Poesias

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 8

E apesar de não ter para onde ir, Laura não admitiu nem por um momento que a irmã fizesse pouco dela. Decidida, prometeu a si mesma que dali por diante, passaria a tomar conta de sua própria vida. 
Contudo, não seria nada fácil dar essa guinada. 
Isso por que, desde que passara a ser cuidada por sua irmã, era sempre Angela que se preocupava com tudo. 
Assim, pode-se notar que Laura não tinha a menor condição de ficar sozinha. 
Pelo menos num primeiro momento, ela precisava que alguém a ajudasse. Porém, a quem recorrer? Ninguém sabia de sua situação, e Benê, sua amiga de todas as horas, havia brigado com ela. 
Desesperada, Laura não sabia a quem recorrer. 
Sem saber onde ir, a moça acabou batendo na porta de Renata, que apesar de viver numa casa pequena, acabou acolhendo-a, pelo menos por alguns dias. 
E assim, Laura, ficou sossegada por alguns dias.
Todavia, ao final de uma semana, Renata comentou que não tinha como ela ficar  mais tempo por lá. Laura concordou com a amiga. A casa era muito pequena.
Assim, depois de alguns dias, Laura foi passar algum tempo na casa de Eugênia. Lá também não deu para ficar muito tempo. Ao final de duas semanas, lá estava ela de novo, sem ter para onde ir.
Benedita, brigada com a amiga, nem sequer imaginava o que estava acontecendo. Isso por que, sempre que Renata e Eugênia tocavam no nome de Laura, Benedita aborrecida, saía logo de perto. Dizendo que não estava interessada naquela conversa, fazia de tudo para não tocar no nome dela.
É, a briga tinha sido feia.
Diante disso, Laura, acabou indo se hospedar em uma pensão, bem baratinha.
Isso por que, apesar de estar guardando algum dinheiro, precisava pensar na criança que estava para nascer. Nas coisinhas que teria que comprar para ela, no lugar que teria que arrumar para viver, e no tempo que levaria para arrumar um novo trabalho. Sim por que, assim que, assim que Ronaldo descobrisse que ela estava grávida, certamente a demitiria. Por esta razão, Laura precisava pensar em seu futuro, que ao menos por enquanto, era incerto.
Dito e feito. Quando a moça estava próxima de sete meses de gravidez, sem ter mais como esconder sua gestação, acabou sendo demitida por Ronaldo. Este porém, percebendo a situação da moça, pagou todas as verbas trabalhistas que ela fazia jus. Não deixou nada de lado. E assim, em razão de a moça trabalhar ali há quase cinco anos, ou seja, desde que entrara no mercado de trabalho, Laura acabou por receber uma boa quantia em dinheiro.
Eugênia e Renata, atônitas, ao saberem da novidade, não sabiam o que pensar. Então foi por isso que Laura passou a ficar cada vez mais recolhida?
Benedita, que até então, não tinha conhecimento da situação pela qual passava Laura, ficou chocada. Mas, apesar de brigada, ofereceu sua ajuda a moça. 
Laura porém, ao invés de ficar agradecida, recusou. Recusou, e assim que recebeu seus direitos trabalhistas, nunca mais voltou até a loja. Desempregada, a moça, percebendo que precisava encontrar uma casa para morar, alugou uma residência próxima ao centro da cidade. 
Com isso, enquanto a criança não nascia, a moça procurava trabalho. Porém, de nada adiantava. Isso por que, os empregadores, ao verem sua barriga, recusavam-se veementemente a contratá-la. Foi assim até o final da gravidez.
Quando então, a criança nasceu, Laura, que tinha uma casa para morar, assim que recebeu alta do hospital, levou a criança para lá. 
E assim, Cláudia, durante os seus primeiros meses de vida, esteve em uma ótima condição com sua mãe. 
Contudo, a vida boa e confortável, só durou alguns meses. Isso por que, sem ter com quem deixar a criança, Laura teve que esperar a menina crescer um pouquinho para poder matriculá-la em uma creche. E assim, só depois disso é que ela passou a procurar emprego. 
Enquanto isso, as reservas monetárias de que dispunha, iam se tornando pouco a pouco, diminutas. Laura, percebendo isso, passou a se candidatar a qualquer trabalho.
E foi assim que a moça conseguiu uma vaga de balconista. 
Diligente e atenciosa, Laura procurava executar da melhor maneira possível seu trabalho. Dedicada fazia o melhor.
No entanto, mesmo sendo dedicada e paciente no atendimento ao público, seu patrão ao descobrir que a moça era mãe solteira, acabou a demitindo.
Laura então, vendo que tinha pouco dinheiro, e que não daria para ficar muito tempo sem trabalhar, ficou desesperada. Ao procurar trabalho e nada encontrar, ao ver que as reservas monetárias se acabavam, a moça começou a ficar cada vez mais intranqüila. E foi assim, num gesto de desespero que Laura começou a pensar nas coisas mais absurdas. 
