Contudo, cabe ressaltar, que a atitude impensada de Laura, diga-se de passagem, transformou não só a sua vida, como a vida de todas as pessoas que cercavam.
Ao aceitar os convites do namorado para ficar a sós com ele, Laura, acabou se deixando levar por um impulso. Sem pesar as conseqüências, a moça acabou por fazer o que não devia.
Ainda mais naqueles tempos, em poucas coisas eram permitidas as mulheres.
Laura, em razão disso, acabou por engravidar.
Este fato, foi um complicador a mais para sua vida, que já era por si só bastante conturbada. Seu relacionamento tumultuado com Angela, não deixava a menor dúvida disso. E agora, para ajudar, uma gravidez.
Laura, ao perceber isto, constatou que sua situação era muito delicada. Conhecendo muito bem o temperamento de Angela, como faria para contar isso?
Desesperada, Laura não sabia o que fazer. Também não tinha com quem conversar sobre o assunto. Benê, cansada de alertá-la, desistiu definitivamente de querer impor sua opinião. Além disso, já havia avisado-a, de que caso algo assim ocorresse, ela não iria nem querer saber.
Com isso, só restou a ela contar a Rafael. Crédula, achou que contando ao rapaz sobre o que se passava, tudo estaria resolvido.
Como estava enganada!
O rapaz, ao receber a notícia, ficou desesperado. Sem saber o que fazer, começou a dizer que aquele filho não era dele, e que portanto não tinha nenhuma obrigação quanto a isso.
Laura, ao ouvir isso, comentou:
-- Assim você me ofende! Você sabe muito bem que não saí com mais ninguém além de você, portanto não tem o direito de me dizer essas palavras.
Rafael retrucou:
-- Tenho sim. Afinal de contas, onde já se viu isso? Quem me garante que realmente o filho é meu? Ora ... é muito fácil você vir aqui, com o filho de outro, me dizer que eu sou o pai. Como eu vou ter certeza?
Laura, ao ouvir isso, continuou insistindo que o filho era dele, mas o rapaz teimava em dizer que não era o pai.
Diante disso a moça, percebendo de que nada adiantava discutir, resolveu ir embora. Chateada, Laura comentou que não valia a pena insistir nisso. Isso por que, se depois ele resolvesse assumir a paternidade, era ela que não queria mais saber dele em sua vida. Decidida, Laura resolveu não mais procurá-lo.
Contudo, o problema continuava. O fato de Rafael não querer assumir sua responsabilidade, deixava-a em uma situação mais delicada ainda.
E agora, o que ela ia fazer? Não tinha a quem recorrer.
Contudo, conforme se passavam os dias, Angela, percebendo que a moça estava estranha, passou a desconfiar de que alguma coisa estava errada.
Vigiando a moça, Angela, apreensiva, começou a achar que Laura tinha um problema sério de saúde. Preocupada, Angela começou a espreitar a irmã. Pressionando-a Angela tentava de todas as formas, descobrir o que estava se passando.
Mas Laura, mesmo sentindo-se acuada, acabava encontrando alguma forma de escapar das perguntas insistentes da irmã. Contudo, ia chegar um momento em que não seria mais possível mentir. Conforme a gravidez fosse se tornando cada vez mais evidente, não seria mais possível esconder sua situação.
Contudo, Laura faria o possível para adiar o dia em que contaria a verdade.
Assim, conforme os meses foram se passando, e sua barriga foi se avolumando, Laura começou a prender sua barriga com uma cinta. Cautelosa, sempre que ia sair do quarto, a moça tratava de disfarçar sua barriga.
Angela, que há tempos vinha vigiando a irmã, estranhava sobremaneira a demora da moça em sair de seu quarto. Contudo, como não tinha como provar suas desconfianças, só restava a ela, esperar.
Preocupada com Laura, certa vez, cansada das evasivas da moça, Angela aproveitou que a mesma estava trabalhando, para fazer uma devassa em seu quarto. Bisbilhotando os pertences da moça, observou roupas, sapatos, livros, entre outras coisas. No entanto, não encontrou nada de comprometedor no armário da moça.
