Ao se recolher, Ticiano, posto que estava transido de sono, imediatamente adormeceu.
Agora, finalmente poderia se desligar um pouco daquela realidade.
Poderia enfim sonhar.
Muito embora acreditasse que não havia sonhos. Sua vida era uma dura demonstração desta constatação.
Não obstante, sua firmeza com relação a isso, ultimamente, vinha-lhe em sonhos, a imagem de uma família unida e feliz, brincando num imenso jardim. Ao final do jardim havia um campo totalmente sem vegetação. Nele só havia terra e ao longe algumas árvores. Neste cenário, pai, mãe e dois filhos brincavam de pegar um ao outro, e de jogar bola entre si. No sonho a família rolava na lama, e algumas vezes, fazia um pequenique.
Não obstante parecer um sonho alegre, na primeira vez que o sonhou, Ticiano acordou sobressaltado. Aquela alegria era para ele algo distante e inatingível. Soava com uma lembrança extremamente dolorosa. Algo que preferia esquecer.
Diante do sonho inesperado, assustado que estava, Ticiano tratou de fixar seus olhos em algum ponto do quarto. E assim ficou por alguns minutos.
Durante esse tempo, pensou em muitas coisas. Mas, em razão do que sonhara, seus pensamentos estavam desordenados. Vinha-lhe a mente muitas idéias confusas.
Somente depois de olhar fixamente para o baú que tinha em frente a cama, e se acalmar, é que a estranha sensação que tomara conta de seu corpo passou.
Depois de algum tempo, ao se dar conta de já era tarde, voltou a dormir. No dia seguinte precisava estar bem para poder trabalhar. Precisava do serviço. E assim, voltou a dormir.
Passadas algumas horas, levantou-se e imediatamente, começou a se preparar para mais um dia de trabalho. Com isso, como de costume, trocou a roupa, lavou o rosto, e foi trabalhar.
Durante o dia, trabalhou normalmente, mas seus amigos perceberam que o rapaz estava com um ar cansado. Ao ver-se alvo da curiosidade dos companheiros de trabalho, o rapaz disse logo, que não dormira bem a noite, e que por isso parecia cansado.
Não havia nada demais. Muito menos com o que se preocupar, dada as explicações apresentadas.
Não obstante o breve relato de Ticiano, Caio e Juvenal ainda especulavam o que teria se sucedido para que Tício tivesse dormido tão mal ou tão pouco. Intrigados que estavam com aquela história, os dois chegaram até a fazer um pouco de troça com o amigo, no que ele ignorou.
Nisso, o dia foi passando. Sobreveio a noite, e todos foram se recolher. Ticiano dirigiu-se para sua casinha e logo tratou de se preparar para dormir.
E assim fez. Ao colocar o pijama, deitou-se na cama e dormiu. Dormiu, dormiu, e continuaria dormindo não fosse novamente o sonho. Exatamente igual a noite anterior.
Agora, estranhamente, já se passando dois anos em que ali estava, passara a sonhar repetidas vezes, o mesmo sonho. Não entendia o por que disto.
Há muito tempo atrás, sonhou seguidas vezes aquele mesmo sonho. Só que com o passar dos anos, aquela terrível cena, apagou-se de sua memória. Já estava desacostumado daquelas imagens.
Para ele, a aludida cena fazia parte de um passado distante do qual não queria guardar lembranças. Não sentia saudade daquele tempo, em que noite após noite, sonhava com a referida família, quase sempre na mesma situação. Não queria novamente, passar por isso.
No entanto, o sonho voltou a ser freqüente, infelizmente para ele.
Mas ao contrário de antes, dada a repetição dos seus sonhos, passou a se acostumar com eles, de certa maneira, muito embora a imagem da família feliz, ainda o perturbasse.
A despeito, do sonho, contudo, passou também, a sentir vontade de sair daquele lugar. Queria ir embora dali. Não se sentia mais animado em permanecer naquela fazenda.
E nisso, os dias iam se passando. Ticiano, continuava a sonhar o aludido sonho.
Não obstante isto, uma vez, além da cena das brincadeiras no descampado, houve um momento em que surgiu um estranho que quis conversar com a jovem mãe. Tratava-se de um homem alto, bem vestido e de maneiras elegantes que queria conhecê-la. O jovem senhor, insistiu muito para vê-la apesar de sua resistência. Parecia aflito.
Entretanto, apesar da aflição do homem, a jovem mulher parecia determinada a não atendê-lo. Pediu ao marido para que dissesse que não poderia lhe falar. Assim, o esposo tentou o quanto pôde conversar com o aristocrata, já que pelos modos parecia sê-lo.
Mas, apesar do pedido do marido para que este não incomodasse sua esposa, e da insistência do consorte para que lhe fosse adiantado o assunto, o estranho homem reiterava constantemente que o assunto era particular, pessoal e urgente. Que só ela interessava.
Inobstante, a alteração da cena, as personagens dos sonhos anteriores permaneciam as mesmas. Somente o enredo é que fora modificado.
