Poesias

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

VENTO DE MAIO

‘Vento de maio 
Rainha de raio
Estrela cadente
Chegou de repente 
O fim da viagem ...
Apenas já não da mais
Pra voltar atrás ...

Apenas para chover
No meu pequenique ...
Assim meu sapato
Coberto de barro
Apenas já não dá mais
Pra voltar atrás ...

Sol girassol
Se ardendo de tanto esperar ....
E quase que eu esqueci 
Que o tempo não para nem pode esperar
Vento de maio 
Rainha dos raios de sol ...’
(Vento de Maio – Elis Regina)

Manhã de abril. O astro-rei já prenunciava que uma bela tarde de sol estava por vir.
O que seria ótimo, pois assim, os jovens poderiam aproveitar o dia e passear pelo parque. Por aquelas paragens havia um lindo parque, repleto de árvores, flores, pássaros, cores. E a certa altura do parque, havia um lago, que nos dias de sol, refletia as lindas cores do astro-rei. 
E assim, as horas foram se passando. 
A tarde surgiu. Como de costume, vários estudantes combinaram de se encontrar no parque. Conversavam sentados a beira do lago. E assim, as horas foram passando, passando. 
A tarde seguia ensolarada. E os jovens aproveitavam o dia para conversarem sobre assuntos diversos.
Como era bom, passear por aquele lugar, admirar as flores, as plantas, os arvoredos. Freqüentar o local que já fora palco das mais lindas histórias. Para todas elas, músicas inspiradas a eternizá-las. Muitos viveram naquele ambiente. Paraíso perdido de uma juventude sonhadora e idealista. Idílio romântico de quase todos os moços que por ali passaram.  
Por entre os arvoredos, muitos choraram suas mágoas, lamentaram suas tristezas. Mas também, em meio as cores dos jardins do parque, viveram muitos dos momentos mais felizes de suas vidas.  
Entretanto, para alguns, conforme os dias passavam, sentiam eles, que o dia da despedida chegaria. Que depressa, teriam que de deixar de ser apenas jovens para se tornarem adultos. Abandonar a cidade em que viviam, se despedir dos amigos e partirem em busca de outros horizontes mais amplos. 
Por esta razão, muitos dos jovens estudantes do terceiro ano do colegial, estavam melancólicos. Antes mesmo de saírem do colégio, já sentiam saudade dos amigos, da escola, da cidade em que viviam, e do parque. 
Dentro de cada um deles, um sentimento de nostalgia os invadia. Temiam, o dia em que, definitivamente, teriam que abandonar o mundo sem grandes compromissos que tinham, para abraçar um mundo talvez muito maior que eles. Não se sentiam preparados, muito menos animados, para abandonarem a cidade em que viveram toda a vida, para morarem longe dos pais, sem amigos. Tendo por companhia, somente a lembrança dos tempos outrora felizes. 
Sabedores de que tal experiência seria extremamente dolorosa, os jovens combinaram que passariam mais tempo juntos no último ano. Assim teriam mais coisas boas para recordar no dia em que, definitivamente, teriam que se separar. Talvez, para nunca mais se verem.
Ah! A amizade. Como era bom ter amigos naquela tarde. Alguém para conversar, para dividir as dúvidas, o medo das mudanças, as alegrias, e as tristezas. Como era bom ter alguém de quem sentir a falta, ter saudades. E, mesmo depois de anos sem ver, poder se lembrar com carinho, nostalgia, e sentir que aquela pessoa é insubstituível, pois marcou para sempre sua vida. 
Como era bom ter naquela tarde, a sensação de que todos os amigos são para sempre, eternos e inesquecíveis. Que quanto mais o tempo passasse, mais importantes se tornariam em sua vida. Que por mais que o tempo voasse, sentiria sempre aquela insistente vontade de revê-los pelo menos mais uma vez na vida. Se sabedores do seu infortúnio ou mesmo do seu passamento, sentiriam muita tristeza. 
Ah! Como era duro ter amigos. Como seria triste a sensação de perdê-los, de talvez nunca mais os verem.
Sentados a beira da lagoa, acariciados pelo calor do sol, que mais uma vez refletia o esplendor de sua luminosidade no lago, mal sabiam eles o quanto poderia ser dolorosa a separação e a vida fora de sua cidade natal. Todavia temerosos, os jovens sabiam que não seria nada fácil, a vida em outro lugar.
Por isso, muitos nem sequer ousavam pensar nisso. Tentavam se concentrar na alegria ao lado dos amigos. As tardes no parque. Os encontros amorosos. Os bailes. A escola. Enfim, queriam guardar para sempre em seus corações, as lembranças do seu mundo de estudante.
Entretanto, não obstante, o temor da separação, alguns deles pensavam seriamente na formatura. Pensavam em como deveria ser organizada, quais as músicas deveriam ser tocadas. Como a grande maioria deles havia crescido ouvindo música popular brasileira, então, boa parte do repertório seria de música brasileira. Das músicas que, felizes, deram um colorido especial a suas tardes no parque. Adornaram suas vidas, e se tornaram seus hinos de amor. As músicas de suas vidas.
Nostálgicos, passaram a tarde a se lembrar dos momentos felizes que ali passaram.
De por exemplo, quando houve uma mostra de balé na cidade. 
Pois bem. No corpo de baile, havia uma linda bailarina que encantou um dos jovens da platéia. Em todas as apresentações feitas na cidade, pelo menos um rapaz esteve sempre presente. Tentou até, conversar com ela, mas as pessoas em volta não o deixaram se aproximar. Marcos, o jovem, que ficou encantado com a bailarina, tentou se aproximar dela das mais diversas formas. 
Durante os quatro dias em que o corpo de baile ficou na cidade, o pobre rapaz, tentou desesperadamente encontrar a bailarina para poder falar-lhe. Entretanto, não obstante seu empenho, não logrou êxito em seu intento. Marcos fora extremamente mal sucedido. Por conta disso, ficou fazendo plantão na pensão em que a moça estava hospedada, na esperança de que a jovem saísse de lá para fazer alguma coisa. Esperava por horas. Por conta disso, Marcos, chegou até a tomar chuva esperando a saída da moça da pensão.  
Em razão disso, deixou os amigos um pouco de lado. Isso por que, Marcos, só aparecia no parque quando o corpo de baile ía se apresentar. 
Contudo, infelizmente, nada deu certo. Como a moça não saía da pensão, não teve jeito. Marcos não pôde encontrar-se com ela. Entristecido, o rapaz passava tardes inteiras ouvindo ‘Beatriz’, lindamente cantada por Milton Nascimento, em seu rádio.
Nas ondas do rádio, caminhando nos fios estendidos do poste da companhia de energia elétrica, a música parecia penetrar em seu ser. Marcos, sentia uma estranha nostalgia toda vez que a ouvia. Mesmo assim, gostava de ouvir, pois fazia-lhe sentir próximo de sua querida. Fazia-lhe acreditar que a amada possuía um belo nome.

‘Olha, será que de louça  ...
Será que de éter
Será que ao contrário... 

Será que é pintura
Será que é cenário
O rosto da atriz  ...

A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela mora num quarto de hotel
E se eu pudesse, entrar na sua vida ...

Sim, me leva para sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão ...
Para sempre, por um triz ...’
(Milton Nascimento – Beatriz)

E nessa melancolia, Marcos permaneceu durante alguns meses. Tamanho foi o encantamento com a jovem bailarina, que o rapaz, durante muito tempo, permaneceu com a lembrança da moça em sua memória. Se lhe perguntassem, Marcos descreveria com detalhes o colante que a bela bailarina usando. 
Segundo, ele era um colante de gala, feito de veludo azul e pedrarias na mesma cor, muito bonito. E a descrever o traje e a aparência da moça, o rapaz poderia permanecer a tarde inteira falando. 
Diante da situação, seus amigos começaram a ficar preocupados. Como fazê-lo esquecer a moça? Tentaram de tudo. Pensaram em apresentá-lo para outras garotas. Quem sabe conhecendo outra pessoa, ele não esqueceria a jovem bailarina, sua Beatriz.
A situação se agravou ainda mais, quando, nas aulas de literatura, foi de certa forma, apresentado ao autor Dane Aligieri, o escritor, eternamente apaixonado por uma jovem, chamada Beatriz. Exatamente, como no caso de Marcos, um amor não concretizado. Um amor de contemplação.
Isso, só contribuiu para que seu estado de melancolia se agravasse. E assim, nada o demovia da idéia fixa de encontrar sua querida. Para Marcos, era o amor de sua vida. Se não a encontrasse, nunca mais poderia ser feliz.
Coisas de jovem. Como diziam seus pais. Quem que, quando jovem, nunca passou por isso? Paixonite é normal nessa idade. E assim, deixaram para lá.
Só que, para espanto deles, a tristeza não ía embora. A cada dia, Marcos ficava mais melancólico e introspectivo. Preocupados, seus pais resolveram levá-lo a um médico. Como a tristeza não passava, pensaram se tratar de alguma doença. Algo que precisava de tratamento.
O doutor, ao constatar o abatimento do rapaz, perguntou-lhe sobre o que estava se passando. Como não obteve uma resposta satisfatória, o médico insistiu. Calmamente foi fazendo perguntas. E pacientemente esperou pelas respostas. Com isso diante do quadro, concluiu tratar-se de um quadro leve de melancolia. No entanto, se não fosse tratada, poderia se agravar e tornar-se uma depressão, ou talvez até algo mais sério. Para tanto, Marcos deveria colaborar e aceitar fazer o tratamento.
Com isso, mesmo com sua resistência inicial em aceitar o tratamento, Marcos por fim, acabou aceitando. Por isso, passou a se cuidar e depois dos tratamentos, nunca mais sentiu melancolia, nem saudade da antiga amada. Queria mais, é recuperar o tempo perdido e estudar para as provas do final do ano letivo, pois o mesmo se aproximava e ele não queria definitivamente, perder o ano, por conta de um amor mal resolvido. E assim, resolveu esquecê-la. No momento, estava precisando de um amor possível, não de algo platônico.
E assim, ‘Beatriz’, deixou de fazer parte de sua trilha sonora. Agora Marcos só queria saber de ouvir outras músicas. Adorava Música Popular Brasileira. No seu rádio tocavam agora, variadas canções.

