A mulher, ao contar a Benedita, o que estava acontecendo, ouviu da amiga, o seguinte:
-- Minha cara. Mas o que você esperava? Afinal de contas não foi você mesma que disse que Angela adotou a menina? Você realmente achou em algum momento, que ao tomar essa atitude, ela iria revelar sua existência à Cláudia?
Laura, respondeu então, que não. Porém, acreditava que ao ser apresentada para a menina, as coisas mudariam de figura. Talvez a garota passasse a gostar dela, e aí as coisas se tornariam mais fáceis. Isso por que, ela tinha um emprego estável, uma casa montada e uma vida organizada. Enfim, tudo o que acreditava ser necessário para cuidar de uma criança.
Mas não era bem assim.
Depois do encontro inesperado com Laura no parque, Angela nunca mais levou Cláudia para lá. Ressabiada, não queria correr o risco de encontrar novamente com a irmã. Isso por que Angela, temia que mais cedo ou mais tarde, Laura pusesse a boca no mundo, e contasse a menina que ela não era sua verdadeira mãe.
Com isso, toda vez que Laura ia ao parque, nada de encontrar as duas. Ao perceber isso, tentou diversas vezes ir ao apartamento da irmã. Contudo sem lograr êxito em seu intento.
Decepcionada e preocupada, Laura não sabia mais o que fazer para se aproximar da filha. Isso por que, cada minuto que ela continuava longe da menina, só contribuía para afastá-las ainda mais.
Mas Laura era obstinada. E assim, durante muito tempo, tentando se aproximar da Cláudia, ficou a fazer plantão próxima do prédio, sempre aguardando uma oportunidade de se aproximar e dizer a ela que era sua mãe.
Mas nunca conseguia, pois Angela, ressabiada, sempre que precisava sair com a garota, não desgrudava nem um minuto dela. Era um inferno. Na única vez que Laura conseguiu conversar um pouco com a menina, Angela surgiu furiosa, dizendo que se ela se aproximasse de novo de Cláudia, a mandaria direto para a cadeia.
Cláudia, ao ouvir isso, ficou assustada. Perguntando a Angela se Laura havia sido presa, a mulher disse que sim.
Angela então, percebendo o temor da garota, aconselhou-a então, a entrar no prédio e aguardá-la na entrada.
Cláudia atendeu prontamente o pedido de Angela.
E estando a sós com a irmã, Angela advertiu Laura que ela estava pisando em terreno perigoso. Se não tomasse cuidado, poderia voltar o quanto antes para a prisão.
Laura então comentou que não tinha como ela voltar para a prisão.
Angela contudo, ameaçando-a, disse que tinha conhecidos na polícia e que com apenas um telefonema, podia mudar toda sua situação.
Laura ao ouvir isso, não se intimidou nem um pouco.
Angela, então, comentou que conhecia sua situação.
Laura ao ouvir a irmã falando que sua liberdade era condicional, ficou deveras preocupada. Sim, por que se Angela sabia daquele detalhe, era por que devia amigos da polícia como ela mesma havia dito. Percebendo que Angela estava controlando a situação, Laura perguntou-lhe então, o que ela queria.
Angela respondeu:
-- Quero que você se afaste de Cláudia. Durante todos esses anos, a menina nunca precisou de você. Por que justamente agora precisaria?
Laura tentou argumentar. Mas que argumentos tinha? Nem mesmo tinha poder sobre sua filha, já que quem tinha a guarda e poder sobre ela era Angela. Diante disso só restou a moça, aceitar a imposição da irmã e ir embora.
Com isso, temendo as ameaças da irmã, durante algum tempo Laura não chegou nem perto do prédio onde as duas moravam.
Contudo, cansada de ameaças, quando finalmente tomou coragem para voltar a olhar a menina de longe – após algum tempo –, Laura descobriu que as duas haviam se mudado dali. Ao inquirir o porteiro para saber onde as duas estavam, o mesmo respondeu que não fazia menor idéia.
Laura então, ao descobrir que poderia nunca mais colocar seus olhos sobre sua filha, entrou em desespero. Acreditando que havia perdido definitivamente qualquer possibilidade de ter sua filha de volta, começou a chorar no ombro de Benê, sua fiel amiga.
E, tentando consolá-la, Benê começou a dizer que nem tudo estava perdido. Certamente ela acabaria encontrando-as.
