Paulo ao ver a filha dormindo, contudo, não ficou nem um pouco convencido de que as coisas estavam tranqüilas. Intrigado com o barulho que ouvira, pensou em acordar Laura para saber o que estava acontecendo.
Rose, vendo que a filha dormia, pediu ao marido que não a acordasse. No dia seguinte, os dois, conversando calmamente com as garotas, descobririam o que havia se passado.
Paulo concordou.
E assim no dia seguinte, durante o café da manhã, o casal, preocupado perguntou a Marilu se ela havia brigado com a irmã.
A moça, pensando um pouco, respondeu da seguinte forma:
-- Não eu que eu saiba. Nós brigamos Laura?
Laura, ao ouvir a resposta da moça, pensando um pouco, falou:
-- Não.
Mas Rose e Paulo, não ficaram nem um pouco convencidos com as respostas dadas. Por isso mesmo, ao comentarem sobre os berros de Laura, insistiram em perguntar por que então ela estava berrando.
A moça, pensando um pouco no que iria dizer, e tentando ganhar tempo, perguntou:
-- Eu berrei?
-- Sim. – respondeu Paulo. – Berrou sim.
-- Bom... se eu berrei, provavelmente devo tê-lo feito dormindo. – respondeu Laura.
-- Sei. – respondeu Paulo, nem um pouco convencido com a resposta dada.
Contudo, como não havia mais nada a ser feito, a conversa se encerrou.
Nisso, com o passar dos dias, Marilu se encontrou novamente com Maurício. O rapaz, levando-a para passear, foi até o Parque do Ibirapuera. Os dois, enquanto caminhavam em meio a natureza, conversaram.
Mais uma vez o tema inicial da conversa foi a viagem de Marilu pela Europa. Contudo, esse não foi o único tema das conversas que tiveram.
Isso por que Maurício, curioso para saber como estava sendo seu retorno para o Brasil, encontrou uma boa maneira de saber um pouco mais sobre ela.
Marilu contou então que estava se adaptando aos poucos. Contudo, viver com a família para ela, era algo inigualável.
Maurício ao ouvir as palavras da moça, sorriu.
Com isso, aproveitando o calor da tarde, os dois aproveitaram para tomar um sorvete.
Mais tarde, depois de conversarem um pouco mais sobre suas vidas, o moço perguntou a Maria Lúcia se ela tinha namorado.
Desconcertada com a pergunta, Marilu perguntou ao rapaz, o por quê de tanta curiosidade.
Maurício, respondeu que era uma simples curiosidade.
Marilu, sem entender nada, olhava para ele.
O rapaz então, perguntou:
-- E o que tem demais nessa pergunta? Eu só quero saber. Para que você saiba, eu não tenho namorada.
-- Não?
-- Não. E você?
-- Não. – respondeu ela.
-- Que ótimo! – respondeu Maurício.
-- Ótimo por que?
-- Por que? Por que só assim eu vou poder te pedir em namoro.
-- Pedir em namoro? – perguntou a moça surpresa.
-- Sim. Você quer me namorar?
Marilu, sem jeito respondeu que não sabia o que dizer.
Maurício, insatisfeito, perguntou:
-- Como não sabe?
-- Não sei. – respondeu a moça.
Maurício, nem um pouco satisfeito com a resposta, insistiu para que a moça lhe respondesse.
Marilu, ainda sem saber o que dizer, pediu ao rapaz que lhe concedesse alguns dias para pensar.
Sem ter outra alternativa, Maurício acabou concordando.
Nisso, ao final de alguns dias, Marilu, depois de muito pensar no assunto, acabou concordando. Afinal de contas, se Maurício era uma boa pessoa, não havia problema nenhum em que os dois ficassem juntos.
Assim, quando os dois novamente se encontraram, a moça, enchendo-se de coragem, respondeu que aceitava namorá-lo.
Feliz, o rapaz, abraçou-a calorosamente. Animado, Maurício começou a fazer planos para os dois. Dizendo que a moça tinha que conhecer seus pais, prometeu fazer com ela grandes passeios. Eufórico, chegou a dizer que também precisava conhecer os pais dela.
Marilu, ao ouvir as palavras do rapaz sorriu.
Com isso, os dois começaram a sair mais, juntos. Animados, iam juntos ao cinema, passeavam por parques.
Maurício, dizendo a moça que precisavam voltar a Praça da República, comentou que foi lá que os dois se conheceram.
Marilu, ao ouvir o rapaz, assentiu com a cabeça.
Sim, precisavam voltar lá. E voltaram. Quando os dois chegaram até a praça, Maurício, pedindo para que a moça sentasse no banco que ela havia se sentado tempos atrás, começou a descrever a roupa que ela estava usando no dia.
Marilu, impressionada com a precisão de detalhes, perguntou a ele se o mesmo se lembrava da roupa que ela usara na primeira vez que os dois foram ao cinema.
Sorrindo Maurício respondeu que ela usava um tailler muito bonito.
A moça, impressionada, comentou que ele estava certo.
Maurício ao vê-la tão feliz, perguntou se ele não merecia um prêmio por ser tão atencioso.
Curiosa, Marilu perguntou o prêmio que ele gostaria de ganhar.
O rapaz respondeu simplesmente:
-- Um beijo!
Marilu, surpresa com o pedido, comentou:
-- Que coisa! Um beijo!
Maurício, percebendo o constrangimento, disse que ela não precisava fazê-lo ali, em público. Isso por que, a moral da época não permitia esse tipo de comportamento.
Por isso mesmo o rapaz, segurando a mão da moça, conduziu-a pelo passeio. Caminhando entre árvores, apreciaram a beleza da praça, ouviram o canto dos pássaros e conversaram sobre o pedido.
Mas para que o beijo acontecesse, seriam necessários muitos outros passeios.
E assim, um dia, depois de assistirem um belo filme, os dois, caminhando pelas ruas da cidade, ao chegarem em um local onde poucas pessoas circulavam, aproveitando a oportunidade, beijaram-se pela primeira vez.
O beijo singelo, revelou-se para os dois, a coisa mais fascinante do mundo.
A moça, que nunca havia beijado ninguém, ficou deslumbrada. A simples lembrança do beijo a fazia sorrir.
Já Maurício, cada vez mais apaixonado, ao se lembrar do beijo, mais saudades sentia de Marilu. Receoso porém, sentia que já estava mais do que na hora de se apresentar a família da moça.
Marilu, também pensava assim.
Por isso, mesmo quando os dois se encontraram novamente, a moça fez questão de deixar claro que queria apresentá-lo a sua família. Contudo, não queria pressioná-lo. Em razão disso a moça deu liberdade para que ele escolhesse a data do encontro.
E Maurício, escolheu.
Nisso, Laura, depois de ficar algum tempo afastada de Maria Lúcia, voltou a ameaçá-la com chantagem. Dizendo que a mesma não havia cumprido com sua promessa, ameaçou contar aos pais, sobre seus encontros com Maurício.
Maria Lúcia, aborrecida com a irmã, respondeu que ela podia fazer o que bem entendesse com aquela informação, já que nos próximos dias Maurício iria se apresentar a família para oficializar o namoro.
Laura, surpresa com a novidade, perguntou a irmã:
-- Vocês estão namorando?
Marilu sorriu.
Embora não tivesse respondido claramente a pergunta da irmã, o sorriso já dizia tudo. Os dois estavam juntos.
Laura, atônita com a novidade, titubeou por um instante, mas depois, pensando na situação, disse:
-- Pois bem. Muito inteligente de sua parte. Mas o que você não sabe é que eu vi vocês dois juntos em circunstâncias muito estranhas.
-- Ah Laura, por favor, onde você pensa que vai conseguir chegar com essa história?
-- Muito mais longe do que você imagina. Ou você pensa que eu vou engolir essa história? Você pensa que eu sou idiota? Eu vi vocês dois juntos. Muito antes dessa história de namoro. Pensa que eu não sei que você pediu para que ele não a trouxesse até em casa?
Marilu, irritada com a petulância da irmã, respondeu que ela não tinha nada com isso.
Laura então, percebendo que havia irritado a irmã, não contente com isso, resolveu dizer ainda:
-- E não é só isso. Saiba você, que eu posso destruir esse namoro antes mesmo de começar... Eu posso dizer que ele não é tão boa pessoa como tudo mundo pensa... Já pensou Marilu, se todo mundo achar que ele é um transviado?
Marilu, ao ouvir as palavras de Laura, respondeu dizendo que aquilo era uma mentira. Uma afirmação falaciosa.
Laura retrucou dizendo que, independente de que o que dissesse fosse mentira, ainda assim, seus pais ficariam preocupados. O que certamente tornaria Maurício suspeito.
Marilu ao perceber que Laura queria prejudicá-la desafiou-a:
-- Você não teria coragem de fazer isso.
-- A não? Pois então me aguarde. – respondeu Laura decidida.
Marilu apreensiva, por um instante ficou sem ação.
Laura percebendo isso, provocou a irmã:
-- E então? Onde está toda aquela determinação?
Marilu, titubeante perguntou:
-- E o que você pensa ganhar com isso? Ou será que é pelo simples prazer de me prejudicar?
