Nas proximidades da cidadezinha onde a moça foi vista várias vezes, o distinto detetive a procurou, debalde.
Isso por que, durante muito tempo, a moça esteve sumida.
Para ele, estranhamente, parecia que a moça não queria ser encontrada. Mas ele tinha que achá-la, pois isto era muito importante para Claudionor. E muito embora não soubesse qual seria o interesse de Claudionor na moça, ele precisava encontrá-la. Afinal este era seu trabalho e tinha o dever de bem realizá-lo.
E assim o fez.
Com isso, depois de semanas procurando, o detetive acabou por localizar o lugar onde esta morava.
Era em uma pequena cidade, próxima da cidade onde Claudionor vivia e trabalhava. Sim, por que este rico empresário, vivia numa bela e desenvolvida cidade da região. Mas quando ele ouviu do detetive que a moça que tanto procurava vivia muito próxima dele, mal pôde acreditar. Embora suspeitasse disso, ficou um tanto quanto surpreso com a notícia.
Por isso, resolveu dizer:
-- Quer dizer então, que durante todo esse tempo, essa moça esteve do nosso lado e não sabíamos? Que coisa curiosa. O que mais você descobriu?
-- Bom! Pelo jeito. A moça não está nada bem. Investigando, eu descobri que ela foi abandonada na porta da casa de uma família, e que desde então, vem sendo criada por eles.
-- E o que isso tem de ruim? – perguntou Claudionor mal disfarçando sua surpresa.
-- Nada de mais, não fosse o jeito que a tratam.
-- E é tão ruim assim? – perguntou ele, interessado.
-- Sim é bem ruim. Em conversas com vizinhos, descobri que a mãe, uma tal de Carla, não se dá bem com a menina. Além disso ...
-- E qual é seu nome?
-- Anne. – respondeu o detetive.
-- Anne. – repetiu Claudionor.
-- Este é seu nome de batismo. Embora muitos pensem se tratar de um apelido. Mas então, como eu ía dizendo, a garota não se relaciona bem com a família. A mãe adotiva a trata como uma empregada, os irmãos a ignoram, e o pai, apesar de não a hostilizar, se omite sua criação.
-- Então quer dizer que ela vive mal, há muitos anos?
-- Mais ou menos. No início, os irmãos cuidaram dela, mas depois, influenciados pela mãe, passaram a rejeitá-la. Porém, uma coisa me preocupa.
-- Sim, e o que é? – perguntou o empresário.
-- A moça é muito sozinha. Mas o que me deixou preocupado de verdade é o fato de ela estar com problemas. Ultimamente Anne vem tendo alguns problemas de saúde. Isso por que, uma mulher comentou comigo que por duas vezes viu a moça passar pelo hospital. Para ela a moça devia estar com um problema muito sério para precisar ir até lá. Na hora, dado o exagero daquela senhora, não dei muita atenção para o que ela disse. Mas depois, por curiosidade, resolvi ir até o hospital para tentar descobrir alguma coisa.
-- O que você descobriu?
-- Olha, Doutor Claudionor, não consegui descobrir muita coisa não. O senhor sabe, os médicos tem o dever ético de serem sigilosos quanto ao estado clínico de seus pacientes. Por isso, eu tive que arrumar uma outra forma de obter informações.
-- E então, o que é que essa menina tem?
-- Em minhas investigações eu descobri que ela está ...
Nisso a secretária bateu à porta e entrou. Era uma ligação que Claudionor estava esperando há dias.
Com isso, percebendo que o assunto que os dois tratavam era importante, a secretária desculpou-se. Todavia, dizendo que um importante empresário queria falar com ele, a mulher respondeu não havia, como não interromper o assunto dos dois.
Ao ouvir as desculpas da secretária, Claudionor disse então:
-- Imagine. A senhora não tem do que se desculpar.
Dito isso, foi logo atender a ligação. Antes porém, pediu desculpas ao detetive e pediu que aguardasse na sala de espera.
Este o atendeu prontamente.
E assim, depois de mais ou menos vinte minutos de conversa, Claudionor pediu a secretária para que conduzisse novamente o detetive a sua sala.