Porém, Angela, ao verificar que não havia nada suspeito no armário, mesmo assim, continuou desconfiada. E assim, não satisfeita em revirar o armário da moça, Angela, olhando para o criado e para a cama, começou a vasculhar as gavetas. Lá estavam as calcinhas e sutiãs da moça. Não bastasse isso, Angela olhou para a cama da moça. Desconfiada, virou o colchão. Foi assim que ela descobriu umas cintas, guardadas no estrado da cama.
Angela ao ver aquelas peças, não entendeu nada. Afinal de contas, por que razão, Laura precisaria usar aquele tipo de roupa? Justo agora que as roupas eram mais soltas, não precisando de cinta, nem de combinação.
Angela se deparando com esse fato, passou a ficar deveras desconfiada. Porém, antes de tomar qualquer atitude precipitada, conversaria com Laura.
Isso por que, se a moça estava se escondendo, era por que algo realmente muito sério estava acontecendo. Sim, por que ultimamente, a moça passava cada vez mais tempo fechada em seu quarto.
Mas o que ela não sabia era que Laura se escondia por que não queria que ela descobrisse sua gravidez. Com isso, a única forma que Laura tinha para esconder este fato era passar o menor tempo possível com a irmã. Até por que, quando estava na rua, tinha que fazer o possível para esconder sua barriga. Nem mesmo suas colegas sabiam que ela estava grávida. Porém, sempre que ficava sozinha em casa, ou podia descansar um pouco, aproveitava para afrouxar a cinta. Nesses instantes, ficava aliviada.
Isso por que, conforme os meses foram se passando, ficava cada vez mais difícil para Laura, esconder a barriga. Porém, precisava continuar a manter as aparências. Isso por que, precisava de dinheiro. Se descobrissem sua gravidez, certamente ela seria demitida, e sendo demitida, ficaria nas mãos da irmã, que certamente ao descobrir a poria para fora de casa. Não, Laura, não podia arriscar. Assim, a moça precisava continuar trabalhando, mesmo em adiantado estado gravídico.
E assim continuou trabalhando.
No entanto, conforme o sua barriga crescia, ficava cada vez mais difícil escondê-la.
Tanto que Angela, desconfiada, ao ver a mudança na silhueta da moça, bem como seu comportamento estranho, preocupada, passou a vasculhar seu quarto, tentando encontrar algum indício de que algo estava errado com ela. Foi assim que Angela acabou encontrando a cinta – conforme já dito.
Com isso, quando Laura retornou do trabalho, o circo já estava armado.
A moça, ao ver seu quarto revirado, foi prontamente tomar satisfações com Angela. Aborrecida com o comportamento da irmã, Laura estava pronta para dizer-lhe poucas e boas. Assim, foi logo bater na sua porta.
Angela, por sua vez, esperando por Laura, assim que ouviu as batidas na porta de seu quarto, tratou de atender.
Laura visivelmente irritada, começou dizendo a irmã, que ela não tinha o direito de mexer em suas coisas, até por que, era exatamente por isso que cada uma tinha seu quarto.
Angela então, perguntou a irmã, se ela tinha o direito de esconder o que estava acontecendo.
Laura, então dizendo não saber do que ela estava falando, por um momento ficou sem saber o que fazer.
Foi então que Angela mostrou-lhe uma cinta. Em seguida, percebendo o olhar de espanto da irmã, perguntou:
-- Era por isso que você estava procurando?
-- O quê? O que está acontecendo? – perguntou Laura atônita.
-- Eu é que pergunto. Por que você está usando cinta? Por acaso é para esconder algo que eu não posso saber? – perguntou Angela, intrigada.
-- Você está louca! – respondeu Laura, tentando desconversar, pronta para sair do quarto de Angela.
-- Um momento! Eu não terminei de conversar com você. – respondeu ela segurando Laura.
Laura, que não estava gostando nem um pouco da conversa, pediu reiteradas vezes para que a irmã a soltasse.
Angela retrucou dizendo que não a soltaria enquanto não dissesse o que estava acontecendo.
Mas Laura teimosa, insistia em dizer que não havia nada de errado. Só estava cansada e queria ir para seu quarto.
Angela contudo, insistia.
Laura, então, tentando, sair do quarto da irmã, disse que precisava ir até o banheiro.