Mas Laura não acreditava nisso. Temendo que nunca mais as encontrasse, a mulher ficou por dias a fio, triste e acabrunhada. Não havia o que a fazia se esquecer disso.
Porém, como não podia mais contar com isso, Laura, percebeu que não podia ficar o tempo todo se lamentando. Como tinha que cuidar de sua vida, ela passou a dedicar-se exclusivamente ao trabalho.
Benê, percebendo isso, alertou a amiga. Dizendo que ela não podia fazer do seu trabalho sua única fonte de motivação, comentou com ela que as duas eram ainda muito novas para se enterrarem numa vida sem lazer nem diversão.
Laura, ao ouvir as palavras da amiga, comentou:
-- Quem te viu e quem vê. Quem te conheceu há dez anos atrás, jamais pensaria que um dia você gostaria tanto da noite.
Benedita contou então a amiga, que desde que passara a acompanhá-la em suas agitações noturnas, passou a se interessar cada vez mais pela noite. Assim, mesmo depois de ter cortado relações com ela, Benedita passou a aproveitar cada vez mais a noite.
Laura ficou surpresa ao ouvir isso.
Porém, uma coisa Laura tinha que admitir. Desde que voltou a conversar com a amiga, Benê estava muito diferente. Mais vaidosa, estava mais bonita e até mais afável.
Compreensiva, ao se deparar com Laura e ao tomar conhecimento de sua situação, prontamente a recebeu em sua casa. Atenta, ouviu tudo o que ela tinha a dizer. Percebendo então, que não estivera presente no momento em que Laura mais precisou dela, Benê se sentiu muito culpada.
Laura percebendo isso, comentou que ela não tinha nada que se sentir culpada. Como sempre dissera, Rafael não era uma boa pessoa e só ela não via isso. Até Angela não simpatizara com o rapaz. Sem nem mesmo conhecê-lo, Angela já o abominava. Além disso, ela nunca contou a amiga o que verdadeiramente se passava.
Benedita então, argumentou:
-- Mas eu também não dei nenhuma possibilidade de aproximação. Depois do que eu te disse, você não tinha nem como se aproximar.
Laura então comentou, que sabia que o que ela havia dito, tinha sido da boca para fora.
Benedita então respondeu, que se ela a tivesse ajudado, não precisaria estar passando por tudo o que estava passando.
Laura, ao ouvir as palavras da amiga, caiu no choro. Ao se lembrar da filha, ficou deveras triste. Mesmo já se conformando com o fato de que havia perdido Cláudia para sempre, toda vez que se lembrava que a menina estava longe, esse fato lhe causava um profundo pesar.
Benedita, então, vendo a tristeza da amiga, fazia de tudo para consolá-la. Levava-a para passear, apresentava-a a seus amigos, sugeria que ela voltasse a estudar. Tudo com vistas a fazer com que ela se interessasse de novo pela vida.
Mas nada.
Foi só quando surgiu a Era Disco, que Benedita, animada com a novidade, insistindo para que a amiga fosse com ela pelo menos uma vez para ver como era uma discoteca, é que Laura, cansada de dizer sempre não a amiga, acabou saindo com ela.
Usando calça boca-de-sino, sandália plataforma, e uma blusa colorida, Laura se encantou com as músicas e com as luzes coloridas. Deslumbrada com o cenário, tratou logo de aprender alguns passos da nova dança.
Ao final da noite, animada com a novidade, Laura prometeu a amiga, que sairia mais vezes. Encantada com tudo, Laura aprendeu mais do que depressa, a dançar aquelas músicas. Benê, percebendo o empenho da amiga, chegou até a elogiá-la.
Feliz por ver a amiga bem de novo, Benedita não cabia em si de contente. Para ajudar, havia arrumado um namorado, o qual já vinha falando em casamento.
Laura, ao saber disso, ficou feliz. Feliz por a amiga ter finalmente encontrado alguém que a merecesse.
Benê, animada, comentou com Laura, que ela também encontraria alguém.
Nesse tempo, Cláudia, já mais crescida, era agora uma mocinha. Com quatorze anos, fazia parte de um grupo. Rebelde como toda adolescente, ao saber da nova moda, começou a insistir com Angela para ir dançar a noite. Mas Angela, resistia a novidade.