Ansioso, ao ver o detetive entrar, Claudionor foi logo perguntando:
-- Mas então. O que foi que o senhor descobriu a respeito do estado da menina?
O detetive então, intrigado com o interesse do empresário pela moça, resolveu perguntar:
-- Me desculpe se eu estiver sendo impertinente... Mas qual a razão de tanto interesse nesta moça?
-- Caro Otacílio, o senhor vai me desculpar. – respondeu Claudionor, depois de pensar um pouco – Mas, no momento eu não posso dizer nada além do que já te disse.
-- Sim. Então essa moça, foi uma das mais muitas que seu filho já namorou?
-- Exatamente. Mais do que isso, eu não posso falar.
-- Me desculpe mais uma vez, mas eu preciso insistir. Acaso não pretende fazer nenhuma maldade com esta moça, pretende?
-- Meu caro, o que pensa que eu sou? – respondeu Claudionor, ligeiramente ofendido. – ... Está bem ... Eu vou te contar o que está acontecendo.
Nisso, desconcertado com a situação, o empresário procurou pensar um pouco. Afinal de contas, dadas as circunstâncias, não podia expôr seu filho, mais do que o necessário. Por isso, precisava ser cauteloso. E assim, antes de começar a contar a história, pensou muito no que iria dizer.
Pensou, pensou. E depois de muito tempo em silêncio, começou a falar:
-- O meu filho, um dia desses, aproveitando uma dessas festas que acontecem nos arredores, resolveu que iria aparecer em uma delas. Pois bem, em uma dessas festas, ele conheceu esta moça.
-- Sim. Esta parte da história eu já conheço. O que eu gostaria de saber, é o seguinte: Qual o interesse do senhor na moça? Por acaso acha que ela pode querer tirar algum proveito de seu filho?
-- E ela teria como fazer isso? – perguntou o empresário.
-- Não sei. Mas eu acho que o senhor está preocupado demais com uma história aparentemente tão banal.
-- Sabe o que é Otacílio? É que essa história não é tão banal quanto o senhor pensa... Quer saber, eu estou com delongas. Vamos direto ao assunto. Nessa bendita festa, meu filho acabou metendo os pés pelas mãos. Depois dele voltar completamente bêbado, eu descobri que ele havia ido longe demais.
-- Como assim? Por acaso ele andou fazendo alguma besteira? – perguntou o delegado.
-- Sim, e das grandes. Tão grande que eu achei que em questão de dias, a polícia apareceria batendo na porta da minha casa.
-- Meu Pai Eterno! O que foi que ele fez? – perguntou agora, um espantado detetive.
-- Algo que, se ele tivesse o mínimo de consciência, passaria o resto de sua vida se penitenciando, para tentar diminuir o mal que fez.
-- Então é sério!
-- Sim. Muito sério. Na hora em que eu descobri a barbaridade que ele havia feito, eu tive vontade matá-lo. Eu só não torci o pescoço dele, por que não me deixaram. Senão, eu nem sei se ele estaria vivo para contar história.
-- Então fala logo. O que foi que aconteceu? – perguntou o detetive impaciente.
-- Eu não devia contar, mas como sei que o senhor é de confiança, vou te contar. Meu filho abusou de uma garota nesta festa. E pelo que ele me contou, pela descrição física que me fez, só pode ser ela... Mas pode acreditar. Eu não estou atrás dela para lhe prejudicar. Pelo contrário, eu gostaria de ajudá-la de alguma forma. Mas pelo que o senhor me contou, um simples adjutório, não será o suficiente.
-- Mas meu caro Claudionor! Você por um momento chegou a acreditar que uma ajuda financeira seria o suficiente para reparar o mal causado? Onde o senhor pensa que está?
-- Eu sei. Agi mal. Eu como pai, nunca poderia ter acobertado meu filho. Mas eu pretendo corrigir o meu erro. Eu irei até a casa desta moça, e se é como o senhor está falando, eu vou levá-la para minha residência. Eu prometo que ninguém vai encostar um dedo nela. Lá ela estará protegida. Eu vou cuidar dela.
-- E quanto ao seu filho? O que você pretende fazer com ele?
