Poesias

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Aos passos da lagoa

Lembro de uma lenda distante que detrás para diante foi me contada por um pajé.
Tão longe.
Há muito tempo, quando o sol não teria por sentido se pôr, existia um pajé que guardara dentro de um coco, preciosa riqueza.
Depositado numa estrutura côncava, estava um grande mistério.
O pajé confiou tal segredo nas mãos de dois fiéis e corajosos índios.
Estes prometeram guardar tal talento com a vida se preciso fosse.
Mas sucumbiram diante da magnitude de tal segredo.
Roendo-se de curiosidade, resolveram dar uma espiada para ver se descobriam o que havia dentro do coco.
Como não conseguiram realizar seu intento, tentaram abri-lo.
Em vão.
Pensaram em abrir no coco somente uma fenda.
Com esse intuito pegaram um fação e lançaram-se na empreitada.
Novamente em vão.
Jogaram o coco no chão e como que num passe de mágica, por um simples encanto, o coco se abriu. E a calamidade começou.
Estranhos elementos saíram do coco.
Estrelas.
Um negrume desesperador começou a se espalhar.
Sorrateiro começou a tomar conta de tudo, invadindo os recantos mais recolhidos pelo sol.
Nisso, os indígenas se apavoraram e começaram a correr em círculos.
Desesperados, temiam que ali se desse o último momento de todos eles.
A noite então se tornou elemento de suas vidas.
Diante disso, não tiveram escolha senão se adaptar.
Com isso, os bravos guerreiros, como castigo pela desobediência se tornaram dois grandes macacões, e passaram o resto da vida pulando de galho em galho.
A noite então, se tornou propícia para a aparição de objetos e seres sobrenaturais.
Elementos estranhos rondavam a noite.
A noite.
Temerária noite.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

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