‘Vento solar 
E estrela do mar 
Um girassol da cor do seu cabelo ...

Vento solar
E estrela do mar
Você ainda quer morar comigo? 
Se eu morrer não chore não 
É só poesia 
Eu só preciso
Ter você por mais um dia ... 

Bom dia 
Como vai você
Você vem ... 
Ou será que é tarde demais ...

O meu pensamento tem a cor de seu vestido 
Como um girassol 
Que tem a cor de seu cabelo ...’
(Vento Solar)

Variadas canções, agora acalentavam seu coração e o deixavam esperançoso. Marcos, agora, acreditava que poderia encontrar alguém. E esse alguém não seria inatingível e inalcançável. Enfim, seria um amor possível, palpável. Ademais, o rapaz já estava cansado de pensar na bailarina. Assim, queria alguém de verdade, pra poder gostar. Enquanto isso não acontecia, Marcos retornou a sua vida normal. Deixou de procurar em cada moça, a imagem da suave bailarina que o encantara tempos atrás. Por isso, voltou a encontrar seus amigos, e se deleitar com a natureza exuberante do parque da cidade. Tudo voltou ao normal.
Hoje, se questionado sobre esta história, Marcos se nega a comentar o assunto, diz que esqueceu a moça, que agora só quer saber de estudar. Não quer perder seu tempo com alguém que nem sabe que ele existe.
Realmente, diante do que ele já passou, é razoável sua atitude. Como reflexo do acontecido, até hoje é alvo de pilhéria dos amigos. Sempre que o querem alugar, comentam a história.
Em razão disto, às vezes Marcos se distancia do grupo, e fica sozinho, passeando pelo parque. Aliás, Ás vezes prefere mesmo ficar só. Tendo por única companhia os próprios pensamentos. Gosta da solidão. Muito embora goste muito dos amigos, às vezes prefere a solidão, tendo-a em conta de uma boa conselheira. Ás vezes, prefere ficar ouvindo o silêncio, admirando o vôo dos pássaros, a verdura da vegetação, a beleza do lugar, pois esta também, é uma forma de adquirir uma consciência maior de si mesmo.
Seus amigos, no entanto, achavam este hábito muito estranho. Mas respeitavam a sua necessidade de ficar só.
Enfim, depois de contada esta história, os jovens passaram a se lembrar de outras. Muitas outras. Lembraram-se do pequenique no parque. Dos passeios a luz da lua no lugar. Os casais de namorados que por ali passavam. 
Recordaram-se até, das tardes frias e chuvosas, que infelizmente, os impedia de passearem no  parque, obrigando-os a ficarem reclusos em suas casas.
Alguns dos moços, desanimados, só sabiam pensar no que perderiam ao sair da cidade. Outros, um pouco menos infelizes, só sabiam pensar na formatura. Afinal, precisavam celebrar suas saídas da escola.
E para tanto, a formatura deveria ser um dos mais belos momentos de suas vidas. Um acontecimento memorável!
Por isso, apesar dos rapazes não serem muito fãs de festas rebuscadas, todos eles concordaram em participar. Não só como convidados, mas também dos seus preparativos. Todos eles queriam estar juntos, no momento da despedida. Afinal, estavam juntos praticamente desde que começaram a freqüentar a escola. A partir daí, boa parte deles nunca mais se separou.
Obrigatoriamente, a música ‘Coração de Estudante’, não poderia faltar. E como sugestão, ficou acordado que ela seria tocada no momento da entrega dos diplomas. Assim, enquanto um deles estivesse se levantando para ir até o palco pegar o canudo, a música não poderia deixar de ser tocada.
Os jovens, pensaram também em fazer uma homenagem para alguns dos professores da escola. Para isso, poderia ser tocada a música ‘To Sir with love’ (Ao Mestre com carinho). Assim, poderiam preparar um discurso, e, no momento da homenagem, a canção seria executada. 
-- Se fosse feito assim, ficaria lindo. – disse Melissa. 
-- É verdade. Mas se preparem, por que organizar esta festa vai dar trabalho. – comentou Pedro.
-- Mas vai valer a pena. – reforçou Marcos.
-- E se vai valer a pena, deve ser feito. Afinal de contas, será o momento da despedida. – completou Marcelo.
-- Talvez, o último momento em que nos veremos. Por isso, tem que ser especial. – disse animado, Manoel.
-- Aliás, eu tenho para mim, que este vai ser o melhor ano de nossas vidas. Devemos fazer alguns bailes também. Assim, nos preparamos para o grande dia. Podemos começar, organizando os bailes do nosso clube. – emendou Fábio.
-- Clube. Que clube? – perguntaram Pedro, Flávio e Ricardo.
-- É que eu estou pensando em criar um clube. – respondeu Fábio.
-- Pra que? – perguntou Manoel.
-- Para que nós pudessemos nos reunir durante o ano, organizar festas, estudar juntos, e adquirir uma imagem de maior responsabilidade.
-- Como é que é? – perguntou Marcos.
-- Simples. Organizados, possuiremos mais credibilidade. Poderemos organizar a festa de formatura. Ai, teríamos mais força para cobramos a festa. Além do mais, organizando outras festas, passaríamos a ter mais condições de organizar a nossa formatura. Algo com certeza, bem mais complicado que uma simples festinha. Poderíamos recolher verbas para as festas e ninguém poderia nos acusar de angariar fundos para fins obscuros. – falou Fábio.  
-- Eu concordo. É uma ótima idéia. – respondeu Marcos.
Diante do exposto, e por ser uma boa idéia, todos acabaram concordando. Até porque, seria uma ótima maneira de angariar fundos para financiar o tão sonhado baile. E também, por que, dada a dimensão da festa, precisariam além de organização e preparo, de conhecimento. De saber como se organiza uma festa desse porte.
Assim, todos concordaram. 
No entanto, o clube precisava de um nome. 
-- E qual será o nome do clube? – perguntaram Marcelo, Manoel, Flávio e Melissa.
-- Eu sugiro que se chame ‘Clube da Esquina’, em homenagem ao grandes cantores mineiros de MPB. – respondeu Pedro. 
Fábio, que já havia pensado neste nome, concordou. Os demais, não se opuseram. Enfim, com a concordância de todos, o clube passaria a se chamar ‘Clube da Esquina’.
E assim, depois de muita conversa, com a progressiva diminuição da claridade do dia, os jovens se aperceberam de que as horas voaram e que já era quase sete horas da noite. 
Diante do adiantado das horas, não havia outra solução senão irem para casa, e no dia seguinte, na escola, continuarem o assunto. De lá iriam depois de almoçar, diretamente ao parque, para se divertirem e continuarem conversando sobre a formatura e a criação do clube.
Com isso, cada um seguiu seu rumo, indo para diferentes lugares.
A seguir chegando em casa, os jovens jantaram, assistiram um pouco de televisão e foram dormir. 
Quando amanheceu novamente, já era hora de levantar, lavar o rosto e ir para a escola. Por isso, faziam uso do despertador. Para que pudessem acordar na hora certa. 
O curioso foi que, ao tocar o despertador em algumas das casas, uma música foi ouvida vinda da rádio local. Esta música falava exatamente do sentimento de todos eles. E entoada pelo inconfundível Milton Nascimento se chamava, ‘Coração de Estudante’:

‘Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda  
Deve estar dentro do peito 
Ou caminha livre pelo ar 
Pode estar aqui do lado 
Bem mais perto que pensamos 

A folha da juventude 
É o nome certo deste amor 
Coração de estudante ...
Ah, que se cuidar do broto 
Pra que a vida nos dê flor e fruto...

Alegria e muito sonho
Espalhado no caminho ...
Planta e sentimento ...
Folha, coração, juventude e fé’
(Coração de Estudante – Milton Nascimento)