Angela perguntou-lhe se não havia ido ao banheiro antes de sair do trabalho.
A moça respondeu que sim, mas que agora, em razão do tempo que levava para voltar para casa, precisava ir ao banheiro novamente.
Angela, percebendo que Laura não estava nem um pouco bem, resolveu deixá-la ir. Mas desconfiada, resolveu acompanhá-la até a porta do banheiro. Isso por que, não queria que a moça se trancasse novamente em seu quarto, e mais uma vez, conseguisse escapar de suas perguntas.
Dito e feito. Angela, como se fora um leão de chácara, ficou o tempo todo ao lado da porta do banheiro, aguardando a saída de Laura.
Conforme o tempo passava, Angela passou a ficar preocupada com a irmã. Isso por que, depois de quase meia-hora é que a moça finalmente saiu do banheiro. Tal fato era realmente muito estranho. O que contribuiu e muito para aumentarem as desconfianças de Angela, a respeito de Laura.
A mulher, desconfiada do comportamento caseiro da irmã, passou a perguntar cada vez mais por Rafael, que há muito tempo, não era assunto das conversas entre as duas.
Com relação a seus hábitos de ultimamente, até suas colegas vinham estranhando seu comportamento.
Benê por sua vez, apesar de preocupada com a amiga, fazia de tudo para não demonstrar isso. Contudo, mesmo estando aparentemente indiferente, a moça estava preocupada com a mudança de comportamento de Laura. Isso por que, Laura, agora recolhida, não saía mais com os amigos.
Até mesmo Renata e Eugênia, estavam preocupadas com Laura.
Porém, toda vez que alguém vinha lhe perguntar o que estava acontecendo, Laura respondia com evasivas. Dizendo que não estava acontecendo nada de mais, tratava logo de desconversar.
E assim, a moça ía levando a vida. No entanto, não daria para esconder sua gravidez para sempre.
E agora que Angela estava desconfiada, seria ainda mais difícil esconder o que estava acontecendo.
Por isso, quando a moça finalmente saiu do banheiro, Angela levou-a para o quarto vasculhado e trancando a porta, começou a exigir que ela lhe explicasse o que estava acontecendo.
Laura, respondeu irritada, que não tinha nada a responder.
Angela, autoritária, continuou a insistir:
-- Quero uma explicação. – dizia.
-- Mas eu não tenho que explicar nada.
-- Ah, é? Então por que a senhorita está usando cinta, a uma altura dessas? Acaso tem algo a esconder?
Laura então, sem ter o que responder, disse o seguinte:
-- Não. É que eu andei engordando um pouco e não queria que as pessoas percebessem.
Angela, não muito convencida da resposta da irmã, comentou que ela era muito magrinha para estar se preocupando com aumento de peso. Que isso era preocupação das pessoas mais velhas.
Laura, no entanto, continuou insistindo em dizer que precisava emagrecer um pouco.
Angela ainda desconfiada, perguntou então, quanto ela havia engordado.
A moça respondeu então que havia engordado uns três quilos.
Angela, ao ouvir a resposta da irmã, ficou intrigada. Isso por que, vendo-a sempre usando roupas largas, mal poderia imaginar que Laura havia engordado tanto. Em razão disso, Angela curiosa, pediu a irmã para que mostrasse a ela o quanto havia engordado.
A moça ao ouvir o pedido da irmã, ficou apavorada. Isso por que, Angela não podia ver sua barriga ou então descobriria que ela estava grávida.
Mas não teve jeito. Por mais que ela tentasse esconder, Angela pressionou-a e Laura acabou tendo que revelar a verdade.
Isso por que, Angela, cansada da resistência de Laura, resolveu ela mesma olhar a barriga da moça. Ao ver a cinta segurando a barriga, mandou a irmã afrouxar a cinta para que ela visse, se havia engordado tanto quanto dissera.
Laura se recusou.
Nisso, Angela irritada, ao se deparar mais uma vez com a teimosia da irmã, ameaçou lhe dar uma surra se não lhe contasse o que realmente estava acontecendo. Aborrecida, avançou para cima de Laura e ela mesma abriu a cinta.