-- Eu ainda não sei. Mas não se preocupe, as coisas não vão ficar por isso mesmo. Eu prometo. Cláudio está merecendo uma lição. Contudo, o senhor não contou uma parte importante desta história.
-- Está bem. Ao vasculhar os achados médicos da moça, eu consegui descobrir qual é o problema.
-- E qual é? O que a moça tem?
-- Ela está grávida.
Claudionor ficou surpreso. Tanto que chegou a falar:
-- Por essa, eu não esperava. Quer dizer então, a situação é pior do que eu imaginava... Então, eu tenho que ir lá o quanto antes. Essa moça deve estar desesperada.
-- Eu não esperava menos de você. – respondeu Otacílio satisfeito com a postura do empresário.
E assim, cioso de suas obrigações, Claudionor, de posse do endereço da moça, ao final da tarde, tratou logo de ir atrás de Anne. Mas esta, para sua surpresa, não estava em casa.
Em razão de uma briga, a moça estava hospitalizada.
Não era nada sério, mas Claudionor, sem conhecer o estado clínico de Anne, ficou muito preocupado ao saber disso. Por isso, tratou logo de ir até o hospital a fim de ver como ela estava.
Quando chegou lá, a primeira pessoa que viu foi Antônio, que aguardava ordem para entrar no quarto.
Claudionor ao ver que a moça não estava sozinha, tratou logo de cumprimentá-lo e perguntou sobre o estado de Anne.
Antônio, ficou desconfiado.
Claudionor então, na tentativa de dissipar qualquer tipo de desconfiança, explicou que era um amigo distante.
Antônio ao ouvir isso, disse:
-- Estranho. Anne nunca disse que conhecia alguém de fora da cidade.
-- Curioso. Por que até onde eu sei, Anne e sua família, não são muito unidos. Não é mesmo?
Ao ouvir isso, Antônio, começou a se irritar.
Claudionor, ao perceber que seu comentário não havia ajudado em nada, resolveu dizer:
-- Sinto muito pelo comentário. A sua relação com a moça, não me interessa de nada. Além disso, eu conheci Anne ainda muito pequena. Provavelmente ela não irá se lembrar de mim.
-- Ah, é mesmo? E quando foi isso, se desde que ela nasceu, ela vive com a gente?
-- Isso foi há muito tempo, quando ela ainda tinha poucos dias de vida. Estela não sabia o que fazer para cuidar da filha.
Antônio então ficou espantado. Como ele podia saber de tantos detalhes da vida de Anne?
Com isso, mesmo sem entender o motivo da aproximação, Antônio resolveu deixá-lo entrar no quarto, para pelo menos para revê-la.
Desta forma, Claudionor entrou no quarto onde Anne estava e percebendo que a mesma dormia, aproximou-se de seu leito e comentou com Antônio:
-- Bom, já que ela está dormindo, é melhor eu voltar outra hora. Assim, nós poderemos conversar.
No que Antônio concordou. Comentando que tudo não passara de um susto, Antônio disse a Claudionor que dentro de poucos dias, a garota voltaria para casa.
Ao ouvir isso Claudionor ofereceu um cartão – com seu endereço e telefone –, para que em caso de necessidade, telefonasse para ele. Diante disso ele informou também, que gostaria de ser avisado, quando Anne retornasse para casa.
Foi então que Antônio, curioso, perguntou ao empresário, qual era seu interesse com relação a Anne. Afinal de contas, se Anne era como sua filha, Antônio não podia deixar que um estranho se aproximasse dela dessa maneira.
Claudionor então, procurando tranqüilizar Antônio, respondeu que só queria ajudar a família. Com isso, para convencê-lo de que estava bem intencionado, Claudionor comentou que esse era um pedido de Estela.
Antônio ao ouvir isso, ficou preocupado. Afinal de contas se ela, que era a mãe da garota não se aproximava, por que cargas d’água resolveu mandar um estranho em seu lugar? Por que ela mesma não aparecia?