Atentos, todos ouviram acorde por acorde da canção. Para eles, o símbolo do momento pelo qual estavam passando. 
Enternecidos, os jovens ficaram com a música em mentes por toda a manhã. Música que ecoava em suas cabeças, causando uma sensação de nostalgia. Um sentimento de que tudo estava por se encerrar. 
No entanto, apesar disso, estavam felizes. Isso por que, eles tiveram o privilégio de ouvir mais uma vez uma das mais belas músicas já feitas. A canção que falava ao coração de todos os estudantes. 
A canção que simbolizava a despedida deles. 
E assim, enquanto o professor explicava trigonometria, alguns deles estavam bem longe dali. Pensando em coisas bem mais interessantes que números e fórmulas de matemática. 
Distraídos, os jovens pensavam em como seria suas vidas depois que deixassem a escola. Em como seria depois que terminassem o colegial. 
Estavam tristes. Tão tristes que não conseguiam nem prestar atenção na aula. Mas também pensavam em como aproveitar o restante do ano letivo. E assim, estavam felizes, também. 
E por isso, queriam comemorar. Queriam celebrar tudo. Queriam organizar o clube e por em prática suas idéias.
E assim, combinaram na hora do intervalo, que se encontrariam no parque mais tarde, para discutirem a idéia de organizar o clube. 
Ademais, os jovens aproveitariam também, para passearem. Adoravam as árvores, o lago e a beleza do lugar. Adoravam aquelas horas em que, esquecidos de suas vidas, ficavam a caminhar por entre aquela natureza toda. Por entre toda aquela maravilha.
Encantados, passavam horas e horas em meio àquelas paisagens.
Muitas vezes, quando queriam ficar sós, era só se afastarem do grupo, e se dirigirem a um lugar mais recluso do parque. 
Assim, era só permanecerem nesse lugar mágico e estava garantido o sossego de quem por lá ficasse. Portanto, esse era o sinal que todos deveriam respeitar. Quando alguém quisesse ficar só, o fato de estar neste ponto do parque, era a senha dada para que não fosse incomodado. Era o sinal de que queria realmente ficar só.
Nesse lugar, diversas vezes Marcos se recolheu. Nesses momentos de reclusão, ficava a ler suas poesias preferidas, dentre elas, a de seu poeta preferido, Olavo Bilac, o então, denominado ‘Príncipe dos Poetas’. Contudo, como bom leitor que era, e visto que adorava poesia, Marcos não dispensava a leitura de outros grandes poetas brasileiros.
Aliás, em virtude do seu extremo interesse por literatura, todos os seus os amigos o admiravam. Apesar de quase todos serem muito estudiosos, nenhum deles tinha tanto interesse pelas letras quanto ele.
Assim, sempre que podiam, pediam-lhe ajuda nos deveres escolares. Afinal, era Marcos que era o aluno mais aplicado da turma.
Mas, estou se afastando demais do que interessa. Então voltemos ao assunto principal.
E assim à tarde, conforme o planejado, todos se encontraram no parque. Ao lá chegarem, os moços começaram a conversar sobre a idéia de montar um clube. O almejado ‘Clube da Esquina’, em homenagem aos cantores que todos adoravam.
E conversando, chegaram a conclusão, de que, para ter um clube e este ser respeitado na região, era necessário que este tivesse uma sede. Um lugar fixo para que se fizessem as reuniões.
Quanto a isso, todos concordaram. Contudo, o desejo de todos era que a sede do clube, fosse montada ali no parque. Mas, para isso, os jovens precisavam da autorização da administração do lugar, para construírem uma casinha no alto de uma das árvores, para que lá pudessem se reunir e conversar sobre os rumos do clube.
Ademais, os estudantes, precisariam montar o clube em um lugar bem afastado do parque. Um lugar onde poucas pessoas passassem. Isso por que, os jovens não queriam ser incomodados. Não queriam ter estranhos rondando o lugar.
E assim, ao longo de um mês, os jovens insistiram com a administração do parque, para que lhes autorizassem a construírem uma casa no alto de uma das árvores, para que pudessem se reunir sempre que quisessem, no clube que iriam montar.
 Com isso, diante de tanta insistência, ao final do mês, os administradores do lugar, finalmente concordaram com a idéia, e deixaram os jovens construírem uma casa na árvore. Contudo, eles queriam saber onde tal casa iria ser construída. 
Como resposta, os administradores foram informados que somente ao término da construção, eles saberiam onde esta ficaria, e que não deveriam contar a ninguém sobre o que estava sendo feito. Para tanto, os jovens, alegaram, que não queriam a presença de curiosos.
Desconfiados, os administradores impuseram a seguinte condição. Somente liberariam a construção, se fossem informados do exato local em que a casa seria construída.
Sem outra saída, só restou aos estudantes contarem onde ficaria a casa na árvore. Mas, como já se sabe, os jovens pediram sigilo absoluto sobre o assunto. Não queriam que as pessoas soubessem da casa. Comentaram que era uma surpresa. Daí o segredo.
E assim, os homens concordaram com a idéia.
Prestativos, chegaram até a se oferecerem para ajudar na construção.
Com isso, foi utilizada para a montagem da casa, muita madeira. Quanto isso, os próprios administradores do parque, emprestaram um pouco desse material, para que os estudantes construíssem uma bela casa na árvores. Prestativos, os administradores doaram também tinta, e auxiliaram no trabalho braçal.
Resultado. Ao final de mais um mês, uma bela casa na árvore havia sido construída. 
Demorou. Mas a demora se deveu ao fato de que todos eles tinham suas ocupações. Assim, só nos momentos livres, é que podiam realizar este trabalho. Diante disto, a casinha, demorou algum tempo para ficar pronta. 
No entanto, quando finalmente estava construída, foi um encantamento só. Isso por que a pequena construção, estava exatamente do jeito que os jovens imaginaram. No alto de uma bela árvore, carinhosamente realizada. Ampla, possuía dois andares, e um belo lance de escadas levava até a construção.
Agradecidos, os estudantes elogiaram o empenho de todos os que, colaboraram com a edificação. Isso por que, os jovens, não tinham como retribuir o enorme favor concedido.
No que os administradores disseram:
-- Não tem de que.
E mais do que depressa, se retiraram. Afinal, tinham outras coisas para fazer.
Nisso encantada, a turma mal cabia em si de contentamento e satisfação. Realmente a construção tinha ficado muito bonita. Tão bonita que dava vontade de ficar só olhando. Contudo, era necessário entrar, para que pudessem ver como tudo estava. E assim o fizeram. Cada um dos componentes do clube tomou o devido cuidado e subiu as escadas. Um de cada vez. 
Ao final, quando todos estavam reunidos no alto da casa, ficaram admirados com a delicadeza e precisão dos detalhes. A construção parecia uma casa de verdade. Porém, faltava algo. 
Foi então que Flávio e Manoel sugeriram providenciar mesas, cadeiras, armários, além de artigos de escritório. Tudo para que aquela atividade revelasse a intenção de ser algo sério. Assim, com essas melhorias, os sócios do clube teriam mais conforto e poderiam tomar suas decisões com mais calma. 
Com isso, não demorou duas semanas, para que os móveis que precisavam, fossem providenciados, e com a ajuda dos funcionários do parque, fossem levados até a altura da casa, tornando-a mais habitável. 
Assim, depois, das últimas providências, não faltava mais nada. Estava tudo pronto. Pronto para o mais lindo sonho daqueles estudantes obstinados. 
E assim, com o clube organizado, a primeira coisa que os estudantes planejaram foi organizar uma comemoração para inaugurar o clube. Porém, como aquele clube só era de conhecimento daquela seleta turma, somente eles participariam da comemoração.
Diante disso, lá foram eles comprar comes e bebes e levar tudo para a casa na árvore, o famigerado ‘Clube da Esquina’.
Animados, Marcos, Melissa, Marcelo, Manoel, Pedro, Flávio, Ricardo e Fábio, comemoraram com petiscos, salgadinhos e refrigerantes. 
Marcos, de tão empolgado, chegou a levar um rádio. Os demais participantes da festa, ao verem a máquina maravilhosa, pediram logo para ele fosse ligado.
O rapaz atendeu prontamente os pedidos. Ao ligar o aparelho, qual não foi o encantamento dos estudantes ao ouvirem a música que justificava o nome do clube –  intitulada ‘Clube da Esquina’, era o hino da maior criação dos amigos:

‘Foi no Clube da Esquina
Ou num bar em troca de pão
Que muita gente boa 
Pôs o pé na profissão 
De tocar um instrumento
E de cantar 

Não importando 
Se quem pagou quis ouvir
Foi assim

Cantar era buscar o caminho que vai dar pro sol
Tenho comigo as lembranças do que eu era ...
Para cantar nada era longe
Tudo tão bom
Pé, estrada de terra na boléia de um caminhão
Era assim...

Com a roupa encharcada 
E a alma coberta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será
Cantando não me desfaço ...
E não me canso de viver, 
Nem de cantar
Foi assim ...’
(Milton Nascimento – Nos Bailes da Vida)