Cláudia, percebendo então, que não seria nada fácil convencer a sua mãe a deixá-la sair a noite, resolveu combinar com sua turma, para irem todos juntos. Acreditando que assim ela não teria como vetar sua saída, a garota empenhou-se para conseguir a adesão de todos. E assim, ao conseguir mobilizar todos os seus colegas, contou a Angela, que ela não iria sozinha.
Angela então, comentou que esse não era o problema.
Cláudia então lhe perguntou, qual era a questão.
Foi aí que Angela lhe explicou que nesses lugares, só entram pessoas maiores de idade.
Cláudia, ao ouvir isso, respondeu a mãe, que ao contrário do que ela pensava, havia horários para que pessoas como ela freqüentassem as discotecas.
Angela ficou desconfiada.
Cláudia então explicou, que um dos donos dessas discotecas, era pai de um de seus colegas. Assim, se eles conseguissem formar uma grande turma, eles poderiam arrumar um horário e ter o lugar só para eles.
Angela, ao ouvir as explicações da menina, não muito convencida disso, resolveu telefonar para o tal pai do amigo. Ao fazer a ligação, a mulher acabou descobrindo que aquilo tudo era verdade. Diante disso, Angela não tinha mais como discordar. E assim, acabou concordando, e deixando a menina sair à noite.
Foi assim que Cláudia e seus amigos, se esbaldaram em uma discoteca. Animados, dançaram até a manhã. Só saíram do local, por que foram convidados a se retirarem. Animados, combinaram diversas vezes fazer isso.
E assim, Cláudia começou a dançar dance. Ficou tão boa nisso, que chegava até a ensinar para seus amigos mais desajeitados.
Como freqüentadora assídua, Cláudia passou a ser alvo de alguns olhares. Mas a moça, distraída que era, nem sequer percebia.
Laura, que também passou a freqüentar com uma certa freqüência esses lugares, ao ver aquela menina dançando tão bem quanto ela, chegou a ficar impressionada. Perguntando aos amigos da garota, quem era aquela menina e o que ela estava fazendo lá, Laura descobriu que ela se chamava Cláudia.
Ao ouvir o nome, Laura ficou surpresa. Contudo, mesmo acreditando se tratar de uma simples coincidência, ainda assim, resolveu conhecer a história até o final. Foi assim que ela ficou sabendo que a menina de vez em quando, era convidada juntamente com seus amigos, pelo dono do estabelecimento, a ficar por ali a noite. Sob os cuidados dos seguranças, os menores não podiam tomar bebidas alcoólicas, nem aceitar drogas.
Laura, ao saber do trato que o dono da discoteca fizera com os menores, ficou tranqüila. Isso por que, apesar de saber que aquele ambiente era extremamente pernicioso para pessoas tão jovens, descobriu que estas estavam sendo observadas com atenção.
Foi assim que os amigos de Laura, conheceram Cláudia. Estes ao saberem que ela havia aprendido a dançar sozinha, comentaram com Laura que a menina era muito dedicada.
No tocante a isso, Laura ficou intrigada. Como eles sabiam tanto sobre a garota?
Foi aí que ela descobriu que como boa dançarina, a moça acabou atraindo a atenção de muita gente. Exatamente por isso, seus amigos descobriram tanto sobre a moça. Perguntando aos amigos da garota sobre ela, descobriram esses detalhes. Além disso, a própria Cláudia já havia conversado com eles.
Laura, curiosa, resolveu então também se aproximar da moça.
Assim, como quem não queria nada, ao ver Cláudia um breve instante sozinha, Laura resolveu conversar com ela.
Nisso Cláudia, foi extremamente receptiva com ela. Sem se lembrar do episódio do parque e do prédio, a moça conversou abertamente com Laura. Dizendo que adorava dançar, contou que antes mesmo de poder freqüentar um lugar daqueles, já havia aprendido a dançar. Tudo para não fazer feio na pista de dança. Além disso, adorava os filmes de Jonh Travolta. Ver o ator deslizando nas pistas com aquela habilidade, era espetacular.
Cláudia, também revelou, que não foi nada fácil convencer a mãe, de que poderia freqüentar um lugar daqueles. Porém, sua mãe, ao saber que um dos amigos dela era filho do dono e que havia um acordo entre eles, acabou concordando.
Laura curiosa, perguntou então, qual era o nome da mãe dela.
Cláudia respondeu então, que sua mãe se chamava Angela.
Laura ficou impressionada. Tanto que perguntou a moça, quantos anos ela tinha.
Cláudia respondeu então, que tinha catorze anos.