Laura ao ouvir as perguntas da irmã, lançou-lhe um sorriso maldoso. Não bastasse isso, ainda respondeu:
-- Não sei dizer ao certo. Talvez seja realmente uma vingancinha sim, por que não? Mas também é uma resposta ao pouco caso que fez dos meus avisos... Mas quer saber de uma coisa? Bem feito pra você. Agora você vai saber que eu não estava brincando... É... vai ser divertido.
Marilu irritada, respondeu:
-- Você não vai fazer isso.
-- Vou sim. – retrucou Laura.
Marilu, por sua vez, ao ouvir a resposta da irmã, disse:
-- Ah! Mas não vai mesmo.
Furiosa, Marilu segurou Laura pela blusa e puxando sua roupa, respondia a todo momento:
-- Não vai não.
Laura, por sua vez, vendo que a irmã não estava de brincadeira, pediu reiteradas vezes para que a mesma a soltasse.
Marilu porém, cansada da chantagem da irmã, decidiu que resolveria a questão imediatamente. Assim, ao ver que as duas estavam sozinhas em casa, Marilu resolveu acertar as contas com a moça.
Furibunda, Marilu esbofeteou a irmã.
Decepcionada com Laura, Marilu, que sempre fora calma e compreensiva com esta, diante dos últimos acontecimentos, perdeu toda sua paciência. Por isso mesmo, decidida a resolver a questão, Marilu não pensou duas vezes. Aplicou um corretivo na irmã.
Enquanto batia em Laura, Marilu ía dizendo que cada um daqueles tapas era a paga que ela tinha por tudo de errado que fizera na vida.
Laura, cansada de apanhar, pedia a irmã a todo momento para que ela parasse de agredi-la.
Mas Marilu não parava.
E assim Marilu só parou de bater em Laura, quando, cansada, mandou que ela saísse de sua frente.
Laura, levantou-se e chorando, tencionou dizer algo a Marilu.
A moça, percebendo isso, não a deixou falar. Avisando-a disse que não queria que a briga fosse contada aos pais. Dizendo que não ficaria nem um pouco satisfeita se o seu nome fosse envolvido na história, Marilu recomendou-lhe que dissesse que fora agredida na rua. Além disso, se ela contasse algo que desabonasse Maurício, Marilu ameaçou aplicar-lhe uma surra ainda maior. Avisando que ela apanharia tanto que não conseguiria se mexer, Marilu deixou bem claro que não aceitaria nenhum tipo de chantagem.
Depois de ouvir todas as advertências da irmã, só restou a Laura ir para seu quarto. Humilhada, não tinha nem como retrucar Marilu.
E assim, Laura se recolheu em seu quarto. Envergonhada com a situação, a moça não desceu para jantar e fingindo dormir, não falou com a mãe.
Rose estranhou deveras o comportamento da filha, mas Paulo, dizendo que Laura sempre fora assim, acabou convencendo a esposa a deixá-la sozinha.
Nisso Marilu tomando coragem decidiu contar a mãe que estava namorando.
Rose surpresa quis logo saber com quem.
Marilu respondeu.
Rose apreensiva, disse logo que queria conhecer o rapaz.
Marilu, dizendo que pretendia levar o rapaz para que a família o conhecesse, pediu a mãe que a ajudasse a conversar com Paulo sobre o assunto.
Foi então que Rose se deu conta de que maior obstáculo a essa aproximação era seu marido. Todavia a mulher, percebendo a alegria nos olhos da filha, prometeu que faria de tudo para convencer o cabeça-dura do Paulo de que deveria conhecer o rapaz.
Contudo, como se pode imaginar, não foi nada fácil para Rose desempenhar esta tarefa a contento. Todavia, paciente, a mulher procurou explicar ao marido, que se o rapaz fazia questão de ser apresentado a família, era por que estava muito bem intencionado em relação a Marilu. Além disso, perguntando ao marido se ele não achava que sua filha merecia ser feliz, Rose começou a convencer o marido.
Paulo concordou. Sim Marilu merecia ser muito feliz.
Foi assim que aos poucos, Rose conseguiu convencer o marido a aceitar o namoro da filha. Dizendo que Marilu não era uma desmiolada, comentou que a filha possuía inúmeros predicados. Predicados que encantariam não só um, mas vários rapazes.
Paulo ao ouvir isso, também concordou com a esposa. Sim Marilu era encantadora.
Assim, depois de algum tempo, o homem concordou em marcar um almoço para conversar com o rapaz.
Conforme combinado, o rapaz, visivelmente nervoso, apresentou-se a família. Dizendo que estava muito interessado em conhecer a família de Marilu, comentou simpático, que todos eram exatamente como a moça descrevera para ele.
Curiosa, Rose perguntou ao rapaz como Marilu os descrevera.
Maurício então, contou que a moça sempre se referia a eles com muito carinho.
Laura, que ouvia a tudo calada, parecia contrariada. Porém, como não queria atrair para si a ira da irmã, a moça preferiu quedar-se silente. Durante o jantar o não proferiu nenhuma palavra.
Já recuperada da briga que tivera com a irmã, a moça nem sequer dirigia a palavra a ela.
Com relação a alguns arranhões que apareceram em seu rosto, Laura disse que caiu andando de bicicleta.
Rose e Paulo, desconfiados da explicação, tentaram por diversas vezes descobrir o que estava acontecendo, mas a certa altura, cansados de ouvirem as evasivas de Laura, resolveram deixar o assunto de lado.
E assim, a briga entre ela e Marilu nunca foi descoberta pelos dois.
Com isso, Marilu, satisfeita ao ver que seus pais aprovaram o namoro dela com Maurício, passou a sistematicamente ignorar Laura.
Por isso, toda vez que a moça lhe fazia uma provocação, Marilu fazia de conta que nada ouvira.
Certa vez Rose, quando viu a cena, repreendeu severamente Laura.
Irritada, a moça subiu pela escada reclamando. Dizendo que eles sempre defendiam Maria Lúcia, comentou ressentida que sua presença na casa não significava nada.
Porém, as imprecações de Laura ficavam nisso. Nunca mais a moça ousou importunar Marilu. Mesmo assim, seu temperamento não mudou.
E apesar de Marilu estar namorando, Laura mantinha seu temperamento irascível.
Mas Rose e Paulo, acostumados com o gênio da filha, já não se surpreendiam com suas atitudes intempestivas.
Enfim, tudo estava quase como sempre fora.
Mas uma nova mudança aconteceria na vida da família.
Muito embora a São Paulo da época fosse uma cidade pacata, ainda assim, alguns crimes, vez por outra aconteciam. Esses crimes dada a brutalidade e a raridade com que ocorriam, causavam perplexidade em toda a população. Incrédula, a população mal podia acreditar que algum ser humano pudesse praticar tantas maldades.
Não era a banalidade que hoje se percebe nas páginas de jornais.
Mas uma coisa não se pode negar. Apesar de tais crimes não serem comuns na época, a violência sempre esteve presente na história de todas as civilizações. Inegável.
Foi exatamente nesse contexto, que se deu o seqüestro de Marilu.
A moça, depois de sair do cinema juntamente com Maurício, resolveu fazer um passeio por um dos parques da cidade.
Lá, caminhando por entre árvores, mata nativa, flores e muita beleza, Marilu, afastando-se de Maurício, acabou sendo levada por dois estranhos.
Distraída, a moça não percebeu quando dois homens se aproximaram, e utilizando-se do elemento surpresa, a seguraram. Marilu, ao sentir uma mão pousando sobre seu ombro, bem que tentou se desvencilhar dela. Em vão. Enquanto ela se debatia com um deles, o outro avançou sobre ela e colocando um lenço sobre seu rosto, conseguiu fazer com que a mesma desmaiasse.
Maurício, ao notar que Marilu não estava por perto, passou a procurá-la. Preocupado com seu sumiço, o rapaz esquadrinhou cada canto do parque à sua procura.
Tudo em vão. Marilu, sumira como que por encanto.
Desesperado, ao perceber que a moça havia desaparecido, Maurício não sabia o que fazer. Nervoso, mesmo assim tentou pensar em que medida tomaria. No auge do desespero, o rapaz pensou em chamar a polícia.
Assim o fez. Caminhando em direção a delegacia da região o rapaz se lembrou que precisava contar aos pais da moça que ela havia desaparecido. Contudo, como faria isso? Não tinha coragem. Temeroso de que o culpassem, achou melhor ir primeiro a delegacia para depois contar a Rose e Paulo, o que havia acontecido.
Nervoso, ao chegar a delegacia, o rapaz pediu ao escrivão, para falar com o delegado. Dizendo que sua namorada fora sequestrada, comentou que tinha pressa em falar com o delegado.
O homem, ao saber da gravidade da situação, chamou imediatamente o delegado.
Maurício então, ao ver-se diante do delegado, começou a relatar o que havia ocorrido. Dizendo que ele e sua namorada, passeavam tranqüilamente no parque quando tudo aconteceu, relatou que em dado momento, Marilu desapareceu. Conforme o tempo foi passando e ele foi percebendo que a moça não voltava, resolveu ir atrás dela. Procurando-a em todos os lugares, ele vasculhou cada recanto do parque. Sem êxito, no entanto.