Marcos, de tão admirado, chegou a comentar:
-- Realmente, algo de muito bom espera por nós! Até as música do nosso clube, a nossa canção, tocaram no rádio. Vai dar tudo certo.
Os demais, ao ouvirem as palavras do amigo, trataram logo de concordar. E assim, a festa desenrolou até as nove horas da noite. 
Depois ... os amigos se despediram, e cada qual voltou para sua casa. 
Durante toda a noite, sonharam com a festa e com os planos que colocariam em prática, para tornar o clube conhecido de todos. Os jovens fariam muitas festas, até chegarem a derradeira, que fecharia o ciclo das comemorações. 
Em razão disso, todos estavam muito animados. Animados e confiantes no êxito do projeto. 
Ansiosos, no dia seguinte, durante o horário do intervalo, os amigos se reuniram e já começaram a planejar o primeiro baile que fariam. 
Conforme os planos de Fábio, o baile se chamaria ‘Baile do Clube da Esquina’. Animado, o rapaz sugeriu que durante a festa, deveria ser tocada ‘Rua Ramalhete’, para fazer todos dançarem de rosto colocado. 
Melissa, ao ouvir isso, concordou. Entusiasmada com a idéia de produzir um baile, a moça sugeriu outras músicas igualmente belas. Quanto ao dia, ela sugeriu que a festa fosse realizada no sábado a noite, e com presença exclusiva dos jovens. Adulto não deveria entrar. Pelo menos não naquela primeira festa. 
Com relação a isso, todos os integrantes do clube concordaram. Nesse primeiro momento, eles deveriam organizar uma festa somente para os jovens. Porém, como não estavam para brincadeira, queriam organizar uma senhora festa. No entanto, os jovens não dispunham de fundos suficientes para a ela. 
Diante do primeiro obstáculo, Ricardo sugeriu, que eles deveriam pensar primeiramente, em que lugar poderia ser organizada a festa, e depois, venderiam convites para quem quisesse participar. Assim, conseguiriam reunir dinheiro suficiente para organizar a festa.
Pedro e Marcelo, quando ouviram a proposta de Ricardo, elogiaram a inteligência do amigo. Todavia, antes de atribuírem um determinado preço ao convite, precisavam saber antes, o quanto iriam gastar. Isso por que teriam que contratar um grupo para tocar, alugar um salão, elaborar uma lista de comes e bebes, selecionar as músicas que seriam tocadas, decorar o salão. Além disso, qual seria o traje a ser adotado?
Melissa, empolgada com a idéia de um baile, sugeriu que a festa deveria ser a fantasia. 
Quando Marcos, Fábio, Marcelo e Manoel perguntaram o tema da fantasia, a moça não titubeou nem por um instante. Foi dizendo logo:
-- Anos sessentas.
Porém, havia um problema. As músicas que eles pretendiam tocar na festa, não tinha nenhuma relação com o tema. Melissa então, percebendo que não seria possível que festa tivesse aquele tema, sugeriu, que as mulheres usassem longo, e os homens se fantasiassem de militares. 
Marcelo e Marcos, espantados, perguntaram o porque, daquela imposição.
A garota então respondeu:
-- Não é por nada não. É só para dar um clima mais romântico para a festa. Se for o caso, as mulheres podem se vestir então, como as grandes divas do cinema. Eu só não gostaria que todos estivessem com a mesma roupa, senão, a festa vai perder a metade da graça. 
-- E o que você sugere então? – perguntou Flávio.
-- Eu sugiro que assim que forem vendidos os convites, se dê um prazo para que cada pessoa defina o traje que irá usar. Nós anotaremos a informação, e aí a pessoa não vai poder mudar de idéia. Se mudar, terá que nos comunicar, ou então correrá o risco de encontrar outra pessoa usando a mesma roupa.
Flávio, ouvindo a sugestão de Melissa, elogiou a criatividade da moça e concordou com ela. Como os demais membros do clube não se opuseram a iniciativa, ficou acertado que assim procederiam. Além disso, estudariam um pouco sobre o assunto, para que pudessem fazer algumas sugestões. Assim, ninguém ficaria perdido, sem saber o que vestir. 
Nisso, soou a campainha, avisando que o intervalo tinha se encerrado, e que era hora de voltar para a sala. 
Porém, quem disse que eles conseguiam se concentrar e prestar atenção no que estava sendo ensinado? Permanecer ali naquela sala de aula, era necessário, mas os pensamentos de todos, voavam. A exceção de Marcos, nenhum deles estava inteiramente presente naquela classe. Sonhar com o baile que realizariam, era a única coisa na qual conseguiam pensar. 
Porém, os jovens sabiam que se não queriam ter problemas com as notas, deveriam se dedicar mais aos estudos. Por esta razão, quando foram se encontrar no clube, os amigos, combinaram que além de se reunir para organizar a festa, deveriam organizar um grupo de estudos, e estudando juntos eles se preparariam para as provas. 
Além disso, o parque era um bom lugar para passar o tempo. 
Um lugar tão bom, que boa parte dos estudantes aproveitava para ficar o dia inteiro lá. Sim, o ambiente era um conhecido ponto de encontro da moçada da região. 
Com isso, enquanto se reuniam para discutir os detalhes da festa, os amigos aproveitavam também para estudar. Por conta disso, cada vez mais livros foram ficando no clube. Tanto que à certa altura, os jovens  já tinham formado uma pequena biblioteca no clube. E assim, diante desse fato, os amigos, tinham a desculpa perfeita para sair de casa. Precisavam estudar. 
E lá se iam. Empolgados, muitas vezes, só voltavam para casa, tarde da noite, quando não tinham por que, permanecerem no parque. 
Com isso, conforme os dias foram passando, os amigos, depois de confeccionarem os convites, passaram a vendê-los. Com base na pesquisa que fizeram anteriormente, os jovens constataram que os alunos estavam mais do que interessados em uma festa. Ainda mais uma festa de arromba como aquela. 
Assim, diante da confirmação, os jovens passaram a vender os convites. 
Porém, qual não foi a surpresa deles ao venderem todos os convites em apenas em um dia. 
No entanto, o mais surpreendente ainda estava por vir. No dia seguinte, mais pessoas apareceram, interessadas em comprar convites para a festa. Todavia, quando ouviram dos garotos que todos os convites haviam sido vendidos, os potenciais compradores, ficaram deveras desapontados. 
Marcelo, Manoel, Ricardo, Flávio, Fábio, Pedro, Marcos e Melissa, percebendo isso, ao constatarem que o salão poderia abrigar mais alguns convidados, resolveram confeccionar mais alguns convites. Mais tarde, foram vendê-los.
Outra surpresa. Todos os convites foram vendidos, em questão de horas. Com isso eles conseguiram resolver pelo menos em parte a questão dos convidados. 
Todavia, mesmo tendo o cuidado de vender mais ingressos, ainda assim, tinha gente que não iria conseguir participar do baile. 
No entanto, diante disso, não havia mais nada o que ser feito. O salão estava alugado, os espaços já estavam todos distribuídos e não havia mais como fazer convites. Se o fizessem e vendessem, as pessoas não se acomodariam confortavelmente no salão.
Diante disso, a despeito de alguns rostos desapontados, os jovens conseguiram realizar o almejado intento. Com o dinheiro dos ingressos, pagaram o aluguel do salão, o buffet, a banda que tocaria no baile, a decoração, entre outros detalhes. Para firmar o contrato de aluguel os pais dos jovens compareceram no salão e se responsabilizaram pelos mesmos. 
Em razão disso, com tudo acertado, os jovens combinaram as músicas que seriam tocadas, bem como as homenagens que seriam feitas. Tudo com vistas a uma preparação para a festa de formatura.  
Por fim, era só aguardar o dia da festa. Como tudo estava saindo como fora planejado, os jovens não tinham com que se preocupar. As fantasias, a essa altura estavam todas prontas, pois os próprios organizadores da festa, se encarregaram de providenciá-las. Para tanto, pegaram as medidas de todos os convidados e encaminharam para as costureiras que fariam as peças. Além disso, com a idéia das roupas em mente, os próprios organizadores do baile, se encarregaram de mostrar para a costureira, como as roupas deveriam ser feitas, cuidando desde do tecido, e da cor, até os pequenos detalhes. Uma trabalheira. A única coisa da qual os jovens não se encarregaram, foi dos preços das fantasias. Assim, os próprios convidados se encarregaram desses pagamentos.
Com isso, os estudantes tiveram que se desdobrar para conseguirem tempo para estudar e se prepararem a festa.
Contudo, no final, tudo acabou dando certo. 
E assim, os jovens só precisavam agora, esperar. Logo a festa se realizaria, e todos os seus sonhos também. 
Sim, um sonho. Aliás, um dos inúmeros sonhos que toda aquela turma sonharia, e o que é melhor, colocariam em prática. 
Assim, embalados com expectativa da festa, os jovens não se cansavam de ouvir músicas. 
Melissa, ao ligar o rádio em sua casa certa vez, ouviu a seguinte música:

‘...São José da Costa Rica 
Coração civil
Me inspire da justiça
Os sonhos de amor 
Do meu país...

E sonhar que 
Que a justiça pode ser real...
Vou sonhar com
As coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos no quintal ....’ 
 (Coração Civil – Milton Nascimento)

Esta linda música entoada pelo eminente Milton Nascimento para ela era a mais completa tradução dos sonhos de um país ideal, sonhado por todos os brasileiros. 
Mas enquanto ela ouvia músicas aleatoriamente, Marcos e Marcelo, por exemplo, só se preocupavam em ouvir as músicas que tocariam na festa. Isso por que, os moços queriam que tudo saísse perfeito. 
Contudo, o zelo era desnecessário, pois como os seus amigos disseram, estava tudo perfeito. Assim, não tinham com o que se preocupar. 
Todavia, quem disse, eles conseguiam se acalmar? Desta forma, dias antes da festa, Marcos e Marcelo resolveram passar horas diante do aparelho de som, tudo para ouvirem atentamente a trilha sonora da festa, e ver se estava tudo certo. 
Com isso, conforme os dias se seguiram, era chegado o momento da festa. 
Ansiosos, depois de tanto esperar, agora que finalmente o dia da festa havia chegado, os amigos mal podiam se conter. Nervosos, alguns deles chegaram a cogitar não aparecer na festa. 
Todavia, seus pais, percebendo a bobagem que fariam se não comparecessem, trataram logo de lhes chamar a atenção, advertindo os que eles tinham que ir. Se não fossem, se arrependeriam pelo o resto de suas vidas. Além disso, eles haviam se comprometido com os demais, e assim, não podiam deixar seus amigos na mão. De formas que esses jovens, não tiveram escapatória.
Diante disso, todos os amigos participaram da festa. 
Conforme haviam planejado, tudo estava perfeito. O salão, repleto de flores, estava muito bem decorado. A banda, na hora em que entraram estava tocando, ‘Todo Azul do Mar’:

‘Foi assim, como ver o mar
Da primeira vez, que meus olhos
Se viram no seu olhar
Não tive a intenção, de me apaixonar
Mera distração e já era
Momento de se gostar

Quando eu dei por mim
Nem tentei fugir
Do visgo que me prendeu
Dentro do seu olhar ...

