Poesias

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 12

Quando então retornaram a fazenda, tanto Tício quanto José, estavam cheios de novidades para contar.
Encantado, José não se cansou de comentar sobre o talento do jovem pupilo para realizar bons negócios. Afinal, não era qualquer um que conseguia convencer fazendeiros velhacos a vender algumas de suas melhores mercadorias, a um preço tão razoável. 
Isso porque, apesar de ter pago um bom preço pelos animais, os dois também adquiriram alguns bichos, só para fazer constar. Mas, o que lhes interessava, porém, eram os animais de raça. Todavia, para convencer os fazendeiros a realizarem a venda, os dois acabaram comprando os animais que também, não interessavam de imediato. 
Com isso, como José aceitou comprar até mesmo estes animais, os fazendeiros não tiveram outra alternativa, senão fazerem um pequeno abatimento no preço dos bichos.
E assim, no final da transação saíram lucrando. José, analisando comparativamente o que gastou em relação ao que ganhou, o fazendeiro teve um bom lucro. Muito embora, sem uma análise acurada, pudesse se chegar a uma conclusão contrária.
Mas José, que não era tolo, sabia que o jovem se revelara um talento como administrador.
Zeloso, Ticiano chegava a cuidar da fazenda, melhor do que ele próprio. Observador, José notou que agora que a fazenda estava aos cuidados de Ticiano, tudo estava funcionando melhor. Todos os animais estavam sendo bem tratados e bem treinados.
Dessarte, depois que Ticiano e José retornaram da viagem que empreenderam, mais do que depressa, passaram a pôr em prática a idéia que o jovem lhe dera. Os dois passaram a cuidar dos animais com maior esmero.
Durante tardes inteiras, Ticiano treinava os cavalos para que pudessem percorrer longos trechos. Para que todos aqueles que quisessem cavalgar, notassem que se tratam não só, de belos animais, mas também de excelentes conduções. Enfim, Ticiano queria que tudo estivesse perfeito para que pudesse realizar o evento que seu patrão almejava.
Para isso, o rapaz precisava cuidar dos menores detalhes. Como colaboradores, tinha todos os escravos e peões da fazenda para o ajudarem no trabalho.
Quanto a isso, José o advertira inúmeras vezes que ele não precisava mais realizar o serviço braçal igual aos outros. Afinal, já não era mais um simples peão, e muito menos um escravo.
Mas Ticiano afirmava que para ele não era sacrifício. Sempre gostou de seu trabalho. De maneiras que, para ele era uma grande satisfação trabalhar com os animais. Desde que chegou lá, se encantou com o ambiente da fazenda. 
Além do mais, o rapaz estava deveras interessado que o evento fosse um sucesso. Para isso não media esforços. Diversas vezes, Ticiano permaneceu entre os peões e escravos auxiliando-os em suas tarefas. Cuidadoso, o rapaz explicava minuciosamente como os animais deveriam ser tratados.
Ademais, depois de ficar por horas observando e auxiliando os peões e escravos em seu labor, Ticiano cuidava da contabilidade e de outros serviços relacionados a propriedade. Entusiasmado com seu trabalho, Ticiano aproveitava sempre que podia, para conversar com  José a respeito da organização da festa.
Isso porque, se tudo desse certo, Tício consolidaria sua confiança com a família, e principalmente com o patriarca, José. Por esta razão, o rapaz, empenhou-se o máximo na organização do evento. Nada poderia dar errado.
E assim foi. Enquanto se passavam os dias, mais e mais Ticiano se empenhava na organização do evento.
Determinado, o rapaz ajudou os peões e escravos a treinarem os animais, bem como organizou a fazenda para que se realizasse o evento. Afinal não poderia deixar que os convidados ficassem mal instalados. Por isso Ticiano cuidou para que fossem providenciadas mesas, cadeiras, entre outras coisas.
Contudo, no tocante a decoração e arrumação do local, quem cuidou pessoalmente de todos os detalhes, foi Catarina.
Encantada, diante da possibilidade de organizar uma grande celebração, não poupou esforços. Encomendou diversas peças, criou arranjos de flores, e enfeitou as mesas com eles. Também pensando na fome dos convivas, teve o cuidado de elaborar, juntamente com suas escravas, um cardápio, para que assim, quando quisessem, pudessem pedir algo para comer.
