a tristeza de muitas,
O amor não chegou
E o companheiro de vida,
Imposto pela família o foi
E Marialva seguia sua vida sem casar ...
Por diversas vezes, propostas já recebeu
E do assédio se furtou
Procurando contornar os desafios,
Dizia já estar comprometida,
E nenhum outro compromisso caberia em sua vida
E as moças invejosas,
Assim como os homens despeitados
Diziam ser ela, mulher de fácil vida
E que em sua lida,
Não havia situação para matrimônio,
Ou outra grave resolução
E assim, conseguiram a vida,
Da moça infernizar
E Marialva quase atacada fora,
As margens do rio onde sempre ia, água buscar
Não fosse a intervenção de um forasteiro
E a moça teria sido seriamente importunada
E assim, constatar ter sido auxiliada,
Agradecida ficou, ao gentil senhor
E o homem aceitou de bom grado a reverência
Da jovem e bela serrana
Marialva então,
Ofereceu-lhe pouso na morada próxima
E bons amigos se tornaram
As moças por sua vez,
Impressionadas com o garbo e o talhe do moço
Perguntavam-se o que ele havia visto em Marialva,
Mulher de modos rudes,
Vivendo como um bicho da terra,
Sem a delicadeza e o donaire das moças do lugar
E o moço, de nome Francisco, chegou a dizer,
Que Marialva, serrana bela,
Era a única donzela a que por prêmio pretendia
Com isto, ao ouvir que a jovem donzela, poderia não ser
Convidou o maledicente a um duelo
E o homem atrevido, com o desafio concordou
Duelaram, e Duarte, o desafeto, ferido ficou
Saindo Francisco, vitorioso da empreitada
Aplaudido, o moço avisou
Que havendo alguém mais,
Que duvidasse das virtudes da moça
Poderia ali mesmo se entender com ele
Pois estava disposto a lutar pela honra,
Da vilipendiada jovem
Como os honrados senhores
Coragem não tivessem,
De o moço enfrentar
Francisco exigiu a todos,
Que Marialva passassem a respeitar
E assim ajustados,
O jovem forasteiro e a encantadora donzela,
Casaram-se
Sob um manto de estrelas e vagalumes fugidios
Marialva orlada de flores,
Usando um véu rendado
Longo vestido rodado,
Decote adornado
A mais linda dama do povoado
Serrana bela, somente ela,
Francisco por prêmio pretendia
E somente com ela, decidira
Viver unido para sempre,
E para o restante de seus dias
Naquele longínquo povoado,
A que tudo dera início em tempos passados ...
Linda serra adorada, entrecortada,
De lindas floradas de plantas as mais diversas,
Em suas cores manifestas
Rodeadas de muitas donzelas,
As flores do povoado,
Serranas, nem sempre tão belas
Mas parte a fazerem da história,
Com seus dramas, amores, dissabores,
Pudores, rubores ...
Luciana Celestino dos Santos
Permitida a reprodução desde que citada a fonte.
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