Nisso, Laura cada vez mais intrigada, passou fazer mais e mais perguntas para a garota.
Foi então, que um rapaz se aproximou. Querendo conversar, perguntou a Laura, se ela se importava em lhe dar licença.
Laura concordou e saiu.
O rapaz, que a tempos, ficava paquerando Cláudia de longe, finalmente resolveu se aproximar. Insistindo em conversar com a moça, o rapaz acabou convencendo-a dançar com ele, um dia desses.
Nisso quando Cláudia chegou em casa, tratou logo de dormir. No dia seguinte, a moça contou a Angela, que havia conhecido uma mulher muito simpática com quem ficou conversando durante um longo tempo.
Angela então, perguntou a Cláudia, qual era seu nome.
A garota respondeu então:
-- Puxa vida! Conversei longamente com ela e agora esqueci seu nome.
-- Mas ela se apresentou? Não?
-- Lógico, mãe. Mas eu esqueci seu nome.
Angela então deixou pra lá.
Cláudia, então almoçou.
Enquanto isso, Laura conversava com Benedita. Dizendo que aquela menina era sua filha, não sabia o que pensar.
Benedita vendo a excitação da amiga, alertou para que ela não criasse muitas expectativas, ou acabaria se frustrando. A moça poderia não ser sua filha.
Laura ao ouvir isso, insistiu em dizer que aquela era sua Cláudia. Argumentando que havia conversado durante algum tempo com ela na discoteca, Laura, descobriu que sua mãe se chamava Angela. Que ela freqüentou durante muito tempo um parquinho. Que viveu no mesmo prédio onde ela passou sua adolescência e parte de sua vida adulta... Enfim, Laura descobriu que aquela menina era sua filha. A filha que Angela conseguiu por muito tempo esconder.
Benedita, preocupada então, perguntou a amiga:
-- Ai, ai,ai,ai,ai! E o que você pretende fazer? Veja lá.
Laura contou então, que precisava primeiramente, conhecê-la melhor. Só depois, é que poderia decidir.
Foi assim que Laura passou a freqüentar cada vez mais a discoteca. Ansiosa por encontrar Cláudia, ia todos os dias. Contudo, a moça só freqüentava o espaço, juntamente com seus amigos, no final de semana.
Laura, ao saber disso, passou a restringir suas idas para lá.
Porém, ía sempre que havia alguma possibilidade de encontrar a moça.
Cláudia também. A jovem sempre que via Laura, fazia questão de ir até ela e conversar um pouco. Quando ela arrumou um namorado, Laura foi a primeira pessoa a saber.
Ao ouvir de Cláudia que ela tinha arrumado um namorado, Laura encheu a moça de perguntas. Querendo saber que ele era um bom rapaz, se a tratava bem, se era atencioso, se não estava a pressionando a fazer o que não queria ..., Laura chegou a assustar Cláudia. Surpresa a moça comentou que ela estava parecendo sua mãe.
Laura não acreditou quando ouviu isso. Mas ao contar a Benedita a história, acabou se convencendo que realmente havia se excedido.
Assim, quando pôde finalmente se reencontrar com Cláudia, desculpou-se. Dizendo que não tinha o direito de se intrometer em sua vida, comentou que só fez aquele monte de perguntas por que ficou preocupada.
Com isso Laura comentou que tinha uma filha da mesma idade que ela, e que não conhecia a moça, por que com pouco tempo de vida a levaram dela. Diante disso, ao ver Cláudia começando sua vida amorosa, Laura lembrou-se da filha, e imbuída num sentimento materno, passou a se comportar com se fora mãe dela.
Cláudia, ao ouvir isso, aceitou as desculpas e comentou que não havia problema nenhum com seu namorado. Até por que ela já havia apresentado o rapaz para a mãe, e ela adorou saber que eles estavam namorando. A moça comentou então, que sua mãe conhecia há muito a família do rapaz, e vendo o mesmo de perto, Angela logo simpatizou com ele. O único senão, era que o rapaz tinha dezoito anos e ela só catorze.
Laura então comentou que a mãe dela era muito extremosa.
Cláudia, concordou. A moça chegou comentar até que a mãe costumava ser exagerada algumas vezes, tamanho o zelo com que cuidava dela.
Laura gostou de ouvir isso. Gostou tanto, que chegou a ficar enternecida. Percebendo o belo trabalho que a irmã tinha feito com a filha, Laura pediu a Cláudia para um dia ir até sua casa. Sugerindo um almoço, falou que queria conhecer sua mãe.