Percebendo que Antônio estava intrigado com a estranha aproximação, Claudionor resolveu dizer:
-- Olha, Seu Antônio, eu entendo que o senhor esteja ressabiado com toda essa história. No seu lugar eu também estaria. Isso por que, não é todo dia que um estranho aparece em nossa porta para ajudar. Eu sei disso. Mas a razão de minha presença aqui neste hospital, é que a própria Estela, me pediu para ver como estava sua filha. Sim, por que, ao saber de sua situação delicada, a mesma ficou muito preocupada.
Nisso, Antônio perguntou:
-- Mas então ela sabe sobre a vida de Anne?
-- Sim. Sabe. Há anos que ela observa de longe a vida de Anne. Por isso mesmo ela está muito preocupada.
-- Preocupada, por quê?
-- Seu Antônio, nós sabemos que Anne não vem recebendo o melhor dos tratamentos na casa de sua família.
-- Sim, é verdade. Mas como é que ela sabendo de tudo isso, nunca fez nada? Por que ela não veio buscar a menina?
-- Não sei. Talvez falta de coragem, por a ter abandonado. Quanto a isso, eu não tenho explicações. O que eu posso dizer, é que ela sabe do estado de Anne e me pediu para fazer todo o possível para que tudo fique bem.
-- Todo o possível? Como assim, todo o possível?
-- Entenda isso, como tudo o que for necessário para que Anne passe a ter tranqüilidade em sua vida, daqui para frente. – respondeu Claudionor.
-- Quer dizer? Até tirá-la lá de casa se for preciso?
-- Sim, mas não sei se este é o caso. – comentou Claudionor, tentando ganhar tempo. – Porém, antes de qualquer medida a ser tomada, eu gostaria de te pedir um favor.
-- E qual seria?
-- Gostaria que o que foi conversado aqui, permanecesse entre nós. Não comente nem com sua esposa, sobre a conversa que tivemos. É para o bem de Anne.
Ao ouvir isso, Antônio concordou com o pedido:
-- Se é para o bem da Anne eu concordo.
Nisso Claudionor se despediu e comentou que no dia seguinte, logo cedo passaria no hospital, para visitá-la. E assim, saiu.
Ao retornar a sua casa, Claudionor comentou com seu filho que traria a moça para morar com eles.
Cláudio, ao ouvir as palavras do pai, não ficou nada satisfeito. Irônico, chegou a comentar:
-- Quer dizer que isso aqui vai virar um abrigo para mendigos? Por que se for, me avise, para que eu possa fazer as malas.
Ao ouvir isso, Claudionor se irritou profundamente. Tanto que chegou a dizer:
-- Como é que é? Por acaso eu ouvi direito? Quer dizer então que o senhor diz uma asneira como essa! O que você fez é algo que pelo qual poderia pegar anos de cadeia, rapazinho! Mesmo assim, você se acha no direito de ironizar e fazer deboche com a moça? Meu rapaz, se olhe no espelho. Por acaso acha que é muito melhor do que ela? De onde você tirou isso?
No que Cláudio, ao ouvir as duras palavras do pai, na tentativa de responder, balbuciou algo assim:
-- Mas o senhor não tem o direito de falar assim comigo ...
-- Não tenho o direito? Curioso, eu julguei que fosse seu pai. Ora, não me faça rir. Ou acha que foi pouco o que fizeste àquela moça?
-- Mas ... não foi tão sério assim. O senhor está fazendo uma idéia errada do que realmente aconteceu.
-- Pare com isso! Eu sei o que aconteceu. Pouco me importa os detalhes. E tem mais. Já que você falou em sair daqui, eu quero que o faça o quanto antes. Se possível, antes dela vir para cá. Não quero que ela encontre você circulando pela casa. Ouviu bem?
Foi a vez de Cláudio então responder:
-- Mas por que é que eu tenho que sair de minha própria casa, para que uma estranha fique mais a vontade?
-- Por que você criou esta situação difícil. Olha Cláudio, eu sempre soube que você era um grande irresponsável. Mas eu nunca poderia imaginar, nem nos meus piores pesadelos, que você seria capaz de cometer um ato tão ignóbil.
Ao ouvir isso, Cláudio deu-se por vencido. Finalmente concordou com o pai. Mas não sem antes, fazer uma sugestão:
-- Por que ao invés de trazê-la para casa, o senhor não a leva para a fazenda? Aposto que lá, ela ficaria bem melhor.