Fui dono do mar azul
De todo azul do mar ...
Daria para beber 
Todo azul do céu 
Dava pra encher o universo
Do da vida que eu quis pra mim 

Tudo que eu quis 
Foi me confessar 
Escravo do seu amor
Livre para amar...’
(Todo o Azul do Mar / 14 Bis)

Curiosamente, Marcos foi tomado de um estranho efeito em relação a essa música. Isso por que, logo que entrou no salão, percebeu que uma linda moça vestida de vermelho, que distraidamente olhava para ele. 
Mal sabia ele, que dançaria com a moça naquele baile. 
Isso por que, quando entrou no salão, Marcos pensou que ele e seus amigos, passariam a noite toda cuidando de detalhes da festa. No entanto, como tudo estava perfeito, não tiveram com o que se preocupar. 
Com o que se refere a festa, a única coisa que tinham que fazer dali para frente é se divertirem, e muito. Era a única coisa a ser feita. 
Desta forma, mais do que depressa, todos se dispersaram e trataram de se divertir. 
Depois de verificarem que tudo estava certo, os amigos aproveitaram o baile. 
Melissa, a única amiga do grupo, assim, se viu no meio do salão, foi logo convidada por um elegante rapaz fardado, para dançar.
Marcos, por sua vez, ainda teve que andar um pouco. Muito embora algumas moças demonstrassem interesse em dançar com ele, o rapaz não dançou com nenhuma delas. Com isso,  foi até o jardim, e por lá, permaneceu durante cerca de meia hora.
Distraído, nem percebeu que a moça vestida de vermelho estava sentada, ao lado de uma das esculturas próxima a ele. 
Envolvido em seus pensamentos, Marcos mal conseguia prestar atenção no que acontecia em volta. Feliz com a realização do baile, queria ao menos a possibilidade de contemplá-lo de longe, por alguns instantes. Marcos fazia isso, por que queria memorizar o maior número de detalhes da festa. Gostava de observar as pessoas dançando e gostava de perceber a satisfação das pessoas em participar da festa. 
Assim, o rapaz ficou extasiado com o cenário.
Finalmente, quando deu-se conta de que a moça, estava a poucos passos dele, resolveu se aproximar e perguntou-lhe timidamente, se estava gostando da festa.
-- Estou. – respondeu a moça. – Muito bonita a idéia dos organizadores de alugar o salão para festejar. Além disso, esse jardim é magnífico. Nunca vi uma coisa assim tão bela.
Marcos, admirado com os comentários da moça, encheu-se de coragem e perguntou-lhe então:
-- Desculpe perguntar, mas qual é o seu nome?
A moça então respondeu:
-- Érica. 
Marcos animado, resolveu convidar a moça para dançar.
Érica, mesmo um pouco surpresa com o pedido, aceitou o convite. 
E assim, os dois dançaram a noite inteira. 
Porém, pararam algumas vezes. Assim, Érica e ele se sentaram um pouco. 
Como Marcos foi chamado pelos amigos para integrar a mesa de honra da festa, o rapaz tratou de convidar Érica, para se sentar à mesa. 
Mas, primeiramente, Marcos fez questão de apresentá-la a todos. Assim, apresentou-a a Melissa, Pedro, Marcelo, Manoel, Fábio, Ricardo e Flávio. 
Depois, gentilmente convidou-a a se sentar. Com isso, assim que Érica se sentou, o rapaz ajeitou sua cadeira, para que ela pudesse ficar à vontade.  
Enquanto isso, os amigos conversaram. Conversaram e se regalaram com os comes e bebes servidos durante a festa. Animados, todos só comentavam sobre o sucesso da festa, e dos projetos de organizar o baile de formatura. 
Nisso, Marcos aproveitando a oportunidade, convidou Érica para dançar com ele mais uma vez. 
Assim, enquanto, tocava a música ‘Serra do Luar’, o casal dançando, nem percebia o que estava acontecendo em volta.

‘ Amor, vim, te buscar, em pensamento
Cheguei agora, no vento 
Amor, não chora de sofrimento 
Cheguei agora no vento ... 

Eu só voltei pra te contar 
Viajei, fui pra Serra do Luar 
Mergulhei, ai eu quis voar ... 
Agora eu sei 
Vim pra terra descansar ... 

Viver é afinar o instrumento
De dentro pra fora
De fora pra dentro
A toda hora 
A todo momento
De dentro pra fora
De fora pra dentro ...

Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranqüilo...’
( Serra do Luar)

Nisso Marcos e Érica, envolvidos com a música, nem sequer ouviram os comentários de Melissa e do restante da turma, que atentos aos passos de ambos, só elogiavam a habilidade deles para a dança. 
Diante disso, Melissa, feliz pelo amigo, ressaltou também que:
-- Que bom que o Marcos conseguiu encontrar uma garota legal na festa. Tomara que dê tudo certo para ele.
Manoel concordou:
-- Ele é uma pessoa muito legal. Merece que tudo dê certo pra ele. 
Nisso Flávio gritou para o amigo:
-- É isso aí, Marcos, dance a noite inteira. Por que a noite é uma criança!
Érica e Marcos, que até então estavam dançando, ao ouvirem os gritos de Flávio, caíram na risada. 
Feliz, o rapaz comentou com Érica:
-- Não liga não. O pessoal é meio maluco, mas no fundo, no fundo, todo mundo aqui, é muito gente boa.
Érica ao ouvir o comentário do rapaz, respondeu então que Flávio era engraçado, por isso riu. 
E assim, o baile prosseguiu. A certa altura da noite, tocou a seguinte canção:

‘Já nem lembro, o seu nome
Já nem sei, onde vou parar ...
Luz, estrada pó
O jipe amarelo ...
Manoel o audaz...

 Iremos deixar
Vamos aprender 
Vamos lá ...

E no ar livre, corpo livre
Aprendendo ou mais tentar...’
(Manoel o Audaz)

Flávio e Ricardo, brincando com Manoel, comentaram que esta música havia sido feita especialmente para ele, que além de muito intrépido, para ajudar, era loiro. Com isso, sempre que se tocava essa música, Manoel que se preparasse, por que lá vinham as gozações. 
Mas ao contrário do que se poderia imaginar, o rapaz não se incomodava nem um pouco com as brincadeiras. Porém, nem sempre foi assim. 
Na primeira vez que o Manoel ouviu a brincadeira, não gostou nada nada da piada. Isso por que, para ele ser comparado a um jipe, não tinha a menor graça. 
Contudo, conforme o tempo foi passando, Manoel foi percebendo de que nada adiantaria brigar por conta disso. Isso por que, seria brigar, e automaticamente, seus amigos atormentariam ele com essa gozação. Assim, o rapaz resolveu deixar de lado a provocação, e depois de algum tempo, começou a levar tudo na esportiva. Tudo por que, não queria se desavir com seus amigos. 
E assim ficou. O bom amigo Manoel, ficou sendo conhecido como ‘Manoel, o Audaz’. 
Marcelo percebendo que o amigo estava todo cheio de si, certa vez, chegou até a comentar:
-- O ‘Manoel Audaz’, tá se achando heim? 
Manoel ao ouvir isso, não ligou. Isso por que, com o passar o tempo, passou a gostar de ser comparado com o jipe da música, e também a ser chamado de ‘Manoel o Audaz’. Para ele, um raro privilégio.
Contudo, voltemos ao baile. O belo baile.
Nisso, a banda tocou a ‘Canção do Novo Mundo’, uma belíssima canção que foi gravada pelo mineiro Beto Guedes:

‘... Quem tomou o trem da história
Por querer ...
Quem perdeu o trem da história
Por querer
Saiu do juízo sem saber
Foi um covarde a se esconder 
Diante de um novo mundo ...

Como pode acontecer
Um simples canalha mata o rei
Em menos de um segundo

Ó! Minha estrela amiga
Por que você não fez 
A bala parar ...

Ali o vento amigo
Nem a força bruta 
Pode um sonho, apagar...’
(Canção do Novo Mundo – Bete Guedes)

Essa música, sempre tocou muito os amigos. Tudo em razão do fato de se tratar de uma singela homenagem a Jonh Lenon, que foi estupidamente assassinado por um fã, no início da década de oitenta. Assim, sempre que a música era tocava, os amigos se lembravam do motivo pelo qual a mesma havia sido produzida, e se emocionavam. 
A música, lindíssima, era realmente uma bela homenagem a um ídolo, o qual iguais a ele, nunca haverá. Nem igual, nem ao menos parecido. Uma pena realmente, uma morte tão estúpida!
Flávio, percebendo isso, tratou o logo de avisar a banda para não mais tocar aquela música. Ressaltando o clima de festividade, ao falar no microfone, o rapaz comentou que aquela era a primeira das inúmeras festas que ainda seriam realizadas durante aquele ano letivo, até o grand finale, que seria a derradeira festa, a festa de formatura. Assim, o momento era de alegria.
Os convivas, ao ouvirem as palavras do cicerone Flávio, ficaram ainda mais animados, e imbuídos no espírito de alegria da festa, trataram de aproveitar mais o baile. 
O rapaz, então, aproveitando a situação, pediu para a banda para tocar algo especial. Sim por que diante do anúncio, uma bela música deveria coroar suas palavras. 
E assim, conforme o combinado, a banda resolveu tocar:

‘Daqui ninguém mais ficará 
Depois do sol
No final será o que não sei
Mas será
Tudo de mais 
Nem o bem, nem o bem
Só o brilho calmo dessa luz

O Planeta Sonho será a Terra
A dissonância será bela
E lá no fim daquele mar
Os meus acórdes vão terminar
Não haverá
Outro som pelo ar...

Aqui também é bom lugar 
De se viver 
Bom lugar será 
O que não sei
Mas será

Algo a fazer bem melhor 
Que a canção,
Mais bonita que alguém lembrar

 A harmonia será bela
A dissonância será bela
E lá no fim daquele mar
Os meus acordes vão terminar

Não haverá
Outro som pelo ar...’
(Planeta Sonho – 14 Bis)

Diante disso, a festa prosseguiu, animada.
Manoel, Marcelo, Melissa e Fábio, ao ouvirem a música, trataram logo de aplaudir sua execução. 
Os convidados, vendo os quatro aplaudirem, também começaram a bater palmas, e o que era pra ser um gesto discreto, se tornou um dos grandes momentos da festa. 
Entretanto, conforme as horas foram se passando, foi se aproximando o momento do encerramento do baile. E assim, para coroar o encerramento da festa, a banda, a pedido dos organizadores, tocou ‘Rua Ramalhete’, canção muito conhecida na voz de Tavito:

‘Sem querer fui me lembrar
De uma rua e seus ramalhetes
Do amor anotado em bilhetes
Daquela tarde

No muro do Sacre Coeur
De uniforme e olhar de rapina 
Nossos bailes no Clube da Esquina
Quanta saudade ...

