Poesias

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 11

A despeito disso, passemos a tratativa. 
Foi assim. Ticiano, juntamente com os fazendeiros, foram fazer uma pequena incursão pela cidade. 
Gentis, os homens se ofereceram para buscá-lo no hotel em que estava hospedado.
Ticiano agradeceu a oferta. 
No caminho, os homens conversaram sobre amenidades. Animados, comentaram sobre o local onde iriam. Um luxuoso restaurante da cidade.
Ao lá chegarem, foram logo convidados para se sentarem num dos melhores lugares do restaurante. E assim, enquanto bebiam, passaram a conversar sobre seus negócios, seus animais e suas fazendas.
Donos de belíssimas propriedades nas proximidades da Capital, não se cansavam de enumerar as belezas que possuíam. Donos de belos palacetes na cidade, não costumavam se hospedar em hotéis. 
Isso por que, a cidade do Rio de Janeiro, era uma espécie de lar para eles. Fora suas fazendas, ali era o lugar em que passavam a maior parte do tempo. 
Alguns deles inclusive, pensavam em investir em indústrias. 
No entanto, não obstante isso, quando os demais fazendeiros – que não consideravam tal atividade, um bom negócio –, ouviram isso, não puderam se conter. Admirados, questionavam os amigos. Incrédulos, achavam que investir na atividade industrial, era muito arriscado. Convencidos de que tal prática resultaria em perda de dinheiro. Não se cansaram de dizer:
-- Isso é uma temeridade.
Mas os interessados nesse ramo, retrucaram:
-- Não seremos loucos de investir todo o nosso patrimônio nisso. Mas queremos investir em indústrias. Podemos começar, plantando os insumos necessários para que possamos abastecer uma tecelagem.
-- Ora, caros amigos. Não seremos loucos. Sabemos o que estamos fazendo. O que não podemos, é apostar tudo na pecuária. Precisamos também da agricultura. – emendou outro dos cavalheiros que estavam à mesa.
-- Então vocês querem seguir os passos do Visconde de Mauá. O progresso do país, em primeiro lugar. – respondeu um dos detratores da idéia. 
-- Ora, deixem de ironias. Indústrias também dão dinheiro. – respondeu um dos defensores da industrialização.
-- Está certo. Não se fala mais nisso. Meus caros visionários, o futuro a Deus pertence. E seja o que Ele quiser. – retrucou um dos fazendeiros céticos quanto a essa questão.
E assim, encerrou-se a discussão. 
Contudo, restavam questões a serem discutidas. Como a venda dos animais por exemplo. 
No tocante a isso, Ticiano já tinha uma proposta, e antes mesmo da ceia chegar, os homens já haviam chegado a um acordo quanto a venda. 
Para a surpresa até mesmo do rapaz, não demorou para que muitos dos que ali estavam, concordassem com a sua proposta.
E realmente, era uma proposta tentadora. 
Ticiano se oferecera para comprar alguns dos animais que os fazendeiros queriam vender, mas que não interessavam a José. Contudo, para comprá-los, os fazendeiros teriam que vender alguns dos belos animais que expuseram em eventos nos ele quais esteve presente. Devido a nobreza dessas raças, lhe interessava deveras a aquisição dos mesmos.
E assim, dada a natureza da oferta, e o preço que ofereceram, os fazendeiros não tiveram dúvidas. Acabaram por concordar em vender boa parte dos animais que estiveram em exposição em vários eventos dos quais participaram.
 O que para o jovem, foi uma ótima oportunidade de mostrar que ele sabia como ninguém, convencer alguém, a fazer alguma coisa.
Com isso, um dos fazendeiros presente à mesa respondeu:
-- Depois de uma boa rodada de negociações, nada melhor do que cearmos, agora.
No que, todos, satisfeitos com a transação, concordaram. 
Em seguida, todos se serviram e provaram das deliciosas iguarias do restaurante. 
Enquanto cearam, os fazendeiros aproveitavam para comentar sobre os mais variados assuntos.
Enfim, depois da tensão dos negócios, o jantar terminou informalmente. 
Curiosamente, todos eles conversavam como velhos amigos. 
Até mesmo o jovem e calado Ticiano, conversou um pouco com eles. Brevemente comentou que estava ali representando um também fazendeiro de nome José Vieira. Isso porque, por ser jovem, todos se espantaram com a possibilidade de que o mesmo pudesse ser proprietário de terras. Assim, para que pudesse negociar com os mesmos, precisou contar que era somente, um administrador. 
Ademais, Ticiano comentou também, que José, era um ilustre e respeitado fazendeiro da região interiorana da província.
Interessados, os integrantes da mesa logo quiseram saber, qual a razão do mesmo não estar ali presente.
Ticiano explicou-lhes então, que o mesmo estava ocupado no momento, e infelizmente, não pudera participar da negociação. Por disso, ele tinha carta branca para negociar. Estava autorizado portanto, a realizar qualquer transação, mesmo sem a presença de José.
Por fim, a ceia transcorreu as mil maravilhas.
No dia seguinte, José, ao saber da tratativa pelo próprio Ticiano, constatou satisfeito, que a negociação ocorreu maravilhosamente bem. 
Demasiadamente feliz, não poupou elogios ao mancebo: 
-- Tício, vosmecê realmente sabe trabalhar. Realmente, eu fiz bem em te escolher como meu administrador. Meus parabéns Tício.
De tão feliz, José nem se deu conta que chamava o rapaz por um apelido. 
Neste momento em diante, José nunca mais deixou de chamá-lo assim. Ticiano, era para ele como um filho. Diferente de Tiago, o rapaz era muito esforçado, dedicado. Mesmo sem professores, sempre que podia, aproveitava o tempo livre para estudar.
Admiravelmente, além de determinação, o rapaz era bastante instruído. O que era curioso, já que, para todos os efeitos, o rapaz tinha origem humilde.
Mas, mesmo assim, José depositava muita confiança no jovem mancebo.
Como já dito anteriormente, Ticiano nunca lhe dera motivos para que desconfiasse de seu caráter. Era um homem bom. 
E além disso, começava a lhe dar lucros.
Como a negociação fora proveitosa, na hora de retornarem para a fazenda, Tício e José tiveram que organizar um comboio para transportar os animais que haviam adquirido durante a estada na cidade do Rio de Janeiro.
Assim, em tendo sido a viagem profícua, os dois voltaram para casa, abarrotados de aquisições. Realmente, não tinham do que reclamar.
Percorreram as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, realizando negócios. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.   

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