Para tanto, foi preciso chamar mais escravas para cuidarem da cozinha. Afinal, seria muita gente para participar do evento, e assim, nada poderia dar errado. E assim foi feito. 
Quando finalmente o evento aconteceu, foi impecável. Os convidados não se cansavam de elogiar a qualidade do evento. Tudo estava impecável. A disposição do espaço, as comidas, as bebidas, a apresentação do evento – que se deu com um belo desfile de cavalos – e a exposição dos animais – bois, vacas e cavalos.
Entusiasmados, muitos dos convidados adquiriram dos animais em leilão.
Enfim, os convivas não tinham do que reclamar. Tudo estava perfeito. E por esta razão, todos saíram satisfeitos.
Além disso, para a alegria de José, o evento foi tão bem comentado, que chegou até a ser nota de um jornal conhecido na Capital.
Neste jornal, em uma discreta nota, comentava-se que fora realizada há alguns dias, a primeira edição de um evento que deveria prosseguir, na região de Vassouras. Conforme a própria nota expunha, todos os convidados não se cansaram de elogiar a qualidade do evento, digno das melhores menções, e comparável, com os grandes eventos da Capital.
O fazendeiro, ao ler a tal nota elogiosa, se encheu de orgulho. Afinal, não é todo dia que uma bela propriedade como aquela, vira notícia em um jornal. Sem contar que, com tanta divulgação, se houvesse um próximo evento, o mesmo estaria muito mais freqüentado do que o primeiro. 
Tal dar-se conta disso, José ficou mais animado. Contente, o fazendeiro descobriu que isso lhe poderia trazer retorno financeiro, e para  que isso o ocorresse, não mediria esforços. Por esta razão, José cogitava a idéia de organizar um novo evento, no próximo ano. Para tanto, precisava se organizar para que pudesse receber mais pessoas. Com relação a isso, sabia que poderia contar com a ajuda de seu administrador.
Aliás foi dele que partiu a idéia de organizar o evento na fazenda.
Quanto a isso aliás, José teve que admitir. Escolhera muito bem o seu braço direito.
Por esta razão, Ticiano, que era um excelente peão, tornou-se um ótimo administrador. 
Durante o tempo em que exerceu esta função, o fazendeiro não teve do que reclamar. 
Responsável e disciplinado, Ticiano era além disso, uma pessoa de confiança.
Mas, como nada dura eternamente, Ticiano, por uma infelicidade, foi afastado do cargo.
Por conta das intrigas de Tereza, acabou sendo mandado embora.
Isso por que, a maldosa garota, enraivecida com o desprezo do jovem, resolveu se vingar. Como sabia que não conseguiria nada com o rapaz, Tereza tramou um plano contra ele. Por semanas, a moça planejou cuidadosamente sua vingança.
Por esta razão, tentaria mais uma vez, entrar em sua casa. 
E assim, entrando furtivamente na casa do rapaz, Tereza foi logo se escondendo embaixo de sua cama. Assim, quando o rapaz entrasse em casa, não a veria, e quando a visse, já seria tarde. 
Maliciosa, a garota queria mais do que tudo, comprometê-lo. De modos que, para isso, não mediria esforços. De forma alguma o deixaria escapar de tão vexatória situação.
Desta forma, da mesma maneira que tentou seduzi-lo durante a festa, tentando arrumar um encontro furtivo, a moça forçou um encontro entre os dois. 
Destarte, para comprometê-lo mais ainda, Tereza esperou que o rapaz tirasse sua camisa. 
Contudo, diferente do que imaginava, Ticiano, logo que chegou em casa, procurou um lampião que tinha num dos cômodos da nova casa em que estava, e foi para seu quarto. Lá abriu o livro que estava junto à cabeceira de sua bem arrumada cama e pôs-se a ler.
Absorvido por tudo o que estava lendo, nem se deu conta de que uma estranha estava escondida debaixo de sua cama. 
Com isso ao constatar então, que o rapaz estava lendo um livro, Tereza continuou quieta, e esperou pacientemente as horas passarem. Atenta a moça ansiava por encrencá-lo, e para isso, faria o que fosse necessário.
E assim, Tereza por horas ficou esperando.