Muito prazer, 
Vamos dançar
Qu’eu vou falar no seu ouvido
Coisas que vão
Fazer você tremer dentro do vestido

Vamos deixar tudo rodar
E o som dos Beatles na vitrola
Será que algum dia 
Eles vem aí 
Cantar as canções 
Que a gente quer ouvir...’
(Rua Ramalhete – Tavito)

Esta foi a deixa para Marcos dançar ainda mais próximo de Érica. 
O rapaz, encantado com a moça, só queria ficar mais um pouco com ela. Porém, conforme os minutos se passavam, mais e mais distante ficava dela. Isso por que, a festa estava chegando ao fim, e apesar de terem dançado juntos durante boa parte da noite, o rapaz pouco sabia a respeito da moça. 
Mas o pouco que sabia era suficiente para ele. Isso por que, acreditava que com o passar do tempo, acabaria por conhecer melhor a moça. 
Não obstante a animação de Marcos em relação a Érica, a moça, sem nenhum motivo aparente, depois do término da execução da música, pediu para ele levá-la até o jardim do salão.
Nisso Marcos, mesmo sem entender bem o motivo do estranho pedido, atendeu a moça. Assim, conduziu-a até o jardim. 
Lá, Érica, preocupada, sentou-se em um dos inúmeros bancos que havia no jardim. Triste, ficou pensativa. Por alguns minutos, ficou calada, tendo por única distração, as magníficas esculturas do jardim. 
Contudo, foi só a banda tocar uma última música, para Érica se movimentar, e, abandonando sua letargia, pedir para o rapaz acompanhá-la em mais uma dança. A última segundo ela.
Marcos, aceitou o convite, e assim, enquanto tocava ‘Tanto Amar’, cantada por Ney Matogrosso, os dois dançaram abraçados:

‘Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela é bonita ...
Tem um olho que não está
Meus olhares evita
E o outro olho a me arregalar
Sua pepita ...

A metade do seu olhar
Tá chamando pra luta aflita
E metade quer madrugar
Na Bodeguita ...

Tem um olho sempre a boiar
Outro que agita...
... Já pensamos em nos casar
Em Puerto Rico ...’
(Tanto Amar – Ney Matogrosso)

Com isso, Érica, repentinamente, desvencilhou-se dos braços de Marcos, e saiu correndo salão adentro. 
Foi assim, sem nem ao menos se despedir, que a moça partiu. Porém, em razão da pressa que tivera, deixou no chão, um pequeno objeto, uma delicada rosa que adornara suas negras madeixas.
Marcos, ao se ver sozinho no jardim, pensou em ir atrás dela. Contudo, ao perceber que ela deixara cair um mimoso pertence, se deteve por um instante. Abaixou-se e pegou o delicado mimo. Com isso ao segurar a rosa nas mãos, deu-se conta de que talvez não a encontrasse mais no salão. 
Todavia, desejoso de saber como fazer para encontrar a moça, Marcos foi logo perguntando a Melissa, se ela havia visto Érica, passar por ela. 
Melissa, ao ouvir a pergunta, respondeu o seguinte:
-- Olha Marcos, muito estranha essa garota. Primeiro se enturma com a gente, depois sai correndo do nada, atravessa o salão e nem cumprimenta a gente? Muito estranho. A menos que vocês tenham brigado... Foi isso o que aconteceu? 
Marcos, então balançou negativamente a cabeça. 
Melissa não entendeu nada.
Marcos explicou-lhe então, que também não sabia o que estava acontecendo. Porém, desconfiado de que poderia ser que ela estivesse se escondendo de alguém, Marcos prometeu que iria tentar descobrir o que havia acontecido.
Melissa, que havia estranhado o comportamento da moça, comentou com o amigo, que ele deveria ter cuidado para não se meter em encrenca.
Marcos, percebendo a apreensão da amiga, prometeu que não envolveria em nenhuma confusão.
Melissa porém, desconfiada, comentou:
-- Olha lá, heim? Eu não quero ver você arrasado de novo.
-- Prometo. Eu não vou me envolver com ela sem ter a certeza de que ela é a pessoa certa. Está bem?
Melissa concordou. Nisso, ao perceber o adiantado da hora, a moça comentou que já era hora de estar em casa, dormindo o sono dos justos. 
Marcos concordou. Afinal de contas, a essa altura, até a banda que tocara na festa já não estava mais no salão. Ademais, todos os convidados, já haviam voltado para suas casas, assim como Pedro, Marcelo, Manoel, Fábio, Ricardo e Flávio. 
Diante disso, os dois trataram de ir para suas casas. Felizes, estavam deveras satisfeitos com o sucesso da festa. 
Nisso, Marcos, ao chegar em casa, tratou logo de ir para seu quarto. Lá ligou o rádio, e ficou a ouvir o ‘Trem Azul’, na versão gravada pela inesquecível Elis Regina:
 
‘Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem as vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito por dizer
Na canção do vento, não se cansam de voar

Você pega o trem azul
O sol na cabeça
O sol pega o trem azul
Você na cabeça
O sol na cabeça ...’ 
(Trem Azul – Elis Regina)

Enquanto isso, o rapaz aproveitou para trocar de roupa. Assim, a bela farda – traje usado na festa – foi cuidadosamente pendurado num cabide e guardado dentro do armário. Após, o rapaz, quando estava se preparando para dormir, ouviu mais uma bela música:

‘Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos...
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou...

Juntos outra vez
Já sonhamos muito
Semeando as canções no vento...

Já choramos muito
Muitos se perderam
No caminho
Mesmo assim não inventar
Uma nova canção
Que venha trazer
Sol de primavera

Abrir a janela 
Do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender...’ 
(Sol de Primavera – Beto Guedes)

Por fim, quando já estava quase dormindo, ouviu ‘O mundo é um moinho’ – composição de Cartola –, na voz magnífica de Cazuza:

'... Ouça-me bem amor
Mal começaste 
A conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Em pouco tempo 
Não serás mais o que és...

Ouça-me bem amor
Preste atenção
O mundo é um moinho
Vai triturar seus sonhos
Tão mesquinhos
Vai reduzir suas ilusões a pó...

Abismo que cavaste
Com teus pés...’ 
( O Mundo é um Moinho – Cazuza )