Ademais, quando acordou, Ticiano, tratou de se levantar.
Ao se preparar para o trabalho, o rapaz tentou se lembrar do que sonhara mas não conseguiu. Parecia, ter perdido uma parte do sonho.
Nisso ao lavar o rosto, Ticiano tentou mais uma vez reavivar a lembrança, mas não conseguiu. Só conseguia se lembrar da resistência da mulher em atender o estranho homem.
O rapaz queria tentar se lembrar do restante do sonho, mas não conseguia. Ao constatar que o esforço era inútil, se precipitou contra a porta e saiu.
Quanto se dirigiu a cocheira para tratar dos cavalos, retirou um dos animais e deu-lhe um banho. Depois trocou o feno e levou o animal de volta para a cocheira.
O rapaz, já estava saindo com outro cavalo, quando Mário o avistou. Ia cumprimentá-lo. Mas este, ao perceber a expressão abatida do amigo, aconselhou-o a ir até a sede e pedir para que o dispensassem do labor, pelo menos pelo dia.
Só que, teimoso que era, Ticiano não deu a devida atenção aos conselhos de Mário. Disse-lhe que estava bem, e que aquilo era uma leve indisposição.
Mas Mário insistiu com Ticiano afirmando que ele já vinha apresentando este abatimento há algum tempo. Preocupado Mário foi dizendo que primeiro, foi a expressão de cansaço no rosto, agora o abatimento.
Ao ouvir isso Ticiano rebateu alegando ser talvez uma gripe. Todavia não convenceu o camponês.
Para Mário, a alegada indisposição era algo mais sério que ele não queria contar.
Por esta razão, durante toda a jornada, Mário tentou saber do amigo o que se passava. Todavia, não obteve respostas.
Não bastasse isso, por causa da insistência do amigo, Ticiano se fechou mais do que de costume.
Acabrunhado, durante o horário de almoço comeu pouco, o que preocupou deveras os amigos, e ficou encolhido em um canto do refeitório improvisado.
O rapaz ficou pensando no que estava acontecendo nas últimas semanas. Ensimesmado não conseguia parar de se lembrar do sonho que não queria mais sonhar. Não se sentia confortável por ter a lembrança daquela família em seus pensamentos. Sentia-se mal por sonhar com isso. Sentia-se perdido, sem ter para onde recorrer.
E assim, novamente transcorreu o dia. Todos se recolheram e cuidaram de descansar, pois precisavam trabalhar no dia seguinte.
Agora, finalmente poderia se desligar um pouco daquela realidade.
Poderia enfim sonhar.
Muito embora acreditasse que não havia sonhos. Sua vida era uma dura demonstração desta constatação.
Não obstante, sua firmeza com relação a isso, ultimamente, vinha-lhe em sonhos, a imagem de uma família unida e feliz, brincando num imenso jardim. Ao final do jardim havia um campo totalmente sem vegetação. Nele só havia terra e ao longe algumas árvores. Neste cenário, pai, mãe e dois filhos brincavam de pegar um ao outro, e de jogar bola entre si. No sonho a família rolava na lama, e algumas vezes, fazia um pequenique.
Não obstante parecer um sonho alegre, na primeira vez que o sonhou, Ticiano acordou sobressaltado. Aquela alegria era para ele algo distante e inatingível. Soava com uma lembrança extremamente dolorosa. Algo que preferia esquecer.
Diante do sonho inesperado, assustado que estava, Ticiano tratou de fixar seus olhos em algum ponto do quarto. E assim ficou por alguns minutos.
Durante esse tempo, pensou em muitas coisas. Mas, em razão do que sonhara, seus pensamentos estavam desordenados. Vinha-lhe a mente muitas idéias confusas.
Somente depois de olhar fixamente para o baú que tinha em frente a cama, e se acalmar, é que a estranha sensação que tomara conta de seu corpo passou.
Depois de algum tempo, ao se dar conta de já era tarde, voltou a dormir. No dia seguinte precisava estar bem para poder trabalhar. Precisava do serviço. E assim, voltou a dormir.
Passadas algumas horas, levantou-se e imediatamente, começou a se preparar para mais um dia de trabalho. Com isso, como de costume, trocou a roupa, lavou o rosto, e foi trabalhar.
Durante o dia, trabalhou normalmente, mas seus amigos perceberam que o rapaz estava com um ar cansado. Ao ver-se alvo da curiosidade dos companheiros de trabalho, o rapaz disse logo, que não dormira bem a noite, e que por isso parecia cansado.
Não havia nada demais. Muito menos com o que se preocupar, dada as explicações apresentadas.
Não obstante o breve relato de Ticiano, Caio e Juvenal ainda especulavam o que teria se sucedido para que Tício tivesse dormido tão mal ou tão pouco. Intrigados que estavam com aquela história, os dois chegaram até a fazer um pouco de troça com o amigo, no que ele ignorou.