-- Por que? Provavelmente você pensa que ela, por viver no interior não freqüenta escola, não estuda. Pra você Anne só estava naquela festa para se divertir, não é mesmo? Pois você está redondamente enganado. Até por que, para você ficar sabendo meu filho, a moça gosta muito da escola.
-- Que bom para ela. – respondeu Cláudio com desdém.
-- Muito bom. E é uma pena que você não tenha o mesmo interesse. E tem mais, a moça fica aqui. Não quero curiosos comentando sobre sua vida. Além do mais, lá eu não vou poder cuidar dela. Meus trabalhos estão todos aqui, e é aqui que ela vai ficar. Você é que vai para a fazenda. Portanto, trate de arrumar suas malas agora mesmo.
Cláudio então saiu da sala, pisando duro. Estava morrendo de raiva do pai.
Mas obedeceu suas ordens, afinal de contas, conhecendo Claudionor como conhecia, sabia que não seria nada agradável, provocá-lo. E assim, na manhã do dia seguinte, Cláudio foi levado pelo chofer, até a fazenda da família.
Enquanto isso Claudionor aproveitou para visitar novamente Anne.
Porém, ao chegar ao hospital, foi informado que a moça não estava mais lá. Com isso, ao sair do hospital, Claudionor tratou de se dirigir até a casa de Anne.
Lá como era de se imaginar, foi recebido por Carla, que o tratou rispidamente. Julgando se tratar de um assistente social, Carla fez tudo o que pôde para afastá-lo.
Quando então Claudionor pediu para ver Anne, Carla não o deixou ver a jovem. Alegando que a mesma dormia, não o deixou entrar.
Claudionor aborrecido, ao ver a resistência da mulher em deixá-lo entrar, resolveu voltar outro dia.
Aborrecido, ao chegar na empresa resolveu que no dia seguinte, passaria na casa da moça, mas desta vez, não faria as coisas atabalhoadamente. Por isso, resolveu consultar um dos advogados da empresa.
E assim, diante dos fatos apresentados, o advogado, ciente do interesse de Claudionor em levar a moça para sua casa, explicou-lhe que seria extremamente complicado resolver a questão. Isso por que, se o empresário resolvesse entrar com uma medida judicial, teria primeiro que provar que a moça está sendo maltratada para assim, pleitear sua guarda, já que se trata de uma menor.
Com isso, o advogado, devidamente prevenido do sigilo do caso, aconselhou-o a tentar um acordo com a família, já que este parecia ser o caminho mais curto para resolver o assunto. Além disso, percebendo que nenhum laço de afeto unia a adotada a família, concluiu ele que um belo acordo financeiro resolveria facilmente as coisas. Por fim, o causídico explicou que, Claudionor poderia usar a desculpa de demandá-los judicialmente para pressioná-los a fazer o acordo.
Claudionor ao ouvir atentamente a orientação do advogado, ficou muito satisfeito. Pois então! Era só seguir a risca sua orientação e tudo estaria resolvido.
Mesmo o advogado assim, se ofereceu para acompanhá-lo.
No entanto, para que o pudesse ajudar de verdade, o causídico precisava saber exatamente sobre o que se tratava.
Foi então que Claudionor lhe contou toda a história.
Nisso, quando o advogado descobriu que a moça fora molestada por Cláudio – filho de Claudionor –, ficou verdadeiramente espantado. Ao ouvir toda a história, comentou impressionado:
-- Doutor Claudionor, me desculpe a franqueza. Mas que mancada! Seu filho não podia ter feito isso.
-- Pois é. Mas fez, e não adianta chorar sobre o leite derramado.
-- Sim. Agora o mal já está feito. Mas ao menos podemos remediar a situação. Porém, com a história que o senhor me contou, a coisa se complicou.
-- Se complicou? Como assim?
-- Se ela resolver processar criminalmente o Cláudio, nós não poderemos impedir. Além disso, sabendo que o senhor é bem sucedido, a família pode também pedir uma indenização pelos danos causados.
-- Quer dizer, não tem solução para o problema.