O delegado no cumprimento de sua função, visando esclarecer a situação, fez inúmeras perguntas ao rapaz.
Maurício, mesmo atordoado com que sucedera, não se furtou a responder nenhuma delas. E assim, ao término da lavratura da ocorrência, o rapaz, ansioso, perguntou ao delegado se eles iriam procurá-la.
O homem respondeu:
-- Mas é claro que sim. Este é o meu dever!
Maurício, depois de ouvir as palavras do delegado, ficou mais calmo.
Contudo o mais complicado, ainda precisava ser feito. O rapaz então, novamente, procurando encontrar coragem, resolveu se encontrar com a família da moça.
Ao chegar na casa da namorada, o rapaz, pedindo a um dos empregados para entrar, contou que precisava falar com os pais de Marilu. Depois que os dois começaram a namorar, Maurício ao tomar conhecimento da forma como todos a chamavam, passou a também chamá-la por seu apelido.
O empregado então, ao ouvir o pedido do rapaz, abriu o portão e pedindo para que ele entrasse lhe deu passagem.
Maurício foi até a entrada da casa. Lá, uma empregada o atendeu e recomendou que ele ficasse na sala. Oferecendo café e suco, perguntou se o mesmo queria beber alguma coisa.
Nervoso, Maurício recusou a oferta. Aflito, comentou com a empregada que precisava falar o quanto antes com os pais da namorada.
A empregada, percebendo o ar aflito do rapaz, falou que chamaria Rose imediatamente.
Maurício esperou. Ansioso, os minutos que antecederam a entrada da mãe da namorada na sala, pareceram-lhe uma verdadeira eternidade.
Rose ao entrar na sala, fez questão de cumprimentá-lo. Porém, ao ver o semblante do rapaz, a mulher foi logo lhe perguntando:
-- Mas o que foi que aconteceu?
Maurício, procurando escolher as palavras, respondeu titubeante, quase gaguejando que Marilu havia desaparecido.
Dona Rose, ao ouvir isso, ficou desesperada.
-- Desaparecido? Como desaparecido? Ela não estava com você?
-- Estava. – respondeu o rapaz nervoso. – Estava sim. Mas de repente, Marilu, querendo conhecer melhor o lugar, se distanciou de mim. Quando me dei conta disso, resolvi esperar um pouco para que ela voltasse, já que ela sabia onde eu estava. Contudo, ao perceber que ela não voltava, eu resolvi procurá-la pelo parque. Procurei-a em todos os lugares. Quando eu percebi que ela não estava lá, fui até a delegacia relatar o que havia acontecido.
-- E o que o delegado disse? – perguntou Rose aflita.
-- Ele respondeu que tomaria as providências necessárias.
-- E você tem certeza de que ela não está perdida, procurando-o? – perguntou a mulher recusando-se a acreditar no que estava acontecendo.
-- Tenho. Eu procurei ela em todos os lugares. Não havia como ela ter saído do parque sozinha.
-- E eu posso falar com este delegado? – perguntou ela, visivelmente nervosa.
-- Mas é claro que pode. Se a senhora quiser, eu a acompanho até lá.
Ao ouvir o gentil oferecimento do rapaz, Rose agradeceu. Mas temendo que Paulo ao saber do ocorrido, passasse a acusá-lo do acontecido, achou por bem, declinar do oferecimento.
Maurício, compreendendo o por quê da recusa, explicou-lhe onde ficava a delegacia, e pediu a ela que tentasse se manter calma, pois tudo acabaria bem.
Rose, agradeceu novamente a gentileza e prometendo ficar calma levou-o até o portão. Lá o rapaz se despediu e prometendo ligar mais tarde, disse que aguardaria notícias.
Rose então, pegou o carro e dirigindo até a delegacia, conversou com o delegado.
Ao tomar conhecimento de detalhes do ocorrido, comentou com o delegado que Maurício foi muito prestativo e esperto ao ir primeiramente a delegacia, para depois conversar com ela. Isso por que, quanto antes a polícia ficasse sabendo do ocorrido, mais depressa o caso poderia ser solucionado.
O delegado concordou.
Rose então, pedindo licença ao delegado, comentou que precisava avisar o marido sobre o que estava acontecendo.
Primeiramente, ligou para casa. Mas, ao ouvir da empregada que o marido não havia voltado, resolveu ligar para seu escritório.
Quando Paulo ficou sabendo do ocorrido, o homem ficou possesso. Sabendo que a moça estava com Maurício, Paulo furibundo, comentou com a mulher que ele tinha responsabilidade no que estava acontecendo.
Rose, tentando acalmar o marido comentou que o rapaz havia tomado todas as providências para que Maria Lúcia fosse achada o quanto antes. Além disso, dizendo que estava na delegacia, pediu a ele que a encontrasse lá.
Paulo, irritado, desligou o telefone e pedindo para um de seus funcionários fechar o escritório, foi, o mais rápido que pôde, ao encontro da esposa.
Lá delegacia, o homem também conversou com o delegado e tomando conhecimento dos detalhes que envolveram o desaparecimento da filha, comentou que sua filha nunca teve esses rompantes. Dizendo que a mesma nunca lhe dera trabalho, comentou que provavelmente a levaram a força para fora do parque.
O delegado então, dizendo que Rose, também elogiou o comportamento da filha, pediu a ele que se acalmasse um pouco.
Paulo resolveu se sentar.
Quando um dos policiais retornou, o delegado foi logo pedindo informações. Porém, para sua decepção a moça não fora encontrada.
De posse de sua descrição física, o delegado, visando facilitar a busca, pediu aos pais de Marilu que providenciassem uma foto.
Rose então, diante do pedido do delegado, lembrando-se que sempre levava fotos das filhas consigo, escolheu uma de suas melhores fotos, e entregou-a ao delegado.
O homem ao segurar a foto nas mãos, comentou que assim as coisas ficariam mais fáceis.
E assim as buscas prosseguiram.
Rose e Paulo, determinados a encontrar a filha, elaboraram cartazes com a foto da moça. Angustiados com a falta de notícias, os mesmos pregaram em cada poste que encontraram, a foto da filha. Esperançosos acreditavam que assim conseguiriam encontrá-la.
Maurício preocupado, ligou algumas vezes para a família. Outras vezes, angustiado com o silêncio, foi até a delegacia. Porém tudo continuava com antes. A única coisa que havia mudado é que Paulo não estava mais bravo com ele.
Convencido pela esposa que o rapaz não tivera culpa do ocorrido, Paulo deixou isso de lado e passou a se concentrar na busca por Maria Lúcia.
E assim, após alguns dias, finalmente um homem, sem se identificar, ligando para a família, comentou que sabia onde Marilu estava.
Rose ao ouvir as palavras do estranho, foi logo perguntando onde ela estava.
O estranho respondeu:
-- Por enquanto eu não posso dizer. O que eu posso revelar é que ela está bem.
Rose não compreendeu. Aturdida a mulher perguntou:
-- Mas o que você quer?
O estranho respondeu então o quanto gostaria que ela pagasse em cruzeiros.
Rose desesperada, só fazia perguntar:
-- Por que vocês estão fazendo isso? Me diz, por que você está fazendo isso?
O estranho respondeu então onde e quando ela devia deixar o dinheiro. Em seguida desligou o telefone.
Desesperada Rose, continuou no telefone.
Paulo ao ver a mulher segurando o aparelho, pediu para que ela desligasse. Dizendo que precisava deixar o telefone livre para entrar em contato com os possíveis responsáveis pelo sumiço de sua filha, pediu a mulher para desligar o telefone.
Rose, sem saber o que fazer, respondeu que um estranho havia ligado para ela.
Paulo logo perguntou quem era.
A mulher então, voltando a si, desligou o telefone. Procurando explicar o que havia se passado, contou ao marido que um estranho ligara, e dissera a ela que se quisessem ver Marilu bem, deviam deixar dinheiro em algum lugar.
Paulo ao ouvir isso, ficou furioso. Dizendo que isso era inadmissível, comentou que faria o que pediram, mas que avisaria a polícia sobre a ligação.
Rose, ao ouvir isso, pediu ao marido que não avisasse a polícia.
Paulo ao ouvir as palavras da esposa, comentou que entendida sua preocupação. Mas, dizendo que não podia omitir essa informação, prometeu a mulher que nada de mal aconteceria a filha em virtude disso.
Rose porém, continuava a insistir para que o marido não contasse nada sobre a ligação a polícia.
Paulo contudo, insistiu em dizer que precisava falar.
Determinado foi logo a delegacia. O delegado, ao saber da novidade, recomendou que Paulo fizesse o que o bandido mandou. Enquanto isso ele e seus policiais, preparando-se para o flagrante, cercariam a rua e pegariam o meliante.
Paulo, percebendo a gana do delegado em prender o bandido, pediu insistentemente para que este tivesse cuidado, já que era a vida de sua filha que estava em jogo.
O delegado prometeu que não se precipitaria.
Para Paulo, ouvir estas palavras, foi extremamente reconfortante.
Cauteloso, o homem seguiu todas as recomendações do delegado. Rose também.