Nisso, o dia foi passando. Sobreveio a noite, e todos foram se recolher. Ticiano dirigiu-se para sua casinha e logo tratou de se preparar para dormir.
E assim fez. Ao colocar o pijama, deitou-se na cama e dormiu. Dormiu, dormiu, e continuaria dormindo não fosse novamente o sonho. Exatamente igual a noite anterior.
Agora, estranhamente, já se passando dois anos em que ali estava, passara a sonhar repetidas vezes, o mesmo sonho. Não entendia o por que disto.
Há muito tempo atrás, sonhou seguidas vezes aquele mesmo sonho. Só que com o passar dos anos, aquela terrível cena, apagou-se de sua memória. Já estava desacostumado daquelas imagens.
Para ele, a aludida cena fazia parte de um passado distante do qual não queria guardar lembranças. Não sentia saudade daquele tempo, em que noite após noite, sonhava com a referida família, quase sempre na mesma situação. Não queria novamente, passar por isso.
No entanto, o sonho voltou a ser freqüente, infelizmente para ele.
Mas ao contrário de antes, dada a repetição dos seus sonhos, passou a se acostumar com eles, de certa maneira, muito embora a imagem da família feliz, ainda o perturbasse.
A despeito, do sonho, contudo, passou também, a sentir vontade de sair daquele lugar. Queria ir embora dali. Não se sentia mais animado em permanecer naquela fazenda.
E nisso, os dias iam se passando. Ticiano, continuava a sonhar o aludido sonho.
Não obstante isto, uma vez, além da cena das brincadeiras no descampado, houve um momento em que surgiu um estranho que quis conversar com a jovem mãe. Tratava-se de um homem alto, bem vestido e de maneiras elegantes que queria conhecê-la. O jovem senhor, insistiu muito para vê-la apesar de sua resistência. Parecia aflito.
Entretanto, apesar da aflição do homem, a jovem mulher parecia determinada a não atendê-lo. Pediu ao marido para que dissesse que não poderia lhe falar. Assim, o esposo tentou o quanto pôde conversar com o aristocrata, já que pelos modos parecia sê-lo.
Mas, apesar do pedido do marido para que este não incomodasse sua esposa, e da insistência do consorte para que lhe fosse adiantado o assunto, o estranho homem reiterava constantemente que o assunto era particular, pessoal e urgente. Que só ela interessava.
Inobstante, a alteração da cena, as personagens dos sonhos anteriores permaneciam as mesmas. Somente o enredo é que fora modificado.
Ademais, quando acordou, Ticiano, tratou de se levantar.
Ao se preparar para o trabalho, o rapaz tentou se lembrar do que sonhara mas não conseguiu. Parecia, ter perdido uma parte do sonho.
Nisso ao lavar o rosto, Ticiano tentou mais uma vez reavivar a lembrança, mas não conseguiu. Só conseguia se lembrar da resistência da mulher em atender o estranho homem.
O rapaz queria tentar se lembrar do restante do sonho, mas não conseguia. Ao constatar que o esforço era inútil, se precipitou contra a porta e saiu.
Quanto se dirigiu a cocheira para tratar dos cavalos, retirou um dos animais e deu-lhe um banho. Depois trocou o feno e levou o animal de volta para a cocheira.
O rapaz, já estava saindo com outro cavalo, quando Mário o avistou. Ia cumprimentá-lo. Mas este, ao perceber a expressão abatida do amigo, aconselhou-o a ir até a sede e pedir para que o dispensassem do labor, pelo menos pelo dia.
Só que, teimoso que era, Ticiano não deu a devida atenção aos conselhos de Mário. Disse-lhe que estava bem, e que aquilo era uma leve indisposição.
Mas Mário insistiu com Ticiano afirmando que ele já vinha apresentando este abatimento há algum tempo. Preocupado Mário foi dizendo que primeiro, foi a expressão de cansaço no rosto, agora o abatimento.
Ao ouvir isso Ticiano rebateu alegando ser talvez uma gripe. Todavia não convenceu o camponês.
Para Mário, a alegada indisposição era algo mais sério que ele não queria contar.
Por esta razão, durante toda a jornada, Mário tentou saber do amigo o que se passava. Todavia, não obteve respostas.
Não bastasse isso, por causa da insistência do amigo, Ticiano se fechou mais do que de costume.
Acabrunhado, durante o horário de almoço comeu pouco, o que preocupou deveras os amigos, e ficou encolhido em um canto do refeitório improvisado.
O rapaz ficou pensando no que estava acontecendo nas últimas semanas. Ensimesmado não conseguia parar de se lembrar do sonho que não queria mais sonhar. Não se sentia confortável por ter a lembrança daquela família em seus pensamentos. Sentia-se mal por sonhar com isso. Sentia-se perdido, sem ter para onde recorrer.
E assim, novamente transcorreu o dia. Todos se recolheram e cuidaram de descansar, pois precisavam trabalhar no dia seguinte.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
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