Cláudia concordou.
E assim, três dias depois, conforme haviam combinado, Laura encheu-se de coragem, passou numa floricultura e comprou o maior e mais belo arranjo de flores que viu. Para Cláudia, comprou algumas bijuterias. Estava decidida. Foi assim, que de posse do novo endereço das duas, no horário combinado, Laura avisou o porteiro, que a deixou entrar. Depois, apertou a campainha do apartamento.
Angela atendeu a porta.
Nisso Laura, cobrindo o rosto com as flores, cumprimentou Angela. Foi aí que ela mostrou o rosto.
Ao se ver diante da irmã, Angela ficou chocada. Mas não o suficiente para deixar de pedir a Cláudia para que fosse para seu quarto.
Laura, ao ver a menina se retirar da sala, comentou então:
-- Você acha que eu vou destruir a mentira que você construiu?
Angela ao ouvir as palavras de Laura, ficou morrendo de raiva. Sua ira era tão evidente que ela chegou a expulsar a moça de sua casa.
-- Fora daqui!
Laura por sua vez, respondeu, fechando a porta atrás de si:
-- Não saio! Temos que conversar. Eu não vim aqui para brigar. Eu juro. Me deixe conversar com você. Eu sei que apesar de nossas diferenças, você foi maravilhosa com Cláudia.
Angela, temendo que Cláudia estivesse ouvindo a conversa, mandou Laura se calar.
Laura comentou então:
-- Sua tola. Você criou muito bem sua filha. Cláudia está no quarto dela. Oh, Meu Deus do Céu! Será que nem em sua filha você confia?
Angela irritada, ameaçou Laura. Dizendo a ela para que não a provocasse, exigiu mais uma vez que ela saísse de sua casa.
Laura, ao dizer mais uma vez que não sairia, comentou que diria tudo o que estava entalado em sua garganta.
Angela então avançou contra Laura e começando dar-lhe uns puxões, começou a dizer, que ela nunca mais voltasse ali, ou se arrependeria do dia em que nasceu.
Laura por sua vez, comentou que se tinha alguém que deveria se arrepender do havia feito era ela. Isso por que expulsou-a de sua vida, e relutou muito para aceitar cuidar de Cláudia. Depois, resolveu tirar a posse da menina dela. Ao adotá-la, mentiu e não falou sobre ela para a criança.
Angela ao ouvir as palavras da irmã, perguntou:
-- E o que você queria que eu fizesse? Que eu contasse para ela que sua mãe era uma presidiária? Que belo exemplo, que você deu para sua filha! Não bastasse ser mãe solteira, ainda cometeu um crime.
Laura irritada, respondeu:
-- Se eu cometi um crime, ou vários, foi por que faltou alternativas. Ou você acha que eu não tentei conseguir as coisas de um modo honesto? Mas naquela época ninguém me estendeu a mão. Nem você nem ninguém. E tem mais! Mesmo assim, eu consegui viver um longo tempo sem a ajuda de ninguém! O que me complicou foi que descobriram que eu era mãe solteira, e por isso eu não consegui trabalhar.
-- Mas então, por que você não pediu a ajuda de ninguém? – perguntou Angela, já parando de brigar.
-- Por que eu havia brigado com as duas pessoas com quem eu poderia contar. Por causa de Rafael, até com Benedita eu cortei relações. Assim, eu fiquei sem ter a quem recorrer.
-- Que bela amiga, essa tal de Benedita!
-- Ah! Angela. Não fale assim. Eu dei motivos para ela brigar comigo. Eu acreditei demais em quem não merecia. Fui tola!
-- Eu bem que desconfiava que esses seus namorados não eram boas biscas! – comentou Angela.
-- Não eram mesmo. Nem um, nem outro. Pois, por mais incrível que pareça, foram os únicos namorados sérios que eu tive.
-- Eu acredito. – respondeu Angela. – Eu sempre soube que você não era tão destrambelhada assim. Eu sempre soube que ainda havia um pouco de juízo em você. Porém, para minha sorte, Cláudia, é muito mais ajuizada que você.
Laura sorriu. Depois respondeu:
-- Também, com uma mãe dessas, quem não aprenderia a ter juízo?
-- Não sei se eu sou tão boa assim em criar filho dos outros. Eu não acertei com você. – lamentou.