Como seria ela quem levaria o dinheiro, a mulher tomou todo o cuidado para que o bandido não percebesse que ela estava acompanhada.
Acompanhada por Paulo, Rose desceu do carro e andando boa parte do caminho a pé, finalmente chegou no lugar combinado. Lá deixou a mala e partiu.
Nisso a polícia que aguardava uma aproximação, esperou calmamente a ação do bandido.
Quando um dos meliantes foi buscar a mala, imediatamente recebeu voz de prisão.
Na delegacia, ao ser interrogado pelo delegado, o bandido acabou revelando que o outro comparsa o esperava no esconderijo onde estava a moça.
Pressionado pelo delegado, o homem acabou revelando onde ficava o tal esconderijo.
Assim, foi apenas uma questão de tempo para que o outro meliante fosse preso, e a família que esperava a moça próxima dali, a reencontrasse.
Maurício, que durante todo esse tempo foi informado de tudo o que acontecia, mal podia esperar para ver a moça novamente.
Depois do encontro emocionado com os pais, Marilu, finalmente recuperada do susto, foi conversar com o rapaz.
Emocionado, Maurício ao vê-la abraçou-a, e chorando confessou que temia esta cena nunca mais se repetisse.
Marilu ao ouvir isso sorriu.
Depois, contando em detalhes o horror por que passara, revelou que apesar de não ter sido maltratada, sentiu muito medo e achou que não iria conseguir mais voltar para casa.
Isso por que os dois bandidos que a vigiavam deixaram bem claro que não tinham nada a perder.
Desesperada, ela passou inúmeros dias amarrada. Sem saber onde estava, tentou fazer de tudo para não se prejudicar. Assim, sempre que os dois lhe dirigiam a palavra, ela lhes respondia.
Além disso, por vários dias ela não soube o que era uma roupa limpa, um banho. Tanto o era que quando ela foi libertada, usava a mesma a roupa com que fora raptada.
Maurício ao ouvir as palavras da moça, ficou chocado. Feliz porém por tê-la de volta comentou:
-- Que bom que você voltou!
Laura por sua vez, sem saber direito o que estava acontecendo, posto que fora poupada por seus pais, ao vê-la entrar em casa, com a mesma roupa de dias atrás, perguntou espantada:
-- Mas o que foi que aconteceu?
Rose, que não queria conversar, comentou que depois falaria com ela.
E assim foi.
Ao levar Marilu até seu quarto, Rose pediu que a moça tirasse suas roupas. Roupas essas que ela levaria imediatamente para lavar.
A moça então, do banheiro, entregou a roupas para a mãe. A seguir banhou-se e escolhendo uma roupa limpa, deitou-se e dormiu. Exausta dormiu por várias horas.
Enquanto isso Rose, zelosa que era, preparou uma bandeja cheia de comida e deixou numa cômoda. Assim quando a moça acordasse encontraria tudo ao seu alcance.
Depois conversando com Laura, Rose revelou que Marilu fora seqüestrada e que por isso não fora para a escola todos esses dias.
Laura, percebendo que havia se excedido, ficou um pouco sem jeito ao saber da notícia. Isso por que, ao saber que a irmã faltaria alguns dias na escola, ficou irada e perguntou aos pais por que só ela tinha esses privilégios. Não satisfeita com isso, ao entrar no quarto bateu a porta.
Porém, sem perder a pose, Laura, fazendo-se de ofendida, perguntou a mãe por que ela não havia contado tudo a ela.
Rose explicou então que não achou que ela tivesse maturidade suficiente para ter conhecimento do que estava se passando.
Laura, ao ouvir o comentário da mãe, ficou chateada. Dizendo que aquilo era muito sério, respondeu que ela não tinha o direito de lhe esconder o que estava acontecendo.
Rose concordou. Dizendo que ela e Paulo erraram ao não lhe contar o que estava acontecendo, ressaltou que não sabiam qual seria sua reação e assim, acharam por bem omitirem-se.
Laura retrucou. Dizendo que não era tão egoísta como pensavam, revelou em que dado momento percebeu que havia algo estranho. Até por que Maria Lúcia não costumava faltar. Notando que moça estava há muito tempo ausente, chegou a conclusão de que os dois estavam escondendo alguma coisa dela. Isso segundo suas próprias palavras, deixou-a profundamente magoada.
Porém, cansada de brigar, Laura perguntou como estava Maria Lúcia.
Rose respondeu que ela estava dormindo.
Laura pedindo permissão a mãe, perguntou se podia ir até o quarto da irmã.
A mulher dizendo que ela ainda dormia, pediu que ela falasse com Marilu quando a mesma saísse do quarto. Comentando que Maria Lúcia estava abalada, recomendou a Laura que esperasse um pouco para falar com ela.
Laura concordou.
Nisso, com o passar dos dias, ao ver Marilu passeando pela casa, Laura, percebendo-a bem disposta, comentou que precisava conversar com ela.
Marilu porém, dizendo que primeiro precisava se encontrar com Maurício, pediu para que a irmã deixasse a conversa para depois.
Decepcionada, Laura prometeu que esperar.
E assim, Marilu, ansiosa por ver Maurício, vestiu um belo vestido florido e pedindo para Rose levá-la até o local do encontro, foi até lá.
Assim, os dois se encontraram, e conversaram sobre os últimos acontecimentos.
Preocupada, Rose pediu para que Maurício não a deixasse sozinha nem por um segundo. O rapaz educado, prometeu que nunca mais a deixaria sozinha.
Assim, enquanto os dois avistavam um lindo jardim, Maurício nem por um segundo desgrudou sua mão da mão de Marilu, que depois de muitos dias presa, finalmente podia saborear o gosto da liberdade. Empolgada, a moça caminhou um longo tempo com o rapaz.
Maurício ficou exausto.
A certa altura, pedindo para que a moça se sentasse um pouco, foi colher algumas flores e oferecendo-as a Marilu, abraçou-a novamente.
Feliz, prometeu que nunca mais se separariam.
Depois do passeio, Marilu ao voltar para casa, percebeu que Laura a aguardava. Surpresa com isso, Maria Lúcia foi logo perguntando:
-- Laura! Mas o que é que você quer tanto falar comigo?
Laura, enchendo-se de coragem, contou a irmã, que a esperou por bastante tempo. Dizendo que precisava contar que ficara muito preocupada com ela, revelou, que apesar de não saber exatamente o que estava acontecendo, sentiu que havia algo errado.
Marilu sorriu.
Laura prosseguiu. Dizendo ainda, que apesar das brigas, gostava muito dela, sabia que nunca ela deixaria de ir a escola, a menos que algo muito grave acontecesse.
Marilu sorriu mais uma vez.
Chorando, Laura falou ainda se Marilu a desculpava.
Sem entender o que a irmã queria dizer com aquilo, a moça perguntou:
-- Desculpar o que?
-- Desculpar meu jeito. Desculpar... aquilo que eu tentei fazer. Eu sei que mereci a reprimenda que eu levei. Me desculpa?
Marilu respondeu então, que não tinha nada que desculpar. Laura todavia, dizendo que estava em falta com ela, insistiu para que a mesma dissesse que a desculpava.
Maria Lúcia sem alternativas, acabou concordando. E assim, acabou dizendo que a desculpava por tudo.
Laura ao ouvir o perdão agradeceu a irmã e prometeu que tentaria mudar seu comportamento.
Contudo, não foi tão fácil assim. Mesmo prometendo que tentaria mudar, a moça discutiu muitas vezes com os pais e com a irmã. No entanto uma coisa mudou. Nunca mais a moça alegou que Marilu tinha privilégios em relação a ela.
Mais calma, eram mais raras as brigas.
Rose e Paulo, entendendo que esse comportamento era normal da idade, pararam de censurá-la por ser tão rebelde.
Esse proceder mudou sensivelmente a vida em família.
Depois disso, Laura nunca mais tentou desafiar os pais, ou se encontrou com seus amigos transviados. Curiosa porém, sempre que podia perguntava por eles. Ao saber que dois deles morreram em um desastre automobilístico decorrente de um racha, Laura nunca mais quis saber de se encontrar com o pessoal com quem meses atrás conversava.
Impressionada com a morte de dois conhecidos, Laura nunca mais cogitou a idéia de fazer parte do grupo.
Marilu e Maurício e por sua vez, continuaram namorando.
Muito apaixonados, certa vez ouviram de seus respectivos pais que acabariam se casando.
Porém, os dois eram ainda muito novos para isso. Assim, jovens que eram, os dois aproveitavam para namorar. Dançando juntos em bailes, os dois aproveitavam para estar cada vez mais próximos.
Ao som de músicas de grandes orquestras os dois dançavam.
Não só eles, mas todos os que participavam desses bailes dançantes.
Porém, não havia ninguém como eles. E assim, exímios dançarinos como eram, despertavam os mais sinceros elogios. Por conta disso, os dois ganharam o apelido de ‘casal pé-de-valsa’. Feliz, ao serem perguntados como conseguiam dançar tão bem, os dois sempre respondiam que isso se devia ao fato de estarem vivendo um sonho de valsa.
Os demais dançarinos, sempre que ouviam estas palavras, ficavam encantados.
