Poesias

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 5

Conforme os dias foram se seguindo, os sonhos de Ticiano iam se tornando agora, menos freqüentes. Depois de tantas noites dormindo mal, passara agora a dormir normalmente, sem sobressaltos.
Foi nesse ínterim que Tício resolveu que, quando juntasse uma boa quantia em dinheiro, sairia da fazenda e viveria em outro lugar. Isso por que sentiu que precisava mudar sua vida de alguma forma. Necessitava partir em busca de algo que se perdera e do qual não esqueceu o valor.
Mas ainda teria que trabalhar na fazenda por mais algum tempo, até arrumar um bom dinheiro e planejar o que iria fazer quando de lá saísse.
Por essa razão trabalhou ainda mais algum tempo na fazenda.
Mas, esqueçamos o trabalho pelo menos por alguns instantes. 
Isso por que, em comemoração ao bom resultado nas vendas de seus animais, José planejava cuidadosamente uma festa. 
Festa essa da qual participariam todos os fazendeiros da região com suas respectivas famílias. 
De acordo com as palavras do simplório Juvenal, lugar onde os peões, não poderiam colocar os pés, que dirá participar. 
No entanto, para espanto de todos, José, o fazendeiro para o qual trabalhavam, cuidadosamente preparou uma espécie de festa a parte para eles. Para que assim, todos pudessem comemorar o resultado do trabalho. 
Em razão disto, todos ficaram extremamente agradecidos ao fazendeiro, e passaram a considerá-lo ainda mais digno de suas estimas.
Ticiano, em virtude dos recentes problemas pelos quais passou, não queria, de forma alguma, participar da festa. Não estava inclinado a aceitar o convite de José.
No entanto, quando a negativa de Ticiano chegou aos ouvidos do fazendeiro, este tratou então, de imediatamente chamá-lo, por meio dos amigos do rapaz, para participar da festa. 
Mesmo assim, Ticiano resistiu. Só foi aceitar o convite quando, o fazendeiro apareceu em sua casa e intimou-o pessoalmente a comparecer a festa, sob pena de aborrecê-lo tal recusa. 
Foi nessa oportunidade que o fazendeiro, ficou sabendo por meio dos amigos do rapaz, que ele estivera um pouco adoentado e que estava se recuperando.
Ao saber disso José indagou o rapaz a respeito do assunto.
Ticiano, respondeu então, que não estivera doente, e que tampouco estava convalescendo. Com isso, perguntou ao patrão:
-- Como foi que o senhor tomou conhecimento disso?
-- Seus amigos me contaram. – respondeu sem rodeios.
-- Já devia saber.
-- Mas, não se aborreça com eles não. Eles estavam preocupados com você.
-- Mas eles não deviam aborrecer o senhor com isto. Não era nada grave. 
-- No entanto, se isso acontecer novamente ... Se vosmecê rapaz, estiver com algum problema me avise. Não haverá problema nenhum se precisar faltar algum dia. Vosmecê e seus amigos, não são meus escravos. E mesmo que o fossem, estando doente, trataria de dispensá-los do labor. Não sou um tirano. 
-- Eu sei. Só não queria incomodá-lo. Não era nada sério.
-- Não me incomoda. Vagabundagem sim.
Disse isso, e despedindo-se de Ticiano saiu. 
Ao sair, lembrou-se de quando ele havia chegado e de como ele era diferente dos outros peões. A primeira vista, não, pois estava sujo e maltrapilho. Mas depois limpo e adequadamente vestido, parecia outra pessoa.  
Por isso mesmo, ao conhecer um pouco de sua história, José se solidarizou com o rapaz. Quis ajudá-lo. 
Ticiano parecia tão triste e sozinho. Sem rumo, desesperançado. 
Pouco a pouco, José foi descobrindo que ele era um rapaz esforçado, dedicado, inteligente. Muitas vezes, chegou a se perguntar se aquele jovem, era realmente o que parecia. 
Isso por que, até mesmo sua aparência destoava dos outros jovens, filhos de camponeses. Ticiano possuía feições suaves, seu porte era altivo, seu modo de falar era mais polido.
Catarina, sua esposa, já comentara o assunto. Vestido como Tiago, facilmente o teriam como filho de fazendeiro.
Pensando nisso, José arquitetou um plano. Queria vestir uma antiga roupa sua em Ticiano, para ver como ficava. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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