Laura então comentou:
-- Mas eu já estava criada. Você só deu continuidade ao que nossos pais fizeram. Mas .... por falar nisso, por que você deixou o nome que eu dei a ela?
Angela respondeu então:
-- Por que nem eu conseguiria dar um nome tão bonito.
As duas sorriram. Sorriram e se abraçaram.
Conversando agora calmamente sobre tudo o que havia acontecido, Laura percebeu que Angela havia criado muito bem sua filha.
Comentando com a irmã, que estava muito orgulhosa dela por haver criado tão bem sua filha, Laura confessou que jamais conseguiria fazer um trabalho melhor. Por ser exigente e firme, Angela conseguiu não só cativar a menina, como também, educá-la da melhor maneira possível. Angela realmente era uma mãe impecável. Certamente muito melhor que ela, que sempre foi muito coração mole.
Duvidando de que teria pulso para controlar uma adolescente, Laura comentou, que apesar da maldade que a irmã fizera, deixando-a sem poder ver a menina, não tinha raiva dela. Pelo contrário, ao ver a doçura da menina, Laura finalmente compreendeu, por que Angela não queria abrir mão da garota. Ademais, Cláudia estava acostumada demais com ela para aceitar, de uma hora para outra, conviver com outra pessoa.
E assim, Laura revelou a irmã, que não brigaria pela guarda da menina.
Angela agradeceu. Agradeceu e chorou. No entanto, sentindo-se em dívida com Laura, prometeu que contaria a filha que ela era sua mãe.
Nisso Angela saiu da sala e chamou Cláudia, que estava ouvindo rádio.
A moça depois de uns dez minutos saiu do quarto.
Finalmente o almoço foi servido. Durante o almoço as três mulheres riram, conversaram, se divertiram.
Mais tarde, Angela, a sós com Cláudia, contou que ela tinha uma segunda mãe.
Cláudia não entendeu nada, mas diante das explicações de Angela, ela finalmente entendeu que Laura não era apenas uma amiga. Era sua mãe. Todavia, diante da confusão que tornara sua vida, ela teve de abrir mão da filha. Nesse ponto Angela passou a fazer parte da história da garota.
Cláudia então, ao ouvir todo o relato, inicialmente irritada, não aceitou as explicações de Angela. Revoltada, ficou bastante tempo sem falar com ela e evitando se aproximar de Laura.
Angela ficou irritadíssima com o comportamento de Cláudia. Ameaçou até dar-lhe uma surra. Só não bateu na garota por que a própria Laura pediu para que não o fizesse.
Nisso, durante os instantes de rebeldia, Laura passava cada vez mais tempo com seu namorado. Carlos, foi muito paciente com ela. Certa vez chegou até a hospedá-la em sua casa. Claramente com o aval da mãe. Cauteloso, assim que se viu sozinho, ele próprio ligou para Angela avisando que Cláudia estava bem.
Quando a moça descobriu o que rapaz havia feito, ficou um tanto quanto aborrecida com ele. Contudo, depois de algum tempo, ela acabou o desculpando. Desculpou também Angela e Laura.
Com isso, sentindo que devia explicações, Cláudia contou ao namorado a história, que apesar do espanto, continuou ao seu lado.
Nisso, depois de três anos, os dois se casaram.
Laura e Angela foram as madrinhas. Como padrinhos, o pai de Carlos e um amigo do rapaz.
Felizes as duas mulheres, finalmente se entendendo, acompanharam emocionadas a cerimônia, que foi um marco em suas vidas. Mas apesar de felizes, Angela e Laura lamentavam a partida de Cláudia.
Nessa época, Benedita já estava casada há quase dois anos. Grávida de seu primeiro filho, fez questão de convidar Laura para ser madrinha da criança.
Enfim, tudo estava se acertando, e Laura estava feliz. Tão feliz, que foi ela, que depois de algum tempo, ao viajar para o exterior, acabou por encontrar sua companhia ideal, Igor. Por lá também se casou, quase dois anos depois do casamento da filha.
Feliz, convidou a irmã, a filha, o genro, o netinho, a amiga, seu marido, o afilhado, Eugênia, Renata e Ronaldo, para participarem da cerimônia.
Estava com trinta e oito anos. E mais bela do que nunca.
Benedita e seu marido, que foram os padrinhos no casamento, pediram para que ela tivesse outros filhos.
Laura prometeu que os teria.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
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