Ao ver que as contas chegavam e ela não tinha como pagá-las, Laura aturdida, só ficava a pensar no que faria para resolver sua situação. 
Nisso, quando começou a sofrer cobranças em razão da falta de pagamento de aluguéis, conta de água, de luz, entre outras, Laura percebeu que seria apenas uma questão de tempo para ser despejada. 
Sem saber o que fazer, ao ver que faltava comida em casa, Laura começou a praticar pequenos furtos em mercados. 
No começo ninguém percebeu, mas a uma certa altura, ao pegar um pacote de um quilo de arroz e esconder em seu casaco, um dos funcionários do mercado, notando a traimóia, tratou de alertar o dono do estabelecimento, que ao ver o pacote de arroz escondido no casaco da moça, chamou logo a polícia. 
Os policiais, percebendo que se tratavam de um furto, levaram-na para a delegacia.
Ao ser conduzida até o distrito policial, Laura, tentando explicar que pegara o arroz para dar o que comer a filha, falou que nunca mais faria isso de novo.
Os policiais no entanto, sabendo que a moça havia praticado um delito, levaram-na logo para a cadeia. Desta forma, Laura ficou presa durante algum tempo.
A moça, preocupada, ao se ver encarcerada, pediu ao delegado que entrasse em contato com sua irmã. Isso por que Cláudia não podia ficar sozinha. Por ser um bebê novo, a criança necessitava de cuidados. 
O delegado vendo a preocupação da moça, atendeu prontamente o pedido. E assim, ao telefonar para Angela, o homem comentou que Laura estava presa por ter praticado um furto. Alegando que a moça tinha uma filha que precisava de cuidados, o delegado pediu a ela para que ficasse com a criança pelo menos por enquanto. Até por que, se ela não ficasse com a menina, a mesma iria para um orfanato.
Angela, por sua vez, resistiu o quanto pôde ao pedido do delegado. Todavia, ao perceber que se não tomasse uma atitude a criança iria parar num orfanato, ela acabou concordando em ficar com a menina. 
-- Está certo. Por enquanto eu fico com a menina. – respondeu.
 Diante disso, Angela tratou logo de tomar nota do endereço de Laura e da creche onde a criança ficava, quando ela precisava sair.
Ao chegar lá, Angela comentou com a diretora da creche, que ela tinha ido buscar a menina por que Laura estava trabalhando até tarde, e portanto não tinha como ir até lá. A mulher então, acabou concordando em deixá-la levar a criança. Contudo, ao entregar a menina para Angela, a diretora fez algumas recomendações para ela. Angela agradeceu e levou a menina para sua casa. 
 Todavia, a criança necessitava de roupas, fraudas, comida e brinquedos. Por esta razão, Angela preocupada com o conforto de Cláudia, percorreu várias lojas para fazer compras. Durante duas horas, Angela se viu em meio a fraldas, roupinhas, brinquedos, e alguns alimentos específicos para bebê. 
E assim, ao chegar em casa com a menina e ver que ela precisava ser trocada, tratou logo de lhe dar um banho e vesti-la com uma das roupinhas que havia comprado. Depois, deu-lhe uma papinha que também havia comprado.
Nisso, ao ver que Cláudia era uma criança calma, Angela começou a brincar com a menina. 
Foi assim que Angela, começando a criar laços com a menina, decidiu ficar com ela. Precavida, a mulher resolveu adotá-la. Ao saber que Laura ficaria ainda muito tempo presa, Angela resolveu entrar com o pedido de guarda.
E assim, regularizando a situação, Angela assumiu a criação da menina. 
Laura, ao saber que Angela estava cuidando da menina, tranqüilizou-se. Sem saber quanto tempo permaneceria presa, achou que fora muito bom avisar a irmã de sua situação.
Com isso, enquanto a menina crescia sob os cuidados de Angela, Laura, lutava para sair da prisão. Ao ser condenada por crime de furto, a moça tinha uma pena para cumprir.
No entanto, por ter tido um bom comportamento, a moça acabou cumprindo somente uma parte da pena. Com o benefício da liberdade condicional, Laura, após algum tempo, voltou a viver em sociedade.
Decidida a retomar sua vida, a moça, recomendada por seu trabalho durante o tempo em que ficou presa, apesar da pecha de ex-presidiária, acabou encontrando um emprego, com relativa facilidade. 
Dedicada, era só elogio dos patrões que comentavam que fora uma ótima idéia contratá-la. Laura, ao ouvir os elogios, agradecia e continuava seu labor.
Depois de algum tempo, com algumas reservas monetárias, Laura, decidida, sentindo-se pronta para reencontrar a filha, alugou um apartamento e passou a mobiliá-lo. 
Diante disso, confiante, Laura resolveu conversar com sua irmã. Sabendo que a mesma havia entrado com um pedido de guarda, e que era portanto a responsável legal pela menor, Laura sabia que tinha que tomar cuidado ao se aproximar das duas. Por não saber o que Angela havia dito a seu respeito para a filha, ou se havia dito alguma coisa, Laura não podia aparecer simplesmente exigindo a presença de Claúdia. 