Nisso, o ‘casal pé-de-valsa’, prosseguia deslizando pelos salões.
Dançando e encantando a todos com seus passos mágicos.
Rose, vendo que a filha dormia, pediu ao marido que não a acordasse. No dia seguinte, os dois, conversando calmamente com as garotas, descobririam o que havia se passado.
Paulo concordou.
E assim no dia seguinte, durante o café da manhã, o casal, preocupado perguntou a Marilu se ela havia brigado com a irmã.
A moça, pensando um pouco, respondeu da seguinte forma:
-- Não eu que eu saiba. Nós brigamos Laura?
Laura, ao ouvir a resposta da moça, pensando um pouco, falou:
-- Não.
Mas Rose e Paulo, não ficaram nem um pouco convencidos com as respostas dadas. Por isso mesmo, ao comentarem sobre os berros de Laura, insistiram em perguntar por que então ela estava berrando.
A moça, pensando um pouco no que iria dizer, e tentando ganhar tempo, perguntou:
-- Eu berrei?
-- Sim. – respondeu Paulo. – Berrou sim.
-- Bom... se eu berrei, provavelmente devo tê-lo feito dormindo. – respondeu Laura.
-- Sei. – respondeu Paulo, nem um pouco convencido com a resposta dada.
Contudo, como não havia mais nada a ser feito, a conversa se encerrou.
Nisso, com o passar dos dias, Marilu se encontrou novamente com Maurício. O rapaz, levando-a para passear, foi até o Parque do Ibirapuera. Os dois, enquanto caminhavam em meio a natureza, conversaram.
Mais uma vez o tema inicial da conversa foi a viagem de Marilu pela Europa. Contudo, esse não foi o único tema das conversas que tiveram.
Isso por que Maurício, curioso para saber como estava sendo seu retorno para o Brasil, encontrou uma boa maneira de saber um pouco mais sobre ela.
Marilu contou então que estava se adaptando aos poucos. Contudo, viver com a família para ela, era algo inigualável.
Maurício ao ouvir as palavras da moça, sorriu.
Com isso, aproveitando o calor da tarde, os dois aproveitaram para tomar um sorvete.
Mais tarde, depois de conversarem um pouco mais sobre suas vidas, o moço perguntou a Maria Lúcia se ela tinha namorado.
Desconcertada com a pergunta, Marilu perguntou ao rapaz, o por quê de tanta curiosidade.
Maurício, respondeu que era uma simples curiosidade.
Marilu, sem entender nada, olhava para ele.
O rapaz então, perguntou:
-- E o que tem demais nessa pergunta? Eu só quero saber. Para que você saiba, eu não tenho namorada.
-- Não?
-- Não. E você?
-- Não. – respondeu ela.
-- Que ótimo! – respondeu Maurício.
-- Ótimo por que?
-- Por que? Por que só assim eu vou poder te pedir em namoro.
-- Pedir em namoro? – perguntou a moça surpresa.
-- Sim. Você quer me namorar?
Marilu, sem jeito respondeu que não sabia o que dizer.
Maurício, insatisfeito, perguntou:
-- Como não sabe?
-- Não sei. – respondeu a moça.
Maurício, nem um pouco satisfeito com a resposta, insistiu para que a moça lhe respondesse.
Marilu, ainda sem saber o que dizer, pediu ao rapaz que lhe concedesse alguns dias para pensar.
Sem ter outra alternativa, Maurício acabou concordando.
Nisso, ao final de alguns dias, Marilu, depois de muito pensar no assunto, acabou concordando. Afinal de contas, se Maurício era uma boa pessoa, não havia problema nenhum em que os dois ficassem juntos.
Assim, quando os dois novamente se encontraram, a moça, enchendo-se de coragem, respondeu que aceitava namorá-lo.
Feliz, o rapaz, abraçou-a calorosamente. Animado, Maurício começou a fazer planos para os dois. Dizendo que a moça tinha que conhecer seus pais, prometeu fazer com ela grandes passeios. Eufórico, chegou a dizer que também precisava conhecer os pais dela.
Marilu, ao ouvir as palavras do rapaz sorriu.
Com isso, os dois começaram a sair mais, juntos. Animados, iam juntos ao cinema, passeavam por parques.
Maurício, dizendo a moça que precisavam voltar a Praça da República, comentou que foi lá que os dois se conheceram.
Marilu, ao ouvir o rapaz, assentiu com a cabeça.
Sim, precisavam voltar lá. E voltaram. Quando os dois chegaram até a praça, Maurício, pedindo para que a moça sentasse no banco que ela havia se sentado tempos atrás, começou a descrever a roupa que ela estava usando no dia.
Marilu, impressionada com a precisão de detalhes, perguntou a ele se o mesmo se lembrava da roupa que ela usara na primeira vez que os dois foram ao cinema.
Sorrindo Maurício respondeu que ela usava um tailler muito bonito.
A moça, impressionada, comentou que ele estava certo.
Maurício ao vê-la tão feliz, perguntou se ele não merecia um prêmio por ser tão atencioso.
Curiosa, Marilu perguntou o prêmio que ele gostaria de ganhar.
O rapaz respondeu simplesmente:
-- Um beijo!
Marilu, surpresa com o pedido, comentou:
-- Que coisa! Um beijo!
Maurício, percebendo o constrangimento, disse que ela não precisava fazê-lo ali, em público. Isso por que, a moral da época não permitia esse tipo de comportamento.
Por isso mesmo o rapaz, segurando a mão da moça, conduziu-a pelo passeio. Caminhando entre árvores, apreciaram a beleza da praça, ouviram o canto dos pássaros e conversaram sobre o pedido.
Mas para que o beijo acontecesse, seriam necessários muitos outros passeios.
E assim, um dia, depois de assistirem um belo filme, os dois, caminhando pelas ruas da cidade, ao chegarem em um local onde poucas pessoas circulavam, aproveitando a oportunidade, beijaram-se pela primeira vez.
O beijo singelo, revelou-se para os dois, a coisa mais fascinante do mundo.
A moça, que nunca havia beijado ninguém, ficou deslumbrada. A simples lembrança do beijo a fazia sorrir.
Já Maurício, cada vez mais apaixonado, ao se lembrar do beijo, mais saudades sentia de Marilu. Receoso porém, sentia que já estava mais do que na hora de se apresentar a família da moça.
Marilu, também pensava assim.
Por isso, mesmo quando os dois se encontraram novamente, a moça fez questão de deixar claro que queria apresentá-lo a sua família. Contudo, não queria pressioná-lo. Em razão disso a moça deu liberdade para que ele escolhesse a data do encontro.
E Maurício, escolheu.
Nisso, Laura, depois de ficar algum tempo afastada de Maria Lúcia, voltou a ameaçá-la com chantagem. Dizendo que a mesma não havia cumprido com sua promessa, ameaçou contar aos pais, sobre seus encontros com Maurício.
Maria Lúcia, aborrecida com a irmã, respondeu que ela podia fazer o que bem entendesse com aquela informação, já que nos próximos dias Maurício iria se apresentar a família para oficializar o namoro.
Laura, surpresa com a novidade, perguntou a irmã:
-- Vocês estão namorando?
Marilu sorriu.
Embora não tivesse respondido claramente a pergunta da irmã, o sorriso já dizia tudo. Os dois estavam juntos.
Laura, atônita com a novidade, titubeou por um instante, mas depois, pensando na situação, disse:
-- Pois bem. Muito inteligente de sua parte. Mas o que você não sabe é que eu vi vocês dois juntos em circunstâncias muito estranhas.
-- Ah Laura, por favor, onde você pensa que vai conseguir chegar com essa história?
-- Muito mais longe do que você imagina. Ou você pensa que eu vou engolir essa história? Você pensa que eu sou idiota? Eu vi vocês dois juntos. Muito antes dessa história de namoro. Pensa que eu não sei que você pediu para que ele não a trouxesse até em casa?
Marilu, irritada com a petulância da irmã, respondeu que ela não tinha nada com isso.
Laura então, percebendo que havia irritado a irmã, não contente com isso, resolveu dizer ainda:
-- E não é só isso. Saiba você, que eu posso destruir esse namoro antes mesmo de começar... Eu posso dizer que ele não é tão boa pessoa como tudo mundo pensa... Já pensou Marilu, se todo mundo achar que ele é um transviado?
Marilu, ao ouvir as palavras de Laura, respondeu dizendo que aquilo era uma mentira. Uma afirmação falaciosa.
Laura retrucou dizendo que, independente de que o que dissesse fosse mentira, ainda assim, seus pais ficariam preocupados. O que certamente tornaria Maurício suspeito.
Marilu ao perceber que Laura queria prejudicá-la desafiou-a:
-- Você não teria coragem de fazer isso.
-- A não? Pois então me aguarde. – respondeu Laura decidida.
Marilu apreensiva, por um instante ficou sem ação.
Laura percebendo isso, provocou a irmã:
-- E então? Onde está toda aquela determinação?
Marilu, titubeante perguntou:
-- E o que você pensa ganhar com isso? Ou será que é pelo simples prazer de me prejudicar?