-- Absolutamente. Mas é claro que tem. Não se preocupe. Porém, dadas as circunstâncias, temos que ser cautelosos quanto aos termos do acordo. Além disso, precisamos convencê-los de que não será de nenhuma valia processar o Cláudio.
-- Mas de qualquer forma, o que ele fez não tem perdão. Eu preciso dar uma lição nele. Uma lição para ele nunca mais esquecer.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
E assim, cioso de suas obrigações, Claudionor, de posse do endereço da moça, ao final da tarde, tratou logo de ir atrás de Anne. Mas esta, para sua surpresa, não estava em casa.
Em razão de uma briga, a moça estava hospitalizada.
Não era nada sério, mas Claudionor, sem conhecer o estado clínico de Anne, ficou muito preocupado ao saber disso. Por isso, tratou logo de ir até o hospital a fim de ver como ela estava.
Quando chegou lá, a primeira pessoa que viu foi Antônio, que aguardava ordem para entrar no quarto.
Claudionor ao ver que a moça não estava sozinha, tratou logo de cumprimentá-lo e perguntou sobre o estado de Anne.
Antônio, ficou desconfiado.
Claudionor então, na tentativa de dissipar qualquer tipo de desconfiança, explicou que era um amigo distante.
Antônio ao ouvir isso, disse:
-- Estranho. Anne nunca disse que conhecia alguém de fora da cidade.
-- Curioso. Por que até onde eu sei, Anne e sua família, não são muito unidos. Não é mesmo?
Ao ouvir isso, Antônio, começou a se irritar.
Claudionor, ao perceber que seu comentário não havia ajudado em nada, resolveu dizer:
-- Sinto muito pelo comentário. A sua relação com a moça, não me interessa de nada. Além disso, eu conheci Anne ainda muito pequena. Provavelmente ela não irá se lembrar de mim.
-- Ah, é mesmo? E quando foi isso, se desde que ela nasceu, ela vive com a gente?
-- Isso foi há muito tempo, quando ela ainda tinha poucos dias de vida. Estela não sabia o que fazer para cuidar da filha.
Antônio então ficou espantado. Como ele podia saber de tantos detalhes da vida de Anne?
Com isso, mesmo sem entender o motivo da aproximação, Antônio resolveu deixá-lo entrar no quarto, para pelo menos para revê-la.
Desta forma, Claudionor entrou no quarto onde Anne estava e percebendo que a mesma dormia, aproximou-se de seu leito e comentou com Antônio:
-- Bom, já que ela está dormindo, é melhor eu voltar outra hora. Assim, nós poderemos conversar.
No que Antônio concordou. Comentando que tudo não passara de um susto, Antônio disse a Claudionor que dentro de poucos dias, a garota voltaria para casa.
Ao ouvir isso Claudionor ofereceu um cartão – com seu endereço e telefone –, para que em caso de necessidade, telefonasse para ele. Diante disso ele informou também, que gostaria de ser avisado, quando Anne retornasse para casa.
Foi então que Antônio, curioso, perguntou ao empresário, qual era seu interesse com relação a Anne. Afinal de contas, se Anne era como sua filha, Antônio não podia deixar que um estranho se aproximasse dela dessa maneira.
Claudionor então, procurando tranqüilizar Antônio, respondeu que só queria ajudar a família. Com isso, para convencê-lo de que estava bem intencionado, Claudionor comentou que esse era um pedido de Estela.
Antônio ao ouvir isso, ficou preocupado. Afinal de contas se ela, que era a mãe da garota não se aproximava, por que cargas d’água resolveu mandar um estranho em seu lugar? Por que ela mesma não aparecia?
Percebendo que Antônio estava intrigado com a estranha aproximação, Claudionor resolveu dizer:
-- Olha, Seu Antônio, eu entendo que o senhor esteja ressabiado com toda essa história. No seu lugar eu também estaria. Isso por que, não é todo dia que um estranho aparece em nossa porta para ajudar. Eu sei disso. Mas a razão de minha presença aqui neste hospital, é que a própria Estela, me pediu para ver como estava sua filha. Sim, por que, ao saber de sua situação delicada, a mesma ficou muito preocupada.