Nisso o rapaz permaneceu por muito tempo, entretido com sua leitura.
Não obstante isto, ao perceber que já era tarde, Ticiano tratou de preparar-se para o banho. Assim, dirigiu-se até a sede e pediu para uma das escravas que enchesse uma imensa tina que havia na casa, com água.
Dessa forma foi feito. 
Entretanto, ao sair da nova casa de Ticiano, a escrava percebeu que havia um lenço caído no chão. Ao aproximar-se, constatou que o mesmo era da Senhorita Tereza. 
Confusa por isso, a escrava tratou de voltar logo para a sede. Apreensiva precisava contar para Dona Catarina, que sua filha estava visitando a casa de Ticiano. Assim, ao adentrar a sede da fazenda, imediatamente, foi ter com a mãe de Tereza.
Como sempre, a esta hora, sua Sinhá, como costumava chamar, estava na cozinha, dando as últimas instruções para as escravas, sobre o trabalho do dia seguinte. Era um hábito de Catarina, pois antes do dia começar, as escravas já estavam devidamente instruídas sobre o que deveriam fazer no dia seguinte.
Com isso, ao chegar, a escrava foi diretamente para a cozinha, onde com toda a certeza, Dona Catarina estaria. Ao vê-la passando as instruções para os escravos, foi logo puxada por um deles, para que ouvisse tudo o que a senhora estava falando.
Depois, devidamente instruídos sobre os afazeres do dia seguinte, todos se recolheram, com exceção da aludida que escrava – que viu o lenço de Tereza jogado em um dos cantos da casa de Ticiano.
Sem graça, a mulher começou dizendo que não era fofoqueira, e que somente estava preocupada em resguardar a moral da família. Assim, não podia admitir, que a dignidade da família fosse conspurcada com uma atitude inconveniente de Tereza.
Confusa, Catarina passou a admoestar a escrava, dizendo-lhe que não deveria ser tão atrevida, já que estava falando de sua filha.
Diante disso, ao ver-se acuada diante da arrogância da dona da casa, só restou-lhe dizer que vira o lenço da moça jogado no chão, num dos cantos da casa de Ticiano. 
Como prova, a escrava apresentou o lenço.
Diante disto Catarina não tinha como argumentar. 
Por isso, mais que depressa, dirigiu-se ao quarto da filha. No entanto, ao contrário do que imaginava, não encontrou sua filha ali. Desconfiada, dirigiu-se, acompanhada da escrava delatora, até a casa do jovem.
E assim, quando o jovem estava se preparando para dormir, ouviu fortes batidas na porta. 
Como estava descomposto para receber quem quer que fosse, Ticiano pediu um momento.
Mas, furiosa que estava, Catarina começou a falar alto, ordenando-lhe que abrisse a porta.
Com isso, em razão do escândalo que ameaçava se formar, a Ticiano não restou outra alternativa senão abrir a porta, para que a dama, pudesse entrar. 
Desta forma, logo que abriu a porta, Ticiano desculpou-se por estar em trajes tão impróprios, posto que estava se preparando para dormir. 
Desabrida, ao ouvir as palavras do mancebo, Catarina disse-lhe que não precisava se justificar. Contudo, deveria proibir a entrada de Tereza naquela casa.
Atônito, Ticiano respondeu:
-- Eu não sei do que a senhora está falando.
No que esta afirmou, já invadindo a casa:
-- Não sabe é? Mas vai saber logo que eu encontrar minha filha. E dependendo do que eu ver, o senhor vai estar bem encrencado, rapazote.
E assim Catarina passou a procurar em todos os cômodos da casa pela filha. Alvoroçada revistou sala, banheiro e o quarto.
Ao revistar o quarto, Catarina encontrou Tereza, semi despida, deitada na cama do rapaz. 
Ao verem a cena, tanto Ticiano quanto Catarina, ficaram surpresos.
Nenhum dos dois esperava por isso, mas para o rapaz foi pior. Como a moça foi encontrada em sua casa, mais precisamente em sua cama, tanto Catarina, como o pai da moça, – depois de saber do ocorrido – chegaram a conclusão de algo mais, teria acontecido ali.
Tereza, então, conseguiu o queria. Finalmente enredou o rapaz. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.  

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