E qual não foi seu espanto ao ver a barriga imensa da moça, escondida em meio aqueles panos todos. Laura estava grávida, e há bastante tempo. Ao perceber que a moça a enganava há muito tempo, Angela ficou furibunda. Sentindo-se enganada, perguntava a todo o momento:
-- Onde foi que eu errei?
Laura, desesperada, tentou a todo custo explicar o que havia acontecido, mas Angela, toda a vez que ouvia a voz da irmã, mandava-a calar a boca. Furiosa com tanta mentira, queria ficar sozinha. Foi então que ela abriu a porta do quarto da moça.
Laura, então tentando se aproximar dela, foi empurrada para longe.
Angela então, aproveitando isso, trancou a irmã no quarto. Depois foi para o seu quarto.
E enquanto pensava em que atitude tomar, Laura gritava em seu quarto, pedindo a Angela que abrisse a porta para que ela pudesse sair.
Mas Angela, pensando no que estava acontecendo, mal tinha tempo para ouvir os apelos de Laura. Tanto que somente no dia seguinte é que ela se dignou a abrir a porta para que a irmã saísse do quarto.
Laura abatida, assim que saiu do quarto, foi até o banheiro.
Angela então, esperou pacientemente que a moça voltasse para seu quarto.
Assim, depois de cerca de quarenta minutos, Laura finalmente voltou para o quarto. Lá estava Angela, sentada no sofá.
Laura, sem dizer uma palavra, abriu o armário, e pegou uma roupa para vestir, já que havia tomado um banho e precisava de roupas limpas. Por isso, ao pegar as roupas, tratou de voltar ao banheiro. Lá se vestiu e depois, retornou ao quarto.
Angela continuava ali, sentada.
Laura então, fingia não ver a irmã. E assim, diante dos últimos acontecimentos, a moça começou a pegar seus pertences e colocar em uma mala. Calmamente, Laura ia pegando suas coisas e guardando-as.
Angela só observava.
E Laura não se incomodava nem um pouco com a presença da irmã em seu quarto. Isso por que, depois do acontecera, não havia mais motivos para que ela permanecesse na casa da irmã. Se ficasse, fatalmente seria expulsa por Angela.
Por isso, a moça tratou de arrumar suas malas. Quando estava tudo pronto, Angela perguntou então:
-- Acabou? Pegou tudo o que queria?
-- Peguei. – respondeu Laura secamente. – Agora posso ir embora.
-- Não. Ainda não. Não enquanto eu não disser o que está entalado na minha garganta já há muito tempo. E você vai me ouvir. – respondeu Angela, segurando a irmã pelo braço.
Laura tentou resistir dizendo para que a soltasse, mas Angela não a soltou.
Nisso Angela, começou a dizer que ela estava coberta de vergonha. Que a atitude da irmã era inadmissível.
Laura, então respondeu:
-- Então, pra você, acreditar em alguém, é uma vergonha? Gostar de alguém é algo inadmissível?
Angela então retrucou:
-- Não, não é. Se a pessoa se portar com dignidade, realmente não é. Mas não foi o seu caso. E tem mais! Faz muito bem em arrumar suas malas. Mostra que tem ao menos um pouco de desconfiômetro. Ainda bem. Por que se você não tomasse essa atitude, eu teria que tomá-la. Porém, eu não quero ser taxada de megera. Sei que você não tem para onde ir. Então se precisar, você pode ficar alguns dias em casa, aqui, até encontrar um lugar para ficar. Eu não me importo, desde que você não abuse da minha hospitalidade.
Laura, ao ouvir as palavras da irmã, caiu na risada:
-- Hospitalidade? Eu não estou precisando da sua hospitalidade. Dispenso-a. Eu não preciso de nenhum favor. Eu sou capaz de resolver meus problemas sozinha.
Agora foi a vez de Angela rir:
-- Realmente. Sua habilidade para resolver problemas pessoais é notória. Estou vendo! Uma mulher jovem e solteira, com uma criança na barriga. Você realmente é mestra em resolver seus problemas pessoais.
Laura irritada com os comentários da irmã, respondeu que dispensava suas ironias. A seguir, pegando suas malas, foi embora.
Nem por um minuto Laura pediu a Angela para ficar. Pelo contrário, não aceitou nenhuma provocação da irmã.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
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