Nisso, Antônio perguntou:
-- Mas então ela sabe sobre a vida de Anne?
-- Sim. Sabe. Há anos que ela observa de longe a vida de Anne. Por isso mesmo ela está muito preocupada.
-- Preocupada, por quê?
-- Seu Antônio, nós sabemos que Anne não vem recebendo o melhor dos tratamentos na casa de sua família.
-- Sim, é verdade. Mas como é que ela sabendo de tudo isso, nunca fez nada? Por que ela não veio buscar a menina?
-- Não sei. Talvez falta de coragem, por a ter abandonado. Quanto a isso, eu não tenho explicações. O que eu posso dizer, é que ela sabe do estado de Anne e me pediu para fazer todo o possível para que tudo fique bem.
-- Todo o possível? Como assim, todo o possível?
-- Entenda isso, como tudo o que for necessário para que Anne passe a ter tranqüilidade em sua vida, daqui para frente. – respondeu Claudionor.
-- Quer dizer? Até tirá-la lá de casa se for preciso?
-- Sim, mas não sei se este é o caso. – comentou Claudionor, tentando ganhar tempo. – Porém, antes de qualquer medida a ser tomada, eu gostaria de te pedir um favor.
-- E qual seria?
-- Gostaria que o que foi conversado aqui, permanecesse entre nós. Não comente nem com sua esposa, sobre a conversa que tivemos. É para o bem de Anne.
Ao ouvir isso, Antônio concordou com o pedido:
-- Se é para o bem da Anne eu concordo.
Nisso Claudionor se despediu e comentou que no dia seguinte, logo cedo passaria no hospital, para visitá-la. E assim, saiu.
Ao retornar a sua casa, Claudionor comentou com seu filho que traria a moça para morar com eles.
Cláudio, ao ouvir as palavras do pai, não ficou nada satisfeito. Irônico, chegou a comentar:
-- Quer dizer que isso aqui vai virar um abrigo para mendigos? Por que se for, me avise, para que eu possa fazer as malas.
Ao ouvir isso, Claudionor se irritou profundamente. Tanto que chegou a dizer:
-- Como é que é? Por acaso eu ouvi direito? Quer dizer então que o senhor diz uma asneira como essa! O que você fez é algo que pelo qual poderia pegar anos de cadeia, rapazinho! Mesmo assim, você se acha no direito de ironizar e fazer deboche com a moça? Meu rapaz, se olhe no espelho. Por acaso acha que é muito melhor do que ela? De onde você tirou isso?
No que Cláudio, ao ouvir as duras palavras do pai, na tentativa de responder, balbuciou algo assim:
-- Mas o senhor não tem o direito de falar assim comigo ...
-- Não tenho o direito? Curioso, eu julguei que fosse seu pai. Ora, não me faça rir. Ou acha que foi pouco o que fizeste àquela moça?
-- Mas ... não foi tão sério assim. O senhor está fazendo uma idéia errada do que realmente aconteceu.
-- Pare com isso! Eu sei o que aconteceu. Pouco me importa os detalhes. E tem mais. Já que você falou em sair daqui, eu quero que o faça o quanto antes. Se possível, antes dela vir para cá. Não quero que ela encontre você circulando pela casa. Ouviu bem?
Foi a vez de Cláudio então responder:
-- Mas por que é que eu tenho que sair de minha própria casa, para que uma estranha fique mais a vontade?
-- Por que você criou esta situação difícil. Olha Cláudio, eu sempre soube que você era um grande irresponsável. Mas eu nunca poderia imaginar, nem nos meus piores pesadelos, que você seria capaz de cometer um ato tão ignóbil.
Ao ouvir isso, Cláudio deu-se por vencido. Finalmente concordou com o pai. Mas não sem antes, fazer uma sugestão:
-- Por que ao invés de trazê-la para casa, o senhor não a leva para a fazenda? Aposto que lá, ela ficaria bem melhor.
-- Por que? Provavelmente você pensa que ela, por viver no interior não freqüenta escola, não estuda. Pra você Anne só estava naquela festa para se divertir, não é mesmo? Pois você está redondamente enganado. Até por que, para você ficar sabendo meu filho, a moça gosta muito da escola.