Pronto, o noite estava coroada. 
Algumas das melhores músicas já compostas, foram tocadas naquele dia, especialmente para aqueles jovens. Tudo para que eles pudessem desfrutar da companhia uns dos outros, e perceber que a beleza de um grande evento, não se faz com uma bela decoração ou com muita gente. Um belo momento, se faz com pessoas e com acontecimentos inesquecíveis. Foi isso que se deu naquela linda festa. As canções só serviram para coroar de esplendor, o que por si só, já era magnífico. A amizade de todos aqueles jovens, que adoravam a companhia uns dos outros. 
Essa era a grande festa!
E infelizmente, era dessa grande festa que todos tinham que se despedir. 
Na segunda feira, quando se deu início a mais uma semana de aulas, não se falava em outra coisa na escola. 
Os estudantes, animados com o baile, não se cansavam de elogiar a iniciativa de toda aquela turminha do ‘Clube da Esquina’. Felizes, os participantes, comentavam que queriam convites para as próximas festas.
Com isso, quem não comprou os convites e não pôde participar, ao saber que a festa tinha sido tão boa, comentou com os organizadores do baile, que na próxima festa, todos os alunos tinham que estar presentes. 
Melissa, Manoel e Flávio, concordaram. E assim, os três jovens prometeram, que não se furtariam de convidar ninguém para a próxima festividade.
Com isso, enquanto as aulas, trabalhos e provas eram marcados, os oito jovens, aproveitavam para se reunirem todas as tardes na casa da árvore. Lá mesmo, no parque, estudavam juntos e planejavam a nova festa. 
E assim, percebendo eles, que não seria difícil vender ingressos para as próximas celebrações, começaram a pensar em uma nova festa. 
Animados, todos davam sugestões.
Marcos no entanto, a despeito da animação de seus amigos, não se cansava de lembrar de Érica. Sem entender por que ela havia saído intempestivamente do salão, tentou durante toda a manhã, encontrá-la na escola, inutilmente.
Melissa, percebendo o desânimo do amigo, comentou que ele não tinha ficar daquele jeito por causa de uma garota que ele mal conhecia.
Marcos contudo, dizia que não era simplesmente um sentimento de pesar. Sentindo que ela estava precisando de sua ajuda o rapaz comentou com Melissa, que não podia desistir de encontrá-la, ao menos para entender o que estava acontecendo. 
Melissa então respondeu-lhe, que quando desanuviassem seus pensamentos podia integrar o grupo e também sugerir idéias para o próximo baile.
Marcos, agradeceu a gentileza, mas não conversou com o grupo. Estava amuado. E ele, quando ficava assim, preferia ficar sozinho.
Assim o fez. Em dado momento, cansado de ficar na casa da árvore, Marcos desceu, e começou a caminhar pelo parque. 
A essa hora, a tarde já se ia e a noite, começava a dar os primeiros sinais de sua presença. Todavia, o colorido do final da tarde, atraía Marcos para um passeio, e apesar do frio que fazia, ele continuou a caminhar.
A beleza do lusco-fusco vespertino o encantava. Ver o sol em diversos tons se despedindo da tarde, deixava-o emocionado. Tanto que foi assim que ficou pensando, pensando, até chegar a uma conclusão. Se desejava tanto encontrar-se novamente com Érica, devia se empenhar mais em organizar a próxima festa. Quem sabe lá novamente aparecesse? Isso por que, não podia desistir, pois precisava continuar procurando-a. 
E assim, novamente motivado, o rapaz voltou para casa. No dia seguinte na escola, conversaria com os amigos, e participaria da organização da próxima festa. 
Dito e feito. No dia seguinte, na escola, conversando com os amigos, Marcos sugeriu que o baile se realizasse no mesmo salão. 
Ricardo, achando que talvez não coubesse todo mundo, sugeriu que a festa se realizasse ao ar livre.
Manoel e Fábio, ao ouvirem a sugestão de Ricardo, rejeitaram logo a idéia. Argumentando que caso chovesse, a festa acabava, acabaram convencendo-o a abandonar a idéia.
Melissa, ao perceber o impasse, concordou com Marcos. Sim, o baile poderia perfeitamente ser realizado no mesmo lugar. 
Contudo, o fato de que possivelmente haveria mais gente participando da festa, atrapalhava um pouco os planos.
A moça, então, pensando em uma solução, sugeriu o aluguel de um outro salão, que ficava ao lado daquele e que estava fechado.
Pedro, Marcelo e Manoel, ao ouvirem a sugestão de Melissa, comentaram que não sabiam quem era o dono do imóvel.
Ricardo então, comentando que conhecia o dono, prometeu que conversaria com ele o mais rápido possível para acertar tudo.
Enquanto isso, a turma continuou se reunindo para discutir detalhes da festa, estudar, fazer os trabalhos e também para conversar.
É, o ano estava sendo bastante movimentado para eles. 
Certa vez, Ricardo e Flávio, comentando que nunca tiveram tanto o que fazer, alegaram que ainda assim, sentiriam saudades daquelas tardes. 
Isso por que, conforme os meses se sucediam, mais o fim do ano se aproximava. Enfim, estava se aproximando o momento da despedida. 
Marcos, Melissa, Manoel, Marcelo, Fábio, Flávio, Pedro e Ricardo, ao se darem conta disso, ficavam pesarosos. 
Mal sabiam eles, que o melhor de tudo, ainda estava por vir.
Isso por que, Ricardo, ao conseguir convencer o dono do imóvel a alugar o espaço para uma festa, foi logo chamando os amigos para conhecerem o lugar.
Marcos, foi quem abriu as portas do imóvel e chamou todos para entrar. 
Ao entrar, qual não foi a surpresa de todos ao descobrirem que o imóvel precisava de reparos. 
Decepcionados, os jovens quase desistiram de fazer a festa lá. 
Pedro no entanto, ao perceber que tudo poderia ir por água abaixo, sugeriu eles cuidassem das instalações do lugar.
Manoel ficou espantando. Dizendo que não era eletricista nem pintor, comentou que mesmo que quisesse, não saberia o que fazer para transformar aquele ambiente em um lugar adequado para se organizar uma festa. Ademais, a responsabilidade pela conservação do imóvel, cabia ao dono da propriedade e não a eles.
Melissa, ao ouvir as palavras de Manoel, concordou com ele.
Ricardo então, percebendo a dificuldade, sugeriu aos amigos conversar com o dono e propor a ele, que fizesse os reparos necessários. Com isso, ele faria jus a uma percentagem no valor dos convites.
Ao obter o consentimento de todos os membros do ‘Clube da Esquina’, o rapaz então foi conversar com o dono do imóvel.
Nisso, o proprietário, ao ouvir a oferta, resistiu um pouco. Mas, ao perceber que se não fizesse os reparos necessários, não alugaria o imóvel, acabou concordando em arcar com os gastos desde que recebesse o combinado.
Por conta desse percalço, levou meses para que o salão ficasse pronto para a festa. 
Enquanto isso, os garotos faziam provas, estudavam, redigiam trabalhos e prosseguiam em suas tardes no parque, muitas vezes admirando o belo pôr-do-sol que fazia lá. 
Foi assim que finalmente Marcos encontrou Érica. 
Depois de vários meses procurando-a pelos corredores da escola, finalmente o rapaz a encontrou indo para sua sala. Feliz, Marcos foi logo puxando conversa com a moça. 
Érica no entanto, não foi nada cortês com ele. Dizendo que estava com pressa, pediu insistentemente para deixá-la ir. 
Contudo, mesmo diante dos protestos da moça, Marcos continuou insistindo em conversar com ela. Dizendo que não sairia dali enquanto ela não prometesse falar com ele, o rapaz acabou convencendo-a a ir à tarde até o parque.
Após, Érica adentrou a sala de aula.
Com isso, na hora combinada, lá estava ele, aguardando Érica. Ansioso, Marcos acabou chegando quase uma hora antes do combinado.
Érica contudo, não foi nem um pouco pontual. Diante disso, somente meia-hora depois do combinado, é que ela finalmente conseguiu chegar no parque. 
Marcos ao vê-la, ficou extremamente feliz. Tão feliz que chegou até a comentar:
-- Que bom! Alvissaras! Pensei que não viesse mais.
A moça se desculpou. Constrangida com o atraso, comentou que não fora nada fácil driblar a vigilância de seu pai, para que pudesse sair. 
Marcos, notando um pouco de apreensão no semblante da moça, perguntou-lhe por que ela havia fugido dele durante o baile, e por que o evitara durante todo esse tempo. 
Ao ouvir as perguntas, Érica respondeu  que não queria tocar no assunto. 
Contudo, Marcos insistia em dizer que tinha direito a uma explicação. 
Assim, diante das circunstâncias, a moça encheu-se de coragem e começou a contar o que tinha se sucedido. 
Alegando que uma pessoa a estava seguindo, Érica explicou que precisou sair do baile por que estava com medo de que esta se aproximasse, e causasse confusão. 
Marcos não entendeu nada.
Érica contou então, que há algum tempo atrás, havia namorado um rapaz. No entanto, o namoro não deu certo. Em razão do comportamento do rapaz, ela acabou se aborrecendo com ele e terminou o namoro. 
O rapaz no entanto, não aceitou tranqüilamente o rompimento. Dizendo que cabia a ele tomar a iniciativa do rompimento, comentou que ela ainda iria se arrepender por isto. 
E a partir de então, este se tornou uma sombra em sua vida. Em todos os lugares que ela ía, lá estava ele a cercando. Ela já não sabia mais o que fazer. 
Isso por que, durante o baile, o mesmo não parava de olhar para ela. Por esta razão, resolvera ficar no jardim. Lá ela conseguiu ficar um pouco sossegada.
Nisso, Marcos comentou:
-- Foi no jardim que nós nos conhecemos.
Érica explicou então:
-- Sim. Dançamos a noite inteira. Foi muito bom.
-- Mas se você gostou da minha companhia, por que não pediu minha ajuda?
A moça respondeu:
-- Por que eu tinha quase certeza de que se você interviesse para me ajudar, acabaria acontecendo uma confusão e isso estragaria a festa.
-- Eu entendo. Mas tem uma coisa. A festa estava praticamente acabando. Quase não havia mais gente no salão. – retrucou.
-- Eu sei. Mas mesmo assim, se vocês brigassem, mesmo não tendo quase ninguém na festa, no dia seguinte, todos saberiam do ocorrido. Com isso, a festa deixaria de ser o assunto principal, e a briga seria alvo de comentários. O que prejudicaria vocês, que cuidaram de tudo com tanto esmero.
Marcos então, mesmo aceitando as explicações da moça, não conseguia entender por que ela o evitava. Mesmo sabendo de sua história mal resolvida com o ex-namorado, Marcos não conseguia entender o por que de sua atitude. 
Érica então completou:
-- Olha, Marcos, eu sei que é difícil acreditar em tudo o que eu estou falando. Mas creia, é a mais profunda verdade. Eu ainda não consegui me livrar dele, e enquanto ele estiver na minha cola, eu não quero envolver mais ninguém nessa confusão.
Marcos, ao ver o ar de preocupação de Érica, perguntou-lhe se ele a havia ameaçado. Érica, ao ouvir isso, ficou bastante nervosa. 
Marcos percebendo isso, perguntou-lhe novamente se ele a havia ameaçado. 
Érica, ao ser inquirida novamente, respondeu:
-- Nã... nã... não. – respondeu titubeando.
Marcos porém, não se convenceu da resposta.
Conversando longamente com a moça, Marcos pediu reiteradas vezes, para que ela deixasse de ter medo do ex-namorado e passasse a ter mais confiança nele. Dizendo que ela não tinha do que ter medo, Marcos prometeu que sempre estaria presente, quando ela precisasse.
Érica ao ouvir isso, começou a rir gostosamente.
O rapaz, percebendo isso, passou a dizer, em tom de brincadeira:
-- Do que você está rindo? Não está vendo minha capa de cavaleiro andante? Pois saiba que eu sou um nobre príncipe, que está há muito tempo em busca de uma princesa. E em busca de uma mulher que transforme minha vida, atravessei vales e montanhas. Tudo em busca dessa pessoa radiosa.
Érica não se cansava de rir. 
Marcos, percebendo isso, respondeu que desde que a conhecera, percebeu que ela era a pessoa certa para ele, e que sendo assim, se nada os impedia de ficarem juntos. Se ela era livre e desimpedida, não seria um ex-namorado que iria atrapalhá-los. Comentou.
Érica, ao ouvir as palavras confiantes de Marcos, sentindo-se insegura ainda, comentou que não queria criar nenhuma confusão. 
O rapaz disse a ela para que deixasse de bobagem. 
E assim, os dois começaram a namorar. Felizes, os dois desfilavam pela escola inteira juntos.
Quem não gostou nada disso, foi o referido ex, que sem se conformar com o término do namoro, não se cansava de persegui-la. Certa vez, chegou ao cúmulo de dizer, que se ela voltasse para ele, nunca mais teria motivos para terminar o namoro novamente. 
Érica no entanto, dizendo que estava muito bem com seu novo namorado, comentou que não estava nem um pouco interessada nisso.
O rapaz, ao ouvir isso, se irritou. Segurando-a pelo braço, ameaçou dizendo que ela tinha que voltar a namorá-lo. 
Pedro, amigo de Marcos, vendo que a moça precisava de ajuda, foi se aproximando. O rapaz, percebendo isso, tratou logo de sair dali.
Pedro, revoltado, comentou com a moça:
-- Mas é um belo de um covarde! Na hora em que está diante de você, é um valentão. Na hora de enfrentar um homem, foge como um rato.
Irritado, Pedro chegou a comentar com a moça, que contaria ao amigo o que estava acontecendo. 
Érica, ao perceber isso, fez de tudo para demovê-lo da idéia, mas ele, argumentando que precisava contar ao amigo o que estava acontecendo, comentou que não podia esconder dele, algo tão grave.
A moça então, percebendo que seria inevitável Marcos vir a saber do incidente, pediu a Pedro, que tivesse tato no momento em que fosse tocar no assunto. 
Pedro então, prometeu a Érica, que teria cuidado em revelar o ocorrido. 
Assim o fez. 
Mesmo assim, Marcos, ao saber do ocorrido, ficou profundamente irritado. 
Pedro, percebendo isso, comentou que o sujeitinho merecia uma lição. 
Marcos concordou.
Com isso, os dois prometeram que na primeira oportunidade que tivessem, chamariam o ex-namorado de Érica as falas. 
Nisso, quando o rapaz foi se aproximar da moça, certa vez, sem que ela percebesse, Marcos, o chamou. Dizendo que precisava conversar com ele, foi logo puxando-o pelo braço até sair do campo de visão de Érica, que a esta hora, entrava na sala de aula.
Contudo, enquanto Marcos o arrastava para longe da escola, o rapaz tentava sair de fininho. Marcos percebendo isso, o segurava com mais força. E assim só o soltou quanto os dois chegaram no local combinado. Nisso o rapaz tentou ir embora. Mas ao tentar sair, deu de cara com Pedro.
O percebendo isso, o rapaz constatou, que Marcos queria acertar as contas com ele.
Dito e feito. Marcos e Pedro então, trataram logo de lhe dar um susto. Dizendo que estavam de olho nele, prometeram que da próxima vez que o pegassem azucrinando a paciência de Érica, arrebentariam ele de pancada.
Depois disso, o sujeito nunca mais foi aborrecer a moça.
Assim, com tudo entrando nos eixos, foi se aproximando o momento do baile de formatura. 
Com o imóvel pronto, com o salão alugado, comes e bebes providenciados, banda contratada, só faltava escolher o tema da festa.
Ademais, como o fim de ano se aproximava, a turma resolveu esperar o término das aulas, para finalmente dar a festa.
Enquanto isso, todo mundo cobrava a festa. Eles por sua vez, diziam que o baile agora, era de formatura.
Diante disso, pais e professores foram convidados. Os familiares também. 
Com isso, a festa tornou-se grandiosa. 
Cheios de expectativa, os alunos que não participaram do primeiro baile, trataram logo de comprar os convites, que foram vendidos meses antes da festa.
Nisso, uma semana antes do baile, foi feito um coquetel, para acalmar um pouco os alunos impacientes – ansiosos com o baile –, e realizar as cerimônias de praxe. 
No coquetel, os estudantes conversaram, bebericaram  e se divertiram. 
Foi nesse evento que os amigos, já formados, foram pegar seus diplomas de conclusão de curso. 
Muitos pais, orgulhosos de seus filhos, não paravam de tirar fotos dos mesmos indo até o palco buscarem seus diplomas.
Durante cerimônia de colação de grau, todos estavam usando suas becas e seus chapéus.
No momento em que os professores desejaram a todos que se divertissem no baile, os parabenizando por terem terminado o colegial, os estudantes pegaram seus chapéus e os lançaram para o ar. 
Depois, aplaudindo o discurso, deram encerramento a cerimônia de colação de grau.
A seguir, tirando suas becas, os estudantes foram se esbaldar com o coquetel.
Contudo, o coquetel não era um baile. Diante disso, quando finalmente o grande momento chegou, estavam todos animados.
Ao adentrarem o salão, os oito integrantes do ‘Clube da Esquina’, foram aplaudidos de pé, por todos os convidados da festa, que já estavam presentes. 
Emocionados, os jovens agradeceram e mais do que depressa deram início a festa. 
Quando começou a tocar ‘Quando Te Vi’, entoada na voz de Beto Guedes, Marcos foi logo convidando Érica para dançar com ele.
A moça, relutou um pouco, mais depois, acabou aceitando o convite para dançar. E assim:

‘Nem o sol, nem o mar
Nem o brilho das estrelas
Tudo isso não tem valor
Sem ter você

Sem você 
Nem o som 
Da mais linda melodia
Nem os versos dessa canção
Irão valer

Nem o perfume
De todas as rosas 
É igual
A doce presença
Do seu amor... 
Quando te vi.’ 
(Quando Te Vi – Bete Guedes)

Melissa dançando com o seu par, não ficou nem um minuto parada.
Pedro, Marcelo, Manoel, Fábio, Ricardo e Flávio, que também não eram bobos, trataram logo de arranjar alguém para dançar.
A noite foi dos casais. 
Por isso mesmo, era um tal de dançar coladinho que marcou para sempre aquela festa. 
Embalados com as músicas e sequiosos de dançarem com seus pares, boa parte dos alunos, dançou a noite inteira.

‘Ó meu grande bem
Só vejo pistas falsas
Muda seu véu

Cada estrada aberta
Me tem mais fechado em mim...

Peço o luar, ao mesmo tempo
Luz e mistério 
Como encontrar
A chave desse teu riso sério...’
(Beto Guedes)

Enfim, um grande momento na vida de todos aqueles jovens.
O baile foi realmente, um evento inesquecível.
Durante muito tempo, aquelas moças e rapazes se lembrariam com prazer dos risos, do som, do sabor dos comes e bebes e até da roupa dos parceiros, naquele imenso salão de dança que fora o baile.
O baile de suas vidas.
Antes porém, de cada um seguir com sua vida em uma cidade diferente, Ricardo, Flávio, Fábio, Manoel, Marcelo, Pedro, Melissa, Marcos, e agora Érica, foram se encontrar no parque. Desejando se despedir antes de partirem, os nove amigos foram se encontrar, no grande lugar onde se desenrolara boa parte de suas vidas.
Os jovens, estavam tão tristes por saberem que aquele era seu último momento juntos, que desejavam aproveitá-lo mesmo envolto em muita tristeza.
Nessa aura de tristeza e de saudade antecipada é que os amigos se despediram.
Nisso, um carro de propaganda passou dentro do parque. Tocando ‘Canção da América’, os jovens ouviram atentamente a música:

‘Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção
Que na América ouvi

Mas quem cantava chorou 
Ao ver seu amigo partir
Mas o que ficou 
O pensamento voou
Com a lembrança 
Que o outro cantou

Amigo é coisa pra se guardar
Do lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo 
E a distância 
Digam não
Mesmo esquecendo a canção

E o que importa 
É ouvir a voz 
Que vem do coração
Seja o que quiser
Venha o que vier
Qualquer dia amigo 
Eu volto a te encontrar
Qualquer amigo a gente
Vai se encontrar...’
(Milton Nascimento – Canção da América)

Emocionados, ao terminarem de ouvir a música, os jovens não conseguiam se afastar uns dos outros.
Mas infelizmente tinham que fazê-lo. Era chegado o momento da partida. E assim, cada um seguiu para um lado. 
Todos construíram suas vidas em diferentes lugares.
Seus pais, permaneceram na cidade. Mas eles, muitos deles. Nunca mais voltaram.
Contudo, nenhum deles se esqueceu dos amigos que por lá deixou.
E hoje, mesmo com suas vidas construídas em outros lugares, a maioria, casada e com filhos, ainda guarda as vívidas lembranças do baile, que perfumado de rosas, ainda exala o doce perfume de suas vidas, em suas mais cálidas lembranças. Em suas tristezas. Em suas saudades.
Saudades de um tempo que passou e não volta mais.
Agora as músicas que tocam em seus corações são outras.
Mesmo assim, eles guardam com alegria os doces momentos da juventude:

‘...Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda a vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão

Ele fala de coisas bonitas
Que eu acredito 
Que não deixaram de existir
Amizade, bondade, coragem
Alegria e amor

Pois não aceitar ...
Essa gente
Insiste em viver ....
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem 
Ser coisa normal

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente 
Lá no meu quintal
Toda a vez que a tristeza 
Me alcança o menino 
Me dá a mão...

Bola de meia, bola de gude
O solitário não quer solidão 
Toda vez  que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão...’
(Bola de meia, bola de gude)

É assim que todos se lembram com carinho, dos tempos de estudante.

‘Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania ...

Por que se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem

Em meio a tantos gases lacrimogêneos
Ficam calmos, calmos
E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
E basta conta consigo
Que a chama não tem pavio

De tudo se faz canção
E o coração
Na curva de um rio
E lá se vai mais um dia

Um rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio

Esquina de um milhão
Quero ver a gente, gente, gente
E lá se vai mais um dia
(Clube da Esquina 2  –  Flávio Venturini)

E assim termina nossa história. 
A história de amor e amizade de um grupo de jovens, que soube viver esse sentimento em toda sua plenitude. E em todo o seu esplendor.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria. 

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