Laura ao ouvir as perguntas da irmã, lançou-lhe um sorriso maldoso. Não bastasse isso, ainda respondeu:
-- Não sei dizer ao certo. Talvez seja realmente uma vingancinha sim, por que não? Mas também é uma resposta ao pouco caso que fez dos meus avisos... Mas quer saber de uma coisa? Bem feito pra você. Agora você vai saber que eu não estava brincando... É... vai ser divertido.
Marilu irritada, respondeu:
-- Você não vai fazer isso.
-- Vou sim. – retrucou Laura.
Marilu, por sua vez, ao ouvir a resposta da irmã, disse:
-- Ah! Mas não vai mesmo.
Furiosa, Marilu segurou Laura pela blusa e puxando sua roupa, respondia a todo momento:
-- Não vai não.
Laura, por sua vez, vendo que a irmã não estava de brincadeira, pediu reiteradas vezes para que a mesma a soltasse.
Marilu porém, cansada da chantagem da irmã, decidiu que resolveria a questão imediatamente. Assim, ao ver que as duas estavam sozinhas em casa, Marilu resolveu acertar as contas com a moça.
Furibunda, Marilu esbofeteou a irmã.
Decepcionada com Laura, Marilu, que sempre fora calma e compreensiva com esta, diante dos últimos acontecimentos, perdeu toda sua paciência. Por isso mesmo, decidida a resolver a questão, Marilu não pensou duas vezes. Aplicou um corretivo na irmã.
Enquanto batia em Laura, Marilu ía dizendo que cada um daqueles tapas era a paga que ela tinha por tudo de errado que fizera na vida.
Laura, cansada de apanhar, pedia a irmã a todo momento para que ela parasse de agredi-la.
Mas Marilu não parava.
E assim Marilu só parou de bater em Laura, quando, cansada, mandou que ela saísse de sua frente.
Laura, levantou-se e chorando, tencionou dizer algo a Marilu.
A moça, percebendo isso, não a deixou falar. Avisando-a disse que não queria que a briga fosse contada aos pais. Dizendo que não ficaria nem um pouco satisfeita se o seu nome fosse envolvido na história, Marilu recomendou-lhe que dissesse que fora agredida na rua. Além disso, se ela contasse algo que desabonasse Maurício, Marilu ameaçou aplicar-lhe uma surra ainda maior. Avisando que ela apanharia tanto que não conseguiria se mexer, Marilu deixou bem claro que não aceitaria nenhum tipo de chantagem.
Depois de ouvir todas as advertências da irmã, só restou a Laura ir para seu quarto. Humilhada, não tinha nem como retrucar Marilu.
E assim, Laura se recolheu em seu quarto. Envergonhada com a situação, a moça não desceu para jantar e fingindo dormir, não falou com a mãe.
Rose estranhou deveras o comportamento da filha, mas Paulo, dizendo que Laura sempre fora assim, acabou convencendo a esposa a deixá-la sozinha.
Nisso Marilu tomando coragem decidiu contar a mãe que estava namorando.
Rose surpresa quis logo saber com quem.
Marilu respondeu.
Rose apreensiva, disse logo que queria conhecer o rapaz.
Marilu, dizendo que pretendia levar o rapaz para que a família o conhecesse, pediu a mãe que a ajudasse a conversar com Paulo sobre o assunto.
Foi então que Rose se deu conta de que maior obstáculo a essa aproximação era seu marido. Todavia a mulher, percebendo a alegria nos olhos da filha, prometeu que faria de tudo para convencer o cabeça-dura do Paulo de que deveria conhecer o rapaz.
Contudo, como se pode imaginar, não foi nada fácil para Rose desempenhar esta tarefa a contento. Todavia, paciente, a mulher procurou explicar ao marido, que se o rapaz fazia questão de ser apresentado a família, era por que estava muito bem intencionado em relação a Marilu. Além disso, perguntando ao marido se ele não achava que sua filha merecia ser feliz, Rose começou a convencer o marido.
Paulo concordou. Sim Marilu merecia ser muito feliz.
Foi assim que aos poucos, Rose conseguiu convencer o marido a aceitar o namoro da filha. Dizendo que Marilu não era uma desmiolada, comentou que a filha possuía inúmeros predicados. Predicados que encantariam não só um, mas vários rapazes.
Paulo ao ouvir isso, também concordou com a esposa. Sim Marilu era encantadora.
Assim, depois de algum tempo, o homem concordou em marcar um almoço para conversar com o rapaz.
Conforme combinado, o rapaz, visivelmente nervoso, apresentou-se a família. Dizendo que estava muito interessado em conhecer a família de Marilu, comentou simpático, que todos eram exatamente como a moça descrevera para ele.
Curiosa, Rose perguntou ao rapaz como Marilu os descrevera.
Maurício então, contou que a moça sempre se referia a eles com muito carinho.
Laura, que ouvia a tudo calada, parecia contrariada. Porém, como não queria atrair para si a ira da irmã, a moça preferiu quedar-se silente. Durante o jantar o não proferiu nenhuma palavra.
Já recuperada da briga que tivera com a irmã, a moça nem sequer dirigia a palavra a ela.
Com relação a alguns arranhões que apareceram em seu rosto, Laura disse que caiu andando de bicicleta.
Rose e Paulo, desconfiados da explicação, tentaram por diversas vezes descobrir o que estava acontecendo, mas a certa altura, cansados de ouvirem as evasivas de Laura, resolveram deixar o assunto de lado.
E assim, a briga entre ela e Marilu nunca foi descoberta pelos dois.
Com isso, Marilu, satisfeita ao ver que seus pais aprovaram o namoro dela com Maurício, passou a sistematicamente ignorar Laura.
Por isso, toda vez que a moça lhe fazia uma provocação, Marilu fazia de conta que nada ouvira.
Certa vez Rose, quando viu a cena, repreendeu severamente Laura.
Irritada, a moça subiu pela escada reclamando. Dizendo que eles sempre defendiam Maria Lúcia, comentou ressentida que sua presença na casa não significava nada.
Porém, as imprecações de Laura ficavam nisso. Nunca mais a moça ousou importunar Marilu. Mesmo assim, seu temperamento não mudou.
E apesar de Marilu estar namorando, Laura mantinha seu temperamento irascível.
Mas Rose e Paulo, acostumados com o gênio da filha, já não se surpreendiam com suas atitudes intempestivas.
Enfim, tudo estava quase como sempre fora.
Mas uma nova mudança aconteceria na vida da família.
Muito embora a São Paulo da época fosse uma cidade pacata, ainda assim, alguns crimes, vez por outra aconteciam. Esses crimes dada a brutalidade e a raridade com que ocorriam, causavam perplexidade em toda a população. Incrédula, a população mal podia acreditar que algum ser humano pudesse praticar tantas maldades.
Não era a banalidade que hoje se percebe nas páginas de jornais.
Mas uma coisa não se pode negar. Apesar de tais crimes não serem comuns na época, a violência sempre esteve presente na história de todas as civilizações. Inegável.
Foi exatamente nesse contexto, que se deu o seqüestro de Marilu.
A moça, depois de sair do cinema juntamente com Maurício, resolveu fazer um passeio por um dos parques da cidade.
Lá, caminhando por entre árvores, mata nativa, flores e muita beleza, Marilu, afastando-se de Maurício, acabou sendo levada por dois estranhos.
Distraída, a moça não percebeu quando dois homens se aproximaram, e utilizando-se do elemento surpresa, a seguraram. Marilu, ao sentir uma mão pousando sobre seu ombro, bem que tentou se desvencilhar dela. Em vão. Enquanto ela se debatia com um deles, o outro avançou sobre ela e colocando um lenço sobre seu rosto, conseguiu fazer com que a mesma desmaiasse.
Maurício, ao notar que Marilu não estava por perto, passou a procurá-la. Preocupado com seu sumiço, o rapaz esquadrinhou cada canto do parque à sua procura.
Tudo em vão. Marilu, sumira como que por encanto.
Desesperado, ao perceber que a moça havia desaparecido, Maurício não sabia o que fazer. Nervoso, mesmo assim tentou pensar em que medida tomaria. No auge do desespero, o rapaz pensou em chamar a polícia.
Assim o fez. Caminhando em direção a delegacia da região o rapaz se lembrou que precisava contar aos pais da moça que ela havia desaparecido. Contudo, como faria isso? Não tinha coragem. Temeroso de que o culpassem, achou melhor ir primeiro a delegacia para depois contar a Rose e Paulo, o que havia acontecido.
Nervoso, ao chegar a delegacia, o rapaz pediu ao escrivão, para falar com o delegado. Dizendo que sua namorada fora sequestrada, comentou que tinha pressa em falar com o delegado.
O homem, ao saber da gravidade da situação, chamou imediatamente o delegado.
Maurício então, ao ver-se diante do delegado, começou a relatar o que havia ocorrido. Dizendo que ele e sua namorada, passeavam tranqüilamente no parque quando tudo aconteceu, relatou que em dado momento, Marilu desapareceu. Conforme o tempo foi passando e ele foi percebendo que a moça não voltava, resolveu ir atrás dela. Procurando-a em todos os lugares, ele vasculhou cada recanto do parque. Sem êxito, no entanto.
O delegado no cumprimento de sua função, visando esclarecer a situação, fez inúmeras perguntas ao rapaz.