-- Que bom para ela. – respondeu Cláudio com desdém.
-- Muito bom. E é uma pena que você não tenha o mesmo interesse. E tem mais, a moça fica aqui. Não quero curiosos comentando sobre sua vida. Além do mais, lá eu não vou poder cuidar dela. Meus trabalhos estão todos aqui, e é aqui que ela vai ficar. Você é que vai para a fazenda. Portanto, trate de arrumar suas malas agora mesmo.
Cláudio então saiu da sala, pisando duro. Estava morrendo de raiva do pai.
Mas obedeceu suas ordens, afinal de contas, conhecendo Claudionor como conhecia, sabia que não seria nada agradável, provocá-lo. E assim, na manhã do dia seguinte, Cláudio foi levado pelo chofer, até a fazenda da família.
Enquanto isso Claudionor aproveitou para visitar novamente Anne.
Porém, ao chegar ao hospital, foi informado que a moça não estava mais lá. Com isso, ao sair do hospital, Claudionor tratou de se dirigir até a casa de Anne.
Lá como era de se imaginar, foi recebido por Carla, que o tratou rispidamente. Julgando se tratar de um assistente social, Carla fez tudo o que pôde para afastá-lo.
Quando então Claudionor pediu para ver Anne, Carla não o deixou ver a jovem. Alegando que a mesma dormia, não o deixou entrar.
Claudionor aborrecido, ao ver a resistência da mulher em deixá-lo entrar, resolveu voltar outro dia.
Aborrecido, ao chegar na empresa resolveu que no dia seguinte, passaria na casa da moça, mas desta vez, não faria as coisas atabalhoadamente. Por isso, resolveu consultar um dos advogados da empresa.
E assim, diante dos fatos apresentados, o advogado, ciente do interesse de Claudionor em levar a moça para sua casa, explicou-lhe que seria extremamente complicado resolver a questão. Isso por que, se o empresário resolvesse entrar com uma medida judicial, teria primeiro que provar que a moça está sendo maltratada para assim, pleitear sua guarda, já que se trata de uma menor.
Com isso, o advogado, devidamente prevenido do sigilo do caso, aconselhou-o a tentar um acordo com a família, já que este parecia ser o caminho mais curto para resolver o assunto. Além disso, percebendo que nenhum laço de afeto unia a adotada a família, concluiu ele que um belo acordo financeiro resolveria facilmente as coisas. Por fim, o causídico explicou que, Claudionor poderia usar a desculpa de demandá-los judicialmente para pressioná-los a fazer o acordo.
Claudionor ao ouvir atentamente a orientação do advogado, ficou muito satisfeito. Pois então! Era só seguir a risca sua orientação e tudo estaria resolvido.
Mesmo o advogado assim, se ofereceu para acompanhá-lo.
No entanto, para que o pudesse ajudar de verdade, o causídico precisava saber exatamente sobre o que se tratava.
Foi então que Claudionor lhe contou toda a história.
Nisso, quando o advogado descobriu que a moça fora molestada por Cláudio – filho de Claudionor –, ficou verdadeiramente espantado. Ao ouvir toda a história, comentou impressionado:
-- Doutor Claudionor, me desculpe a franqueza. Mas que mancada! Seu filho não podia ter feito isso.
-- Pois é. Mas fez, e não adianta chorar sobre o leite derramado.
-- Sim. Agora o mal já está feito. Mas ao menos podemos remediar a situação. Porém, com a história que o senhor me contou, a coisa se complicou.
-- Se complicou? Como assim?
-- Se ela resolver processar criminalmente o Cláudio, nós não poderemos impedir. Além disso, sabendo que o senhor é bem sucedido, a família pode também pedir uma indenização pelos danos causados.
-- Quer dizer, não tem solução para o problema.
-- Absolutamente. Mas é claro que tem. Não se preocupe. Porém, dadas as circunstâncias, temos que ser cautelosos quanto aos termos do acordo. Além disso, precisamos convencê-los de que não será de nenhuma valia processar o Cláudio.
-- Mas de qualquer forma, o que ele fez não tem perdão. Eu preciso dar uma lição nele. Uma lição para ele nunca mais esquecer.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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