Cautelosa, Laura cuidadosamente, passou a observar as duas de longe. 
Cláudia, nessa época uma criança alegre e vivaz, brincava num parque, sob os olhares atentos e vigilantes de Angela.
E assim, sem perceberem que Laura as observava, as duas tranqüilamente sorriam.
Com isso, durante muito tempo, Laura ficou a olhar as duas à distância. Isso por que, ao saber que as duas iam sempre para aquele parque, sempre que podia Laura ia até lá. Encantada com a filha, Laura não se cansava de olhar para ela. E assim, após muitos anos afastada, era muito bom saber que a menina estava sendo bem cuidada por Angela.
O único senão se dava ao fato de Angela ter tirado dela a guarda da menina. 
Temendo nunca mais recuperar a filha, Laura tentava a todo o custo ser cautelosa. Não queria por tudo a perder. 
Assim, durante longos meses, só ficou a olha-las. 
Certa vez, Benedita – a amiga de anos atrás, a qual Laura passou a procurar depois de retornar para a vida em sociedade –, vendo a tristeza dela, argumentou que ela devia tomar uma atitude.
Laura, ao ouvir os conselhos da amiga, concordou. Benê estava certa. Aliás, essa velha amiga, estava sempre certa, mesmo quando ela não queria admitir. Como há tempos atrás, com relação a Rafael, que nunca fora sincero com ela.
E assim, Laura concordou. Realmente não podia se acovardar. Se não tomasse uma atitude logo, nunca mais conseguiria recuperar a guarda da menina. 
Diante disso, decidida, Laura resolveu aparecer no parque em que a irmã levava Cláudia. Sem cerimônias, apresentou-se, e dizendo que queria conversar com ela, exigiu que Angela lhe contasse tudo sobre a menina. 
Angela, pega de surpresa, tentou pegar Cláudia e sair dali, mas Laura, hábil, tratou logo de dizer-lhe que se ela fizesse isso, contaria a menina que era sua verdadeira mãe.
A mulher, intimidada, percebendo que Laura não estava de brincadeira, acabou concordando. Pedindo para que Cláudia fosse brincar em outro lugar, conversou longamente com Laura.
Nisso Angela, dizendo que a adotara para que a garota tivesse uma família, comentou que subornou alguns funcionários para que conseguisse isso. E assim, Cláudia, para todos os efeitos era filha dela e de seu falecido marido. 
Laura ao ouvir isso, não acreditou. 
Chocada, chegou a comentar:
-- Angela! Até que ponto chega a sua insanidade!
Ao ouvir isso, Angela aborrecida, ameaçou ir embora, caso ela continuasse a ofendê-la. Isso por que Laura não tinha o direito de criticá-la.
Laura então se calou.
Isso por que em um ponto, Angela tinha razão. Durante todos os anos em que ela ficou presa, quem cuidou de Cláudia para ela, foi sua irmã, a quem sempre criticou. Assim, ela não tinha realmente, o direito de criticá-la.
Mas Laura, queria conversar pelos menos um pouco com a filha. Prometendo a Angela que não se apresentaria como a mãe da garota, disse que só queria saber como ela estava, como era sua vida, nada mais.
Angela, porém, não concordou com o pedido de Laura. Dizendo que Cláudia estava muito bem longe dela, insistiu para que ela não se aproximasse da menina, que naquele momento brincava contente com outras crianças.
Diante disso, Laura, ao ser rechaçada pela irmã, ficou arrasada. Contudo, a mulher, não desistiu de conversar com a filha. E assim, ao ver que não seria nada fácil convencer Angela a deixá-la ficar um instante a sós com a menina, Laura começou a correr na direção de Cláudia, tudo com vistas a se apresentar a garota, como uma amiga.
Angela, percebendo a intenção de Laura, pediu a criança que viesse até ela, e que não saísse de perto dela.
Cláudia, obediente, foi se aproximando lentamente de Angela. 
Laura, então, resolveu enfrentar a irmã. Insistindo em dizer que só queria conversar com as duas, comentou que não queria fazer nada de mal. Dizendo que era uma velha amiga de Angela, insistiu que queria conhecer a menina.
Cláudia, ao observar o comportamento de Laura, não conseguia entender por que 
Angela estava tão estranha. Isso por que, Laura parecia uma pessoa comum. Então, não havia nada de mais, em conversar um pouco com ela. 
Mas Angela não queria saber. E assim, a mulher, puxando a menina pelo braço, insistia em dizer-lhe que precisavam ir embora.
Cláudia, contudo, a todo instante, ficava a olhar para Laura, intrigada com o comportamento de Angela – sua mãe.
Sim, para ela, Angela era sua verdadeira mãe. Acostumada com ela desde a mais tenra infância, só conhecia a ela como mãe. Mesmo assim, não parava de olhar para Laura, que tristemente, se despedia da garota.
E assim, Angela e Cláudia foram embora.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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