Maurício, mesmo atordoado com que sucedera, não se furtou a responder nenhuma delas. E assim, ao término da lavratura da ocorrência, o rapaz, ansioso, perguntou ao delegado se eles iriam procurá-la.
O homem respondeu:
-- Mas é claro que sim. Este é o meu dever!
Maurício, depois de ouvir as palavras do delegado, ficou mais calmo.
Contudo o mais complicado, ainda precisava ser feito. O rapaz então, novamente, procurando encontrar coragem, resolveu se encontrar com a família da moça.
Ao chegar na casa da namorada, o rapaz, pedindo a um dos empregados para entrar, contou que precisava falar com os pais de Marilu. Depois que os dois começaram a namorar, Maurício ao tomar conhecimento da forma como todos a chamavam, passou a também chamá-la por seu apelido.
O empregado então, ao ouvir o pedido do rapaz, abriu o portão e pedindo para que ele entrasse lhe deu passagem.
Maurício foi até a entrada da casa. Lá, uma empregada o atendeu e recomendou que ele ficasse na sala. Oferecendo café e suco, perguntou se o mesmo queria beber alguma coisa.
Nervoso, Maurício recusou a oferta. Aflito, comentou com a empregada que precisava falar o quanto antes com os pais da namorada.
A empregada, percebendo o ar aflito do rapaz, falou que chamaria Rose imediatamente.
Maurício esperou. Ansioso, os minutos que antecederam a entrada da mãe da namorada na sala, pareceram-lhe uma verdadeira eternidade.
Rose ao entrar na sala, fez questão de cumprimentá-lo. Porém, ao ver o semblante do rapaz, a mulher foi logo lhe perguntando:
-- Mas o que foi que aconteceu?
Maurício, procurando escolher as palavras, respondeu titubeante, quase gaguejando que Marilu havia desaparecido.
Dona Rose, ao ouvir isso, ficou desesperada.
-- Desaparecido? Como desaparecido? Ela não estava com você?
-- Estava. – respondeu o rapaz nervoso. – Estava sim. Mas de repente, Marilu, querendo conhecer melhor o lugar, se distanciou de mim. Quando me dei conta disso, resolvi esperar um pouco para que ela voltasse, já que ela sabia onde eu estava. Contudo, ao perceber que ela não voltava, eu resolvi procurá-la pelo parque. Procurei-a em todos os lugares. Quando eu percebi que ela não estava lá, fui até a delegacia relatar o que havia acontecido.
-- E o que o delegado disse? – perguntou Rose aflita.
-- Ele respondeu que tomaria as providências necessárias.
-- E você tem certeza de que ela não está perdida, procurando-o? – perguntou a mulher recusando-se a acreditar no que estava acontecendo.
-- Tenho. Eu procurei ela em todos os lugares. Não havia como ela ter saído do parque sozinha.
-- E eu posso falar com este delegado? – perguntou ela, visivelmente nervosa.
-- Mas é claro que pode. Se a senhora quiser, eu a acompanho até lá.
Ao ouvir o gentil oferecimento do rapaz, Rose agradeceu. Mas temendo que Paulo ao saber do ocorrido, passasse a acusá-lo do acontecido, achou por bem, declinar do oferecimento.
Maurício, compreendendo o por quê da recusa, explicou-lhe onde ficava a delegacia, e pediu a ela que tentasse se manter calma, pois tudo acabaria bem.
Rose, agradeceu novamente a gentileza e prometendo ficar calma levou-o até o portão. Lá o rapaz se despediu e prometendo ligar mais tarde, disse que aguardaria notícias.
Rose então, pegou o carro e dirigindo até a delegacia, conversou com o delegado.
Ao tomar conhecimento de detalhes do ocorrido, comentou com o delegado que Maurício foi muito prestativo e esperto ao ir primeiramente a delegacia, para depois conversar com ela. Isso por que, quanto antes a polícia ficasse sabendo do ocorrido, mais depressa o caso poderia ser solucionado.
O delegado concordou.
Rose então, pedindo licença ao delegado, comentou que precisava avisar o marido sobre o que estava acontecendo.
Primeiramente, ligou para casa. Mas, ao ouvir da empregada que o marido não havia voltado, resolveu ligar para seu escritório.
Quando Paulo ficou sabendo do ocorrido, o homem ficou possesso. Sabendo que a moça estava com Maurício, Paulo furibundo, comentou com a mulher que ele tinha responsabilidade no que estava acontecendo.
Rose, tentando acalmar o marido comentou que o rapaz havia tomado todas as providências para que Maria Lúcia fosse achada o quanto antes. Além disso, dizendo que estava na delegacia, pediu a ele que a encontrasse lá.
Paulo, irritado, desligou o telefone e pedindo para um de seus funcionários fechar o escritório, foi, o mais rápido que pôde, ao encontro da esposa.
Lá delegacia, o homem também conversou com o delegado e tomando conhecimento dos detalhes que envolveram o desaparecimento da filha, comentou que sua filha nunca teve esses rompantes. Dizendo que a mesma nunca lhe dera trabalho, comentou que provavelmente a levaram a força para fora do parque.
O delegado então, dizendo que Rose, também elogiou o comportamento da filha, pediu a ele que se acalmasse um pouco.
Paulo resolveu se sentar.
Quando um dos policiais retornou, o delegado foi logo pedindo informações. Porém, para sua decepção a moça não fora encontrada.
De posse de sua descrição física, o delegado, visando facilitar a busca, pediu aos pais de Marilu que providenciassem uma foto.
Rose então, diante do pedido do delegado, lembrando-se que sempre levava fotos das filhas consigo, escolheu uma de suas melhores fotos, e entregou-a ao delegado.
O homem ao segurar a foto nas mãos, comentou que assim as coisas ficariam mais fáceis.
E assim as buscas prosseguiram.
Rose e Paulo, determinados a encontrar a filha, elaboraram cartazes com a foto da moça. Angustiados com a falta de notícias, os mesmos pregaram em cada poste que encontraram, a foto da filha. Esperançosos acreditavam que assim conseguiriam encontrá-la.
Maurício preocupado, ligou algumas vezes para a família. Outras vezes, angustiado com o silêncio, foi até a delegacia. Porém tudo continuava com antes. A única coisa que havia mudado é que Paulo não estava mais bravo com ele.
Convencido pela esposa que o rapaz não tivera culpa do ocorrido, Paulo deixou isso de lado e passou a se concentrar na busca por Maria Lúcia.
E assim, após alguns dias, finalmente um homem, sem se identificar, ligando para a família, comentou que sabia onde Marilu estava.
Rose ao ouvir as palavras do estranho, foi logo perguntando onde ela estava.
O estranho respondeu:
-- Por enquanto eu não posso dizer. O que eu posso revelar é que ela está bem.
Rose não compreendeu. Aturdida a mulher perguntou:
-- Mas o que você quer?
O estranho respondeu então o quanto gostaria que ela pagasse em cruzeiros.
Rose desesperada, só fazia perguntar:
-- Por que vocês estão fazendo isso? Me diz, por que você está fazendo isso?
O estranho respondeu então onde e quando ela devia deixar o dinheiro. Em seguida desligou o telefone.
Desesperada Rose, continuou no telefone.
Paulo ao ver a mulher segurando o aparelho, pediu para que ela desligasse. Dizendo que precisava deixar o telefone livre para entrar em contato com os possíveis responsáveis pelo sumiço de sua filha, pediu a mulher para desligar o telefone.
Rose, sem saber o que fazer, respondeu que um estranho havia ligado para ela.
Paulo logo perguntou quem era.
A mulher então, voltando a si, desligou o telefone. Procurando explicar o que havia se passado, contou ao marido que um estranho ligara, e dissera a ela que se quisessem ver Marilu bem, deviam deixar dinheiro em algum lugar.
Paulo ao ouvir isso, ficou furioso. Dizendo que isso era inadmissível, comentou que faria o que pediram, mas que avisaria a polícia sobre a ligação.
Rose, ao ouvir isso, pediu ao marido que não avisasse a polícia.
Paulo ao ouvir as palavras da esposa, comentou que entendida sua preocupação. Mas, dizendo que não podia omitir essa informação, prometeu a mulher que nada de mal aconteceria a filha em virtude disso.
Rose porém, continuava a insistir para que o marido não contasse nada sobre a ligação a polícia.
Paulo contudo, insistiu em dizer que precisava falar.
Determinado foi logo a delegacia. O delegado, ao saber da novidade, recomendou que Paulo fizesse o que o bandido mandou. Enquanto isso ele e seus policiais, preparando-se para o flagrante, cercariam a rua e pegariam o meliante.
Paulo, percebendo a gana do delegado em prender o bandido, pediu insistentemente para que este tivesse cuidado, já que era a vida de sua filha que estava em jogo.
O delegado prometeu que não se precipitaria.
Para Paulo, ouvir estas palavras, foi extremamente reconfortante.
Cauteloso, o homem seguiu todas as recomendações do delegado. Rose também.
Como seria ela quem levaria o dinheiro, a mulher tomou todo o cuidado para que o bandido não percebesse que ela estava acompanhada.
Acompanhada por Paulo, Rose desceu do carro e andando boa parte do caminho a pé, finalmente chegou no lugar combinado. Lá deixou a mala e partiu.
Nisso a polícia que aguardava uma aproximação, esperou calmamente a ação do bandido.
Quando um dos meliantes foi buscar a mala, imediatamente recebeu voz de prisão.
Na delegacia, ao ser interrogado pelo delegado, o bandido acabou revelando que o outro comparsa o esperava no esconderijo onde estava a moça.
Pressionado pelo delegado, o homem acabou revelando onde ficava o tal esconderijo.
Assim, foi apenas uma questão de tempo para que o outro meliante fosse preso, e a família que esperava a moça próxima dali, a reencontrasse.
Maurício, que durante todo esse tempo foi informado de tudo o que acontecia, mal podia esperar para ver a moça novamente.
Depois do encontro emocionado com os pais, Marilu, finalmente recuperada do susto, foi conversar com o rapaz.
Emocionado, Maurício ao vê-la abraçou-a, e chorando confessou que temia esta cena nunca mais se repetisse.
Marilu ao ouvir isso sorriu.
Depois, contando em detalhes o horror por que passara, revelou que apesar de não ter sido maltratada, sentiu muito medo e achou que não iria conseguir mais voltar para casa.
Isso por que os dois bandidos que a vigiavam deixaram bem claro que não tinham nada a perder.
Desesperada, ela passou inúmeros dias amarrada. Sem saber onde estava, tentou fazer de tudo para não se prejudicar. Assim, sempre que os dois lhe dirigiam a palavra, ela lhes respondia.
Além disso, por vários dias ela não soube o que era uma roupa limpa, um banho. Tanto o era que quando ela foi libertada, usava a mesma a roupa com que fora raptada.
Maurício ao ouvir as palavras da moça, ficou chocado. Feliz porém por tê-la de volta comentou:
-- Que bom que você voltou!
Laura por sua vez, sem saber direito o que estava acontecendo, posto que fora poupada por seus pais, ao vê-la entrar em casa, com a mesma roupa de dias atrás, perguntou espantada:
-- Mas o que foi que aconteceu?
Rose, que não queria conversar, comentou que depois falaria com ela.
E assim foi.
Ao levar Marilu até seu quarto, Rose pediu que a moça tirasse suas roupas. Roupas essas que ela levaria imediatamente para lavar.
A moça então, do banheiro, entregou a roupas para a mãe. A seguir banhou-se e escolhendo uma roupa limpa, deitou-se e dormiu. Exausta dormiu por várias horas.
Enquanto isso Rose, zelosa que era, preparou uma bandeja cheia de comida e deixou numa cômoda. Assim quando a moça acordasse encontraria tudo ao seu alcance.
Depois conversando com Laura, Rose revelou que Marilu fora seqüestrada e que por isso não fora para a escola todos esses dias.
Laura, percebendo que havia se excedido, ficou um pouco sem jeito ao saber da notícia. Isso por que, ao saber que a irmã faltaria alguns dias na escola, ficou irada e perguntou aos pais por que só ela tinha esses privilégios. Não satisfeita com isso, ao entrar no quarto bateu a porta.
Porém, sem perder a pose, Laura, fazendo-se de ofendida, perguntou a mãe por que ela não havia contado tudo a ela.
Rose explicou então que não achou que ela tivesse maturidade suficiente para ter conhecimento do que estava se passando.
Laura, ao ouvir o comentário da mãe, ficou chateada. Dizendo que aquilo era muito sério, respondeu que ela não tinha o direito de lhe esconder o que estava acontecendo.
Rose concordou. Dizendo que ela e Paulo erraram ao não lhe contar o que estava acontecendo, ressaltou que não sabiam qual seria sua reação e assim, acharam por bem omitirem-se.
Laura retrucou. Dizendo que não era tão egoísta como pensavam, revelou em que dado momento percebeu que havia algo estranho. Até por que Maria Lúcia não costumava faltar. Notando que moça estava há muito tempo ausente, chegou a conclusão de que os dois estavam escondendo alguma coisa dela. Isso segundo suas próprias palavras, deixou-a profundamente magoada.
Porém, cansada de brigar, Laura perguntou como estava Maria Lúcia.
Rose respondeu que ela estava dormindo.
Laura pedindo permissão a mãe, perguntou se podia ir até o quarto da irmã.
A mulher dizendo que ela ainda dormia, pediu que ela falasse com Marilu quando a mesma saísse do quarto. Comentando que Maria Lúcia estava abalada, recomendou a Laura que esperasse um pouco para falar com ela.
Laura concordou.
Nisso, com o passar dos dias, ao ver Marilu passeando pela casa, Laura, percebendo-a bem disposta, comentou que precisava conversar com ela.
Marilu porém, dizendo que primeiro precisava se encontrar com Maurício, pediu para que a irmã deixasse a conversa para depois.
Decepcionada, Laura prometeu que esperar.
E assim, Marilu, ansiosa por ver Maurício, vestiu um belo vestido florido e pedindo para Rose levá-la até o local do encontro, foi até lá.
Assim, os dois se encontraram, e conversaram sobre os últimos acontecimentos.
Preocupada, Rose pediu para que Maurício não a deixasse sozinha nem por um segundo. O rapaz educado, prometeu que nunca mais a deixaria sozinha.
Assim, enquanto os dois avistavam um lindo jardim, Maurício nem por um segundo desgrudou sua mão da mão de Marilu, que depois de muitos dias presa, finalmente podia saborear o gosto da liberdade. Empolgada, a moça caminhou um longo tempo com o rapaz.
Maurício ficou exausto.
A certa altura, pedindo para que a moça se sentasse um pouco, foi colher algumas flores e oferecendo-as a Marilu, abraçou-a novamente.
Feliz, prometeu que nunca mais se separariam.
Depois do passeio, Marilu ao voltar para casa, percebeu que Laura a aguardava. Surpresa com isso, Maria Lúcia foi logo perguntando:
-- Laura! Mas o que é que você quer tanto falar comigo?
Laura, enchendo-se de coragem, contou a irmã, que a esperou por bastante tempo. Dizendo que precisava contar que ficara muito preocupada com ela, revelou, que apesar de não saber exatamente o que estava acontecendo, sentiu que havia algo errado.
Marilu sorriu.
Laura prosseguiu. Dizendo ainda, que apesar das brigas, gostava muito dela, sabia que nunca ela deixaria de ir a escola, a menos que algo muito grave acontecesse.
Marilu sorriu mais uma vez.
Chorando, Laura falou ainda se Marilu a desculpava.
Sem entender o que a irmã queria dizer com aquilo, a moça perguntou:
-- Desculpar o que?
-- Desculpar meu jeito. Desculpar... aquilo que eu tentei fazer. Eu sei que mereci a reprimenda que eu levei. Me desculpa?
Marilu respondeu então, que não tinha nada que desculpar. Laura todavia, dizendo que estava em falta com ela, insistiu para que a mesma dissesse que a desculpava.
Maria Lúcia sem alternativas, acabou concordando. E assim, acabou dizendo que a desculpava por tudo.
Laura ao ouvir o perdão agradeceu a irmã e prometeu que tentaria mudar seu comportamento.
Contudo, não foi tão fácil assim. Mesmo prometendo que tentaria mudar, a moça discutiu muitas vezes com os pais e com a irmã. No entanto uma coisa mudou. Nunca mais a moça alegou que Marilu tinha privilégios em relação a ela.
Mais calma, eram mais raras as brigas.
Rose e Paulo, entendendo que esse comportamento era normal da idade, pararam de censurá-la por ser tão rebelde.
Esse proceder mudou sensivelmente a vida em família.
Depois disso, Laura nunca mais tentou desafiar os pais, ou se encontrou com seus amigos transviados. Curiosa porém, sempre que podia perguntava por eles. Ao saber que dois deles morreram em um desastre automobilístico decorrente de um racha, Laura nunca mais quis saber de se encontrar com o pessoal com quem meses atrás conversava.
Impressionada com a morte de dois conhecidos, Laura nunca mais cogitou a idéia de fazer parte do grupo.
Marilu e Maurício e por sua vez, continuaram namorando.
Muito apaixonados, certa vez ouviram de seus respectivos pais que acabariam se casando.
Porém, os dois eram ainda muito novos para isso. Assim, jovens que eram, os dois aproveitavam para namorar. Dançando juntos em bailes, os dois aproveitavam para estar cada vez mais próximos.
Ao som de músicas de grandes orquestras os dois dançavam.
Não só eles, mas todos os que participavam desses bailes dançantes.
Porém, não havia ninguém como eles. E assim, exímios dançarinos como eram, despertavam os mais sinceros elogios. Por conta disso, os dois ganharam o apelido de ‘casal pé-de-valsa’. Feliz, ao serem perguntados como conseguiam dançar tão bem, os dois sempre respondiam que isso se devia ao fato de estarem vivendo um sonho de valsa.
Os demais dançarinos, sempre que ouviam estas palavras, ficavam encantados.
Nisso, o ‘casal pé-de-valsa’, prosseguia deslizando pelos salões.
Dançando e encantando a todos com seus passos mágicos.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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